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A competência do Ministério Público e o CDC

A proteção do consumidor é direito fundamental, previsto na Constituição Federal como dever do Estado, conforme art. 5º, XXXII22. O Ministério Público é instituição responsável pela defesa coletiva do consumidor. Atua em casos envolvendo oferta de alimentos, combustíveis e medicamentos adulterados, publicidade enganosa ou abusiva, vícios e defeitos em produtos e serviços em geral, práticas e cláusulas abusivas no fornecimento de energia elétrica, telefonia, água, transporte coletivo, contratos imobiliários, ensino privado, planos de saúde, comércio eletrônico e nos demais casos de ameaça ou lesão à coletividade.

Essa atuação é exercida pelas Promotorias de Justiça, especializadas ou não, na capital ou no interior dos Estados, em prol de interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos dotados de relevância social. Assim, recebida uma reclamação ou tomando conhecimento direto de fatos que digam respeito a esses interesses, o Ministério Público adotará medidas legais necessárias para prevenir ou reparar o dano, utilizando-se do inquérito civil para celebrar compromissos de ajustamento de conduta ou ajuizar ações coletivas de consumo.

Tratando-se de direito individual disponível e não-homogêneo, que atinja exclusivamente determinado consumidor, a defesa judicial será exercida pelo próprio

22CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

interessado por intermédio de advogado; também poderá reclamar nos Procons ou Juizados Especiais Cíveis. Nos municípios onde não houver órgão de proteção do consumidor, o Ministério Público poderá realizar o atendimento ao cidadão informando, orientando e promovendo acordos entre este e os fornecedores de produtos e serviços.

O Ministério Público também conta com o trabalho do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Consumidor, que tem atribuições voltadas à divulgação de matérias de interesse das Procuradorias e Promotorias de Justiça dos Estados, fomentando a realização de operações conjuntas e integradas, bem como disponibilizando informações necessárias para facilitar a atuação na defesa coletiva dos consumidores.

As Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor só atuam em defesa dos interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos (dotados de relevância social) dos consumidores. Não exerce, portanto, a tutela de interesses estritamente individuais.

Para fins didáticos, podemos diferenciar as diversas espécies de interesses da seguinte forma:

Interesses difusos

São aqueles que pertencem a um número indeterminável de pessoas. São, por conseguinte, interesses de toda a sociedade. Ocorrem interesses desse tipo, por exemplo, em questões envolvendo publicidade enganosa ou abusiva, cláusulas abusivas inseridas em contrato-padrão, formação de cartéis ou de outras formas de eliminação da concorrência e comercialização de medicamentos falsificados;

Interesses coletivos

São aqueles que pertencem a um grupo, categoria ou classe de pessoas, e não a cada pessoa individualmente considerada. Nesse tipo de interesse, nenhum indivíduo exerce, sozinho, a titularidade integral. Como exemplo, podemos indicar os casos envolvendo loteamentos irregulares (com relação às pessoas que adquiriram lotes) e adoção de critérios abusivos para reajuste de mensalidades escolares (com relação aos alunos já matriculados);

Interesses individuais homogêneos

São interesses individuais que passam a ser tutelados de forma coletiva por decorrerem de uma origem comum. Mas a Promotoria só pode exercer a defesa desse tipo de interesse quando ele se mostrar dotado de relevância social e interesse público, quer pela sua natureza ou repercussão;

Interesses estritamente individuais

São aqueles que apenas dizem respeito aos seus titulares, podendo ser defendidos judicialmente por meio de ação individual.

A Promotoria de Defesa do Consumidor atua, portanto, em prol de interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos dotados de relevância social. Assim sendo, recebida uma reclamação que diga respeito a esses interesses, a Promotoria irá instaurar inquérito civil, ajuizar ações, firmar compromisso de ajustamento e tomar quaisquer outras medidas legais que se fizerem necessárias para por fim ao dano. Note-se o art. 81, CDC:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

As Promotorias não possuem, entretanto, legitimidade para agir quando se trata de interesses individuais puros e estritamente disponíveis. Nestes casos, a medida apropriada a ser tomada pelo consumidor consiste apresentar reclamação junto ao PROCON ou propor ação individual.

