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Capítulo 1 Fundamentação Teórica

1.1. O questionamento

1.1.1. A comunicação em sala de aula

A comunicação é inata ao ser humano. Desde que se conhece, o Homem expressa-se das mais variadíssimas formas, seja verbal ou não verbal. Etimologicamente, a palavra

comunicação é uma derivação do latim COMMUNICATIO que, por sua vez, significa “estar

em contacto com”, “pôr em comum”. (Durozoi & Roussel, 1997, p. 80). Contudo, os diversos contextos onde a comunicação surge, contextos esses mais ou menos formais, não são alimentados pelas mesmas formas de discurso e postura.

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Sendo que comunicação designa, de forma geral, “qualquer processo de troca de uma mensagem entre um emissor e um recetor” (Durozoi & Roussel, 1997, p. 80), esta não poderia ser excluída do processo de ensino/aprendizagem, uma vez que uma das componentes da aprendizagem é, efetivamente, a interação entre os indivíduos. Menezes (1996), baseando-se em Stubbs (1987), afirma que “o diálogo na sala de aula, entre professor e alunos é, em grande parte, o próprio processo educacional.” (p. 1). Os indivíduos interagem entre si essencialmente comunicando. Quer de forma verbal ou não verbal, a forma como um indivíduo comunica com os outros revela imenso não só acerca de si, como também acerca do que sente ou deseja naquele momento.

Etimologicamente designando “pôr em comum” (Durozoi & Roussel, 1997), o conceito de comunicação não parece ser assim tão simples de definir. Segundo Medeiros (2000) é mesmo uma “tarefa que não se apresenta fácil e unânime” uma vez que “é um conceito vasto e complexo” e de facto existe “alguma subjetividade na definição do que é a comunicação” (p. 32). Para se estabelecer uma definição apropriada, há que ter em conta não apenas o contexto em que está inserida como também a envolvente a ser estudada ou analisada. De qualquer forma, “é essencial a existência de uma linguagem, pois sem esta não poderia haver, entre pelo menos dois sujeitos falantes a possibilidade de tornar em comum” (Medeiros, 2000, p. 32), tal como nos sugere a etimologia da palavra comunicação.

Um dos maiores condicionadores que afetam a eficácia da comunicação diz respeito à descodificação da mensagem. Quando o emissor transmite uma ideia, tem uma bagagem cultural, educacional, entre outras, distinta do recetor da mensagem. Cada indivíduo passa por diferentes experiências e constrói conhecimentos diferentes, ou por vias diferentes, alterando assim as suas conceções. Deste modo, o que será para um indivíduo poderá tomar outros contornos para um outro indivíduo. Tendo em conta Ferreira (2010) o recetor, tal como o emissor, “é um sujeito ativo, com representações e conhecimentos subjacentes do mundo, e, por isso, (re)constrói o sentido da mensagem” (p. 58).

Com isto, será tida como definição geral de comunicação todo o “processo pelo qual um emissor se relaciona com um recetor através de uma mensagem transmitida em código, por um canal” (Santos citado por Medeiros 2000, p. 32).

Em contexto de sala de aula, a definição acima é um pouco ampla, não englobando especificamente pormenores que fazem a diferença, denominados por ruídos. Medeiros

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(2000) salienta alguns destes ruídos e que exemplificam a ideia: “uma imagem defeituosa, uma palavra caligraficamente impercetível, uma intervenção inoportuna, falar demasiado baixo, ausência de pontuação num texto escrito, algazarra, ruido exterior, má acústica, pronúncia defeituosa, quadro mal iluminado, raios de sol nos olhos dos alunos, etc.” (p. 35). Outra consideração a ter em conta relaciona-se com o modo como o processo de comunicação é desencadeado em sala de aula, podendo este ser eficaz ou não. A este nível vários são os fatores que influenciam a qualidade do processo. Pedrosa de Jesus (2000) considera que existem “atributos que professores e alunos desenvolvem ao longo dos respetivos percursos de vida” e, por outro lado existem igualmente “condições e fatores intrínsecos ao ambiente escolar (…) que determinam muito do que na aula acontece (…)” (p. 149). Aspetos como “o tom de voz, a capacidade de escutar, o olhar, os gestos” determinam o grau de proximidade entre os indivíduos entre os quais se estabelece a comunicação. De outro ponto de vista, também o tipo de linguagem, o contexto cultural e socioeconómico do ambiente escolar, e mesmo o ambiente familiar dos alunos, influenciam o processo de comunicação e não devem ser descuidados pelo professor. É, assim, fundamental que o professor esteja inteirado do ambiente onde ensina e das suas características mais minuciosas pois só assim conseguirá transmitir a mensagem de forma clara para todos, contornando assim as complicações adjacentes ao processo de descodificação da mensagem.

