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A Doutrina dos Usos e Costumes como padrão de conduta na Assembléia de Deus

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Em algumas denominações, a questão sobre o aspecto da mulher e sua indumentária (desde tamanho do cabelo à dúvida relativa do uso de barba por parte dos homens), ainda é tão explosivo, que não há sequer espaço para discussão. Sachs (1998) declara que, a identidade de um grupo dá a uma pessoa o sentimento de pertença; pertença esta que está ligada à inclusão e a adesão dos padrões tradicionais que foram impostos por autoridade. È pelo êxtase no Espírito Santo, que leva o fiel a agir dentro de padrões que geram um comportamento atuante de reprodução da identidade coletiva do grupo a que pertence.

Na bíblia encontramos uma tradição estabelecida, orientada por Deus, que então se torna o costume do povo, no caso específico do povo de Israel; no tempo neotestamentário os cristãos seguiam as normas da Bíblia, ou seja, um modo fixo de ação. No novo testamento o éthos em um sentido mais amplo torna-se hábitus.

Quando um membro da Assembléia de Deus está andando na rua ou em qualquer lugar pode-se conhecê-lo pelo traje, pela postura, até pela linguagem, pois são por estes hábitus que se caracteriza uma classe ou um grupo social em relação aos outros que não partilham das mesmas condições sociais.

Neste sentido, Boudieu (1980) afirma que: “habitus” funciona como a materialização da memória coletiva que reproduz como agente da ação e primazia da razão prática e que pela contínua repetição e reprodução coletiva afirma com sucesso as aquisições e reprodução dos precursores. Ele explica que os membros de uma mesma classe agem freqüentemente de maneira semelhante sem ter necessidades de entrar em acordo para isso.

O habitus é que permite aos indivíduos se orientarem em seu espaço social e adotarem práticas que estão de acordo com sua vinculação social, e pode ser fortalecida pela implantação dos valores espirituais que leva um fiel a andar, a crer que seu trajar, sua postura e conduta como exigência para agradar a Deus, pois de certa maneira está ligada ao padrão doutrinário que os líderes procuram vincular para gerar obediência a este costume.

A “Doutrina” para os pastores pioneiros da Assembléia de Deus é tudo que está escrito na Bíblia, pois, para os pastores o que está escrito deve ser observado e obedecido como padrão e os Usos e Costumes são parte integrante das doutrinas bíblicas que não se devem questionar. Então, por que está ocorrendo hoje esta mudança?

Para Martinelli (1997):

O sagrado não é senão o símbolo da própria sociedade, o sentimento de sagrado não é se não o sentimento de dependência do indivíduo, do grupo social. Para ele a religião é experiência coletiva do sagrado.

Pode-se observar que a sustentação da tradição da igreja sobre usos e costumes não deixa de gerar conflitos e crises nos sentimentos dos fiéis, provocando desgastes na relação com a igreja e que por várias influências vem sendo questionada, porém, para muitos grupos pentecostais estas questões dos trajes, jóias, adornos não pode ser questionada, pois, é uma identidade fundamental para diferenciar quem é crente de que não é.

Então fica a questão fundamental: o que está acontecendo com esta identidade pentecostal que hoje está sendo questionada?

Quando os costumes cristalizam-se, transformam-se em crenças éticas, e em seguida, em leis supostamente universais. O costume que era uma questão

meramente humana, embora possa estar escudada nas leis naturais e nos impulsos da consciência, estando assim em harmonia com a vontade de Deus, não deixou de receber influências e mudanças.

Berger e Luckmann (1999) expressam que:

As normas de um grupo traz consigo uma história e através dela podemos verificar as mudanças que vem ocorrendo. As normas podem alterar-se no sentido de criação de novas ou revisão das antigas tradições.

O sentimento de solidariedade pode estabelecer-se como um importante fator de manutenção do grupo, e podem emergir conflitos com relação a valores. O conflito não significa necessariamente, a dissolução do grupo, mas pode se caracterizar em um dado momento como fator de crescimento e solidificação deste grupo.

Com passar do tempo, as experiências que deram resultado são repetidas e, aos poucos, o grupo terá uma experiência acumulada que lhe permitirá resolver e dar sentido as coisas que praticam e que conduzam ao comportamento do grupo.

Os usos e costumes tradicionalmente praticados na Assembléia de Deus vem acompanhando este movimento desde seus primórdios e que se fortalece depois da sua experiência e cria um éthos, que para o crente desta igreja deve aparecer a maneira de se conduzir e acima de tudo no trajar, que se mostra como símbolos de que a pessoa é convertida, e prova de regeneração, sinal de santificação. Esta santificação é provada pela forma como o crente obedece estes padrões de identidade que se formou no contexto deste movimento.

Porém, esta forma de identidade Assembleiana está sendo pouco a pouco e com algumas exceções, flexibilizada ou adaptada aos novos valores, em alguns

casos, está sendo simplesmente abandonada por algumas igrejas, e ou, crentes. Neste aspecto, como diz Ricardo Gondin (1999):

A maior luta da Assembléia de Deus é a preservação de suas tradições, de seus usos e costumes. A igreja tenta preservar o que havia em 1930, 35, e fechou os olhos para o fato de que de 35 para cá não só o mundo mudou como os próprios membros e a pessoas dentro da igreja mudaram.

CAPÍTULO II

A ASSEMBLÉIA DE DEUS, SUA ORIGEM E DESENVOLVIMENTO NO

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