No Estado de Santa Catarina, o Ministério Público lançou o Programa “Segurança e Defesa do Torcedor”23, objetivando dar efetividade ao sistema protetivo do consumidor torcedor, instituído pelo EDT. A ênfase é na avaliação das condições de segurança dos estádios de futebol, mediante exigência de apresentação, seguida de avaliação técnica e dos seguintes documentos, exigidos pela lei:

· Laudo de Segurança, emitido pela Polícia Militar;

· Laudo de Vistoria de Engenharia, confeccionado por profissionais habilitados contratados pelos clubes;

· Laudo de Prevenção e Combate de Incêndio, emitido pelo Corpo de Bombeiros Militar; e

· Laudo de Condições Sanitárias e de Higiene, emitido pela Vigilância Sanitária.

Além de monitorar o cumprimento das obrigações legais dos clubes mandantes dos jogos e da entidade organizadora das competições em relação à segurança dos estádios, o Programa também objetiva prevenir os conflitos e a prática de ilícitos por torcidas organizadas. Para isso são celebrados Termos de Ajustamento de Conduta com atuação conjunta com os órgãos de segurança do Estado, os organizadores das competições, os clubes participantes dos campeonatos e as próprias torcidas organizadas.

O programa foi concebido e implementado a partir da celebração do Termo de Cooperação Técnica n. 54/2010, que tem por objeto o controle das condições sanitárias e de segurança nos estádios desportivos utilizados em competições organizadas pela Federação Catarinense de Futebol (FCF). No referido Termo de Cooperação ficou estabelecido o compromisso de remeter sistematicamente os laudos de que trata o art. 2324 do Estatuto de Defesa do Torcedor fixando prazos e definindo os responsáveis pela providência. Estabeleceu-se, complementarmente, uma parceria inicial com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-SC), posteriormente substituído pelo Instituto Catarinense de Engenharia de Avaliações e Perícias (IBAPE-SC), para a análise formal e metodológica dos Laudos Vistoria de Engenharia, ficando reservado ao Centro de Apoio Operacional de Informações e Pesquisas (CIP) do MPSC, na medida de suas possibilidades e limitações, a análise de conteúdo dos referidos laudos. Ainda, por ocasião da celebração, em 10 de março de 2008, de Termo de Ajustamento de Conduta entre o Ministério Público, Polícia Militar, Federação Catarinense de Futebol, Associação de Clubes e diversos clubes de futebol profissional catarinenses, ficou estabelecido, dentre outras disposições:

(1) o cadastramento das Torcidas Organizadas e de seus respectivos associados na FCF;

(2) a aplicação de sanções à torcida que promover tumulto, atos de violência ou incorrer em prática de crimes;

24Art. 23. A entidade responsável pela organização da competição apresentará ao Ministério Público dos Estados

e do Distrito Federal, previamente à sua realização, os laudos técnicos expedidos pelos órgãos e autoridades competentes pela vistoria das condições de segurança dos estádios a serem utilizados na competição. (Regulamento)

§ 1o Os laudos atestarão a real capacidade de público dos estádios, bem como suas condições de segurança. § 2o Perderá o mando de jogo por, no mínimo, seis meses, sem prejuízo das demais sanções cabíveis, a entidade de prática desportiva detentora do mando do jogo em que:

I - tenha sido colocado à venda número de ingressos maior do que a capacidade de público do estádio; ou II - tenham entrado pessoas em número maior do que a capacidade de público do estádio.

III - tenham sido disponibilizados portões de acesso ao estádio em número inferior ao recomendado pela autoridade pública. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

(3) a responsabilidade da FCF na emissão de carteira de identificação do torcedor organizado;

(4) a criação de Comissões de Segurança Integrada, objetivando acompanhar a movimentação dos torcedores antes, durante e após as partidas, dentro e fora dos estádios, a fim de assegurar um melhor controle das Torcidas Organizadas.

