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CAPÍTULO I Unidade nacional e a bola

CAPÍTULO 3 Expansão e crise do modelo personalista

5. A completa integração em números

Neste tópico, pretendemos analisar algumas informações obtidas no cd-rom “Placar Banco de Dados do Campeonato Brasileiro”, lançado em 2003 (Tabelas 03,04,05). Por meio das informações coletadas formulamos três tabelas para colaborar com a análise.

Tabela 03 - Números do campeonato Brasileiro, 1971-1973.

Ano J G MG C 1971 229 419 1,83 20 1972 352 731 2,08 26 1973 656 1267 1,93 40 1974 447 948 2,12 40 1975 430 975 2,27 42 1976 411 950 2,31 54 1977 485 1204 2,48 62 1978 791 1771 2,24 74 1979 583 1366 2,34 94 1980 306 825 2,70 44 1981 306 752 2,46 44 1982 291 801 2,75 44 1983 322 866 2,69 44

Fonte: Banco de dados Cd rom Revista Placar 2003

Legenda: J – Jogos; G – Número de Gols; MG – Média de Gols; C – Número de clubes

Um primeiro dado curioso pode ser notado no ano de 1973, quando 40 clubes disputaram o campeonato, mas devido a complexidade da fórmula do torneio houve 656 partidas e a equipe para ser campeã teve que entrar em campos 40 vezes, possivelmente o maior caminho que um clube percorreu para se chegar ao título111. E nem sempre o

aumento no número de participantes refletiu numa maior quantidade de partidas. Podemos verificar que em 1978, campeonato que teve 74 clubes, foram realizadas 731 partidas, no ano seguinte, com 94 equipes, o número de jogos foi reduzido para 583. Isso demonstra que o gigantismo por si só não era o único problema dos campeonatos, uma vez que sempre estiveram associados às fórmulas e regulamentos pouco transparentes.

Quanto maior o numero de partidas realizadas, maior o número de gols no campeonato. Neste critério, o ano de 1978 foi o que registrou o maior numero de gols: 1771. Após 1980, com a drástica redução do número de participantes diminui o número de gols. Excetuando 1971 1 1973, as médias foram sempre superiores a 2 gols por partida. Se considerarmos apenas a década de 1970, o ano que registrou a maior média foi em 1977 com 2.4 gols por partida, sendo realizados 485 jogos e que foram marcados 1204 gols. Porém, se expandirmos nosso foco de análise até o ano de 1983, veremos que as três maiores médias foram registradas na Taça de Ouro, sendo que a maior delas foi a de 2.78 gols por jogo no ano de 1982.

Sobre esta questão, cabe uma observação, pois ao observamos os vários artigos das revistas Placar e Veja, verificamos uma forte crítica ao esquema tático implementado pelos técnicos dos clubes e até da seleção. Diziam estes artigos que o futebol apresentado era pobre tecnicamente e fortemente caracterizado pelo sistema defensivo, despreocupando-se com o ataque. Quando verificamos que durante a Copa do Mundo da Alemanha em 1974 o selecionado brasileiro marcou seis gols em apenas sete jogos apontamos que estes artigos tinham uma certa razão. Porém, ao observarmos o número e média de gols vimos que o campeonato brasileiro não estava em decadência devido a falta do mesmo. As médias deste período foram sempre superiores a 2 gols por partida, talvez poderia se questionar a qualidade técnica do futebol apresentado pelas equipes convidadas para o Campeonato Brasileiro.

Com relação ao número de clubes os anos 70 registraram um aumento linear a cada edição até chegar aos 94 clubes em 1979. Com a criação da CBF e o desejo de mudanças na estrutura do futebol brasileiro esse número foi reduzido para 44 equipes, permanecendo assim até o ano de 1983. Não obtivemos um gráfico que possibilitasse as análises da média de público dos Campeonatos Brasileiros, entretanto, pelos dados que possuímos ficou

evidente que a pior média dos anos 70 aconteceu em 1979 quando a mesma foi inferior a 10 mil pessoas por jogo. O ano de 1971, pelo fato de ser o primeiro campeonato e de serem realizados os principais confrontos112 clássicos do futebol do Brasil, a maior média foi aproximadamente de 20 mil pessoas por jogo. Mas tais números devem ser observados também à luz dos desempenhos oscilantes da seleção brasileira e a permanência dos melhores jogadores no país. Em 1971 todos os craques vencedores da copa em 1970 estavam no campeonato. Em 1979, o país ainda se refazia do fracasso do mundial da Argentina. Isso leva a uma análise mais conjuntural desses dados e menos linear do ponto de vista de isolar o campeonato brasileiro de outros eventos esportivos e/ou políticos.

Tabela 04 - Quadro informativo por região e Estados participantes do Campeonato Brasileiro, 1971-1979.