Na escola, especificamente na sala de aula, a comunicação é um processo fundamental. Se é uma ferramenta utilizada diária e constantemente na sociedade, num contexto de ensino- aprendizagem assume um papel fundamental na medida em que o professor se serve do seu discurso e da forma como o planta em sala de aula para transmitir ideias. Medeiros (2000) afirma que “ensinar é falar” (p. 32). Já Beaudichon (2001), citado por Abrantes (2005), acredita mesmo que “comunicar é transmitir e influenciar” (p. 27), reforçando assim a importância que um bom discurso desempenha na sala de aula.

Por outro lado, e considerando a aprendizagem como um processo que exige, como papel principal, a interação entre os intervenientes, cabe ao professor criar condições para que a aprendizagem seja, efetivamente, um processo de construção de conhecimentos. Fino (2001), citado por Sardo (2010), afirma mesmo que esta interação entre os indivíduos não se define “apenas pela comunicação entre o professor e o aluno, mas também pelo ambiente

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em que a comunicação ocorre, de modo a que o aprendiz interage também com os problemas” (p. 33).

No panorama dos alunos, a importância da comunicação é cada vez mais destacada nos documentos orientadores para a aprendizagem, nomeadamente a Comunicação Matemática que aparece em relevo no Novo Programa de Matemática do Ensino Básico (Damião et al., 2013). Pode ler-se que “Os alunos devem ser incentivados a expor as duas ideias, a comentar as afirmações dos colegas e do professor e a colocar as suas dúvidas” (p. 5). Também a expressão escrita assume uma importância acrescida, sendo uma “parte integrante da atividade matemática” e portanto “os alunos devem também ser incentivados a redigir convenientemente as suas respostas, explicando adequadamente o seu raciocínio e apresentando as suas conclusões de forma clara” (p. 5). Com isto, o professor fica com a tarefa acrescida de fomentar não só o discurso oral dos seus alunos, como também de criar momentos propícios para o desenvolvimento da comunicação escrita.

Asseverando estes fatores que evidenciam a importância da comunicação criada em sala de aula, Menezes (1996) coloca algumas questões interessantes que parecem despertar o interesse por esta temática, especificamente no domínio da disciplina de Matemática. O autor questiona-se não só acerca das implicações que a inexistência de comunicação ou o discurso monológico tem no (in)sucesso dos alunos como também acerca da própria forma de comunicar do professor, nomeadamente a linguagem que utiliza, sendo esta um elemento fundamental na ciência exata que é a Matemática.

Focalizando o monólogo que acaba por ser criado em sala de aula, sendo o professor o emissor e o aluno o recetor, deve-se considerar que o diálogo nem sempre é a melhor solução, na medida em que pode não traduzir a efetiva troca de ideias e criação de conhecimento. Um diálogo assente em perguntas “muito dirigidas e de resposta quase pré- determinada ou através de outras solicitações de intervenção” (Menezes, 1996, p. 7) por parte do professor é um diálogo pobre ao nível da qualidade do processo de ensino- aprendizagem que se estabelece. Por outro lado, e tal como afirma Menezes (1996), “uma aula em que o diálogo é generalizado aos diversos elementos da turma, onde se inclui o professor, privilegiando as atividades de discussão e o confronto de perspetivas” (p. 7) tem tudo para ser uma aula proficiente e propiciadora de um ambiente favorável à aprendizagem.

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Assim, o questionamento pode e deve ser considerado um elemento estruturador da interação dentro da sala de aula, seja esta interação professor-aluno ou aluno-aluno. É da responsabilidade do professor tomar consciência da importância que a comunicação, e o próprio questionamento, assumem em sala de aula. Deve, por isso, encontrar estratégias e ferramentas que proliferem as vantagens de todo o processo de comunicação, de forma a criar momentos de aprendizagem ativa, que exija interação de parte a parte, fugindo assim do discurso monopolizador do professor.