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A concepção freudiana da melancolia: um estudo psicopatológico?

Freud formou-se em medicina e começou sua carreira como neurologista, realizando pesquisas nos laboratórios de Brücke11 sob sua supervisão. Nesta época, por volta de 1880, ele estava empenhado em entender os meios pelos quais as células e fibrilas nervosas funcionavam como uma unidade. Suas descobertas giravam em torno da comprovação dos processos evolutivos revelados pelas estruturas nervosas de peixes. Percebendo que no exercício de pesquisador não ganharia dinheiro suficiente para constituir uma família, Freud abandonou os laboratórios de Brücke e passou a se dedicar à clínica médica no Hospital de Viena. Sua área médica era a psiquiatria – “a clínica dos distúrbios nervosos”, como se falava na época – persistindo, assim, seu interesse pela mente e seu funcionamento (GAY, 1989; CAPER, 1990).

Em sua prática clínica, Freud se depara com um elevado número de casos de uma certa doença incompreensível para a época, e, envolvido por seus enigmas, decide empenhar-se no desvendamento e compreensão da chamada Histeria. Consolida-se então a sua paixão pelo estudo das perturbações psicológicas e dos processos mentais a elas relacionados. Ele começa a praticar a psicoterapia e a escutar pacientemente o que suas pacientes histéricas tinham a lhe contar sobre os seus sofrimentos passados. Estabelecia-se assim uma relação causal entre as afecções nervosas e a história do desenvolvimento emocional do indivíduo. Para Freud, fatos ocorridos na infância poderiam ter uma relação causal com a doença nervosa que acometia o paciente na atualidade. Hipnose e sugestão eram suas principais técnicas. Convém salientar aqui a mudança no papel do médico que, ao invés de ser o portador único de todo o conhecimento sobre a doença e sua causa, passa a dividir a responsabilidade com o paciente,

11 Considerado fundador da fisiologia na Áustria, Ernst Brücke foi professor e pesquisador da cátedra de

fisiologia da Universidade de Viena a partir de 1849. Teve muitos trabalhos reconhecidos e tornou-se respeitado na área de fisiologia. Freud passou seis anos – de 1876 a 1882 – pesquisando e estudando fisiologia nos laboratórios de Brücke, afastando-se definitivamente da filosofia, e nunca escondeu a intensa admiração que tinha pelo fisiologista, considerando-o seu “mestre” mesmo depois de abandonar tais estudos. Freud deu o nome de Ernst ao seu quarto filho (ROUDINESCO E PLON, 1998, p.95).

considerando o doente como conhecedor das causas de seu sofrimento; bastaria apenas que ele fosse escutado com atenção. É o início da “cura pela fala”.

Nos anos de 1890 – o chamado “período pré-psicanalítico” – Freud começa a desenvolver, a partir de sua experiência com a clínica das histéricas, um modelo de mente em termos de forças eletrônicas, que funcionavam como um conjunto de séries de capacitores elétricos baseados na recém-descoberta célula neuronal. Este modelo é uma tentativa de descrever em termos de forças eletrônicas os fenômenos que estão por trás da vida mental, isto é, uma maneira de explicar em termos fisiológicos e conservadores o fenômeno da histeria. O modelo de mente pré-psicanalítico, segundo Caper (1988 p.39), pode ser visto como “um novo ramo da fisiologia, cujo expositor está um pouco constrangido com o fato de

não dar ao leitor o tipo de precisão que se poderia encontrar num tratado de física sobre o movimento dos fluídos”. Este modelo é desenvolvido especialmente no “Projeto para uma

psicologia científica” ou, como Freud preferia, “Psicologia para neurólogos”, livro nunca publicado em vida pelo autor. Caper afirma ainda que esta tentativa revela o esforço de Freud em construir uma psicologia sem psique. Assim, os estudos daquela época podem ser lidos como textos de um psiquiatra que se baseava na neurofisiologia, ou de um neurofisiologista interessado na psiquiatria (GAY, 1989; CAPER, 1990).

