• Nenhum resultado encontrado

Composição Social, Recrutamento e Modalidades de Ingresso e Ascensão na Atividade Jornalística

O principal problema a ser tratado neste capítulo diz respeito aos mecanismos de reconversão de recursos sociais em posições profissionais no jornalismo. Mais especificamente, trata-se de analisar as condições que tornam possível a conversão de qualificativos sociais diversos em recursos válidos para a atuação e para a ascensão profissional na imprensa.

Como já abordado em outro momento neste trabalho, a atividade jornalística no Brasil se enquadra no rol dos ofícios juridicamente institucionalizados, ou seja, possui uma definição formal no que diz respeito aos critérios de entrada na “profissão”, aos saberes necessários ao seu exercício e aos limites na sua atuação. A esse respeito, o diploma acadêmico em comunicação social se configura como o elemento formal dessa institucionalização, no entanto, tal título não representa o único critério levado em consideração para a entrada no jornalismo e nem a formação acadêmica é o qualificativo social mais importante para a ascensão nesse ofício. Segundo Petrarca (2007), o diploma universitário só adquire valor no jornalismo quando combinado com outros recursos e, portanto, seu valor varia de acordo com os recursos mobilizados por aquele que o detém. Diante disso, a análise das condições de entrada e ascensão na atividade jornalística precisa deixar um pouco de lado suas determinações formais e levar em consideração os outros diversos recursos e bases sociais acionáveis para esse fim.

Nesse sentido, foi observado que as redes de relações pessoais e que um conjunto de outros recursos arrecadados pela própria atuação na imprensa desempenham papel de credenciais fundamentais para a atuação e para a ascensão posicional na imprensa. As análises dos itinerários profissionais dos jornalistas aqui considerados serão direcionadas, portanto, ao tratamento da importância desses recursos para o exercício do jornalismo. Assim, a principal tarefa neste capítulo é citar e analisar as principais modalidades de inserção e ascensão na atividade jornalística e os seus respectivos princípios de legitimação.

Para tanto, tomaremos o meio jornalístico sergipano como foco de análise e nos debruçaremos sobre os itinerários profissionais de um conjunto de jornalistas previamente definido na apresentação deste trabalho. Seguindo esse viés, nossa explanação será dividida

em dois momentos principais. Num primeiro momento, traçaremos o perfil biográfico- profissional desse conjunto de jornalistas apresentando dados acerca de idade, sexo, formação escolar, inserções profissionais, origem geográfica e social, entre outros. Essa etapa se faz importante para conhecermos as características sócio-profissionais daqueles que se dedicam ao jornalismo chegando a ocupar posições de destaque na imprensa. Num segundo momento, e a partir da análise dos itinerários profissionais desses jornalistas, nos dedicaremos a apresentar os principais padrões e/ou modalidades de ascensão profissional nessa atividade e as bases sociais dos recursos mobilizados.

5.1. – Caracterização Social do Grupo dos Jornalistas-Dirigentes em Sergipe

Neste capítulo, o foco das discussões recai sobre as características sociais do conjunto dos jornalistas considerados, sobre seus trajetos profissionais e sobre o jogo realizado por estes com os recursos sociais detidos. Para tanto, faz-se necessário levantar alguns dados acerca da composição social deste grupo de jornalistas, e o ponto de partida aqui é esclarecer as suas características em termos de idade, sexo, formação escolar, inserções profissionais, origem geográfica e social, entre outros.

A fim de ajudar a situar o conjunto dos jornalistas-dirigentes sergipanos, seguem algumas informações sobre o universo dos jornalistas no Brasil. A esse respeito, o levantamento mais abrangente de dados sobre jornalistas no país foi elaborado por Mick e Lima (2013) em 2012 e aponta que, naquele ano, a população de jornalistas no Brasil atingia o número de 145 mil profissionais. Quando nos aprofundamos um pouco nos dados, tal pesquisa nos aponta uma predominância de jornalistas do sexo feminino (64% do total), jovens (cerca de 60% têm até 30 anos, 80% têm até 40 anos de idade e apenas 08% têm acima de 51 anos), com formação superior em jornalismo (89% do total) e com renda salarial baixa ou média (60% recebem até cinco salários mínimos pela atuação na imprensa) no país (MICK e LIMA, 2013). É bem verdade que esses dados não tratam especificamente de jornalistas- dirigentes, mas nos fornecem um panorama geral sobre o conjunto dos jornalistas no país e nos permite situar o grupo de jornalistas considerado.

