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Este capítulo tem como objetivo traçar as circunstâncias da constituição do jornalismo no Brasil e as condições de entrada e de construção de carreiras na imprensa do país. De maneira mais específica, procuramos entender a constituição do universo da imprensa no Brasil, como determinados recursos sociais foram transformados em credenciais para a inserção nessa atividade e, especialmente, identificar e compreender as combinações de recursos mais legítimas para a atuação nesse espaço atualmente. Para isso, nos debruçamos sobre as carreiras de alguns personagens que se destacaram por sua atuação na imprensa em momentos distintos e sobre os processos de constituição e de transformação dos veículos noticiosos em algumas partes do país.

Inspirado em outros trabalhos, sobretudo Sodré (1999), Ribeiro (2003) e Petrarca (2007), que apresentam o desenvolvimento do jornalismo no Brasil como tendo três fases principais ─ uma que vai do seu surgimento até às últimas décadas do 1800 e era caracterizada pelo amadorismo, pela efemeridade das folhas e por um sentido de existência intimamente ligado às lutas políticas do período; outra que vai de finais do século XIX até meados do XX e em que o jornalismo se confundia com a política e com a atividade literária em impressos que passaram a se organizar como empresas; e, por fim, outra que se inicia nas décadas de 1940 e 1950 e vem até nossos dias e se caracteriza como sendo o momento em que o jornalismo constitui seu próprio espaço de atuação se afastando do universo literário e ganhando relativa autonomia com relação à política ─, este capítulo também analisa os processos de constituição do jornalismo e da atividade jornalística em nosso país por suas relações com outros espaços, especialmente o da política, em diversos momentos. Conquanto, novas fontes foram consultadas e alguns pontos foram melhor trabalhados, e isso permitiu perceber nas redes de relações uma importância maior frente a outros recursos sociais para a atuação e o desenvolvimento de carreiras no jornalismo do que a demonstrada até aqui. Trata- se de redes de relações tecidas pelos jornalistas a partir da socialização familiar, das vinculações com a política, da inserção em outras esferas de atuação e, principalmente, do próprio exercício do jornalismo. Além disso, ao longo desta seção realizamos um exercício inovador que foi pensar a correspondência das proposições analíticas dos autores supracitados para o universo de pesquisa selecionado: o jornalismo em Sergipe.

Mais especificamente, neste capítulo nos detemos sobre os atributos sociais dos jornalistas e os usos feitos de tais atributos (recursos sociais) para/em inserções na imprensa e, nesse sentido, nos focamos nas redes de relações sociais tecidas pelos jornalistas em suas diversas inserções e nas relações entre o exercício do jornalismo e o espaço da política. Nossa intenção com isso é entender como, ao longo do tempo, esses dois fatores adquiriram importância para a atuação e o desenvolvimento de carreiras no jornalismo. Para tanto, os esforços de análise desta seção se concentram no período que vai de finais do século XIX até a década de 1980, sendo que no período referente à segunda metade do século XX as investigações se dedicaram mais ao contexto sergipano. Como resultado, essa análise do jornalismo no Brasil trouxe uma melhor compreensão do processo que culminou na constituição do jornalismo como uma forma de atuação com suas competências/qualificativos específicos e dotada de um espaço de atuação próprio, mas que permite a seus praticantes extrapolarem as redações dos jornais e revistas e se inserirem em outros espaços como o da política, por exemplo.

O exame dos trajetos profissionais de alguns personagens que se dedicaram ao jornalismo em diferentes momentos possibilitou, entre outras coisas, uma compreensão acerca da importância adquirida por certas inserções, vinculações e competências ─ redes de relações interpessoais e interprofissionais, inserções na esfera política, entre outras ─ enquanto recursos para a inserção e para a atuação no espaço jornalístico. Ou melhor, o exame dos itinerários sociais e profissionais de alguns jornalistas contribuiu para uma análise coletiva da atividade jornalística, visto que esses dados são indicativos das especificidades ─ recursos e/ou credenciais ─ para o investimento na imprensa. Essas análises permitiram mostrar, enfim, o quanto as características sócio-profissionais daqueles que investiram na imprensa em determinados momentos representam padrões de entrada e de reconhecimento no jornalismo nesses mesmos momentos.

