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A concepção de vaidade na Bíblia e na Igreja Assembléia de Deus

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Para os pentecostais a questão moral e ética, subordina-se à questão da salvação, criando no fiel o desejo de viver o Evangelho de acordo com o mais puro sentimento de rejeição aos prazeres mundanos e assim assumir uma atitude de separação de tudo que atrapalhe a comunhão com Deus, e de modo a distanciá-los de coisas, atitudes, valores e condutas que prejudiquem esta relação. Na linguagem dos pastores, as pessoas que não obedecem aos usos e costumes, estão envolvidas com vaidade. E estes procuram provar isto através dos textos sagrados.

A questão da indumentária nos usos e costumes na Assembléia de Deus é a dificuldade de compreender, o termo como “vaidade”. O texto bíblico que é usado para sustentar a questão da vaidade é Salmos 24: 3,4 que diz: Quem subirá ao

monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar Santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade.

Quando se pensa em vaidade para a maioria dos pastores evangélicos da Assembléia de Deus, pensa-se imediatamente da questão do trajar e adornos. Uma das questões a ser feitas é: por que só se fala em vaidade quando relacionada a jóias, pinturas e trajes femininos, e por que não aos trajes masculinos?

Evidente que muitas explicações são dadas, principalmente por causa da vaidade feminina, o que Ricardo Gondim (1999) vê como expressão exteriorizada no trajar, indumentária, maquiagem etc. perde seu sentido original de tudo aquilo que é vão, e que, não tem nada haver com trajes femininos, mais ainda que fosse, para ele, os ternos caríssimos, o pintar de cabelo para os homens, porque isso não é assumido como vaidade?

No original hebraico, vaidade advém de duas palavras. Primeiro, de “habel” que significa vazio, oco. Seu uso no Antigo Testamento muito relacionado ao abandono do único Deus verdadeiro é a busca de ídolos que não podiam satisfazer às necessidades de Israel pelo simples fato de não existirem. A adoração a ídolos, então, tornou-se sinônimo de vaidade, pois era como se o povo israelita buscasse ajuda do vazio.

A segunda palavra hebraica era “shaw”, que assumia conotação de vazio, mas com uma compreensão mais ligada à desolação, abandono. Já no Grego, a vaidade pode ser representada pelo substantivo “mataíotes” e também significa vazio. Não há qualquer relação entre vaidade e o uso de jóias, roupas ou ornamentos. Seu significado, em primeiro lugar, refere-se ao mundo criado que, no pecado e sem preencher o propósito inicial para o qual foi criado, tornou-se vazio.

A palavra “mataíotes” é também usada para expressar a forma das pessoas gentias, as quais são pessoas que não são judias. Também pode relacionar aos falsos mestres que falavam muito sem ter nada a dizer.

Levantar a questão de vaidade para provar que as pessoas que usam adornos e roupas da moda amam o mundo é confundir a real concepção de vocábulo bíblico sobre vaidade. Assim, vaidade é objetivamente descrito como vazio, inutilidade, e falta de consistência.

Todas as vezes que buscamos nossa identidade no que for irreal estamos sendo vaidosos. Mas muitos pastores usam o termo “vaidade” para prender os membros no sistema dos usos e costumes que a igreja usa para controlar a maneira de vestir dos membros desta igreja,

Mas, será que isto realmente leva os membros desta igreja a obedecerem aos usos e costumes? Então, por que isto não é padrão para todos? E porque está mudando estes hábitus?

Para Rudolf Otto (1985):

O sagrado constitui modalidade de ser no mundo. O modo de ser sagrado depende da diferente posição que o homem conquistou nesta relação, os homens diante da natureza e do sagrado se condicionam muitas vezes pela cultura, portanto, em última instância, pela história.

O fiel, na busca da salvação, deve resistir as tentações e ser radical na rejeição ao mundanismo e obedecer aos mandamentos divinos. Deve ser virtuoso, ter autodeterminação e possuir rigidez monástica para não sucumbir ao mundanismo e ser arrastado pelo caminho largo dos prazeres da carne e da paixão do mundo. Sendo o mundo tentador como é, viver nele é negar seus prazeres, exigindo do fiel grande força e resistência moral.

É na eficácia dos símbolos que se criam outra modalidade de influência social, que serve para concretizar, tornar visível e tangível a realidade abstrata, tanto, mental como moral da sociedade, mantendo o sentimento de pertençer, assegurando assim a participação adequada de acordo com o papel que cada um neste contexto.

Nisto podemos observar que a Assembléia de Deus utiliza símbolos da sociedade, aqui os usos e costumes são símbolos da cultura judaica presente nos textos da Bíblia, forma uma modalidade social própria. Neste sentido, os símbolos não só ajudam a representar concretamente a coletividades, como podem também servir para provar ou alimentar o sentimento de pertença e solidariedade destes membros onde pertencem, reproduzindo conduta e padrões que estão sendo ensinados, como forma de obediência e compromisso.

Um dos fatores essenciais para a compreensão da linguagem de um grupo, onde o fiel assume sua característica é o termo “comunhão”, uma expressão cristã, que denota participação comum na graça de Deus, na salvação e obrigação de quem deseja permanecer integrado. A questão da comunhão não é comunhão do fazer, tampouco comunhão do ser. É uma comunhão da fé, nascida de uma confiança comum em Deus e um comprometimento mútuo, na partilha do fiel com a igreja, pois há possibilidade de se estar incluso numa instituição, porém, não se sentir parte dela, conhecer as linguagens e expressões e não se comungar com esta linguagem.

Estar incluído é falar na linguagem que possa introduzir o fiel sempre na relação com o sagrado, que é a linguagem da comunhão, da partilha. A profunda compreensão dos símbolos e sua relação com Deus e com a igreja, leva o fiel a

passar a compartilhar uma maior compreensão e unidade consigo mesmo e com o transcendente.

Um fato fundamental da partilha do fiel com Deus é a questão do batismo com o Espírito Santo, que é a maior expressão de comunhão e integração na intimidade com o sagrado no contexto das igrejas pentecostais.

È no batismo com o Espírito Santo e no falar línguas estranhas (glossolalia) que o símbolo da comunhão com o sobrenatural se manifesta e é a presença real de Deus na vida do crente que vem para fortalecer no seu dia a dia. Diante de tantas manifestações extraordinárias a resposta comunitária é sempre festiva e dispensa a formalidade litúrgica.

O fiel se apossa do transcendente e o transcendente dele se apossa, e o resultado é o êxtase, o arrebatamento, e isto vai estabelecer um vínculo poderoso entre as pessoas e entre elas e o mundo externo (família, amigos, situação real), dando a essa força simbólica a potencialidade concreta de vida ou de sobrevivência.

Para a Assembléia de Deus o batismo com o Espírito Santo é a expressão mais íntima das relações que o homem deve experimentar na vida espiritual, que fortalecera o fiel no dia a dia. Essa relação é um dos marcos deste movimento pentecostal.

1.6. Como ocorre o processo de filiação e inclusão no mundo pentecostal da

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