Por meio de Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta firmado em dezembro de 2013, a 29ª Promotoria de Justiça do Consumidor da Capital celebrou novo acordo com a Federação Catarinense de Futebol, Associação de Clubes de Futebol Profissional de Santa Catarina e por todos os clubes participantes das Séries A e B do campeonato estadual, para cumprir as exigências sanitárias e de segurança previstas pelo Estatuto de Defesa do Torcedor.

Como resultados houve a celebração de Termos de Ajustamento de Conduta com clubes de futebol e municípios proprietários de estádios; acatamento a recomendações expedidas pelo Ministério Público e promoção de ações civis públicas para o efetivo cumprimento da legislação de proteção ao torcedor. Diferentemente de outros tempos, o Campeonato Catarinense da Série A de 2015 iniciou sem vedação a nenhum dos estádios de futebol autorizados a receber público após serem cumpridas, com ressalvas, as exigências sanitárias e de segurança previstas pelo Estatuto de Defesa do Torcedor. Tal resultado demonstra a prevalência do respeito ao consumidor e é fruto de trabalho desenvolvido entre o Centro de Apoio Operacional do Consumidor (CCO) e as Promotorias de Justiça do Consumidor nas cobranças administrativas feitas às entidades que representam os interesses dos clubes.

5 CONCLUSÃO

Para os brasileiros, a paixão pelo esporte está no sangue e já não se pode mais dizer que se restrinja ao futebol. O esporte envolve não apenas os atletas e os clubes, mas também as entidades organizadoras, os patrocinadores, a mídia que cobre os eventos, as empresas que organizam promoções, aqueles que realizam seu comércio quando dos eventos, os transportadores e, em especial, os torcedores.

Enfim, há todo um enorme conjunto de pessoas e de interesses representados neste mundo do espetáculo proporcionado pelos esportes e foi com a finalidade de disciplinar/organizar esta área que surgiu a Lei nº 10.671/2003, o chamado Estatuto do Torcedor.

Durante décadas, dirigentes administraram o esporte como se fosse parte de seu feudo particular e, sem a menor organização e respeito a regras, macularam interesses econômicos relevantes e desrespeitaram toda a imensa população de aficionados (além dos atletas) impotentes diante de tantos desmandos. Deste modo, principalmente nos aspectos de segurança, planejamento e respeito ao consumidor deste tipo de lazer, o Estatuto do Torcedor veio para tentar adequar estas relações, colocando um mínimo de ordem neste contexto.

Em primeiro lugar, deve-se observar que esta lei mais específica (EDT), embora mais recente e com o mesmo status de lei ordinária, não sobrepuja o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), na medida em que este último tem origem constitucional e é lei principiológica que dá o norte para o sistema de proteção ao consumidor. Isto não retira a relevância de que se reveste o Estatuto do Torcedor, pois a mencionada lei fez consolidar a concepção de que em eventos esportivos que não sejam completamente gratuitos (envolvendo amadores e sem cobrança de ingresso) configura-se sempre uma relação de consumo, com todas as consequências pertinentes estabelecidas no próprio Estatuto e no CDC.

O primeiro detalhe do EDT está na menção a Torcedor (e não a consumidor, embora o seja) e seu conceito conforme o estabelecido pela íntegra do artigo 2º, que diz: “Torcedor é toda pessoa física que aprecie, apoie, ou se associe a qualquer entidade de prática desportiva do País e acompanhe a prática de determinada modalidade esportiva. Parágrafo único: Salvo prova em contrário, presume-se a apreciação, o apoio ou o acompanhamento de que trata o caput deste artigo”.

Como se observa, temos como torcedores e, portanto, consumidores, os que apenas apreciam, os que simplesmente apoiam e os que resumem sua atividade a se associar a clube ou à determinada modalidade desportiva, seja ela qual for. Assim, para fazer valer direitos previstos na referido Estatuto, não é necessário que o torcedor (consumidor) tenha de comparecer e efetivar fisicamente uma relação de consumo mediante remuneração, pois o consumo do lazer representado pelo esporte nem sempre é presencial (pode ser acompanhado, por exemplo, pela mídia, pelo celular ou pela internet).