Isso também é verdadeiro quando tratamos das empresas de mídia, principal base de atuação para os jornalistas. A análise das principais características de algumas empresas jornalísticas sergipanas na segunda metade do século XX teve como mote mostrar a formação do espaço jornalístico, suas relações com outras esferas de atuação e, especialmente, as modalidades de recrutamento de seus membros. Essa análise é assim tão importante porque o exame das condições sócio-históricas de desenvolvimento das empresas jornalísticas nos traz informações para compreender outro processo, o das condições de entrada e desenvolvimento de carreiras no jornalismo. Enfim, este capítulo permite mostrar como as redes de relações sociais, especialmente aquelas estabelecidas a partir do próprio espaço jornalístico e de

vinculações com a esfera política, se configuram como constituindo recursos fundamentais para a inserção, a atuação e o crescimento posicional no espaço da imprensa.

1.1 – Do Espaço Jornalístico ou das Possibilidades de Atuação para os Jornalistas

Quando tratamos de jornalismo ou da imprensa logo nos vêm à mente o conjunto dos jornais e revistas impressas, os programas noticiosos no rádio, os telejornais e, mais recentemente, os veículos noticiosos na Internet, mas o universo de possibilidades de atuação para jornalistas no Brasil não se restringe a esses suportes midiáticos. Hoje os jornalistas atuam também em assessorias de comunicação, agências de publicidade e em outras modalidades de funções com comunicação16. De maneira geral, isso significa que o leque de oportunidades de atuação para os jornalistas brasileiros é amplo, no entanto, a natureza do trabalho com informações nesses dois ramos da comunicação é diferente. Enquanto aqueles que atuam nas “mídias convencionais17” têm como função principal investigar e produzir

notícias sobre assuntos variados para o público consumidor dos veículos comerciais, aqueles que trabalham com “comunicação corporativa” ou “extrarredação18” se dedicam a produzir

pautas ou a veicular e traduzir informações a serviço de seu cliente (uma empresa, um órgão ou autarquia pública, um governo ou mesmo uma pessoa física) (ADGHIRNI, 2005).

Segundo Adghirni (2005), a profusão dessas novas possibilidades de atuação para os jornalistas está provocando uma reorganização na prática jornalística que ainda não foi claramente compreendida. Tentando trazer uma luz para esse tema, e assumindo uma visão característica da sociologia francesa, Adghirni (2005) estabelece uma divisão das possibilidades de atuação para jornalistas em duas esferas (numa noção parecida com a dos “campos” de Bourdieu19

) de modo que teríamos a esfera do jornalismo propriamente dito e a esfera da comunicação corporativa ou extrarredação. A primeira se restringiria ao trabalho de produção e distribuição de notícias nas mídias convencionais (impressos, rádio, televisão e

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Como blogs e sites pessoais de comunicação e outras mídias alternativas com veiculação na Internet, instâncias de representação da categoria e, claro, instituições de ensino na área de comunicação.

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Terminologia assumida por Sant’Anna (2005) e entendida como aqueles veículos noticiosos de caráter comercial, ou seja, os tradicionais veículos de empresas e redes de comunicação instaladas no mercado.

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Terminologias também assumidas por Sant’Anna (2005) e entendidas como os serviços próprios de comunicação criados pelas instituições para falar com jornais, rádio, televisão e internet.

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Na sociologia burdiesiana podemos dividir as possibilidades de atuação e/ou de inserção no mundo social em “campos” que seriam microcosmos sociais dotados de leis e regras próprias e de relativa autonomia em relação ao espaço social mais amplo (BOURDIEU, 2007). Tal noção nos levaria a entender, por exemplo, que os segmentos de atuação profissional (medicina, direito, política, literatura, docência, jornalismo, entre outros) possuem fronteiras mais ou menos definidas lhes garantindo grande autonomia. Tal visão, no entanto, tem recebido vigorosas críticas, sobretudo de pesquisadores que atuam fora da França.

