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O estatuto de defesa do torcedor à luz do código de defesa do consumidor

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

DEPARTAMENTO DE DIREITO CURSO DE DIREITO

RUBENS LOPES FERNANDES

O Estatuto de Defesa do Torcedor à luz do Código de Defesa do Consumidor

Florianópolis/SC 2019

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RUBENS LOPES FERNANDES

O Estatuto de Defesa do Torcedor à luz do Código de Defesa do Consumidor

Monografia submetida à banca examinadora da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito, sob orientação do Professor Dr. Geyson José Gonçalves da Silva.

Florianópolis/SC 2019

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo analisar as transformações introduzidas após a promulgação do Estatuto de Defesa do Torcedor, Lei nº 10.671/2003, verificando o que mudou no que tange à responsabilidade objetiva sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/1990. Para proceder ao estudo foi adotado o método dedutivo e a técnica da pesquisa bibliográfica. Inicialmente, apresenta-se o histórico do surgimento do Estatuto do Torcedor e a sua relação geral ao Código de Defesa do Consumidor, discorrendo-se sobre os principais sujeitos na relação de consumo e sua aplicabilidade nos eventos desportivos. Em seguida, verifica-se quais e que tipos de responsabilidades são geradas a partir do advento do Estatuto de Defesa do Torcedor, bem como quais são os direitos e deveres do torcedor elencados no referido diploma legal, enfatizando-se sobre a segurança do torcedor partícipe no evento esportivo. Por fim, verifica-se por meio de jurisprudências como está o entendimento em relação à responsabilidade objetiva após o advento do Estatuto do Torcedor, o qual equipara o torcedor como consumidor.

Palavras-chave: Estatuto de Defesa do Torcedor. Direito do Consumidor. Relação de

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CDC – Código de Defesa do Consumidor

CRFB/88 – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 EDT – Estatuto de Defesa do Torcedor

EROC – Entidade Responsável pela Organização da Competição MP – Ministério Público

PROCON – Procuradoria de Defesa do Consumidor ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

2 O ESTATUTO DE DEFESA DO TORCEDOR E A RELAÇÃO COM O DIREITO DO CONSUMIDOR ... Erro! Indicador não definido.6 2.1 O Torcedor Consumidor ... 19

2.2 O Clube como Fornecedor de Produtos ou Serviços...20

3 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E OS EVENTOS DESPORTIVOS...21

Erro! Indicador não definido. 3.1 ... Conceito de Consumidor22 3.2 Conceito de Fornecedor ... 25

3.3 As Relações de Consumo nos Eventos Desportivos... 27

3.4 O Torcedor Equiparado ao Consumidor...29

3.5 Os Direitos e Deveres do Torcedor...33

4 A RESPONSABILIDADE CIVIL NOS EVENTOS DESPORTIVOS E A JURISPRUDÊNCIA ... 46

4.1 A Responsabilidade Civil...46

4.2 A Responsabilidade Civil nos Eventos Desportivos...47

4.3 A Responsabilidade Objetiva do Clube...47

4.4 A competência do Ministério Público e o CDC...49

5 CONCLUSÃO ... 54

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1 INTRODUÇÃO

A Lei nº 10.671/2003, conhecida como Estatuto do Torcedor (EDT), foi criada para estabelecer normas de proteção e defesa aos torcedores da pátria brasileira. A lei foi proposta pelo o Poder Executivo e foi sancionada em 15 de maio de 2003.

Torcedor, de acordo com a referida lei, é toda pessoa que aprecie, apoie ou se associe a qualquer entidade de prática desportiva do País e acompanhe determinada modalidade esportiva (art. 2º). Conceito bastante amplo, que engloba quase a totalidade dos brasileiros, pois a lei alcança práticas esportivas de qualquer natureza ou modalidade (parte final do art. 2º-A). Do mesmo modo, equipara a entidade de prática desportiva (clubes) e entidades responsáveis pela organização da competição (EROC) a figura de fornecedor de serviços.

O advento do Estatuto do Torcedor, como resposta do Estado a questões como o aumento significativo da violência por parte de torcedores nos estádios e seu entorno, a atuação dos cambistas na venda de ingressos, assim como o descaso dos dirigentes de clubes junto aos torcedores, trouxe, ainda que lentamente, avanços nas relações de consumo nos eventos esportivos.

Assim, os dirigentes do futebol brasileiro iniciaram timidamente algumas ações recomendadas pelo Estatuto do Torcedor, entre as quais a divulgação das tabelas das competições com antecedência, o sorteio público dos juízes atuantes em determinada partida e os cuidados com a segurança de torcedores nos estádios.

Apesar da necessidade desta Lei, que organiza e regulamenta as ações no mundo do futebol, houve uma ação direta de inconstitucionalidade movida contra os artigos que acarretariam uma responsabilidade objetiva aos organizadores de eventos desportivos. No entanto, o Supremo Tribunal Federal declarou constitucional o Estatuto, confirmando que os clubes passaram a ser considerados “fornecedores” e o torcedor “consumidor”.

Em que pese avanços, ainda se verifica o pouco conhecimento dos torcedores em relação ao Estatuto do Torcedor, a persistente violência dentro e fora dos campos, os erros de arbitragem prejudicando os times e os desmandos por parte de alguns dirigentes, o que leva a concluir que os organizadores de eventos desportivos não estão se importando para as consequências da aplicabilidade do Estatuto do Torcedor.

Desse modo, o Estatuto do Torcedor submete-se a direitos e deveres semelhantes aos que são determinados no Código de Defesa do Consumidor, devendo aquele diploma legal ser

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analisado de maneira conjunta com este, para que haja um desporto nacional com maior nível de transparência, moralidade, organização e segurança adequada às necessidades dos torcedores consumidores, uma vez que são a base da prática de qualquer modalidade esportiva.

Nesse sentido, o objetivo geral deste trabalho de conclusão de curso foi analisar quais e que tipos de responsabilidades são geradas a partir do advento do Estatuto de Defesa do Torcedor, bem como quais são os direitos e deveres do torcedor elencados no referido diploma legal, dando ênfase ao capítulo que dispõe sobre a segurança do torcedor partícipe no evento esportivo.

Para o desenvolvimento deste estudo adotou-se o método dedutivo, utilizando o procedimento monográfico, com técnica de pesquisa bibliográfica. O presente estudo será dividido em três capítulos, a saber, no primeiro capítulo apresentar-se-á um breve histórico acerca do Direito Desportivo, do Estatuto de Defesa do Torcedor, e os princípios basilares e inerentes ao Direito Desportivo e ao EDT. No segundo capítulo analisar-se-á acerca dos conceitos de torcedor, fornecedor do evento esportivo e a relação de consumo entre eles, como também, as responsabilidades geradas pelo Estatuto de Defesa do Torcedor. O terceiro capítulo ocupar-se-á em estudar o Estatuto de Defesa do Torcedor de forma geral, a sua aplicabilidade e a atuação do Ministério Público frente ao referido diploma legal.

2 O ESTATUTO DO TORCEDOR E A RELAÇÃO COM O DIREITO DO CONSUMIDOR

O Estatuto de Defesa do Torcedor, como ficou conhecida a Lei 10.671/03, é resultado de um histórico longo e conflitante no futebol brasileiro. A citada lei tem por objetivo proteger os interesses do consumidor de esportes no papel de torcedor, obrigando as instituições responsáveis a estruturarem o esporte no País de maneira organizada, transparente, segura, limpa e justa.

