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O mapa 2 mostra o avanço português sobre o território espanhol e as primeiras explorações lusitanas ao sul que culminou na primeira forma de ocupação da terra pelos europeus. O período correspondente às bandeiras, sem dúvida, foi o mais significativo na conquista de território para Portugal na América. As condições naturais foram mais uma vez fundamental para isso, orientando a expansão portuguesa até o limite das duas maiores bacias hidrográficas uma ao norte, a do Amazonas, e outra ao sul, a do Prata. No sul favoreceu o processo de ocupação da região e o avanço português até o estuário platino, atendendo aos interesses econômicos da coroa.

Ainda no início do período ibérico, os portugueses conseguiram permissão da Espanha para comercializar com as colônias espanholas através de Buenos Aires. Este fato acabou originando o contrabando na região rendendo lucros tanto aos castelhanos como aos lusos no estuário do Prata. Dessa forma, o período ibérico representou para Portugal a expansão territorial e colonial de seus domínios, (CANABRAVA, 1984). Assim, Portugal passou a dominar as transações comerciais, bem como a área próxima ao estuário. Daí as medidas geopolíticas adotadas por esta metrópole na região, incluindo a ocupação e militarização da mesma, a começar pela instalação da Colônia do Sacramento que serviu de entreposto comercial e guarnição militar.

Portugal desejava o domínio luso até a foz do rio da Prata, porque tinha interesse no comércio gerado em torno do contrabando de mercadorias, tais como: a prata e, mais tarde, o gado. Este se multiplicou nos campos do sul com a retirada dos missioneiros que deixaram o gado abandonado nos pampas onde se criaram soltos e bravios, encontrando as condições naturais para o seu desenvolvimento, como a vegetação de campos e o relevo levemente ondulado.

No princípio, este gado foi utilizado como fonte econômica, primeiramente, pela população local. O produto comercializado não era a carne, mas o couro, porque não havia mercado suficiente para se consumir toda aquela carne. Abatia-se o gado e tirava-lhe o couro.O restante era consumido ou transformado em peças de utensílios para a lida do campo.O mercado abastecido era, inicialmente, Santa Catarina e Curitiba além, do contrabando para a Europa (PRADO JUNIOR, 1987). O gado se concentrou, na maior parte, na região do Uruguai e da lagoa Mirim sendo denominado Vacaria del Mar (1680). No noroeste do Rio Grande, os rebanhos deixados por lá também cresceram, passando o local a se chamar Vacaria dos Pinhais (1687) (GUILHERMINO, 1980).

Com o descobrimento dessa fartura de gado, os lusos deram início ao processo de apropriação do espaço sulino, baseado na exploração do gado, primeiramente, do couro e

depois para a tração animal nas minas e do charque já no século XIX, constituindo-se na principal fonte de riqueza da região por mais de século e motivo de disputas territoriais entre as duas metrópoles.

Surge assim, o interesse português na região do Prata, voltado para o contrabando e para a pecuária, por isso “ Importava aos portugueses anteciparem-se, fosse como fosse, aos seus vizinhos e rivais castelhanos na posse daquela terra de ninguém situada entre a capitania de São Vicente e o rio da Prata”, (HOLANDA, 1985, p.322). Com isso, não tardaram a fundar, em 1680, a Colônia do Santíssimo Sacramento, no estuário platino. A instalação da Colônia em frente a Buenos Aires implicou na garantia e segurança dos interesses lusos no comércio/contrabando e representou uma ação geopolítica que assegurava o acesso à navegação na bacia platina e a expansão territorial lusa até a sua foz, o que, por sua vez, originou um longo período de conflitos militares na região.

A Colônia do Sacramento, foi um marco histórico e geográfico na formação territorial do Rio Grande do Sul, pois a partir dela, ocorrem mobilizações militares para defender os interesses econômicos na região e que provocaram o surgimento de povoados aos arredores de fortes e acampamentos militares estabelecidos em diferentes pontos do atual Rio Grande do Sul, tanto no litoral como no centro ou na campanha, como Rio Grande, Santa Maria e Canguçu, “em conseqüência da posse da Colônia do Sacramento, os governos espanhóis e portugueses e descendentes de ambos, lutaram por cerca de 190 anos transformando a região do Rio da Prata num campo de batalha” (BENTO, 2007, p.2).

Em reação ao avanço português na bacia platina, o governo espanhol decide fundar, próximo ao rio Uruguai, no Noroeste do estado, uma povoação com o intuito de barrar a expansão lusitana no sul. Contudo, na falta de população resolve estabelecer reduções jesuíticas para povoar a região a partir de 1682. Essa região ficou conhecida como os Sete Povos das Missões, que originaram algumas cidades gaúchas da região das Missões, bem como influenciaram no surgimento de outros povoados no interior do atual Estado (TORRONTEGUY, 1999).

A atividade gerada em torno do gado vacum fez surgir o tropeirismo que abriu caminhos pelos quais conduziam-se as tropas de gado vacum, muar e cavalar para serem comercializados nas feiras em Laguna, Sorocaba, São Paulo e Minas Gerais, ligando dessa forma o sul ao interior do Brasil. Os primeiros trajetos percorridos pelo gado no Rio Grande e pelos tropeiros foram os caminhos da praia e do Morro dos Conventos no século XVIII. No século seguinte seguiram-se outros caminhos como o das Missões e na região centro, conforme o Mapa 3.

O caminho da praia seguia ao longo do litoral gaúcho até chegar em Laguna (SC) de onde o gado era enviado para o centro do país.Os animais passaram a subir o planalto para chegar até Laguna pelo Morro dos Conventos e pelo caminho das Missões, que seguia para os campos de cima da serra, percorrendo o caminho de Vacaria a Lagoa Vermelha e passando por Passo Fundo, Cruz Alta e São Borja. Na região central, as tropas passaram a fazer o caminho São Martinho- Santa Maria da Boca do Monte- Cachoeira do Sul- rio Jacuí, e daí enviadas para o porto de Rio Grande (GELPI, 2004).

Mapa 3 - Caminhos percorridos pelo gado.

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