• Nenhum resultado encontrado

A Constituição de 1934 e organização do trabalho

1 O ESTADO NOVO E OS MUNDOS DO TRABALHO

1.2 A Constituição de 1934 e organização do trabalho

O Decreto nº 22.621, de 5 de Abril de 1933 que tratou da convocação da Assembleia Nacional Constituinte, da aprovação do seu regimento interno e também da fixação do número de Deputados aptos a comporem o processo constituinte. De acordo com o

Art. 3º A Assemblea Nacional Constituinte compôr-se-á de duzentos e cincoenta e quatro deputados, sendo duzentos e quatorze eleitos na fórma prescrita pelo Código Eleitoral (decreto n. 21.076, de 24 de fevereiro de 1932) e assim distribuidos: Amazonas, quatro; Pará, sete; Maranhão, sete; Piauí, quatro; Ceará, dez; Rio Grande do Norte, quatro; Paraíba, cinco; Pernambuco, dezesete; Alagôas, seis; Sergipe, quatro; Baía, vinte e dois; Espirito Santo, quatro; Distrito Federal, dez; Rio de Janeiro, dezesete; Minas Gerais, trinta e sete; São Paulo, vinte e dois; Goiaz, quatro; Matto Grosso, quatro; Paraná, quatro; Santa Catharina, quatro; Rio Grande do Sul, dezeseis; Territorio do Acre, dois; - e quarenta eleitos - na fórma e em datas que serão reguladas em decreto posterior - pelos sindicatos legalmente reconhecidos e pêlas associações de profissões liberais e as de funcionarios publicos existentes nos termos da lei civil. 8

8

Ver Decreto 22.621,de 5 de abril de 1933.http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930- 1939/decreto-22621-5-abril-1933-509274-publicacaooriginal-1-pe.html

A composição dos representantes e a forma de escolha mesclava voto direto e secreto com a representação classista, já demonstrando a forma em que os conflitos sociais seriam abordados e legislados. A eleição dos representantes das associações profissionais se daria da seguinte forma:

Art. 1º Os sindicatos reconhecidos até o dia 20 de maio do corrente ano, de acôrdo com a legislação em vigor, e, as associações das profissões liberais e dos funcionários públicos, que estiverem legalmente organizadas até a mesmo data, elegerão em suas sédes, até o dia 30 de junho proximo futuro, os seus delegados, com a missão especial de virem ao Rio do Janeiro, Capital da Republica, eleger, na fórma destas instruções, os quarenta representantes das associações profissionais na Assembléa Nacional Constituinte.9

Todo o processo eleitoral ficava a cargo e sob a ingerência do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC) e os sindicatos elegeriam os seus representantes na Assembleia Constituinte. A divisão entre as entidades de empregadores (patrões) e de empregados (principalmente de funcionários públicos e profissionais liberais), sendo “aplicada na Constituinte e definida pelo Governo Provisório– haja vista que, nessa forma pura, ela não fora prevista por nenhum grupo político ou intelectual”, mas, por outro lado, “o critério de divisão em classes sempre era considerado, embora não fosse reivindicado como o único de distinção das entidades”.10

(BARRETO, 2002, p. 128).

Os debates que pautaram a ação dos constituintes giraram em torno das relações de trabalho, do direito de greve, da equiparação entre trabalho manual e intelectual e da necessidade da instauração de uma Justiça do Trabalho, instrumento que passou a constar no Título IV, Da Ordem Econômica e Social, Art. 122, com o objetivo de dirimir as questões entre empregadores e empregados, regidas pela legislação social, fica instituída a Justiça do Trabalho.11

A Constituição de 1934, no que concerne a proteção e direitos do trabalho legislou sobre os seguintes aspectos: condições do trabalhador urbano e rural; salário mínimo regional; fixação de limite de 8 horas diárias do trabalho; proibição do trabalho de menor de 14 anos; descanso semanal; férias; indenização por demissão

9

Ver Decreto 22.696, de 11 de maio de 1933. http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930- 1939/decreto-22696-11-maio-1933-517785-publicacaooriginal-1-pe.html

10

Ver BARRETO Representação das associações profissionais no Brasil: o debate dos anos 1930.

11

Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (De 16 De Julho De 1934). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm

sem justa causa; indenização em razão de acidente de trabalho, entre outras disposições que visavam regular as relações do Estado e os trabalhadores.

Em relação à mulher trabalhadora a Constituição de 1934 regulou as seguintes questões:

a) proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil;

b) proibição de trabalho a menores de 14 anos; de trabalho noturno a menores de 16 e em indústrias insalubres, a menores de 18 anos e a mulheres;

c) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte;

e) os serviços de amparo à maternidade e à infância, os referentes ao lar e ao trabalho feminino, assim como a fiscalização e a orientação respectivas, serão incumbidos de preferência a mulheres habilitadas.

f) O alistamento e o voto são obrigatórios para os homens e para as mulheres, quando estas exerçam função pública remunerada, sob as sanções e salvas as exceções que a lei determinar.

Bertha Lutz12, em nome da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e Associações femininas nacionais e estaduais confederadas, em nome da Mulher Brasileira, remeteu um documento a Getúlio Vargas, agradecendo o apoio dado às reivindicações feministas na Assembleia Nacional Constituinte referente ao trabalho feminino. Junto ao agradecimento o documento solicitava a ampliação da participação da mulher na vida pública do país, principalmente no que dizia respeito

12

Berta Maria Júlia Lutz (2/8/1894-16/9/1976) nasce na cidade de São Paulo, filha do cientista Adolfo Lutz. Forma-se em ciências naturais na Universidade de Paris, a Sorbonne, especializando-se em anfíbios anuros, subclasse que inclui os sapos, as rãs e as pererecas. Em 1919 começa a se destacar na busca de igualdade de direitos jurídicos entre os sexos, ao se tornar a segunda mulher a ingressar no serviço público brasileiro, após ser aprovada em concurso do Museu Nacional, no Rio de Janeiro – a primeira é Maria José Rabelo Castro Mendes, admitida em 1918 no Itamaraty. No mesmo ano funda a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher. Em 1922 representa as brasileiras na assembleia-geral da Liga das Mulheres Eleitoras, nos Estados Unidos, onde é eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana. Ao regressar, cria a Federação Brasileira para o Progresso Feminino, que substitui a liga criada em 1919, para encaminhar a luta pela extensão de direito de voto às mulheres. O direito de voto feminino é estabelecido por decreto-lei do presidente Getúlio Vargas apenas dez anos depois, em 1932. Em 1936 assume uma cadeira de deputada na Câmara Federal. Durante seu mandato, defende a mudança da legislação referente ao trabalho da mulher e dos menores de idade, propondo a igualdade salarial, a licença de três meses para a gestante e a redução da jornada de trabalho, então de 13 horas. www.sohistoria.com.br/biografias/berta/

à ordem social e a fiscalização prática daquilo que a nova Constituição acabava de dar textualmente preferência à mulher 13 .