Como já apresentado na introdução deste trabalho, são considerados para esta pesquisa 19 jornalistas sergipanos: 13 jornalistas ocupantes de postos de gestão jornalística em veículos noticiosos de Sergipe atualmente (ano referência 2016) e outros 06 jornalistas que se destacaram nessa condição nos últimos anos (para estes últimos os dados a respeito de idade,

formação acadêmica, vencimentos e fontes de renda referem-se ao período em que cada um ocupou o cargo jornalístico mais elevado da carreira). O número relativamente baixo de jornalistas-dirigentes selecionados, e suas respectivas carreiras profissionais, reflete a natureza qualitativa do trabalho. Ou seja, não se trata aqui de uma pesquisa com base estatística, mas de uma análise de um grupo com características particulares.

Ao analisar os itinerários sócio-profissionais dos 19 jornalistas sergipanos considerados foi possível identificar que 13 (68,4%) são do sexo masculino, que 16 (84,2%) têm/tinham entre 40 e 60 anos de idade quando da ocupação do posto de comando jornalístico (e somente 01 tem/tinha menos de 30 anos), que 13 (68,4%) são sergipanos de nascimento e que 16 (84,2% incluindo 03 jornalistas nascidos fora do estado) moram em Aracaju desde pelo menos a adolescência. Nesse conjunto de informações chama a atenção o fato de a grande maioria dos jornalistas-dirigentes sergipanos terem crescido em Aracaju. Uma das explicações para isso pode ser o fato de todos os jornais de grande circulação (Jornal da

Cidade, Correio de Sergipe, Jornal do Dia e Cinform) e de todas as emissoras de TV (TV Sergipe, TV Atalaia, TV Aperipê, TV Canção Nova, TV Alese, +TVC) do estado estarem

sediadas nesta cidade. Isso concentra o mercado de atuação para jornalistas em Aracaju, tornando mais fácil o acesso profissional a esses veículos de comunicação para os habitantes da região.

Outro conjunto de dados importante é aquele que diz respeito à inserção no mercado jornalístico. Dos 19 jornalistas-dirigentes considerados, 18 (94,7%) se iniciaram no jornalismo em Sergipe e somente 03 (15,7%) já atuaram no jornalismo fora do estado. Mais uma vez, os dados chamam a atenção para a importância do fator “origem sergipana” para os jornalistas-dirigentes em Sergipe. Desta vez não se trata estritamente de origem geográfica, mas de lugar de socialização jornalística, uma vez que o desenvolvimento de uma carreira exclusiva na imprensa sergipana é fator característico da grande maioria dos jornalistas- dirigentes considerados (16 casos no total), dado que leva em consideração também os jornalistas que não exercem mias cargos de direção no jornalismo local atualmente. Um dado complementar nesse quadro pode ser o fator formação acadêmica, pois dos 19 jornalistas que compõem a amostra 14 possuem diploma de curso superior em jornalismo, sendo que 13 (68,4%) se formaram em universidades sergipanas (Universidade Tiradentes/UNIT e Universidade Federal de Sergipe/UFS). Já com relação aos 05 jornalistas que não detém tal titulação, todos eles se iniciaram e se mantêm atuando exclusivamente na imprensa sergipana até os dias de hoje. Ainda com relação à titulação acadêmica, dos 14 com formação superior em jornalismo 09 também possuem curso de pós-graduação, sendo 08 com curso a nível lato

sensu e apenas 01 com curso a nível stricto sensu. Considerados em conjunto, todos esses

dados são indicativos da importância da vivência e da socialização na imprensa local para a ascensão profissional no jornalismo em Sergipe.

