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A herança do tropeirismo proporcionou para os portugueses não somente a conexão do sul com o interior do Brasil, através das vias de comunicação terrestres, como a ocupação e a posse do território ao sul pelos tropeiros e estancieiros, bem como favoreceu o deslocamento de tropas lusas pelos caminhos então conhecidos e, conseqüentemente, o processo de

penetração e ocupação militar portuguesa no estuário platino e no território do Rio Grande de São Pedro.

Com o objetivo de atender as necessidades de suprimentos e armamentos da Colônia do Sacramento, o governo português funda Laguna em 1688, no litoral de SC, para diminuir a distância entre a Colônia e os grandes centros no interior do Brasil. Em 1705 os portugueses estabelecem uma intercomunicação entre Laguna Colônia por via terrestre, tornando-se Laguna “centro irradiador e base de apoio para exploração, conquista e povoamento português do RS”, (BENTO, 2007, p.3).

Entretanto, Sacramento ainda permanecia desprotegida dos ataques indígenas e espanhóis.e foi atacada e tomada já no primeiro ano de sua fundação. Entre 1705 e 1715, Sacramento é novamente atacada pelos espanhóis, voltando a pertencer a Portugal em 1715, com o tratado de Utrech. Tendo em vista esses acontecimentos Portugal reage às investidas militares espanholas, fundando em 1723 o povoado de Montevidéu para servir de apoio militar a Colônia. Também determina uma expedição até o canal da Lagoa dos Patos para deter o avanço espanhol e proteger a passagem das tropas de gado. Apesar dos esforços portugueses com relação a Montevidéu, esta é tomada pelos espanhóis em 1726, dando origem, tempos depois, a efetivação da Banda Oriental e posteriormente ao Estado do Uruguai.

Com Buenos Aires de um lado e Montevidéu na outra margem, podiam os espanhóis melhor controlar o comércio platino, cortando a expansão portuguesa na região e isolando-os dos núcleos de domínio luso mais próximo (PESAVENTO, 1997, p.20).

Tendo o domínio das duas margens do estuário platino os espanhóis conseguiriam barrar o comércio português no Prata e barrar a sua expansão até o limite natural da bacia,enfraquecendo o domínio luso ao sul.

Com as sucessivas invasões castelhanas, tornou-se evidente a necessidade de ocupar a região sul da Província. Para tanto, foram feitas concessões de sesmarias, originando as estâncias do sul. Essas sesmarias foram concedidas, principalmente, a militares, servidores da Metrópole, que vieram em função das guerras e demarcações, permanecendo no local (SOUZA, 1991, apud GELPI, 2004, p.133). Portugal passa a organizar suas políticas voltadas para a ocupação e o povoamento da região, seguindo-se a necessidade da sua defesa, pois, à medida que o homem se apodera de uma determinada área e a transforma segundo seus interesses, cresce a preocupação em

proteger o seu domínio e defender o seu território perante ameaças estrangeiras (MORAES, 2002).

A geopolítica adotada por Portugal apresenta duas vantagens uma a da posse da terra pelo seu uso e ocupação e, a outra a defesa e garantia das relações econômicas baseada na atividade pecuária. O Rio Grande a partir desse contexto apresentava-se como um importante referencial estratégico ao sul do Brasil para a manutenção do domínio português. Com as estâncias, o governo volta suas ações para o povoamento da região, o qual esteve ligado também à função militar.

Os conflitos resultantes da demarcação de limites implicariam o reforço militar da área. Mais do que nunca, precisava a coroa portuguesa do concurso de estancieiros com seus homens para a defesa da terra [...] Ao mesmo tempo em que incrementou o processo de distribuição das sesmarias pela bacia do Jacuí,dilatando a ocupação pelo interior,distribuiu cargos entre os estancieiros,(PESAVENTO, 1997, p.21). As invasões espanholas, as terras que hoje compreendem o Rio Grande do Sul, favoreceram a militarização da população que habitava a região. Assim, os rio-grandenses além de desenvolverem a pecuária, também exerciam a função de proteger a terra por eles ocupada e trabalhada. Daí, serem muitos estancieiros militares cuja responsabilidade lhe atribuía a ocupação e a defesa.

O permanente estado de alerta propiciava a renovada militarização da sociedade gaúcha, onde todo homem válido era um soldado em potencial. Na realidade para a defesa da terra mais contavam as forças irregulares da campanha rio-grandense do que as tropas de linha enviadas pelo reino. Isto se verificou, por exemplo, por ocasião da reconquista do Rio Grande e expulsão dos espanhóis,quando ao lado de tropas do Reino,oficiais estrangeiros, tropas de Minas, Rio e São Paulo, destacou-se a ação das milícias locais (PESAVENTO, 1997, p.22-23).

Desta forma pode-se dizer que a população local desempenhou um importante papel na conquista territorial e na consolidação do domínio português no sul do Brasil, participando da geopolítica de Portugal, combatendo os castelhanos e garantindo a posse das terras. Apesar dos esforços portugueses para combater as invasões castelhanas, os conflitos armados intensificavam-se. Em 1735 os espanhóis atacam a Colônia do Sacramento. Isso fez com que o governo adotasse novas medidas políticas para barrar o avanço espanhol, que já dominava Montevidéu.

O Estado passa a exercer sua função de proteger os seus domínios territoriais, necessitando demarcar os limites e estabelecer as fronteiras para poder desenvolver ações de controle e defesa do espaço geográfico a ele pertencente, já que “o Estado não é concebível

sem território e sem fronteiras”, (RATZEL, 1983, p.93). Nesse contexto, a geopolítica portuguesa volta-se para a defesa do seu território, marcando um período caracterizado pela construção de fortes e acampamentos militares, Mapa 5, fundação de povoados, confrontos bélicos e acordos diplomáticos.

Mapa 5 - As Fortificações no Rio Grande do Sul.

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