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2. TRAJETÓRIAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA PESQUISA

2.3 NOSSO CAMPO DE PESQUISA

2.3.1 A Configuração do Estágio no Curso Letras-Inglês

De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso (PPC) de Letras-Inglês da Ufes, o propósito do curso é formar professores de língua inglesa, para o Ensino Fundamental e Médio, podendo o futuro profissional atuar em escolas públicas e privadas e em institutos de línguas. Como pré-requisito, o aluno deve comprovar o domínio do idioma em nível avançado, uma

vez que as aulas teóricas são ministradas exclusivamente em inglês. O curso é oferecido nos turnos matutino e vespertino, de acordo com o ingresso do aluno no primeiro ou segundo semestre respectivamente. A duração mínima do curso é de quatro anos e a máxima, de sete anos.

A Resolução nº 74/2010 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Ufes, que institui e regulamenta o Estágio Supervisionado curricular nos cursos de graduação, estabelece que este deve ser de natureza articuladora entre ensino, pesquisa e extensão, objetivando capacitar o graduando para ação-reflexão-ação e garantir sua inserção na realidade escolar e educacional. O planejamento, elaborado conjuntamente por docentes da universidade e por profissionais supervisores do campo de estágio, deve resultar em um Plano de Estágio. O artigo 4º descreve as atividades de estágio, caracterizando-as como vivências que estimularão o desenvolvimento de atividades e posturas profissionais, possibilitando ao estudante desenvolver o senso crítico e atitudes éticas, integrando o saber, o saber fazer e o saber conviver.

Como disciplina do curso Letras-Inglês da Ufes, este deve ser obrigatório, ficando a sua programação e o seu planejamento a cargo da ação conjunta do aluno, do docente e do supervisor, resultando num Plano de Estágio. O programa da disciplina Estágio Supervisionado II do curso Letras-Inglês da Ufes segue as orientações da Resolução CNE/CP 02/2002 e do Projeto Pedagógico do Curso (PPC), perfazendo uma carga horária de 200 horas, sendo que 80 horas são de teoria e 120 horas, de prática. As demais 200 horas são cumpridas na disciplina Estágio Supervisionado I.

Na descrição do campo de estágio, percebemos o incentivo a práticas colaborativas, podendo ser realizado em instituições públicas e/ou privadas, desde que apresentem condições adequadas para a formação profissional do estudante, tais como: infraestrutura material; aceitação da supervisão e da avaliação dos estágios pela Ufes e também aceitação das normas que regem os estágios da Ufes.

Cabe à Ufes elaborar um termo de compromisso entre as partes, indicando as condições de adequação do estágio à proposta pedagógica do curso, à etapa e modalidade da formação escolar do estudante e ao horário e calendário escolar. Deve também indicar um docente orientador, da área a ser desenvolvida no estágio, como responsável pelo acompanhamento e

avaliação das atividades do estagiário e exigir do educando a apresentação periódica de relatório das atividades.

Por outro lado, cabe ao coordenador do estágio possibilitar e acompanhar a inserção dos alunos nos campos de estágio, estabelecer a articulação entre os docentes orientadores, bem como sistematizar, analisar e tornar público no interior do curso o processo de estágio a cada semestre.

Os critérios usados nas avaliações e os resultados obtidos ao longo do processo devem ser comunicados ao estagiário. Ele também deve receber orientações que possam ajudá- -lo no desenvolvimento de suas atividades. Sua aprovação dependerá de uma frequência mínima e rendimentos de acordo com os critérios estabelecidos nos PPCs, nos programas das disciplinas e nas resoluções exaradas pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) que normatizam o assunto.

De acordo com o Programa da Disciplina Estágio Supervisionado II do curso de Letras- -Inglês da Ufes, em vigor em 2011/01, dentre as ações previstas na ementa do curso constam a observação, a vivência e a análise crítica dos processos educativos em geral e didático- -pedagógicos que ocorrem na escola; o estudo da dimensão dos processos de ensino- -aprendizagem e as relações teórico/práticas no cotidiano escolar, como, por exemplo, o conceito de currículo, o planejamento, as ações pedagógicas, a seleção e organização de conteúdos, metodologias de ensino; material didático e avaliação da aprendizagem. Além destas, também estão incluídas ações docentes, entendidas como regência de classe e a elaboração e a operacionalização de projetos pedagógicos, com orientação para o Ensino Médio. Coerentemente com a ementa, os objetivos do curso são levar o aluno a:

1. Estabelecer contato inicial com a realidade do campo de atuação, articulando os conhecimentos específicos adquiridos com a prática;

2. Problematizar a prática docente, desenvolvendo pesquisa e propondo ações de intervenção;

3. Avaliar permanentemente a prática, estabelecendo uma visão crítica de reflexão e questionamento no estágio, com o intuito de aprimorar e amadurecer os conhecimentos obtidos durante sua formação acadêmica e a prática pedagógica desenvolvida/vivenciada;

4. Despertar para o desenvolvimento dos princípios do exercício profissional, com responsabilidade e ética profissional e pessoal;