Do mesmo modo, preenchendo um dos requisitos para existência de relação de consumo, os meios de remuneração podem ser indiretos, tal como acontece quando a publicidade custeia transmissões e com o pagamento dos direitos de imagem são suportados os custos dos eventos e a remuneração dos participantes. Ou, ainda, quando empresas patrocinam ingressos através da simples apresentação dos rótulos de seus produtos. Esta concepção visualiza algo de grande significado: que o consumidor pode ter seus direitos desrespeitados, sendo sócio ou não da agremiação e mesmo não estando no local onde o evento esportivo é realizado. E mais, que nesta condição existe para o EDT, a figura do consumidor por presunção, em razão de que, para desfrutar do lazer, aprecia, apoia, ou acompanha determinada modalidade esportiva, cabendo ao fornecedor envolvido em eventual lide, o ônus de fazer prova em contrário.

Já no que concerne ao fornecedor, o EDT deixou de expressar uma conceituação, resumindo-se em mencionar como fornecedores equiparados a entidade responsável pela organização da competição e a entidade de prática desportiva detentora do mando do jogo.

Pois bem, este tipo de abordagem demonstra: a) que o conceito de fornecedor, bem como a caracterização daqueles que genuinamente tem esta condição, estão reservados dentro do sistema jurídico nacional para o CDC; b) que no EDT não existe um elenco taxativo de fornecedores, de modo que outras pessoas também podem ter esta condição, além das que o Estatuto menciona expressamente. Como exemplo, podemos citar as situações em que um jogo de futebol apesar de ter um clube na condição de mandante, se realize em estádio neutro pertencente a terceiro. Nesta situação, por evidente, o dono do estádio também será considerado fornecedor, tendo em vista que igualmente possui deveres a serem respeitados, em especial quanto a aspectos de segurança, limpeza das instalações, numeração dos lugares, etc.

Portanto, subsiste a concepção de que quem atua para prover este mercado de consumo de lazer, inclusive participando da cadeia de fornecimento é, em essência, um fornecedor tal como prescreve o CDC.

O EDT, então, veio tornar indubitável no direito positivo, a caracterização como fornecedor ou consumidor/torcedor, apenas daqueles cuja condição poderia gerar mais questionamentos, contribuindo desta forma para elucidar este reconhecimento nos casos concretos enfrentados pela jurisprudência. E, neste sentido, jamais extrapolou ou se incompatibilizou com o que dispõe o CDC.

O EDT, cabe dizer, não se constitui propriamente em um microssistema, pois carece de uma maior autossuficiência para aplicação completamente isolada. Ou seja, não é como a Lei nº 8.078/90 (CDC) que por conter preceitos de direito material, processual, administrativo e penal pode, autonomamente, ser aplicado sem dependência maior e incontornável da utilização concomitante de outros diplomas legais. O EDT, de sua parte, referencia outras normas, a exemplo do próprio CDC, da Lei nº 9.615/1998 (Lei Pelé) e da Lei nº 9.981/2000 (altera dispositivos da Lei nº 9.615/1998, e dá outras providências).

Apesar desta característica e de expressamente mencionar não se sobrepor ao CDC (abrindo mão da prioridade que poderia ser inferida de sua especialidade), mesmo assim o EDT tem lugar relevante em nosso sistema jurídico. Foi basicamente através dele que o desporto em nosso país ganhou um mínimo de organização e respeito para com os direitos legítimos da imensa parcela da população que se envolve direta ou indiretamente com esta atividade.

Sob o ponto de vista da prática desportiva em si, tem-se nele a obrigatoriedade de que as competições ou eventos sejam programados com antecipação, mediante calendário anual, bem como que sejam divulgados de forma transparente, inclusive com seu regulamento, com uma antecedência mínima de 60 dias (art. 5.º). Também a prescrição de que não possa haver alteração de regulamento durante a competição, impondo-se que o acesso de clubes participantes dos campeonatos aconteça sempre por critério técnico (e não possa ser por convite), com os árbitros (mesmo que participando de uma escala) sendo sorteados em local aberto ao público (e recebendo pagamento antecipado), questões que antes eram fonte de expedientes maliciosos utilizados pelos dirigentes como moeda de troca para corromper o esporte e auferir vantagens ilícitas.