Em 1895, Freud encontrava-se em um período crítico, já que se debatia com os problemas colocados pela histeria, com a formulação de sua teoria da sedução e com seu decorrente modelo de mente “pseudo-fisiológico”. As dificuldades por ele encontradas no tratamento da histeria obrigavam-no a rever constantemente suas idéias e principalmente as concepções oriundas de sua formação como neurofisiologista nos Laboratórios de Brücke e como psiquiatra no hospital de Viena.

1985 é também o ano da publicação do famoso livro Estudos sobre a Histeria, escrito em parceria com seu amigo e parceiro de pesquisa, o Dr. Joseph Breuer. Neste livro, encontramos um breve comentário de Freud que ilustra sua posição diante das novas descobertas que se impunham. Diante de sua posição menos neurofisiológica, ele se justifica:

Nem sempre fui psicoterapeuta. Como outros neuropatologistas, fui preparado para empregar diagnósticos locais e eletroprognósticos, e ainda me causa estranheza que os relatos de casos que escrevo pareçam contos e que, como se poderia dizer, falta- lhes a marca de seriedade da ciência. Tenho de consolar-me com a reflexão de que a natureza do assunto é evidentemente a responsável por isso e não qualquer preferência minha. A verdade é que o diagnóstico local e as reações elétricas não levam a parte alguma no estudo da histeria, ao passo que uma descrição pormenorizada dos processos mentais, como as que estamos acostumados a encontrar nas obras dos escritores imaginativos, me permite, com o emprego de algumas fórmulas psicológicas, obter pelo menos alguma espécie de compreensão sobre o curso dessa afecção. Os casos clínicos dessa natureza devem ser julgados

como psiquiátricos; entretanto, possuem a vantagem sobre estes últimos, a saber: uma ligação íntima entre a história dos sofrimentos do paciente e os sintomas de sua doença - uma ligação pela qual ainda procuramos em vão nas biografias das outras psicoses (FREUD, 1985, p.184).

Neste ano Freud escreve também “O projeto”, não sabendo ainda que estava perto de perceber a importância da realidade psíquica e das fantasias inconscientes no funcionamento mental. Em maio de 1895, escreve a Fliess, revelando seu dilema no estudo das neuroses:

Tenho tido uma quantidade desumana de coisas por fazer e, após períodos de dez a onze horas de trabalho com as neuroses, fico regularmente impossibilitado de tomar a pena para escrever-lhe um pouco, embora, na verdade, muito tivesse a dizer. A principal razão, porém, é esta: um homem como eu não pode viver sem um cavalo de batalha, sem uma paixão devoradora, sem – nas palavras de Schiller – um tirano. Encontrei um. A serviço dele, não conheço limites. Trata-se da psicologia, que foi sempre minha meta distante a acenar-se, e que agora, desde que me deparei com os problemas das neuroses, aproximou-se muito mais. Estou atormentado por dois objetivos: examinar que forma irá assumir a teoria do funcionamento mental, se introduzirmos considerações quantitativas, uma espécie de economia de forças nervosas, e, em segundo lugar, extrair da psicopatologia um lucro para a psicologia normal. Na verdade, é impossível ter uma concepção geral satisfatória dos distúrbios neuropsicóticos se não puder vinculá-la com pressupostos claros sobre os processos mentais normais. (MASSON, 1986, p.130).

Assim, por volta de 1897, ao se deparar com a impossibilidade de sustentar seu modelo de mente baseado na clínica da histeria, devido a dificuldades que se mostravam sem solução ou apontavam outros caminhos, Freud viu-se obrigado a abandonar sua teorias iniciais, principalmente sua conhecida teoria da sedução. Sem se desesperançar, volta-se então para seus pacientes, mais com um olhar de fenomenólogo do que de fisiologista teórico, e assim percebe a importância na vida mental da dimensão da realidade psíquica, das fantasias inconscientes e dos fatos imateriais.