veículos noticiosos com circulação na Internet) e a segunda ao trabalho com informações ou mediações sociais em outros ambientes (assessorias de comunicação de empresas privadas, de pessoas físicas ou de instituições públicas, agências de propaganda, empresas de consultoria em comunicação, entre outros). No entanto, essa mesma autora deixa claro que não se trata de uma interpretação que distribui o universo de possibilidades para a atuação dos jornalistas em duas realidades dicotômicas, pois essa interpretação não se aplica bem à realidade brasileira. Diferentemente do que ocorre em outros países, no Brasil o jornalista pode atuar nos veículos noticiosos e na comunicação corporativa ao mesmo tempo. Dados de Schmitz (2011) indicam que cerca de 58% dos jornalistas brasileiros atuam no ramo das assessorias de comunicação, sendo que grande parte deles também atua nas mídias convencionais. De maneira mais específica, no Brasil a atuação jornalística nas empresas de mídia e na comunicação

extrarredação se confunde, de modo que os protagonistas destes dois cenários se autodefinem

como jornalistas baseados na detenção do diploma de curso superior em jornalismo ou na posse do registro profissional de jornalista adquirido junto ao Ministério do Trabalho20 (ADGHIRNI, 2005).

De certo, pode-se afirmar que a imagem tradicional do jornalista como o investigador que atua nos veículos noticiosos já não é a melhor para representar esse profissional atualmente. Segundo Adghirni (2005), o jornalista atual é um profissional híbrido e versátil, ora atuando com informação nas mídias convencionais ora na comunicação corporativa e, às vezes, nesses dois nichos de mercado ao mesmo tempo. De maneira geral, o que temos hoje é um jornalista sem uma identidade profissional definida por um ramo específico de atuação.

O novo jornalista é um profissional híbrido com perfil de camaleão, ora identificado com as rotinas da redação, ora como assessor de imprensa, ora como jornalista/funcionário. Também pode estar “produzindo conteúdos” para um site na internet, numa empresa privada, numa ONG ou atuando no contexto da “advocacia” de causas públicas e/ou sócio-humanitárias. (ADGHIRNI, 2005, p. 54-55).

Enfim, atualmente “Os jornalistas querem apenas ser profissionais respeitados em seus direitos no mercado de trabalho da informação” (ADGHIRNI, 2005). Para Neveu (2006), o jornalismo hoje não é uma profissão, mas um amálgama de profissões na área de comunicação. Para este autor, há um crescente desaparecimento das fronteiras clássicas entre as profissões ligadas à produção de notícias, pois os profissionais que trabalham com

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Como já citado nesse trabalho, no Brasil existem cursos acadêmicos específicos para a formação de jornalistas. No entanto, em muitos momentos (inclusive desde 2009) tal titulação não tem sido obrigatória para o gozo do estatuto de jornalista, que pode ser adquirido por meio de requisição especial junto às Delegacias Regionais de Trabalho espalhadas pelo país.

informações fora da mídia convencional influenciam, cada vez mais, diretamente na construção das notícias (trabalho objetivo dos jornalistas das mídias). No entanto, ainda restam algumas diferenciações entre os jornalistas que atuam nas mídias convencionais e os que atuam com comunicação extrarredação.

Na comunicação corporativa os jornalistas atuam gerenciando a imagem e os interesses do seu cliente e têm como possibilidades de carreira, geralmente, a manutenção deste posto21 ou uma inserção maior, e não necessariamente ligada à comunicação, no universo para o qual presta esse serviço, seja no meio empresarial, associativo ou político- partidário. Já nas mídias convencionais os jornalistas têm como prerrogativa produzir conteúdo noticioso para as empresas jornalísticas e têm como principais possibilidades de carreira a continuidade nos veículos noticiosos e o crescimento posicional nas hierarquias próprias do jornalismo. Não estamos com isso querendo dizer que os profissionais da comunicação que atuam fora dos veículos noticiosos não sejam jornalistas e nem que os que fazem carreira na mídia convencional tenham suas possibilidades de inserção restritas a esse meio, até mesmo porque, como já dito aqui, é muito comum os jornalistas atuarem nesses dois segmentos da comunicação concomitantemente. Mas, que as características da atuação em cada uma dessas “esferas” jornalísticas são diferentes, que as competências e os recursos sociais que os profissionais de cada área precisam deter são diferentes e que as possibilidades de carreira também são diferentes.