Antes do advento da Lei nº 10.671/03 o Código de Defesa do Consumidor podia ser perfeitamente aplicado em favor do torcedor, quando fosse vítima de algum dano ou prejuízo.

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E essa aplicação se dava por conta: a) da Constituição Federal ser o centro irradiador de proteção do consumidor, vinculando o Estado e todos os intérpretes da lei1; b) da Lei Pelé que equiparava o torcedor pagante (aquele que comparece ao local da partida por meio da aquisição de ingresso), para todos os efeitos legais, ao consumidor nos termos do artigo 2º do Código de Defesa do Consumidor; c) da filosofia de proteção ao mais fraco onde se mostra imperioso o reequilíbrio, já que há uma desigualdade de posições e direitos entre o consumidor e o fornecedor2.

Com a vigência do Estatuto do Torcedor, que se aplica somente ao desporto profissional, equiparou-se a fornecedor, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, a entidade responsável pela organização da competição, bem como a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo, além de destacar que a defesa dos interesses e direitos dos torcedores em juízo observará, no que couber, a mesma disciplina da defesa dos consumidores em juízo de que trata o Título III da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.

Assim, apesar do Estatuto do Torcedor ser uma lei especial com elementos próprios por força da especificidade da relação entre torcedor e fornecedor, característica do Direito Desportivo, ele dialoga perfeitamente com o código consumerista pela coerência que existe entre eles.

E esse diálogo significa aplicação concomitante, simultânea e coerente dessas duas leis, que apresentam campos de aplicação convergentes, mas não iguais3, para a maximização da proteção do torcedor e materialização dos mandamentos constitucionais.

Ainda, o Supremo Tribunal Federal, em 23 de fevereiro de 2012, declarou a constitucionalidade do Estatuto de Defesa do Torcedor em face à Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) proposta pelo Partido Progressista (PP), julgada totalmente improcedente, conforme noticiado pelo Portal STF4:

Por unanimidade de votos, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou nesta quinta-feira (23) a constitucionalidade do Estatuto de Defesa do Torcedor (Lei 10.671/2003). Inúmeros dispositivos da norma foram questionados pelo Partido Progressista (PP) por meio de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2937 julgada totalmente improcedente nesta tarde. O entendimento seguiu o voto do presidente da Corte, ministro Cezar Peluso, relator do processo.

1MARQUES, Claudia Lima. Manual de Direito do Consumidor. Ed. Revista dos Tribunais. Pág. 29. 2BITTAR, Calos Alberto. Direito do Consumidor – Código de Defesa do Consumidor. Forense-RJ. 3MARQUES, Cláudia Lima, Op. cit. Pág. 89.

4http://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/destaquesClipping.php?sigla=portalStfDestaque_pt_br&idCo

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Na ação, o PP afirmou que o Estatuto de Defesa do Torcedor significava uma afronta aos postulados constitucionais da liberdade de associação, da vedação de interferência estatal no funcionamento das associações e, sobretudo, da autonomia desportiva. A agremiação acrescentou que a norma teria extrapolado o limite constitucional conferido à União para legislar sobre desporto, que é concorrente com os estados e o Distrito Federal, e conteria lesões a direitos e garantias individuais. Em seu voto, o ministro Cezar Peluso rechaçou todos os argumentos do PP: “a meu ver, não tem razão (o partido)”. Segundo ele, o Estatuto do Torcedor é um conjunto ordenado de normas de caráter geral, com redação que atende à boa regra legislativa e estabelece preceitos de “manifesta generalidade”, que “configuram bases amplas e diretrizes gerais para a disciplina do desporto nacional” em relação à defesa do consumidor.

O ministro ressaltou que, ao propor o texto do Estatuto, a União exerceu a competência prevista no inciso IX do artigo 24 da Constituição Federal. O dispositivo determina que a União, os estados e o Distrito Federal têm competência concorrente para legislar sobre educação, cultura, ensino e desporto. “A lei não cuida de particularidades nem de minudências que pudessem estar reservadas à dita competência estadual concorrente”, disse.

Ele frisou que a norma federal não teria como atingir um mínimo de efetividade social sem prever certos aspectos procedimentais necessários na regulamentação das competições esportivas. “Leis que não servem a nada não são, de certo, o de que necessita esse país, e menos ainda na complexa questão que envolve as relações entre dirigentes e associações desportivas”, ponderou.

Ao citar trecho de parecer do Ministério Público Federal (MPF) em defesa do Estatuto, o ministro Cezar Peluso observou que, na verdade, a norma fixa princípios norteadores da proteção dos direitos do torcedor, estabelecendo os instrumentos capazes de garantir efetividade a esses princípios. “Embora possa ter inspiração pré-jurídica em característica do futebol, de certo modo o esporte mais popular e que movimenta as maiores cifras no planeta, aplica-se o Estatuto às mais variadas modalidades esportivas”, concluiu ele.

O relator acrescentou ainda que, na medida em que se define o esporte como um direito do cidadão, este se torna um bem jurídico protegido no ordenamento jurídico em relação ao qual a autonomia das entidades desportivas é mero instrumento ou meio de concretização.

Por fim, ele afirmou não encontrar “sequer vestígio de afronta” a direitos e garantias individuais na norma, como alegado pelo PP. “Os eventuais maus dirigentes, únicos que não se aproveitam da aplicação da lei, terão de sofrer as penalidades devidas, uma vez apuradas as infrações e as responsabilidades, sob o mais severo respeito aos direitos e garantias individuais previstos no próprio Estatuto”, concluiu o ministro Cezar Peluso.

Todos os ministros presentes à sessão acompanharam o relator. “Compartilho da compreensão de que o Estatuto, na verdade, visa assegurar ao torcedor o exercício da sua paixão com segurança. Isso implica imputar responsabilidade aos organizadores dos eventos esportivos”, afirmou a ministra Rosa Weber.

“Não me parece que tenha havido qualquer exorbitância na (lei)”, concordou a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha. Para o ministro Ayres Britto, o Estatuto protege o torcedor-consumidor. “É dever do Estado fomentar práticas desportivas como direito de cada um de nós, de cada torcedor”, ponderou. No mesmo sentido votaram os ministros Luiz Fux, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Celso de Mello. Não participaram do julgamento os ministros Ricardo Lewandowski e Joaquim Barbosa.

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2.1 O Torcedor Consumidor

O torcedor é vital para o desenvolvimento e sobrevivência do esporte. Ele é o verdadeiro financiador desse patrimônio e, sendo assim, merece a garantia de que as competições que aprecia e participa sejam eventos transparentes e seguros.

Após o advento do Estatuto de Defesa do Torcedor, o sujeito torcedor passou a ser tutelado de forma específica, porquanto o referido diploma legal, em seu artigo 2º define-o como “toda pessoa que aprecie, apoie ou se associe a qualquer entidade de prática desportiva do país e acompanhe a prática de determinada modalidade desportiva”.

O parágrafo único do art. 2º5 dispõe que a condição de torcedor é presumível. Ou seja, quem alegar a condição de torcedor para os fins de aplicação do Estatuto não tem o ônus de comprovar ser detentor de tal condição. Esse ônus caberá à outra parte, no caso de essa outra parte pretender contestar que aquele que alega ser torcedor possa ser enquadrado em tal definição.