Com relação às fontes de renda, dos 19 jornalistas considerados 14 (73,7%) têm/tinham o posto de direção na imprensa como função e fonte de renda exclusiva e 05 (26,3%) aliam/aliavam o cargo de gestão jornalística com outras funções remuneradas. Com relação aos rendimentos, todos os integrantes da amostra têm/tinham como principal fonte de renda o cargo de gestão jornalística que ocupam/ocupavam. Esses dados nos apontam para o peso que a dedicação à atividade jornalística desempenha sobre a ascensão aos cargos de direção na imprensa em Sergipe, visto que a grande maioria dos jornalistas-dirigentes contatados (73,7% do total) não desempenha/não desempenhavam outra atividade concomitante com a gestão jornalística.

Com relação às faixas de renda na função jornalística, dos 19 casos considerados 03 (15,7%) recebem/recebiam até 05 salários mínimos atuais162 (R$ 4.400,00), 09 (47,3%) recebem/recebiam entre 05 e 10 salários mínimos (entre R$ 4.400,00 e R$ 8.800,00), 05 (23,3%) recebem/recebiam entre 10 e 15 salários mínimos (entre R$ 8.800,00 e R$ 13.200,00) e 02 (10,5%) recebem/recebiam mais de 15 salários mínimos (mais de 13.200,00). Outro dado importante aqui é aquele relacionado às condições de formação escolar desses jornalistas. A esse respeito, dos 19 jornalistas considerados 12 (63,2%) concluíram todo o ensino básico (ensino fundamental e ensino médio) em instituições públicas, 02 (10,5%) fizeram parte do ensino básico em escolas públicas e parte em escolas particulares e 05 (26,3%) concluíram todo esse nível de ensino em instituições privadas. Além disso, vale também trazer informações acerca da formação escolar dos pais desses jornalistas. Dos 19 jornalistas contatados, 02 (10,5%) são filhos de pais analfabetos, 05 (26,3%) são filhos de pais com no máximo o ensino fundamental incompleto, 08 (42,2%) têm ao menos um dos pais com no máximo o ensino médio completo e 04 (21,0%) tem pelo menos um dos pais com formação máxima representada pelo ensino superior.

Quanto à profissão do pai, 13 (68,5%) são filhos de pequenos comerciantes, agricultores, motoristas ou de pessoas que desempenham funções autônomas que exigem baixa formação escolar como sorveteiro e carpinteiro, 02 (10,5%) são filhos de profissionais liberais (agrônomo e jornalista), 02 (10,5%) são filhos de funcionários públicos em cargos administrativos e 02 (10,5%) possuem funções com altos rendimentos (nomeadamente

162

promotor público e grande produtor rural). Com relação à profissão da mãe, podemos dividi- las em três grupos: 11 (57,8%) donas de casa, agricultoras ou autônomas (desempenhando funções como cabeleireira e costureira), 04 (21,1%) funcionárias públicas em cargos administrativos e outras 04 (21,1%) profissionais liberais (nomeadamente 03 professoras de nível básico e 01 enfermeira). Com relação às condições gerais de renda, dos 19 jornalistas considerados 15 (78,9%) percebem que houve ascensão social em comparação à situação financeira dos pais, 02 (10,5%) não perceberam mudanças significativas e outros 02 (10,5%) percebem que houve um descenso social. Em conjunto, esses dados acerca dos rendimentos, das instituições de ensino, da formação escolar e da profissão dos pais nos demonstram que os jornalistas-dirigentes sergipanos provêm, em sua maioria, de origem social baixa.