Estes achados abriram um caminho inteiramente novo, e consistiram em uma descoberta muito mais importante e original do que aquelas em que Freud vinha apostando suas fichas até então. Voltando sua atenção para uma psicopatologia como a histeria, ele percebeu a presença de elementos que não existiam somente neste distúrbio nervoso. Realidade psíquica e fantasias não eram importantes apenas na mente das histéricas: eram aspectos que compunham e tinham um papel relevante na mente de todo ser humano. É neste momento que Freud começa a se assumir como psicólogo e a desviar definitivamente seu interesse do cérebro para a mente e para seus processos inconscientes. Contudo, Meltzer (1989, p.63) nos alerta para o fato de que tal mudança não acontece do dia para a noite, mas em um longo processo que acompanhou quase toda a vida do criador da psicanálise: “Freud,

determinista do ‘Projeto para uma psicologia científica’ a psicólogo fenomenologista de ‘Análise terminável e interminável” (GAY, 1989; CAPER, 1990; HORNSTEIN, 1989).

Um novo modelo de mente nasce a partir do estudo de um distúrbio psíquico e, com este fato, consolida-se um método de pesquisa freudiano que revela a possibilidade de compreender com profundidade o funcionamento da mente em geral a partir do entendimento da psique enferma:

É que existe uma classe de seres humanos a quem, não um deus, mas uma deusa severa – a Necessidade – delegou a tarefa de revelar aquilo de que sofrem e aquilo que lhes dá felicidade. São as vítimas de doenças nervosas, obrigadas a revelar suas fantasias, entre outras coisas, ao médico por quem esperam ser curadas através de tratamento mental. É esta nossa melhor fonte de conhecimento, e desde então sentimo-nos justificados em supor que os nossos pacientes nada nos revelam que não possamos também ouvir de pessoas saudáveis (FREUD, 1908[1907], p.137).

Baseando-se em seu método de ”cura pela fala”, Freud percebe que, através dos relatos de seus pacientes sobre suas fantasias, seus desejos e seus sonhos, alcançaria a compreensão dos distúrbios psíquicos. O Estudo da psicopatologia, revela Freud, poderia também fornecer compreensão sobre o funcionamento psíquico normal, ou seja, não patológico. Em 1905, em “Tratamento Psíquico (ou anímico)”, Freud (1905, p.274) escreveu: “Só depois de estudar o

patológico é que se compreende a normalidade”. Apenas um ano mais tarde ele detalha esta idéia acrescentando que não só podemos compreender o estado mental normal através da compreensão do patológico, mas que também o limite entre estes dois estados é tênue:

Mas o limite entre o que se descreve como estado mental normal e como patológico é tão convencional e tão variável, que é provável que cada um de nós o transponha muitas vez no decurso de um dia. Por outro lado, a psiquiatria estaria cometendo um erro se tentasse restringir-se permanentemente ao estudo das graves e sombrias doenças decorrentes de severos danos sofridos pelo delicado aparelho da mente. Desvios da saúde mais leves e suscetíveis de correção, que hoje podemos atribuir apenas a perturbações na interação de forças mentais, atraem igualmente seu interesse. Na verdade, só através deles é que se pode chegar à compreensão dos estados normais, assim como dos fenômenos das doenças graves (FREUD, 1907[1906]).

Este princípio acompanhou Freud por todo o seu percurso de criação e consolidação do edifício psicanalítico. Em seus escritos ele não escondia tal percepção; na verdade, até se preocupava em comunicar este princípio, que seguia fielmente. É comum esbarrar em comentários de Freud comunicando-o, em textos de diversas datas, desde os anos iniciais até os que datam dos anos trinta. Segundo Meltzer (1989, p.26), a psicopatologia para ele era a via de entrada para os processos da mente. Ressaltando a importância deste método, Monzani (1989, p.100) considera-o como “uma das maiores originalidades de Freud, ou seja, usar o

Com a descoberta e a elaboração de um novo modelo de mente – provindo não só de elaborações teóricas dedutivas, mas da observação e do entendimento das psicopatologias a partir da prática clínica – constitui-se uma maneira particular e original de compreender a vida mental normal e patológica. O psicopatológico passa a estar contido na vida psíquica normal e vice-versa: o distúrbio seria como uma fissura no mecanismo da mente normal a que todos estão sujeitos e que revelaria seu funcionamento encoberto pela normalidade:

Por outro lado, bem conhecemos a noção de que a patologia, tornando as coisas maiores e mais toscas, pode atrair nossa atenção para condições normais que de outro modo nos escapariam. Onde ela mostra uma brecha ou uma rachadura, ali pode normalmente estar presente uma articulação. Se atiramos ao chão um cristal, ele se parte, mas não em pedaços ao acaso. Ele se desfaz, segundo linhas de clivagem, em fragmentos cujos limites, embora fossem invisíveis, estavam predeterminados pela estrutura do cristal. Os doentes mentais são estruturas divididas e partidas do mesmo tipo (FREUD, 1933 [1932], p.64).