5. Perceber a ligação entre o conhecimento específico a que se propõe ensinar e os demais campos do conhecimento humano;

6. Propiciar ao aluno a vivência de atividades e dos problemas do dia a dia, inerentes à função de docente.

Percebemos que as atividades dessa disciplina como componente curricular são orientadas pelo paradigma do professor crítico-reflexivo, buscando articular a teoria com a prática, na formação do professor pesquisador, em consonância com as sugestões de Pimenta e Lima (2004). Para as referidas autoras, o conceito de estágio curricular é definido como um campo de conhecimento que objetiva integrar o processo de formação do aluno-professor ao campo de atuação da escola, da secretaria da educação, de associações e outros, sendo o referido campo “[...] objeto de análise, de investigação e de interpretação crítica, a partir dos nexos com as disciplinas do curso”. (p.24). Ainda esclarecem que o estágio “[...] não é atividade prática, mas teórica, instrumentalizadora da práxis docente, entendida esta como atividade de transformação da realidade” (p.45). Indicam a pesquisa no estágio, como método de formação, visando a desenvolver nos futuros professores habilidades e postura de pesquisador.

Conforme Machado (2011), o processo da disciplina Estágio Supervisionado II é planejado em várias fases. No primeiro mês, os alunos têm aulas na Ufes para estudar/refletir sobre vários assuntos pertinentes ao trabalho com o ensino em nível médio e há também um encontro com as professoras regentes do Ifes para definição das turmas que receberão estagiários, distribuição e agrupamento dos alunos entre as professoras/turmas com as quais trabalharão. Ainda nesse encontro, são apresentados ao espaço físico da escola-campo de estágio.

A referida autora explica que, no segundo mês, inicia-se a fase de observação das aulas das professoras regentes, com o registro de anotações e reflexões sobre as aulas, a metodologia adotada, a relação professor-aluno e aluno-aluno, o comportamento da turma, enfim, experiências do cotidiano escolar que testemunharam. Além disso, buscam identificar um problema para ser solucionado ou minimizado durante seu processo de estágio e também aplicam um questionário de Needs Analysis que os orientará na elaboração do Plano de Trabalho das atividades de estágio.

Machado (2011) salienta que a regência ocorre no terceiro e quarto meses, sob a observação, orientação, feedback imediato e avaliação das professoras regentes e da professora orientadora de estágio. Esta última também os orienta na elaboração e adequação dos planos de aula ao Plano de Trabalho traçado na fase de observação, acompanhando todo o processo de desenvolvimento das atividades de estágio. Ainda nesta fase, os alunos devem aplicar um teste envolvendo todo o conteúdo trabalhado por eles, corrigir e dar feedback ao entregá-los

aos alunos do Ifes, que, por sua vez, também poderão avaliar o desempenho dos estagiários em um questionário aplicado especialmente para este fim.

Desse modo, percebemos que na metodologia adotada para o desenvolvimento das atividades de estágio, a elaboração e a apresentação de pesquisa, bem como a apresentação de experiências desenvolvidas na escola-campo de estágio, são acrescentadas às atividades mais tradicionais de planejamento e elaboração de material didático para a regência ali aplicada. Essas atividades normalmente são feitas sob a orientação do professor orientador em encontros individuais.

De acordo com o Programa da Disciplina, o conteúdo programático prevê o estudo das bases conceituais acerca da diversidade na educação; do trabalho docente e dos sujeitos da escola; do ensino profissional e do Inglês para fins específicos, além de conceitos básicos sobre o professor reflexivo e sua prática pedagógica.

Os critérios do processo de avaliação da aprendizagem envolvem: 1. Preparo e participação nas discussões em sala de aula;

2. Elaboração e apresentação de um plano de ensino e de uma reflexão crítica abordando as temáticas discutidas em sala de aula e a experiência e estágio;

3. Atividades em campo de estágio com planejamento, execução e autoavaliação crítica reflexiva;

4. Organização de um portfólio7 com registro de todos os planos de aula, dificuldades encontradas, sugestões de mudança no plano de aula e materiais didáticos produzidos durante o Estágio;

5. Socialização da produção dos alunos decorrente das intervenções do estagiário. (Programa da Disciplina ES II, 2011/01)

Esclarecemos que, apesar de termos elencado um dos instrumentos avaliativos da disciplina ES II (os relatórios finais ou portfólios) como uma das fontes deste estudo, não foi nossa intenção fazer julgamentos, atribuindo valores ou desvalorizando essa ou aquela prática em nossas interpretações. Pelo contrário, nossa pretensão investigativa foi visibilizar as diversas singularidades de cada licenciando: ações, emoções, dificuldades, êxitos, contradições, conflitos, enfim, experiências, no intuito de ampliar nossos horizontes em torno dos processos formativos mediados pelo Estágio Supervisionado.

7

Em entrevista informal com a professora orientadora do ES II, ela explicou que, apesar de usar no Programa da Disciplina Estágio Supervisionado II, o nome “portfólio” para designar o trabalho final escrito, articulador de todas as atividades desenvolvidas durante o período da disciplina, na realidade, trata-se de um relatório final de estágio, devido às características constitutivas deste. Portanto, decidimos adotar a última nomenclatura para nos referirmos a esse objeto, ao longo deste trabalho.