De maneira geral, esses dados indicam que o grupo analisado é relativamente homogêneo em quase todos os indicadores levantados, na medida em que ele é formado basicamente por homens de meia idade, crescidos na capital do estado, com carreiras desenvolvidas exclusivamente na imprensa local e de origem social baixa. Todas essas características sócio-profissionais do grupo estudado nos trazem informações valiosas sobre o “mundo dos jornalistas” e, principalmente, sobre a ascensão profissional nesse meio. Porém, para que esses dados ganhem valor para a presente pesquisa eles precisam ser associados a outros indicadores, tais como espaços profissionais percorridos, modalidades de ascensão posicional em veículos noticiosos, redes de relações constituídas intra e extrajornalismo, inserções fora da imprensa, entre outros.

5.2 – Das Credenciais na Atividade Jornalismo

Pensar nas credenciais que importam para uma atividade profissional é pensar no conjunto dos recursos sociais que devem ser detidos para a entrada e o exercício neste ofício. A chamada “sociologia das profissões”, já invocada outras vezes no presente trabalho, tem como um de seus focos de atenção justamente os sistemas de credenciamento das atividades profissionais, ou melhor, os critérios de entrada e exercício das profissões. Durante muito tempo, os estudos sobre profissões naturalizaram os processos de profissionalização das atividades ocupacionais desconsiderando, entre outras coisas, as disputas internas às profissões pela definição dos seus parâmetros. A partir de finais dos anos 1980, contudo, os estudos sobre profissões ganharam um novo enfoque e passaram a entender a profissionalização dos ofícios como processos inacabados e resultantes de lutas incessantes

pela (re)definição do espaço profissional (BOIEGOL e DEZALAY, 1997). Ou seja, essa nova abordagem toma o fenômeno profissão como uma ocupação em contínuo processo de construção que envolve, entre outras coisas, constantes conflitos para a imposição de fronteiras e/ou critérios de pertencimento profissional.

Um indicador desse novo viés analítico dos estudos sobre profissões pode ser o peso do título acadêmico como credencial de entrada nos ofícios. Antes tomado como parâmetro essencial de recrutamento para as profissões institucionalizadas, agora o diploma acadêmico passa a ser entendido como apenas mais um critério de seleção profissional. Ou melhor, o que os estudos sobre profissões nos demonstra é que, sendo objeto de lutas constantes por sua definição, as credenciais de entrada num espaço profissional extrapolam a posse de um título escolar e se organizam em torno da articulação de recursos sociais diversos (dos quais o diploma é apenas um) e convertíveis para o espaço profissional pleiteado. Sendo assim, dentre as preocupações desse novo viés dos estudos sobre profissões está identificar quais recursos sociais e/ou competências funcionam como credenciais para a entrada e para a atuação em um determinado universo profissional e, principalmente, entender como tais credenciais são elevadas a tal patamar.

Esse enfoque dos estudos sobre profissões representa, então, uma entrada analítica fundamental para o presente trabalho. Pois, para entendermos as hierarquizações na imprensa se faz necessário identificar as credenciais e as combinações de recursos sociais mais importantes para a atuação nesse espaço: Quais recursos sociais presidem a entrada e a atuação no jornalismo? Quais combinações de recursos presidem os posicionamentos nesse espaço profissional? Responder a essas questões se faz imprescindível para procedermos à tarefa de traçar os padrões e/ou modalidades de ascensão profissional no jornalismo.

Se, conforme Bourdieu (2007), as chances de proveito numa determinada esfera dependem dos recursos possuídos pelos seus integrantes, isso não significa dizer que qualquer recurso de qualquer origem pode se constituir num “trunfo” em qualquer espaço. Nesse sentido, a seleção e, acima de tudo, o sucesso profissional de um jornalista baseiam-se no conjunto dos “qualificativos/competências163” sociais detidos por este e que podem ser acionados para o universo da imprensa. A esse respeito, o que se tem observado é que a constituição de uma rede diversificada de relações, que seja interna ao espaço jornalístico, mas que também proporcione ligações com diversos outros espaços, se apresenta como um

163

O termo “qualificativos/competências” é aqui entendido como o conjunto formado pelos títulos escolares e pelos recursos adquiridos em inserções/vinculações diversas como, por exemplo, reconhecimento profissional dentro e/ou fora do jornalismo, redes de relações, posição social ocupada, histórico de militância política e/ou jornalística, entre outros.

