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A concepção das Sequências Textuais integradas à Tipologia Narrativa

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1 LEITURA E COMPREENSÃO TEXTUAL

1.4 A concepção das Sequências Textuais integradas à Tipologia Narrativa

Como sabemos, os diversos gêneros narrativos em suas diversas formas, a exemplo do romance, do conto, da crônica e da novela, têm como propósito contar uma história ou fato, sendo constituído por diversos elementos narrativos que interagem entre si em torno do enredo, ação esta que os fazem ser predominantemente constituído de uma sequência narrativa. No entanto, um determinado texto pode apresentar a sequência narrativa sem necessariamente ser de tipologia7 narrativa.

7Para Marcuschi (2008 p. 154-5), o tipo textual é definido como uma espécie de construção teórica (em geral

uma sequência subjacente ao texto) definida pela natureza linguística de sua composição: aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas e estilo. São tipos: narração, descrição, argumentação, exposição,

Um texto pode ser narrativo e apresentar traços descritivos ou argumentativos; textos como estes são constituídos com uma tipologia dominante e outras. Para cada “tipologia dentro de outra tipologia” chamamos de sequência textual. O que define um tipo textual é a natureza linguística de sua composição; uma sequência é definida por um fragmento descritivo dentro de um gênero predominantemente narrativo.

Para fins de exemplificação, observemos o fragmento a seguir retirado da NEP O Rei de Paus. Nesta, o personagem Hasting descreve, a partir da leitura de uma notícia apresentada no jornal (fictício) Newsmonger, a presença da personagem Valerie Saint Clair na cena do assassinato da personagem Reedburn. Assim temos:

—Seu vestido de cetim cor de areia está manchado de sangue. Ela balbucia uma palavra: “assassinado” e cai no chão inconsciente. Talvez a tenham reconhecido por seus retratos nos jornais: é Valeria Saint Clair, a famosa dançarina, última coqueluche de Londres...

— Pelo jeito não tem lido as seções de mexericos dos jornais, aquelas que começam assim: “Um passarinho me contou...” Olhe aqui.

— E me indicou um parágrafo com seu dedo curto e roliço: “... que um príncipe do continente está encantado por uma famosa dançarina que agora ostenta no dedo anular um novo e deslumbrante solitário...”

— Mas prossiga a sua dramática narrativa — disse Poirot. — Deixou mademoiselle desmaiada na sala de estar de Daisymead, lembra-se? Encolhi os ombros. — Em consequência às primeiras palavras pronunciadas por Mademoiselle Saint Clair ao recobrar a consciência, Mr. Oglander e o filho saíram, um para chamar um médico que socorresse a dama, que evidentemente sofria de choque, e o outro para a delegacia, onde contou sua história e conseguiu que a polícia o acompanhasse a Mon Désir, a magnífica propriedade do Mr. Reedburn... [grifos meus] (CHRISTIE, 1974, p. 84).

Neste fragmento, predomina a tipologia narrativa, contudo, há a presença da descrição como é o caso do fragmento “[...] que um príncipe do continente está encantado por uma famosa dançarina que agora ostenta no dedo anular um novo e deslumbrante solitário”. Este fragmento representa uma sequência descritiva inserida numa sequência narrativa. Dizemos, desta forma, que o texto como um todo pertence a tipologia narrativa uma vez que prevalece nele a sequência de mesma natureza.

Em um mesmo texto narrativo, outras sequências estão diretamente associadas à narração, às quais destacamos a descrição e o diálogo. Nas NEP, por exemplo, o encaminhar do enredo é dado pelo diálogo (sequência dialogal) em que os personagens interagem uns com os outros e narram um determinado acontecimento a ser investigado por parte do protagonista, fator este que não exclui o caráter narrativo da obra. Terra (2014, p. 115) afirma que uma

descrição, injunção. Nas NEP, o diálogo se mistura à narração no ato de investigação a partir da tomada dos depoimentos dos personagens suspeitos.

sequência narrativa prototípica é caracterizada por uma “situação inicial, marcada pelo desequilíbrio, que é alterada desencadeando complicações (complicação) seguida uma série de ações decorrentes que levarão a uma situação final e um novo caso de equilíbrio”. Para entender de forma mais clara, Terra (2014) apresenta o seguinte esquema gráfico:

Figura 2: Esquema Gráfico das Sequências Narrativas

Fonte: Terra (2014, p. 115)

Para Terra (2014), o enredo parte de um estado de equilíbrio alterado pelo crime a ser investigado. Em seguida, todo um conjunto de ações ocorre durante a investigação que envolve o protagonista, a vítima e os suspeitos. O clímax (resolução) ocorre quando um dos suspeitos é apontado como culpado em que a situação final ocorre com a punição do suspeito e o reconhecimento ou gratificação por parte da personagem investigador.

As sequências narrativas apresentam como características o encadeamento cronológico temporal, apresentando um conjunto de ações predicadas aos personagens que compõem o texto. Sob um prisma linguístico, as sequências narrativas são marcadas por verbos de ação geralmente no passado. A esse tipo de sequência estão associadas outras que auxiliam na composição do texto narrativo como é o caso das sequências descritivas cuja função é apresentar as características de alguém ou algo.

Geralmente a descrição é utilizada no texto narrativo, para apresentar as características de uma determinada personagem durante uma determinada ação ou para descrever as cenas que compõem o espaço da narração em que, no caso das NEP, apresenta ao leitor a cena do crime em investigação é descrita levando o leitor a perceber detalhes na cena e o auxiliam na construção da imagem mental.

Um outro ponto relevante no que se refere às sequências textuais presentes no texto narrativo é o caso do diálogo ou sequência dialogal. Terra (2014, p. 123) afirma que estas também “ocorrem nos textos escritos e é marcado pela sucessão coordenada de turnos de fala”. No texto narrativo, “o diálogo reproduz as falas dos personagens inseridos no discurso

principal” (TERRA, 2014, p. 123) marcada por turnos de fala e é através dos diálogos que percebemos também os sentimentos e sensações dos personagens ou onde o próprio enredo se desenvolve.

Quando trazemos as ideias de sequência textual aplicadas às NEP, estas assumem importância mediante a integração narração – descrição, as características dos personagens, a composição da cena que possibilita a construção da imagem mental e a concatenação do enredo no âmbito da progressão temática, levando o leitor a perceber como os personagens estão articulados na narrativa. A partir das sequências dialogais, percebemos a posição dos personagens na narrativa (se investigador, vítima, suspeito etc.).

O diálogo entre os personagens possibilita a progressão do texto em que a sequência do enredo é apresentada ao leitor por intermédio das falas dos personagens durante os depoimentos dos diversos personagens enquanto o processo de investigação estabelecido pela personagem-investigador na NEP. As sequências descritivas e dialogais são introduzidas ao enredo do texto complementando a sequência narrativa, fator que determina o gênero NEP como pertencente à tipologia narrativa.

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