O art. 3ºequipara as entidades responsáveis pela organização da competição, assim como as entidades detentoras do mando de jogo, aos fornecedores, assim definidos pela Lei 8.078/90, o Código de Defesa do Consumidor. No CDC, o conceito de fornecedor é utilizado para identificar o responsável pela colocação de produtos e serviços à disposição do consumidor.

O Estatuto do Torcedor revela vários pontos de identidade com os conceitos presentes no CDC. O interesse do legislador em adotar conceitos do CDC, mais do que simples técnica legislativa, aponta intenção de que a aplicação do Estatuto do Torcedor atinja resultados tão eficazes no âmbito das relações esportivas quanto o CDC, o qual tem se revelado meio eficaz para garantia da proteção do consumidor em geral.

A promulgação da Lei 9.615/98, popularmente conhecida como “Lei Pelé”, trouxe diversas inovações para o esporte brasileiro, destacando-se o artigo 42, que prevê em sua redação original:

Art. 42. Às entidades de prática esportiva pertence o direito de negociar, autorizar e proibir a fixação, a transmissão ou retransmissão de imagem de espetáculo ou eventos desportivos de que participem.

5Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se a apreciação, o apoio ou o acompanhamento de que

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[...]

§3º O espectador pagante, por qualquer meio, de espetáculo ou evento desportivo, equipara-se, para todos os efeitos legais, ao consumidor, nos termos do art. 2º da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.

O Estatuto do Torcedor expandiu o conceito do artigo 42, §3º da Lei Pelé, que equiparava o “espectador pagante” ao consumidor. No Estatuto, o torcedor deixa de ser somente o “espectador pagante”, aquele que paga ingresso para comparecer à arena, de modo que o conceito passa a compreender, também, todo aquele que acompanha, não necessariamente in loco, a entidade de prática desportiva ou a prática de uma determinada modalidade esportiva. Entendemos que o sentido do termo “acompanhar” compreenderia aquele torcedor que acompanha a transmissão do evento pelos mais diversos meios que a mídia oferece (TV, rádio, jornal, internet).

Na outra ponta da relação de consumo, estão as entidades de administração do esporte (federações e confederações), responsáveis pela organização do evento esportivo, e as entidades de prática desportiva mandantes da competição. Entidades de administração do esporte e os clubes mandantes da cada partida dividem, pela ótica do Estatuto do Torcedor, a responsabilidade pelo “fornecimento” do serviço caracterizado pela promoção e organização do evento esportivo. A caracterização da entidade de prática como “detentora do mando de jogo” está prevista no artigo 15 do Estatuto, que prevê que essa definição será estabelecida no regulamento de cada competição.

Assim, o Estatuto do Torcedor revela vários pontos de identidade com os conceitos presentes no CDC. O interesse do legislador em adotar conceitos do CDC, mais do que simples técnica legislativa, aponta intenção de que a aplicação do Estatuto do Torcedor atinja resultados tão eficazes no âmbito das relações esportivas, quanto o CDC, já há mais de uma década, tem se revelado meio eficaz para garantia da proteção do consumidor em geral.

2.2 O Clube como Fornecedor de Produtos ou Serviços

O Estatuto de Defesa do Torcedor definiu com maior exatidão a figura equiparada ao fornecedor do Código de Defesa do Consumidor, estipulando em seu artigo 3º:

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Art. 3º Para todos os efeitos legais, equiparam-se a fornecedor, nos termos da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, a entidade responsável pela organização da competição, bem como a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo.

A Lei nº. 8.078/1990, o Código de Defesa do Consumidor, mencionada acima, conceitua fornecedor da seguinte maneira:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

3 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E OS EVENTOS DESPORTIVOS

O Código de Defesa do Consumidor (CDC), que está presente no ordenamento jurídico pátrio há 29 anos, representou um significativo avanço brasileiro no sentido de se alinhar aos países desenvolvidos, pois durante o século XX tornou-se necessário promover intervenção efetiva nas relações de consumo, as quais baseadas nos princípios do livre mercado eram intocáveis.

Apesar dos mais diversos problemas, o CDC, diferentemente de outras normas brasileiras, conseguiu tornar-se efetivo no cotidiano brasileiro. Hoje, considerável parcela de consumidores são conscientes de seus direitos, e as empresas procuram seguir os seus preceitos.

Conforme Rizzatto Nunes6, os consumidores de hoje são elementos ativos e determinantes das relações de consumo, os quais cada vez mais informados não aceitam passivamente qualquer condição que os prejudiquem.

Desde a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, este sofreu poucas alterações. É considerada uma legislação atual, genérica e dinâmica. Trata-se de um instrumento poderoso e respeitado no mundo todo. Muitos países que não possuem um CDC próprio, procuram amparo no brasileiro.

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Na sequência, este capítulo apresenta o conceito dos principais sujeitos da relação de consumo, destacando-se o torcedor equiparado a um deles, bem como a incidência do CDC no âmbito desportivo.

3.1 Conceito de Consumidor

O Código de Defesa do Consumidor, no art. 2º, utiliza dois verbos: “adquirir” e “utilizar”. Isso evidencia que consumidor não é apenas a pessoa física ou jurídica que celebra um contrato com o fornecedor, mas também aquele que meramente utiliza o produto ou serviço, estando na qualidade de bystander ou consumidor equiparado. Veja-se:

Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

No parágrafo único do art. 2º também são considerados consumidores a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que posteriormente venha a sobrevir na relação de consumo, conforme verbis:

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

Se a coletividade interveio, de alguma forma, na relação de consumo, ela será considerada consumidora.

Pois bem, o art. 2º, caput do CDC define que o consumidor pode ser pessoa física ou jurídica. A interpretação dos termos “pessoa física” e “pessoa jurídica”, juntamente com a expressão “destinatário final” vai demonstrar a prevalência da teoria finalista no direito brasileiro, sendo que o STJ a encampa em sua jurisprudência.

No art. 17 do CDC encontra-se a figura do consumidor por equiparação ou

bystanders, que são todas as vítimas dos fatos do produto ou serviço defeituoso. Assim diz o

referido artigo:

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.

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Na prática, trata-se do terceiro, do expectador, daquele que não interveio na relação de consumo, mas é vítima e, por isso, é equiparado ao consumidor. Vítimas de danos ocasionados pelo fornecimento de produto ou serviço defeituoso.

Por fim, e não menos importante, o art. 29, também considera consumidor equiparado as pessoas, determináveis ou não, expostas às práticas comerciais das situações nele previstas, conforme se lê:

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.

O finalismo procura encaixar no conceito de consumidor apenas aqueles que sejam considerados realmente vulneráveis na relação jurídica assimétrica de consumo. Para tal, considera como consumidor aquele que seja o destinatário final e econômico do serviço ou produto. Destinatário final porque retira o bem do mercado. Destinatário econômico porque não o reemprega no mercado para fins de exercício de sua própria atividade, exaurindo a função econômica do bem.

O maximalismo, por sua vez, é a doutrina que procura encaixar no conceito de consumidor um maior número de agentes. Dessa forma, acaba considerando como consumidor todos os destinatários fáticos da relação de consumo, bastando retirar o produto ou serviço do mercado, não precisando haver o seu exaurimento. Essa teoria admite o consumo intermediário, ou seja, o reemprego do bem obtido na atividade do agente.