Diante disso, assumimos para esta investigação uma posição teórico-metodológica que restringe nosso universo de pesquisa ao jornalismo praticado nas mídias convencionais. Assim, a partir de agora toda vez que tratarmos do “universo jornalístico”, da “esfera da imprensa”, do “espaço jornalístico”, ou simplesmente do “jornalismo” ou da “imprensa”, estaremos nos referindo à mídia convencional (impressos, rádio, televisão e veículos noticiosos com circulação na Internet). Não é que não trataremos das demais possibilidades de atuação para os jornalistas, já que isso será feito sempre que tomarmos aqueles profissionais que também atuam ou já atuaram “fora da mídia”, mas o recorte empírico e investigativo sempre partirá das atuações nos veículos noticiosos convencionais.

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1.2 – O Jornalismo no Século XIX e sua Vinculação com a Política

O jornalismo começou a se desenvolver no Brasil no início do século XIX juntamente com a chegada da Família Real Portuguesa, no entanto, a prática jornalística só ganharia corpo em nosso país a partir das disputas pela independência. Com relação aos seus praticantes, Petrarca (2007) demonstra que a maioria daqueles que se dedicaram à imprensa no Brasil durante o século XIX tiveram suas carreiras caracterizadas pela inserção em esferas diversas ao mesmo tempo. Na verdade, nesse período a atuação no jornalismo representava uma atividade secundária na vida dos que a ela se dedicavam e se configurava como uma extensão de outras áreas de atuação como a literatura e a política, especialmente.

De forma bastante clara, o nascimento e o desenvolvimento do jornalismo no Brasil se deu impulsionado pelas lutas travadas entre os grupos políticos desde os tempos coloniais. Da sua origem até 1880, a imprensa brasileira tinha como características a panfletagem, as folhas avulsas, a intensa criação de novos jornais, a efemeridade, a publicação irregular e uma forte conotação política. Até meados do século XIX, a imprensa no Brasil tomou parte nas lutas pela independência e pela definição do modelo de Estado a ser adotado, depois disso, os jornais passam a se autodeclarar como tendo o papel de “preparar o povo para o regime liberal que se inaugurava” (LUSTOSA, 2000, p. 29) e isso fez da imprensa um espaço de competição política e de influência nas instituições (SODRÉ, 1999). Conquanto, mesmo depois desse período os jornais continuaram sendo usados como instrumento nas lutas políticas, servindo para a projeção ou para o fortalecimento de personagens ou partidos políticos durante o Império.

Com baixa circulação e com parcos recursos financeiros, esses impressos “eram acima de tudo porta-vozes do Estado ou de grupos políticos que os financiavam em parte ou na totalidade” (RIBEIRO, 2003, p. 148). Durante todo o século XIX, a imprensa era essencialmente opinativa e marcada pelos debates apaixonados e polêmicos. A linguagem da maioria dos jornais era agressiva e comumente se transformava em injúria, difamação, insulto e até em ofensas pessoais (LUSTOSA, 2000; SODRÉ, 1999). Muitos nomes se destacariam nessa imprensa como, por exemplo, Cipriano José Barata de Almeida (1762-1838). Filho de um tenente do exército português radicado no estado da Bahia, Cipriano Barata formou-se em medicina e filosofia em Portugal, porém se destacou mesmo como jornalista político durante o primeiro reinado (1822-1831). Nacionalista exaltado, Cipriano Barata movimentou a opinião pública durante o primeiro reinado, militou na imprensa e ainda participou de várias

agitações políticas à época como a Conjuração Baiana (1798), a Revolução Pernambucana (1817) e a Confederação do Equador (1824).

Sua atuação militante se confunde com suas carreiras política e jornalística. Em 1821 é eleito deputado constituinte pela Bahia às Cortes de Lisboa, mas suas ideias radicais logo tornaram insustentável sua relação com os parlamentares portugueses (LIBERAL, ASSIS & JUVENAL, 2002). Diante desse quadro, retorna ao Brasil defendendo publicamente a separação de Portugal. Impedido de desembarcar em sua terra natal dominada por tropas portuguesas, estabelece-se em Recife e a partir de 1822 passa a colaborar com a Gazeta de

Pernambuco. Em 1823 é eleito novamente deputado constituinte, só que desta vez para as