Freud concebe a noção de que a psicopatologia se constitui de processos mentais normais que estariam, por diversos motivos, aumentados, exagerados ou desestabilizados. E os principais conceitos que vingaram na psicanálise nascem do estudo destes estados patológicos:

A psicanálise está firmemente alicerçada na observação dos fatos da vida mental e por essa mesma razão sua superestrutura teórica ainda está incompleta e sujeita a constante alteração. Em segundo lugar, não existe motivo para surpresa que a psicanálise, que originalmente nada mais era que uma tentativa de explicar os fenômenos mentais patológicos, deva ter-se desenvolvido numa psicologia da vida mental normal. A justificativa disso surgiu com a descoberta de que os sonhos e os erros [‘parapraxias’, tais como lapsos de linguagem etc.] de homens normais têm o mesmo mecanismo que os sintomas neuróticos (FREUD, 1926, p.256).

Este princípio de pesquisa da vida mental a partir do patológico é ilustrado magistralmente pela imagem do cristal que se parte e revela suas articulações ou inscrições que ali já existiam, mas que só puderam ser vistas e compreendidas porque se romperam. Neste sentido, a psicopatologia revela ou denuncia a estruturação, a articulação e o funcionamento da mente, elementos que em seu funcionamento normal e cotidiano não poderiam ser percebidos e compreendidos. Foi assim com a histeria, condição que revelou a Freud a existência de uma realidade psíquica, do papel da sexualidade na vida psíquica, da sexualidade infantil, e da importante descoberta de um inconsciente. Muito do modelo de mente normal que foi desenvolvido na Interpretação dos sonhos (1900) começou a ser percebido e postulado no trabalho com as histéricas. Do mesmo modo, a dificuldade com as chamadas neuroses narcísicas dos anos de 1910-15 – psicoses, paranóias e melancolias – levou Freud a admitir a existência de um narcisismo na mente normal, tanto como fase (narcisismo primário) quanto como funcionamento psíquico (narcisismo secundário). Foi

também a clínica das psicopatologias narcísicas que o levou a reformular sua noção de eu. Ou seja, segundo Hornstein, há um intercâmbio constante entre o normal e o patológico no desenvolvimento da teoria freudiana:

Há uma falsa oposição sempre presente no pensamento freudiano, a da falsa oposição normal-patológico com a qual ele quer romper. Freud dirá em

Psicopatologia da vida cotidiana que todos somos um pouco neuróticos, e que não

há diferença essencial entre o sujeito que tem sintomas e aquele que só tem lapsus, ou que só tem sonhos, já que, em última instância tudo dependerá do tipo de transações que cada sujeito realize entre seus desejos inconscientes, as exigências de seus sistemas ideais e as possibilidades que tem de articular na realidade essas exigências contraditórias. É assim que Freud utiliza permanentemente a passagem do normal ao patológico como uma forma de compreender seja um fenômeno, seja o outro (HORNSTEIN, 1989, p.105).

Deste ponto de vista, não seria incorreto, segundo a visão freudiana, supor a existência na mente de elementos comuns entre as condições normais e patológicas. Klein (1940; 1946) postulou a presença de um funcionamento psíquico de natureza psicótica logo nos primeiros meses de vida do bebê, no qual a mente estaria desintegrada. Este funcionamento estaria operando normalmente no início da vida de todo ser humano, e estaria na base de toda manifestação psicótica posterior. Ao grupo de traços e defesas que caracterizariam este funcionamento psicótico, Klein denominou de posição esquizo- paranóide. Segundo ela, haveria um processo de integração que se seguiria a esta posição, dando lugar a uma posição depressiva no desenvolvimento normal. Por volta dos seis meses de idade, o bebê entraria em um funcionamento mental mais integrado, e, por conseqüência, perceberia a separação e a ausência de seus objetos de amor. Isto faria com que ele enfrentasse um processo depressivo normal, permeado por sentimentos de culpa e reparação. Os lutos vivenciados nas situações de perda ao longo da vida do sujeito estariam relacionados à elaboração da posição depressiva.