Há de se mencionar, porém, que houve uma interpretação no STJ de que, com base no art. 29 do CDC, poder-se-ia considerar que pequenas empresas ou determinados profissionais liberais poderiam ser considerados consumidores, desde que comprovada a vulnerabilidade no caso concreto em situações de consumo intermediário, ou seja, eles consomem para reempregar o bem ou serviço na sua atividade econômica. É o finalismo aprofundado. Veja-se a ementa do REsp 1.195.642/RJ:

CONSUMIDOR. DEFINIÇÃO. ALCANCE. TEORIA FINALISTA. REGRA. MITIGAÇÃO. FINALISMO APROFUNDADO. CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO. VULNERABILIDADE.1. A jurisprudência do STJ se encontra consolidada no sentido de que a determinação da qualidade de consumidor deve, em regra, ser feita mediante aplicação da teoria finalista, que, numa exegese restritiva do art. 2º do CDC, considera destinatário final tão somente o destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa física ou jurídica. 2. Pela teoria finalista, fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário, assim entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e distribuição, compondo o custo (e, portanto, o preço final) de um novo bem ou

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serviço. Vale dizer, só pode ser considerado consumidor, para fins de tutela pela Lei nº 8.078/90, aquele que exaure a função econômica do bem ou serviço, excluindo-o de forma definitiva do mercado de consumo. 3. A jurisprudência do STJ, tomando por base o conceito de consumidor por equiparação previsto no art. 29 do CDC, tem evoluído para uma aplicação temperada da teoria finalista frente às pessoas jurídicas, num processo que a doutrina vem denominando finalismo aprofundado, consistente em se admitir que, em determinadas hipóteses, a pessoa jurídica adquirente de um produto ou serviço pode ser equiparada à condição de consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma vulnerabilidade, que constitui o princípio-motor da política nacional das relações de consumo, premissa expressamente fixada no art. 4º, I, do CDC, que legitima toda a proteção conferida ao consumidor. 4. A doutrina tradicionalmente aponta a existência de três modalidades de vulnerabilidade: técnica (ausência de conhecimento específico acerca do produto ou serviço objeto de consumo), jurídica (falta de conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de seus reflexos na relação de consumo) e fática (situações em que a insuficiência econômica, física ou até mesmo psicológica do consumidor o coloca em pé de desigualdade frente ao fornecedor). Mais recentemente, tem se incluído também a vulnerabilidade informacional (dados insuficientes sobre o produto ou serviço capazes de influenciar no processo decisório de compra). 5. A despeito da identificação in abstracto dessas espécies de vulnerabilidade, a casuística poderá apresentar novas formas de vulnerabilidade aptas a atrair a incidência do CDC à relação de consumo. Numa relação interempresarial, para além das hipóteses de vulnerabilidade já consagradas pela doutrina e pela jurisprudência, a relação de dependência de uma das partes frente à outra pode, conforme o caso, caracterizar uma vulnerabilidade legitimadora da aplicação da Lei nº 8.078/90, mitigando os rigores da teoria finalista e autorizando a equiparação da pessoa jurídica compradora à condição de consumidora. 6. Hipótese em que revendedora de veículos reclama indenização por danos materiais derivados de defeito em suas linhas telefônicas, tornando inócuo o investimento em anúncios publicitários, dada a impossibilidade de atender ligações de potenciais clientes. A contratação do serviço de telefonia não caracteriza relação de consumo tutelável pelo CDC, pois o referido serviço compõe a cadeia produtiva da empresa, sendo essencial à consecução do seu negócio. Também não se verifica nenhuma vulnerabilidade apta a equipar a empresa à condição de consumidora frente à prestadora do serviço de telefonia. Ainda assim, mediante aplicação do direito à espécie, nos termos do art. 257 do RISTJ, fica mantida a condenação imposta a título de danos materiais, à luz dos arts. 186 e 927 do CC/02 e tendo em vista a conclusão das instâncias ordinárias quanto à existência de culpa da fornecedora pelo defeito apresentado nas linhas telefônicas e a relação direta deste defeito com os prejuízos suportados pela revendedora de veículos. 7. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 1195642/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/11/2012, DJe 21/11/2012).

Analisou-se a função do CDC, qual seja: a proteção do consumidor, que é aquele vulnerável. Assim, é preciso encontrar a vulnerabilidade para encontrar quem é o consumidor. No caso concreto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) não aplica sumariamente uma ou outra teoria, ele analisa se há ou não um vulnerável na relação de consumo. Se houver, aplicava-se o CDC.

A professora Cláudia Lima Marques, em sua obra Manual de Direito do Consumidor (2013), elenca as espécies de vulnerabilidade adotadas pelo STJ; vejamos elas:

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Técnica: A respeito de informações técnicas do produto/serviço.

Jurídica: Falta conhecimento específico - que para aquela relação será importante -, que pode ser jurídico (leis), ou de uma temática financeira, de engenharia, etc. Econômica: Uma das partes da relação é muito forte economicamente. Ex. Monopólio, ou há uma relação de dependência grande.

Informacional: é uma espécie de vulnerabilidade técnica. Há uma fragilidade de informação, pois a evolução dos produtos se dá de modo muito rápido.

O STJ se diz finalista, mas se for encontrado no caso concreto uma vulnerabilidade, deve-se relativizar a teoria finalista para a aplicação do CDC – Teoria finalista mitigada ou teoria finalista aprofundada.

3.2 Conceito de Fornecedor

Assim como o consumidor, o termo jurídico “fornecedor” é definido pelo Código de defesa do Consumidor. O legislador, objetivando proteger o consumidor, ao definir o termo fornecedor, preferiu adotar um conceito bastante abrangente. Esta conceituação está prevista no art. 3º, da Lei 8.078⁄90:

Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§1º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

§2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

A lei inclui no rol dos fornecedores a pessoa jurídica de direito público (e, ainda, todos aqueles que em nome da administração pública - direta ou indiretamente - prestam serviços públicos), deixando clara a opção legislativa em reconhecer e admitir o Estado como fornecedor.

O Estado, nas suas atribuições legais, presta serviços aos cidadãos, nas mais variadas modalidades. Isso ocorre, porque nem todas as necessidades destes podem ser supridas pelos seus próprios recursos e pela iniciativa privada. As atividades desenvolvidas pela Administração Pública, destinadas ao oferecimento de comodidades e utilidades com essas características, constituem serviços públicos (cf. GASPARINI, 2009:294). Esses serviços

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configuram uma relação de consumo, estando sujeitos às regras do Código de Defesa do Consumidor.

Ao enumerar uma enorme lista de atividades econômicas, o referido diploma legal considerou os fornecedores como sendo os indivíduos que participam da cadeia de fornecimento de produtos e serviços. Cumpre-se ressaltar que o consumidor dificilmente tem conhecimento de todos os fornecedores que constituem a cadeia produtiva. Para solucionar esta dificuldade, o legislador permitiu a responsabilidade solidária de cada um deles, prevista no art.18, caput:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

Ressalte-se, ainda, as devidas exceções legais do art. 12, parágrafo 3º, do CDC:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

[...]

§ 3º O fabricante, o construtor, o produtor ou o importador só não será responsabilizado quando provar:

I. que não colocou o produto no mercado;

II. que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III. a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

O conceito de fornecedor vai além das pessoas sujeitas ao direito comercial, ele inclui também as atividades econômicas civis. Portanto o profissional liberal, profissional autônomo, desde que exerça atividade econômica de produção ou prestação de serviços que tem o mercado como destinatário, são considerados fornecedores pelo CDC.