Cortes brasileiras. Porém, renuncia ao posto reclamando enfaticamente que numa assembleia “cercada de mais de sete mil baionetas” e formada por “numerosos inimigos portugueses” não poderia discutir uma constituição liberal, e que acompanharia a elaboração da referida constituição à distância, em Pernambuco (MOREL, 2001, p. 176-177). Sua promessa foi cumprida por meio da imprensa, inicialmente pela Gazeta de Pernambuco e depois por seu impresso, o Sentinela da Liberdade. Através de seus jornais Cipriano Barata empenhava uma linguagem vigorosa e irreverente contra as ações de D. Pedro I e a favor da democratização e da federalização do país. Através de sua atuação jornalística ajudou a fomentar algumas manifestações contra o poder imperial, mas não pôde participar ativamente da maioria delas, pois passou quase todo o período do primeiro reinado encarcerado (MOREL, 2001). Mas, nem a prisão impediu que sua atuação política e agitadora continuasse. Mesmo preso, Cipriano Barata continuou editando seu ferrenho instrumento de oposicionismo político, trocando seu nome a cada transferência de prisão acrescentando ao original o da nova carceragem (“Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco”, “Sentinela da Liberdade

na Guarda do Quartel General de Pirajá”, entre outros).

Em sentido parecido ao de Cipriano Barata, outro jornalista dos tempos do Império brasileiro fez da imprensa seu meio de atuação política: Quintino Antônio Ferreira de Sousa, o Quintino Bocaiuva. Filho de um funcionário público e nascido no Rio de Janeiro em 1836, Quintino adotou o sobrenome Bocaiuva (nome de uma palmeira natural da América do Sul) como demonstração de seu nacionalismo. Em 1850 se instala em São Paulo onde inicia suas atividades na imprensa e entra no curso de Direito. Em 1851, retorna ao Rio de Janeiro e trabalha no Correio Mercantil (1854) e no Diário do Rio de Janeiro (1860-1864), impressos em que consolida sua propaganda republicana ardorosa jamais abandonada (SODRÉ, 1999). Dando continuidade às suas ideias, Bocaiuva ajudou a fundar o primeiro Clube Republicano do país em 1870 e foi o redator do seu principal documento: o “Manifesto Republicano”. Este

foi publicado no recém-fundado jornal A República que seria o órgão oficial do Partido Republicano criado dois anos depois. Em 1885, já presidente do Partido Republicano, Bocaiuva passa a dirigir o jornal O País, onde continua a divulgar seus ideais republicanos, a escrever artigos ásperos contra a família real e a desferir “golpes implacáveis” contra o “velho edifício do império” (SILVA, 1983).

Atuando principalmente através da imprensa na linha de frente das ebulições que culminariam com a queda da monarquia em 1889, Bocaiuva teve importante participação nesse episódio, sendo ele o único civil a cavalgar ao lado de Deodoro da Fonseca na madrugada do dia 15 de novembro. Alguns autores também defendem isso: para um, “sem a propaganda e a atividade política de Bocayúva, a República não teria sido proclamada e radicada no Brasil” (SILVA, 1983, p. 32-33); para outro, “a entrada de Quintino Bocaiuva para o primeiro ministério republicano era mais do que o reconhecimento de seus serviços e de seus méritos pessoais, porque era o reconhecimento da importância que a imprensa tivera no advento do novo regime” (SODRÉ, 1999, p. 252). O fato é que com a proclamação da república Bocaiuva ganha mais espaço na política. Líder do Partido Republicano e reconhecido como político de posições moderadas, Quintino é chamado a ocupar o cargo de ministro das relações exteriores do governo de Deodoro da Fonseca, onde permanece até 1891 (GUIMARÃES, 2007, p. 33). Senador da república na constituinte deste mesmo ano, Bocaiuva renuncia ao cargo logo após a votação da constituição e retorna suas atenções ao jornalismo na direção de O País, de onde passa a reorientar os rumos do Partido Republicano do qual foi um dos fundadores (SODRÉ, 1999). Em 1899 é reeleito senador e, no ano seguinte, é elevado ao cargo de governador do estado do Rio de Janeiro (1900-1903). Em 1909 é eleito novamente para o senado, ocupando o cargo de vice-presidente da casa até 1912.