O EDT tem sido fundamental, principalmente, nos aspectos envolvidos direta ou indiretamente com a segurança do torcedor. Ao impor, dentre outras providências, que

existam lugares numerados para cada espectador, que exista a contratação de seguro de acidentes pessoais para os portadores de ingressos que assistem ao evento, ao determinar a existência nos estádios de, ao menos, um médico, dois enfermeiros-padrão e uma ambulância para cada dez mil torcedores, ao organizar a forma de venda de ingressos e prescrever normas relativas a organização do transporte de torcedores, o EDT veio trazer civilidade ao ambiente da prática desportiva, antes tão desregrado/tumultuado e, permanentemente, susceptível aos problemas ocasionados por maus dirigentes e pela violência das torcidas corrompidas pela ação da bandidagem. E, neste ponto, o EDT transformou-se em um marco ao optar pela proteção da coletividade de consumidores e prescrever a punição daqueles torcedores que provocam tumulto, praticam ou incitam a violência (art. 39).

E mesmo a norma estabelecendo que a infração se caracterizará apenas se perpetrada no local do evento esportivo ou até uma distância de 5.000 metros (limite que deveria ser eliminado), já temos situações em que esta prescrição está sendo utilizada sem esta restrição (por aplicação direta ou analogia). No Rio Grande do Sul, por exemplo, há pessoas que, pelo prazo de até um ano, estão proibidas de frequentar estádios durante os jogos, devendo, na hora dos eventos, comparecer a uma Delegacia e lá permanecer como punição por terem tumultuado eventos esportivos e até, numa das situações, por terem agredido dirigentes de outra equipe quando estes chegavam ao aeroporto (portanto, longe de qualquer evento esportivo). É a proteção da coletividade de consumidores e demais pessoas envolvidas com o esporte que não podem ser prejudicadas por marginais transvertidos de torcedores.

Aproveitando momento de tanta evidência do esporte, então, revela-se propício propor algumas alterações no Estatuto do Torcedor, como forma de nova evolução. São elas:

a) Proscrever, com duras sanções, à ação dos cambistas. Embora o Estatuto possua um capítulo para regular a questão da venda de ingressos, a ação de cambistas ainda se constitui em uma ilicitude que está difícil de erradicar. Nos Jogos Pan-Americanos, por exemplo, todos os ingressos foram vendidos antecipadamente, mas os estádios e ginásios se apresentam praticamente vazios no momento das competições, por conta de que os ingressos se encontram em mãos de cambistas que exigem fortunas para revendê-los, praticando autêntico crime econômico contra quem deseja a aquisição para assistir o evento;

b) Ampliar o seguro. Se já existe seguro obrigatório para o torcedor, porque não estender para todos os que adentram ao estádio (ex.: para os vendedores ambulantes), mesmo que custeado por estes quando da autorização, afinal eles também são susceptíveis de acidentes ou danos acontecidos durante o evento esportivo;

c) atribuir maior responsabilidade, com rigorosas punições para o clube, em razão dos atos danosos de sua torcida, independente de onde aconteçam, bastando que relacionados com o esporte (e não fazer recair só sobre o clube mandante), atendendo aos princípios da responsabilidade e da solidariedade previstos no CDC.

Seriam medidas simples, mas úteis para contribuir no sentido da melhora desta área tão valiosa como lazer para o povo brasileiro.

Ante o exposto, conclui-se que o nascimento do Estatuto do Torcedor deu-se com o objetivo de acabar com o grave problema da falta de segurança nas arenas esportivas, tendo em vista a constatação de que o esporte é dependente cada vez mais do seu público.

A respeito da existência do CDC, o Estado viu ser necessário elaborar um ordenamento jurídico específico para uma relação jurídica de consumo: a existente entre o

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