Porém, a legislação apesar de considerar o empresário e o profissional liberal fornecedores, no que tange à responsabilidade, buscou tratar de forma diferenciada ao dispor no art. 14, parágrafo 4º:

Art. 14º. O fornecedor de serviços responde, independente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à

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prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequados sobre a função e riscos.

[...]

§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

3.3 As Relações de Consumo nos Eventos Desportivos

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XXXII, bem como em seu artigo 170, inciso V, impôs ao Estado o dever de promover a defesa do consumidor, na forma da lei. Assim, em 11 de setembro de 1990, instituiu-se a Lei nº 8.078, conhecida como o Código de Defesa do Consumidor.

Com efeito, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor se dá quando configurada a relação jurídica de consumo, na qual um consumidor adquire de um fornecedor determinado produto ou serviço, como destinatário final.

O artigo 2º do CDC define o consumidor como sendo toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Acrescenta-se que a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo, é equiparada a consumidor, como nos casos de publicidade enganosa ou práticas comerciais abusivas.

Fornecedor, nos termos da Lei, é conceituado como toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou serviços.

Entende-se por produto qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial, destinado à satisfação do consumidor; e por serviço qualquer atividade desenvolvida no mercado de consumo, mediante remuneração, em favor do consumidor.

Partindo dessas concepções, verifica-se claramente a existência de uma relação jurídica de consumo entre o torcedor e os organizadores de um evento esportivo. Ao adquirir um ingresso para assistir a uma partida de futebol, por exemplo, o torcedor adquire um produto como destinatário final de um serviço, qual seja o espetáculo esportivo promovido pelo fornecedor (clubes e organizadores do evento).

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Assim, o próprio Estatuto do Torcedor, nos preceitos do artigo 3º, expressamente equipara a fornecedor as entidades responsáveis pelo evento esportivo, referindo-se à Lei 8.078/90 (CDC).

De qualquer forma, a criação de Lei específica para defesa dos interesses do torcedor enquanto consumidor não exclui a aplicação do Código, pelo contrário, o complementa.

Ainda, em qualquer relação jurídica considerada como de consumo devem ser aplicados os princípios básicos do Código de Defesa do Consumidor. E estes preceitos básicos são uma exteriorização dos princípios e garantias constitucionais, conforme preceitua o próprio CDC em seu artigo 1º:

Art. 1°: O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.

Desse modo, toda lei específica que regule uma determinada relação de consumo, como no caso do Estatuto do Torcedor, deve harmonizar tais preceitos gerais, sob pena de invalidade ou nulidade, haja vista que o sistema principiológico do Código não pode ser desobedecido.

Por isso, o Estatuto do Torcedor foi projetado de forma a complementar a lei de defesa do consumidor naquela relação jurídica de consumo específica (torcedor/organizador do evento), devendo ser utilizado sempre adjacente ao Código de Defesa do Consumidor.

Nos casos concretos, a jurisprudência não é em outro sentido, a exemplo dos julgados do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a seguir transcritos:

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL E MATERIAL. TUMULTO EM ESTÁDIO DE FUTEBOL. LESÃO CORPORAL EM TORCEDOR. A Lei nº 10.671/03 (Estatuto de Defesa do Torcedor) foi editada em complementação à Lei nº 8.078/90, razão pela qual as respectivas normas devem ser aplicadas em conjunto. Por consequência, a responsabilidade da entidade desportiva, por danos causados ao torcedor, é objetiva, a teor do art. 14 do CDC. Havendo prova de que o serviço foi mal prestado, do dano e do nexo de causalidade, há o dever de reparação. Falha na prestação do serviço que está consubstanciada na venda excessiva de ingressos aos torcedores do time adversário e da visível desorganização do clube diante dessa situação. Lucros cessantes que precisam ser apurados com amparo em critérios razoáveis, na busca de uma indenização justa, a partir da prova produzida. Art. 402 do novo CC. Valor da reparação do dano moral mantida. Responsabilidade que, no caso, é contratual, incidindo, os juros moratórios, a partir da citação. Art. 219 do CPC. Agravo retido não conhecido e apelo provido em parte. (TJRS, Apelação Cível nº 70010299618, Quinta Câmara Cível, relator Desembargador Leo Lima, Julgado em 10/03/2005)

REPARAÇÃO DE DANOS. TORCEDOR IMPEDIDO DE INGRESSAR EM ESTÁDIO DURANTE PARTIDA DE FUTEBOL, EMBORA TIVESSE

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ADQUIRIDO INGRESSO. ESTATUTO DO TORCEDOR. DIREITO À REPARAÇÃO DOS DANOS. Busca a parte autora indenização pelos danos materiais e morais sofridos ao não ingressar no Estádio onde ocorreria a partida Grêmio x Cruzeiro pela Taça Libertadores da América. Ilegitimidade passiva do requerido afastada. Preliminar que se confunde com o mérito. São aplicáveis ao caso a Lei n° 10.671/03 – Estatuto de Defesa do Torcedor – e a Lei n° 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor -. Como se vê do texto dos artigos 3º e 14 da Lei n° 10.671/03, o Estatuto do Torcedor faz expressa remissão ao microssistema consumerista, equiparando a entidade responsável pela organização da competição ao fornecedor. A responsabilidade pela segurança do torcedor durante a realização de evento esportivo é da entidade detentora do mando de jogo, conforme art. 17 do Estatuto do Torcedor. Tratando-se de falha na segurança, a responsabilidade é objetiva, ensejando a aplicação, além das regras específicas do Estatuto do Torcedor, do disposto nos arts. 12 a 14 do CDC, que estabelecem a responsabilidade – objetiva – do fornecedor por defeitos na prestação de serviço. E não há falar que a mera solicitação de segurança ao Poder Público (art. 14, I, da Lei n° 10.671/03), pela entidade desportiva, transfere a responsabilidade pela segurança exclusivamente ao Estado. A solicitação de segurança ao Estado é um dos deveres da entidade desportiva, o que não exclui a responsabilidade pela elaboração do plano de ação especial que se refere o artigo 17 do Estatuto. Entidade desportiva deve responder independentemente de culpa pelos prejuízos causados ao torcedor. Assim, ainda que tenha sido requisitada segurança ao Poder Público e estando esta efetivamente presente no estádio, se o ilícito ocorreu é de se concluir que a segurança prestada era insuficiente ou defeituosa, ensejando, assim, na forma do art. 19 da Lei n° 10.671/03, combinado com o art. 14 da Lei n° 8.078/90, o dever de indenizar da entidade desportiva. Dano moral in re ipsa. Quantum indenizatório mantido visto que atende aos parâmetros adotados pelas Turmas Recursais. (Ementa extraída do Recurso Inominado nº 71002390987, relatado pelo Dr. Fábio Vieira Heerdt, julgado em 24/06/2010). Recurso provido. (TJRS, Recurso Cível Nº 71002820546, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ricardo Torres Hermann, Julgado em 28/10/2010)

À vista do exposto, conclui-se, indubitavelmente, que o torcedor de um espetáculo esportivo é um consumidor protegido não só pelo Código de Defesa do Consumidor, mas também pelo Estatuto do Torcedor.

3.4 O Torcedor Equiparado ao Consumidor

No Brasil, o termo “torcedores” começou a ser utilizado em grande escala durante a Copa do Mundo de 1950, mas a real criação do termo se deu ainda quando da chegada do futebol ao Brasil, no início do século XX, no tempo em que ir ao estádio era um evento aristocrático e por isso, então, as pessoas que ali frequentavam estavam sempre bem-vestidas, com trajes requintados, como chapéus e luvas, e foi justamente por conta das luvas que o termo foi criado.