Sul Sudeste Centro Oeste Nordeste Norte Ano RS SC PR SP RJ MG ES GO MS MT DF BA SE AL PE PB PI CE MA RN AM PA 1971 2 1 5 5 3 1 2 1 1972 2 1 5 5 3 2 1 1 2 1 1 1 1 1973 2 1 2 6 6 3 1 1 1 1 2 1 1 3 1 2 1 1 2 2 1974 2 1 2 6 6 3 1 1 1 1 2 1 1 3 1 2 1 1 2 2 1975 2 1 2 6 6 3 1 2 1 1 2 1 1 3 1 1 2 1 1 2 2 1976 3 2 3 8 7 4 2 2 1 1 3 1 2 3 2 1 2 1 2 2 2 1977 4 2 4 9 8 5 2 2 1 1 1 3 2 2 3 2 2 2 1 1 3 2 1978 5 3 5 12 9 6 2 3 2 2 1 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3 1979 7 5 6 8 7 7 3 6 4 2 3 5 3 3 4 3 3 3 3 3 3 3

Fonte:Banco de Dados Cd Rom Revista Placar (2003)

A tabela 04 mostra que nas primeiras edições do Campeonato Brasileiro os 4 Estados tradicionais (SP, RJ, MG e RS) possuíam a maior quantidade de clubes e até o ano de 1976, com a exceção de Rio de Janeiro e São Paulo, que incluíram mais um clube cada um, gaúchos e mineiros tiveram que esperar a chegada de Heleno Nunes à CBD para aumentarem suas cotas.

A tabela 04 indica a presença de todos os Estados a partir de 1975, o que venho denominando de “completa integração”. Consolidada essa demanda estadual (“política dos governadores”) as pressões passam a incluir as cidades de médio porte (“política dos prefeitos”) , tal como vimos em alguns exemplos (Ribeirão Preto, Campinas). Os Estados

112 Este campeonato foi caracterizado pela realização de vários clássicos interestadual e estadual, possibilitando que se alcançasse a maior média do Campeonato Brasileiro daquele período.

futebolisticamente e politicamente mais fortes conseguiram obter mais vagas, exemplo notório do Estado de São Paulo, que em 1978 possuía 12 representantes.

Em termos absolutos, São Paulo apresenta mais representantes, mas se olharmos o crescimento de representatividade no Campeonato Brasileiro a partir da primeira edição destaca-se o Estado do Paraná, que tinha 1 clube em 1971 e passou a 6 equipes no Campeonato de 1979. Em relação aos Estados que foram incluídos a partir de 1972, aquele que mais cresceu em quantidade de representantes foi Goiás, que em 1979 teve 6 times, enquanto que no ano de sua estréia era representado somente pelo time do Goiás Esporte Clube.

Tabela 05 - Comparação de representatividade no Campeonato Brasileiro, 1971-1979, segundo suas respectivas regiões.

Ano Sul Sudeste Centro Oeste Nordeste Norte Total

1971 3 13 4 20 1972 3 13 8 2 26 1973 5 16 3 12 4 40 1974 5 16 3 11 5 40 1975 5 16 4 12 5 42 1976 8 21 4 16 5 54 1977 10 24 5 17 6 62 1978 13 29 8 19 7 74 1979 18 25 15 30 9 94

Fonte:Banco de Dados Cd Rom Revista Placar (2003)

Ao olharmos a tabela 05, destacamos que até o ano de 1978 a região sudeste possuía o maior número de clubes, sendo seguido pela região nordeste, que por ganhar vagas durante a década de 70 ultrapassa o sudeste em 1979, quando sobe de 19 representantes em 1978 para 30 clubes no ano seguinte, o que indica um deslocamento ou “interiorização” do campeonato, enquanto que a região sudeste perdia 4 vagas, caindo de 29 clubes em 1978 para 25 no ano seguinte. Segundo a mesma tabela, a maior evolução registrada ocorre na região nordeste, quando no primeiro campeonato foi representada por apenas 4 equipes e oito anos mais tarde era a região que possuía o maior número de clubes da competição nacional. No entanto, fica evidente que a região sudeste foi a que menos evoluiu, se a compararmos com outras regiões, que proporcionalmente e percentualmente, foram superiores a esta região.

A região sul sempre ocupou a terceira posição, tendo nos anos 70 um pequeno avanço, se compararmos a outras regiões. Porém, no ano de 1979 a região sul suplantou a região centro-oeste em apenas 3 representantes, o que significa que a organização do Campeonato Brasileiro não se preocupava com a qualidade técnica dos clubes, pois é sabido que a região sul apresentava um melhor futebol do que a região centro-oeste113, que à época ainda “engatinhava” na prática do futebol. Percentualmente, as regiões norte e nordeste foram as que mais evoluíram, se observarmos as primeiras quatro edições do Campeonato Brasileiro. Tal fato ficou evidente com o trabalho de campo que apontou as relações que nortearam as inclusões de equipes nesta competição. Exemplificamos que de 1971 para 1972 a região nordeste aumentou 100% o seu número de vagas, enquanto a região nordeste de 1972 para 1973 houve um aumento igual, passando de 2 para 4 clubes. Por fim, das regiões incorporadas ao Campeonato Brasileiro durante os anos 70, a região centro-oeste foi a que se desenvolveu proporcionalmente, passando de 3 em 1973 para 15 em 1979.

Segunda parte: um balanço final