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A Justiça do trabalho, da origem ao Estado Novo

1 O ESTADO NOVO E OS MUNDOS DO TRABALHO

1.3 A Justiça do trabalho, da origem ao Estado Novo

A luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho está diretamente ligada as conquistas políticas dos trabalhadores, incluindo a própria Justiça do Trabalho. Deste modo, para melhor compreender a atuação dos trabalhadores e a principal fonte de pesquisa deste trabalho, apresenta-se uma breve reflexão a respeito da origem das primeiras conquistas dos trabalhadores até o período do Estado Novo, foco deste trabalho. O início das discussões14 em virtude dos direitos dos trabalhadores no Brasil se deu a partir de 1888, com o fim da escravidão e a substituição da mão de obra escrava por trabalhadores assalariados, porém com poucos direitos, para não dizer direito algum. Trabalhavam em condições precárias e ganhavam pouco.

Em 1891, surge o primeiro Decreto15 com fins de regular alguma atividade assalariada em beneficio do trabalhador, tal decreto estabelecia providencias para regularizar o trabalho dos menores empregados nas fábricas da Capital Federal.

Para Gomes e Silva, em 1905 já se iniciavam a falar sobre tribunais trabalhistas. Em 1907, “após forte onda de greves no país, o decreto16

que propunha a regulamentação e a organização dos sindicatos dispôs que estes deveriam se constituir ‘com espírito de harmonia entre patões e empregados’” (p.14-15). Em 1911, a partir de experiências internacionais, se começa a discutir sobre as vantagens dos órgãos de conciliação e arbitragem. Porém, foi em 1918 que a Câmara dos Deputados iniciou algumas medidas em prol de uma legislação social no Brasil sobe intensa agitação das grandes greves de 1917 e final de 1918.

Ainda segundo os autores, a partir dai uma série de projetos sobre as condições de trabalhos começaram a surgir, dentre eles o da criação do Departamento Nacional do Trabalho (DNT), entretanto, nunca chegou a ser

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O documento da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino foi assinado por Bertha Lutz (Presidente), Maria Eugenia Celso, Maria Sabina de Albuquerque e Carmen Lutz. FGV GV 34.05.30/02 14 Ver. http://www.tst.jus.br/web/70-anos-clt/historia. 15 Decreto nº 1.313, de 17 de Janeiro de 1891. 16 Decreto nº. 1.637, de 5 de Janeiro de 1907.

implementado. Em 1923, através do Decreto n° 16.037, de 30 de abril, é sancionado o Conselho Nacional de Trabalho (CNT), cabendo a ele decidir inclusive sobre questões relativas a Previdência Social. Com a criação do CNT, o DNT é foi abandonado, criticado e recusado pelos patrões por sua competência em resolver os conflitos de capital e trabalho. Quanto ao CNT, “o fato de não lhe caber realizar o estudo e o planejamento de uma legislação social, e de não ter competência para dirimir conflitos de trabalho, facilitou, sem dúvida, a aceitação dos patrões”, passando a ter competência para julgar processos relativos a questões de trabalho em 192817 desta forma, tornou-se um dos principais locais de atuação do patronato (GOMES; SILVA, p.17, 2013).

Apesar de já existir desde 1923 o CNT, e tratar dos assuntos correspondentes a mediação de empregados e empregadores, a Justiça do Trabalho propriamente dita só foi criada em 1934, e começou a funcionar em 1º de Maio de 1941.

Em Santa Maria no dia 1º de Maio de 1941, as autoridades da cidade convidaram a comunidade para a comemoração da instalação da Justiça do Trabalho. Dr. Carlos Brener (Secretário das Juntas e Representante do Ministério), Dr. Carlos Lothario Uhr (presidente da 2º junta de Conciliação e Julgamento), e Dr. Edgar Sampaio Fortuna (secretário das Juntas e Representante do Ministério do Trabalho) convidam as “autoridades civis, Judiciárias, imprensa e o povo santa- mariense, para a solenidade da Instalação da Justiça do Trabalho em Santa Maria.” Solenidade realizada no salão da Ação Católica, também em comemoração ao dia do trabalho. (A RAZÃO, 1º de Maio de 1941, p.3).

Na Capital da Republica, Getúlio é aclamado pela multidão, no estádio Vasco da Gama, na multidão não estavam apenas membros de sindicatos e associados, “estavam também gente do povo, mulheres, crianças, jovens”. (A RAZÃO, 3 de Maio de 1941, p.1).

A Justiça do Trabalho foi criada como Justiça Especial, vinculada ao Ministério do Trabalho e Subordinada ao Poder Executivo até 1946, quando passou a se integrar ao Poder Judiciário. Segundo Gomes (2007) a Justiça do Trabalho atuava subordinada ao Poder Executivo, tendo como última instância o Ministério do Trabalho Indústria e Comércio. Em 1941, “ela dispunha de apenas oito regiões, ou seja, em apenas oito cidades-capitais havia tribunais de segunda instancia e

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algumas juntas, como eram então chamadas”. O que acorreu, “foi a expansão que pode ser avaliada como muita lenda e cujo ritmo foi travado, fundamentalmente, pelo interesse, ou melhor, pelo desinteresse, do regime militar”. Sendo assim, a Justiça do Trabalho só consegue chegar ao interior do Brasil e passar a alcançar os trabalhadores rurais em 1980 (GOMES, 2007, p.21).

Segundo Loner,

As leis sociais atenderam a reivindicações antigas das classes operárias, correspondendo, nesse aspecto, a uma vitória da classe. Entretanto, a forma como foram implantadas e o conjunto de medidas em que estavam inseridas, terminou propiciando o ambiente ideal, para que o governo instalasse uma base governista dentro do movimento. (...) a organização anterior da classe foi completamente destroçada, sendo reorientada através dos canais institucionais criados pelo governo.18

A partir de 1930, várias leis trabalhistas foram regulamentadas, até chegar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. Mas maior ressalva que o “advento dessa legislação” estava ligado à “intenção de organização dos fatores de produção para desenvolvimento do modelo capitalista”, e em relação ao trabalho seria importante o seu disciplinamento, que se daria pela contrapartida de direitos, mas não direitos que fossem, efetivamente aplicados”. O autor faz referência ao decreto que instituiu as Comissões Mistas de Conciliação, “no âmbito do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio com o fim específico de difundir a ideia de conciliação para a solução dos conflitos coletivos entre empregados e empregadores”, e que limitava a criação dessa instituição aos locais onde existissem sindicatos ou associações profissionais de empregadores ou empregados organizados de acordo com a legislação vigente, ou seja, atrelados ao Estado”, e delegando ao Ministério do Trabalho, em caso de não acordo entre as partes, a solução do conflito.19

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LONER, Beatriz Ana. Classe operária: mobilização e organização em Pelotas: 1888-1937. Vo. 2. 1999. 729 f. Tese (Doutorado em Sociologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. p. 431.

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Ver O advento da legislação trabalhista (1930-1933): a posição dos industriais http://blogdaboitempo.com.br/o-que-resta-do-golpe-de-64/os-50-e-tantos-anos-dos-golpes-contra-a- classe-trabalhadora-por-jorge-luiz-souto-maior/3-o-advento-da-legislacao-trabalhista-1930-1933-a- posicao-dos-industriais. Blog da Boitempo.