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Quanto à origem da palavra "torcedor", não há consenso, com duas versões conflitantes. Segundo Ari Riboldi, autor do livro "Cabeça-de-bagre: termos, expressões e gírias do futebol", o termo "torcedor" viria do latim, do verbo "torquere", que tem os significados originais de "torcer" (literalmente), "desvirtuar", "distorcer", "adulterar", "tornar", "virar", "torturar" e "atormentar".

Há também a versão do falecido jornalista e radialista Luiz Mendes7, o qual, segundo seu relato, as elegantes moças que frequentavam o campo do Fluminense, na rua Guanabara (atual Pinheiro Machado), "tiravam as luvas e ficavam com as luvas nas mãos, e como ficavam nervosas com o jogo, elas as torciam ansiosamente". Por causa deste comportamento, o escritor tricolor Henrique Maximiano Coelho Netto8 teria escrito uma crônica chamando as meninas da arquibancada do Fluminense de "torcedoras", e o termo posteriormente se espalharia para designar todos os que acompanhavam o esporte.

O torcedor é vital para o desenvolvimento e sobrevivência do esporte. Ele é o verdadeiro financiador desse patrimônio e merece a garantia de que as competições das quais aprecia e participa sejam eventos transparentes e seguros.

Após o advento do Estatuto de Defesa do Torcedor, o sujeito torcedor passou a ser tutelado de forma especifica. O EDT, como já mencionado, em seu artigo 2º define quem é o torcedor, de uma forma ampla. Já no parágrafo único traz presunção relativa dos elementos caracterizadores do torcedor.

O legislador, ao definir o torcedor dessa maneira, teve o intuito de liquidar qualquer questionamento em relação aos torcedores que seriam tutelados pela norma, pois a Lei Pelé, no art. 42, § 2,º previa a equiparação ao consumidor somente ao espectador pagante.

Sendo assim, o torcedor, após a Lei 10.671/2003 (EDT), não é mais apenas o espectador pagante, conforme explicação de Cardoso Filho9,

[...] torcedor não se trata apenas daquele que paga o ingresso e adquire o direito de assistir no local ou praça esportiva, determinada partida de futebol, tênis ou vôlei. Torcedor é todo aquele que, mesmo a distância ou ainda por outro meio, tal como a televisão, seja aberta, ou no sistema pague pra ver (pay per view), assiste ao mesmo espetáculo daquele que vai a arena de esportes. Nesse sentido, considerando ainda que se presumem a apreciação, o apoio e o acompanhamento, temos que se trata de

7Luiz Pineda Mendes (Palmeira das Missões, 9 de junho de 1924 — Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2011) foi

um jornalista, radialista e comentarista esportivo brasileiro.

8Henrique Maximiano Coelho Netto (Caxias, 21 de fevereiro de 1864 — Rio de Janeiro, 28 de novembro de

1934) foi um escritor (cronista, folclorista, romancista, crítico e teatrólogo), político e professor brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras onde foi o fundador da Cadeira número 2.

9CARDOSO FIHO, José Adriano de Souza. O código de defesa do consumidor e os eventos esportivos após o

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ônus do fornecedor demonstrar que determinada pessoa não se enquadra na condição de torcedora. (CARDOSO FILHO, 2007, p. 73).

Para Rafael Teixeira Ramos e Leonardo Schmitt de Bem10 (2009, p. 289) “são torcedores aqueles que apreciam qualquer tipo de modalidade desportiva, incluindo-se aí do futebol até a Fórmula-1. [...] É importante acrescentar também que a relação entre o torcedor não precisa ser necessariamente onerosa”.

Resta claro que o termo “acompanhar” engloba os torcedores que acompanham a transmissão do evento por todos os meios que a mídia oferece, sejam eles: TV, rádio, internet, jornal. Todavia, “verifica-se ainda a possibilidade da aplicação dos diversos conceitos de consumidor encontrados no CDC, como o do destinatário final, o da vitimização de terceiros em acidente de consumo e o da vulnerabilidade às práticas ocorridas” (CABEZÓN, 2006, p. 26)11.

Para Cardoso Filho, no que diz respeito ao conceito de torcedor, apesar de sua amplitude, nos termos do CDC, adapta-se com tranquilidade, pois as definições de consumidor e de consumidor por equiparação podem englobar aquele torcedor que aprecia, acompanha, porém não frequenta o estádio esportivo. Conclui-se, então, que o conceito previsto pelo Estatuto não colide com o conceito de consumidor do CDC, mas a este se harmoniza.

Oscar Ivan Prux12, assevera que:

“[...] não é necessário que o torcedor (consumidor) tenha de comparecer e efetivar fisicamente uma relação de consumo mediante remuneração, pois o consumo do lazer representado pelo esporte nem sempre é presencial (pode ser acompanhado, por exemplo, pela mídia, pelo celular ou pela internet). Do mesmo modo, preenchendo um os requisitos para a existência de relação de consumo, os meios de remuneração podem ser indiretos, tal como acontece quando a publicidade custeia transmissões e com o pagamento dos direito de imagem são suportados os custos dos eventos e a remuneração dos participantes. Ou, ainda, quando empresas patrocinam ingressos através da simples apresentação dos rótulos de seu produtos. Esta concepção visualiza algo de grande significado: que o consumidor pode ter seus direitos desrespeitados sendo sócio ou não da agremiação e mesmo não estando no local onde o evento esportivo é realizado.” (PRUX, 2013, p.1)

10DE BEM, Leonardo Schmitt e RAMOS, Rafael Teixeira. Direito Desportivo

Tributo a Marcílio Krieger. Editora: Quartier Latin, 2009.

11CABEZÓN, Ricardo de Moraes. O Estatuto de defesa do torcedor: uma vitória não comemorada. 2006. 12PRUX, Oscar Ivan. O conceito de consumidor/torcedor e o conceito de fornecedor segundo o

previsto no estatuto do torcedor. O Estado do Paraná, 08/07/2007. Disponível em: . Acesso em: 04 nov. 2019.

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Cumpre-se ressaltar que o Estatuto de Defesa do Torcedor não tutela todos os torcedores, somente uma parcela deles, apreciadores do desporto profissional. Enquanto isso, o CDC não traz esse tipo de limitação. Logo, em eventos de natureza não profissional, não haverá dúvida ao enquadramento daquele que assiste a competição esportiva de natureza infantil ou juvenil na condição de consumidor.

Faz-se necessário esclarecer quais são os torcedores tutelados pelo Estatuto de Defesa do Torcedor (EDT), pois ao ler a redação do Capítulo XII, Disposições Finais e transitórias, art. 43, da referida norma tem-se:

Art. 43. Esta Lei aplica-se apenas ao desporto profissional.

A respeito do dispositivo legal supra mencionado, Rodrigues13 opina que “este dispositivo dá aplicação ao mandamento constitucional inserido no art. 217º, inciso III, da Carta Magna, que determina o tratamento diferenciado entre o desporto profissional e não profissional, já que fazer todas as exigências inseridas no EDT ao desporto não profissional poderia inviabilizar a prática deste”. Sendo assim, esta lei será aplicada apenas ao desporto praticado com profissionalismo.