Ainda nesta mesma linha de desenvolvimento, Bion (1957,1962) sugeriu a idéia de que todo neurótico abriga uma parte psicótica oculta e subjacente, e que, do contrário, em todo psicótico há uma parte neurótica, mesmo que pouco preservada e obstruída pela parte psicótica. Assim, notamos que Bion formulou a presença de uma parte psicótica mesmo no predomínio de um funcionamento normal da mente. Segundo Zimerman (2004, p.125), esta idéia estaria apoiada tanto em uma noção quantitativa quanto qualitativa. A parte quantitativa poderia ser entendida como uma escala: em um extremo que vai desde uma parte psicótica inaparente e absorvida pela parte do ego neurótico e sadio, até o outro extremo de uma personalidade dominada por um funcionamento psicótico que subjugaria a parte neurótica. A

noção qualitativa seria a que caracterizaria o funcionamento psicótico – o predomínio de identificações projetivas de natureza específica e do emprego de for(a)clusão.

A nosso ver, estes são dois exemplos que mostram uma compreensão da mente que segue o método de Freud e admite a existência de elementos, traços e funcionamentos considerados psicopatológicos na dinâmica psíquica normal, ainda que ocultos ou pouco operantes.

É neste contexto, finalmente, que pretendemos situar o ensaio freudiano Luto e

melancoli’ (1917[1915]). Se por um lado este estudo possibilitou a compreensão da melancolia, por outro também revelou para Freud novos aspectos do funcionamento mental. Partes destes elementos foram desenvolvidas e exploradas nos seus textos posteriores. No entanto, há aspectos que foram desenvolvidos apenas por outros psicanalistas. Ainda assim, alguns pontos ficaram esquecidos, aguardando para serem desenvolvidos.

Luto e Melancolia é um trabalho curto, de poucas páginas, que deixa muitas questões abertas e levanta diversas suposições, muitas das quais vêm merecendo atenção dos psicanalistas desde então. E a riqueza do texto está justamente nos diversos pontos deixados em aberto, ou pouco explicados por Freud, deixando para o leitor atento e interessado inúmeras questões que, mesmo se voltando para outros trabalhos do próprio autor, permanecem sem resposta.

Temos, então, duas dimensões básicas que merecem ser consideradas neste estudo: uma que abarca os estados psicopatológicos e o fenômeno do luto, e outra, muito mais sutil, que revela pontos em geral do psiquismo que até então ainda não haviam sido explorados e compreendidos. Esta segunda dimensão se refere aos elementos melancólicos. Assim, pontos deste estudo que tratam da psicopatologia nos ajudam compreender o funcionamento da mente normal. Com o estudo da melancolia, Freud acaba por compreender não apenas um estado psicopatológico, mas também diversos elementos do psiquismo em geral. Em vista disto, podemos tomar as contribuições de Luto e melancolia, e analisá-las nestas várias dimensões.

A primeira dimensão, e a mais explicita, é a que trata da introdução da psicodinâmica tanto dos estados de luto, quanto dos estados melancólicos. Esta dimensão se estende ainda às contribuições do estudo da melancolia para a compreensão da dinâmica da depressão. Muitos autores, ao estudarem os estados de depressão, partem das idéias desenvolvidas neste texto freudiano. Deste ponto de vista psicopatológico, este estudo da melancolia é inestimável. Ele permitiu o início da compreensão, de maneira aguda e sensata, de uma condição de sofrimento psíquico que, conforme mostramos anteriormente, há mais de dois mil anos se

fazia presente na civilização, intrigando a humanidade, que vinha procurando incansavelmente desvendá-la, permanecendo, porém, sempre sem solução. Embora Luto e

melancolia seja o único trabalho de Freud dedicado exclusivamente ao estudo da melancolia, o tema é ali tratado de modo breve. No entanto, inaugura questões fundamentais e proporciona um riquíssimo ponto de partida para a compreensão da dinâmica psíquica que envolve os estados depressivos e os elementos melancólicos do psiquismo. De acordo com