Outra dúvida sobre a aplicação do Estatuto está no fato se ele poderá ser aplicado em qualquer modalidade esportiva ou somente no futebol, devido a sua grande vinculação a modalidade que é a paixão dos brasileiros. Sobre este questionamento, Rodrigues explica que:

“[...] o EDT é aplicado ao torcedor de qualquer modalidade esportiva. Diferentemente do que alguns imaginam o EDT não se restringe ao futebol”. (RODRIGUES, 2008, p.2-3).

Portanto, está consolidado pela jurisprudência que o torcedor definido nos termos do Estatuto será equiparado o consumidor.

Ainda, não se pode esquecer da atuação do fornecedor, sujeito da relação mencionado pelo EDT, em seu art. 3º:

Art. 3º. Para todos os efeitos legais, equiparam-se a fornecedor, nos termos da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, a entidade responsável pela organização da competição, bem como a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo.

O conceito de fornecedor também está definido no art. 3º do CDC:

13RODRIGUES, Sérgio Santos. Comentários ao estatuto de defesa do torcedor. Belo

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Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Assim, entende-se serem fornecedores todos os órgãos (Confederação Brasileira de Futebol – CBF, Federation International Football Association – FIFA, etc.), entidades ou associações ligadas diretamente ao evento (Clubes de Futebol: por exemplo: Sociedade Esportiva Palmeiras; Santos Futebol Clube; Sport Club Corinthians; São Paulo Futebol Clube), bem como as emissoras de televisão, as rádios que cobrem os eventos, os ambulantes que comercializam seus produtos dentro dos estádios e na portaria dos mesmos (vendedores de lanches, pipocas, refrigerantes, camisetas, lanternas, bonés, fogos de artifícios, chaveiros, adesivos etc.), meios de transporte (público e privado), flanelinhas e demais coadjuvantes que exercitam suas atividades explorando o comércio desses espetáculos.

3.5 Os Direitos e Deveres do Torcedor

Existe entre torcedor e a atividade desportiva uma relação de consumo e, a incidência do Código de Defesa do Consumidor, como se percebe pela leitura dos artigos 2º e 3º do Estatuto do Torcedor, que traz os sujeitos da relação de consumo desportivo; e artigo 42, parágrafo 3º da Lei 9.615/98 (conhecida como Lei Pelé) onde há equiparação dos torcedores aos consumidores.

O Estatuto do Torcedor, embora lei específica e mais recente e com natureza de lei ordinária, não afasta a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, visto que o CDC tem origem constitucional e é lei principiológica que dá o norte para o sistema de proteção ao consumidor. Isto não retira a relevância de que se reveste o Estatuto do Torcedor, pois a mencionada lei fez consolidar a concepção de que em eventos esportivos que não sejam completamente gratuitos (envolvendo amadores e sem cobrança de ingresso) configura-se sempre uma relação de consumo, com todas as consequências pertinentes estabelecidas no próprio Estatuto e no CDC.

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Em consequência disso, existe responsabilidade nesta relação de consumo tanto do Poder Público quanto por parte das empresas privadas envolvidas na organização dos jogos ou a entidade responsável pela organização da competição assim como das próprias agremiações desportivas. Os torcedores de clubes de futebol profissional são consumidores de uma prestação de serviço.

De acordo com o artigo 2º do Estatuto:

Art. 2º Torcedor é toda pessoa física que aprecie, apoie, ou se associe a qualquer entidade de prática desportiva do País e acompanhe a prática de determinada modalidade esportiva.

Parágrafo único: Salvo prova em contrário, presume-se a apreciação, o apoio ou o acompanhamento de que trata o caput deste artigo.

Como se percebe, temos como torcedores e, portanto, consumidores, não só os que apenas apreciam, os que simplesmente apoiam e os que resumem sua atividade a se associar a clube ou à determinada modalidade desportiva, seja ela qual for. Desta forma, a norma não só protege o torcedor (consumidor) que comparece e efetiva fisicamente uma relação de consumo mediante remuneração, mas também aquele que acompanha pela mídia, pelo celular ou pela internet, pois o consumo do lazer representado pelo esporte nem sempre é presencial.

Da mesma forma, existe a relação de consumo quando os meios de remuneração são indiretos, tal como acontece quando a publicidade custeia transmissões e com o pagamento dos direitos de imagem são suportados os custos dos eventos e a remuneração dos participantes. Ou, ainda, quando empresas patrocinam ingressos através da simples apresentação dos rótulos de seus produtos. Isso tem uma dimensão enorme e tão pouco conhecida pelo público: o consumidor pode ter seus direitos desrespeitados, sendo sócio ou não da agremiação e mesmo não estando no local onde o evento esportivo é realizado.

E mais, existe para o Estatuto do Torcedor a figura do consumidor por presunção e, em razão disso, ele dispõe: "desfrutar do lazer, apreciar, apoiar, ou acompanhar determinada modalidade esportiva, cabendo ao fornecedor envolvido em eventual lide, o ônus de fazer prova em contrário".

Já com relação ao conceito de fornecedor, o EDT não o elencou taxativamente, restringindo-se a mencionar como: "fornecedores equiparados, a entidade responsável pela organização da competição e a entidade de prática desportiva detentora do mando do jogo", deixando, desta forma, para o CDC o conceito e a caracterização de todos que se enquadrem nesta condição além das que o EDT menciona expressamente.

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Como exemplo, podemos citar as situações em que um jogo de futebol apesar de ter um clube na condição de mandante, se realize em estádio neutro pertencente a terceiro. Nesta situação, o dono do estádio também é fornecedor e possui deveres a serem respeitados. Portanto, quem atua para prover este mercado de consumo de lazer, inclusive participando da cadeia de fornecimento é, em essência, um fornecedor tal como prescreve o CDC.

O EDT se compatibiliza com o que dispõe o CDC e quando o primeiro for omisso, aplicam-se as regras gerais do CDC. Dito isso, o torcedor tem o direito de assistir a partida de futebol; ter facilitada a compra dos ingressos, através de venda antecipada; grande número de postos de venda e em locais diversificados; preços acessíveis ao público em geral e grande quantidade de bilhetes a serem comercializados.

O acesso do torcedor aos estádios de futebol também tem que ser facilitado e acessível, por meio de boas rodovias, boa sinalização, um eficiente controle de tráfego, farto transporte coletivo, e tudo em total segurança. Ao chegar ao estádio o torcedor também tem direito de encontrar bons estacionamentos, com tranquilidade e segurança no acesso e na saída.

Os jogos devem ter ampla e treinada equipe de segurança, se necessário inclusive a contratação de segurança privada pelos clubes, tanto no interior do estádio quanto no entorno e pontos mais críticos, não se devendo deixar a cargo única e exclusivamente do Poder Público tal incumbência, já que é público e notório que tal questão talvez seja uma das mais conturbadas nos últimos anos. A entrada no estádio deve ser serena e ordenada, com vários pontos de entrada e saída, inclusive com planejamento para casos de escoamento de emergências, para que se evite tumultos e confusões, além de preservar a integridade física do torcedor.

A alimentação comercializada deve ser de qualidade, quer no interior do estádio, como em sua parte externa, inclusive sujeita à fiscalização por parte da Vigilância Sanitária. Ao ingressar nos estádios deve o torcedor-consumidor encontrar fácil acesso às suas dependências, inclusive com entradas especiais para os portadores de deficiências físicas, acentos confortáveis, limpos e em bom estado de conservação.

Devem ser respeitados os horários de início dos jogos, boas condições do gramado, boa iluminação, arbitragem competente, não incitação à violência por parte dos atletas, uniformes com numeração visível, dentre outras coisas. Terminado o jogo o torcedor tem que continuar a ser respeitado em sua volta para casa, com a permanência da segurança em volta do estádio e em pontos considerados críticos por tempo suficiente e necessário ao retorno dos

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torcedores, facilitação do tráfego dos veículos, ampla frota de transportes coletivos, quer ônibus, quer transportes alternativos como metrô.

Também deve haver boa iluminação fora dos estádios facilitando a locomoção e localização dos pontos buscados.

De acordo com o Estatuto do Torcedor várias outras irregularidades podem ser observadas, como, por exemplo: ingresso numerado e local correspondente (artigo 22); instalações para portadores de necessidades especiais (artigo 13, parágrafo único); seguro saúde, que deve vir expresso no ingresso; disponibilizar um médico e dois enfermeiros-padrão para cada 10 mil torcedores presentes à partida (artigo 16, III); disponibilizar uma ambulância para cada dez mil torcedores presentes à partida (artigo 16, IV); alimentação e sanitários em perfeitas condições de higiene (artigo 28); câmeras no local do evento.

Além dessas previsões, o Estatuto prevê outras que não raramente são inobservadas, o que gera o total desrespeito e descaso com o consumidor dessa modalidade de serviços que, diga-se de passagem, é responsável por sustentar imenso movimento na economia do setor e de outros segmentos que vivem em função dele como arrecadação dos clubes e federações, pagamento das arbitragens, imprensa ligada ao assunto, venda de produtos e serviços ligados ao esporte, sem esquecer do interesse dos clubes em verem implantadas e reconhecidas as normas relativas às patentes e direitos publicitários e o consequente recebimento dos dividendos ligados à sua marca.

Portanto, a responsabilidade dos fornecedores desses serviços possui natureza objetiva, na apuração de eventuais danos ao torcedor, o que deveria aumentar ainda mais o cuidado. Dentre tais fornecedores podem ser incluídas as agremiações de clubes e as Federações respectivas que, no caso, possuem responsabilidade solidária.

O mau comportamento dos torcedores também pode ser penalizado como aqueles que cometerem atos de vandalismo e violência em até 5 km dos estádios, invadem o campo ou promovem confusão. Esses torcedores podem pagar multas e até serem proibidos de assistirem aos jogos, cabendo inclusive prisão. O EDT também determina o cadastramento dos associados ou membros das torcidas organizadas. Caso algum desses membros cometa alguma infração, serão as entidades que responderão pelos danos. Além disso, a torcida organizada que promover tumulto será impedida de comparecer aos jogos pelo prazo de até três anos. Estádio existe para ser frequentado por crianças, famílias, mulheres grávidas, idosos, deficientes e todos devem ter a tranquilidade de assistir aos jogos com segurança.

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Há previsão de punição também para os cambistas, que vendem ilegalmente ingressos, e que estarão sujeitos à prisão de um a seis anos, além de multa. Já os juízes que tentarem manipular resultados de partidas poderão ter penas que variam de dois a seis anos de reclusão. Houve também, na reforma do Estatuto, outra novidade: a ampliação da obrigação de estádios de manter uma central técnica de informações. Antes, o limite era de arenas com capacidade para 20 mil torcedores e, com a mudança na lei, mudou para 10 mil.

Ou seja, os eventos terão de oferecer infraestrutura para monitorar por imagem o público presente e as catracas de acesso aos estádios. É obrigatória a existência de listas com os nomes de torcedores impedidos de entrarem nos estádios em locais visíveis próximos às entradas. Bandeiras, bebidas, fogos de artifício e símbolos com mensagens ofensivas estão proibidos de serem levados aos jogos. Os torcedores que invadirem o campo serão processados civil e criminalmente. E eles devem tomar cuidado, inclusive, com a provocação com a torcida adversária: gritos de guerra e músicas ofensivas podem gerar punição à torcida. Por outro lado, sob pena de não ter mais acesso ao local do evento esportivo, além de poder incorrer em sanções de caráter civil e criminal, o torcedor tem também os seguintes deveres a cumprir: apresentar ingresso válido; não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência; consentir com a revista pessoal; não portar ou ostentar cartazes, bandeiras ou símbolos com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo; não arremessar objetos no interior do recinto esportivo; não incitar e não praticar atos de violência no estádio e não invadir ou incitar a invasão da área restrita aos competidores, conforme artigo 13-A, EDT, in verbis:

Art. 13-A. São condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo, sem prejuízo de outras condições previstas em lei: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 201014).

I - estar na posse de ingresso válido; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

II - não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010). III - consentir com a revista pessoal de prevenção e segurança; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

IV - não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

V - não entoar cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

VI - não arremessar objetos, de qualquer natureza, no interior do recinto esportivo; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

14LEI Nº 12.299, DE 27 DE JULHO DE 2010. Dispõe sobre medidas de prevenção e repressão aos fenômenos

de violência por ocasião de competições esportivas; altera a Lei no 10.671, de 15 de maio de 2003; e dá outras providências.

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VII - não portar ou utilizar fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos pirotécnicos ou produtores de efeitos análogos; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

VIII - não incitar e não praticar atos de violência no estádio, qualquer que seja a sua natureza; e (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

IX - não invadir e não incitar a invasão, de qualquer forma, da área restrita aos competidores. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

X - não utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou similares, para outros fins que não o da manifestação festiva e amigável. (Incluído pela Lei nº 12.663, de 2012).

Parágrafo único. O não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo implicará a impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for o caso, o seu afastamento imediato do recinto, sem prejuízo de outras sanções administrativas, civis ou penais eventualmente cabíveis. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

Nota-se, desta forma, que o EDT apesar de representar um grande avanço na legislação do país, satisfazendo um antigo anseio dos desportistas brasileiros, ainda tem muito a evoluir, em especial no que diz respeito à segurança dos estádios, transparência na organização das competições e às punições pelo descumprimento dos deveres acima elencados e, neste sentindo, está determinado pelo estatuto, em seus artigos 13 e 14:

Art. 13. O torcedor tem direito a segurança nos locais onde são realizados os eventos esportivos antes, durante e após a realização das partidas.

Parágrafo único. Será assegurado acessibilidade ao torcedor portador de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Art. 14. Sem prejuízo do disposto nos arts. 12 a 14 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, a responsabilidade pela segurança do torcedor em evento esportivo é da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo e de seus dirigentes, que deverão:

I - solicitar ao Poder Público competente a presença de agentes públicos de segurança, devidamente identificados, responsáveis pela segurança dos torcedores dentro e fora dos estádios e demais locais de realização de eventos esportivos; II - informar imediatamente após a decisão acerca da realização da partida, dentre outros, aos órgãos públicos de segurança, transporte e higiene, os dados necessários à segurança da partida, especialmente:

a) o local;

b) o horário de abertura do estádio; c) a capacidade de público do estádio; e d) a expectativa de público;

III - colocar à disposição do torcedor orientadores e serviço de atendimento para que aquele encaminhe suas reclamações no momento da partida, em local:

a) amplamente divulgado e de fácil acesso; e b) situado no estádio.

§ 1o É dever da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo solucionar imediatamente, sempre que possível, as reclamações dirigidas ao serviço de atendimento referido no inciso III, bem como reportá-las ao Ouvidor da Competição e, nos casos relacionados à violação de direitos e interesses de consumidores, aos órgãos de defesa e proteção do consumidor.

Referências

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