recurso profissional imprescindível no jornalismo (RIEFFEL, 1984; PETRARCA, 2007). Trata-se de uma rede de contatos firmados pelos jornalistas através da socialização familiar, do percurso escolar, de inserções em outras esferas (como a da política, a da religião, entre outras), mas principalmente através da própria atuação no jornalismo, pois atuando na imprensa ─ no serviço interno das redações ou nas coberturas de eventos, atos políticos e reportagens de rua em geral ─ o jornalista acaba tendo a possibilidade de firmar ligações com diversos colegas de profissão, políticos, empresários, autoridades jurídicas, entre outros personagens inacessíveis de outro modo.

Além das redes de relações, também podemos apontar como recursos indispensáveis à atuação jornalística um conjunto de competências próprias a esta atividade, tais como o domínio do vocabulário jornalístico, a capacidade de lidar com as fontes de informação e com os interesses dos controladores dos veículos noticiosos e a própria habilidade em cultivar/estabelecer uma vasta rede de contatos em espaços diversos. Trata-se de competências básicas para a atuação no jornalismo, mas cuja assimilação se dá basicamente através da inserção, da vivência no próprio espaço da imprensa (ZELIZER, 1993; BOURDIEU, 1997; TRAQUINA, 2004 e 2005; PENA, 2005).

Ou seja, quando tratamos das credenciais para a atuação na imprensa sempre esbarramos na importância que a própria inserção no jornalismo representa para a arrecadação de tais recursos. Tratando especificamente da realidade estudada, das características sócio- profissionais dos jornalistas mais bem posicionados no espaço jornalístico sergipano, os dados também apontam para a importância do investimento profissional nas redações para o crescimento posicional no jornalismo. De maneira mais específica, os dados apontam que o forte investimento profissional no jornalismo funciona como um fator de diferenciação e de qualificação para a ocupação de posições elevadas na imprensa deste estado. Tudo isso nos apontou para a necessidade de uma atenção maior sobre as atuações profissionais dos jornalistas considerados e, principalmente, sobre os recursos arrecadados nessas inserções.

Diante disso, ao longo deste capítulo nos dedicaremos a três tarefas: identificar os principais recursos sociais que agem sobre as hierarquizações no jornalismo; compreender como esses recursos se combinam para produzir o crescimento posicional nesse espaço; e demonstrar a importância do investimento profissional no próprio jornalismo para a arrecadação desses recursos. Para tanto, recorreremos aos itinerários profissionais dos 19 jornalistas considerados para esta pesquisa e, a partir deles, buscaremos traçar padrões de inserção e combinações de recursos diversos em ascensão posicional na imprensa.

5.2.1 – As Redes de Relações Pessoais como Recurso Profissional no Jornalismo

Dizer que as redes de relações pessoais funcionam como um recurso importante para a entrada e a atuação no jornalismo pode parecer redundante, visto que elas desempenham algum tipo de papel para a inserção profissional nos diversos espaços. No entanto, no jornalismo essas redes de relações, também chamadas de network, desempenham um peso maior e podem ser utilizadas para colocações na imprensa, para o acesso a posições profissionais fora das redações (assessorias de comunicação para políticos ou empresários, cargos públicos, entre outros), mas também como credenciais para a ascensão posicional no próprio jornalismo (PETRARCA, 2008).

O desenvolvimento bem sucedido de uma carreira jornalística depende em grande medida dos contactos que o jornalista possua. Um jornalista sem contactos dificilmente conseguirá cimentar uma boa carreira e obter sucesso e reconhecimento profissional. Por isso, a agenda do jornalista (...) é de crucial importância. (SOUSA, 2001, p. 74).

A atividade jornalística é caracterizada por possibilitar aos seus praticantes conviver e/ou manter contatos pessoais com integrantes de espaços diversos. Dentro das redações, os jornalistas estabelecem relações com os colegas de veículo noticioso e com diversos outros personagens que rotineiramente visitam as sedes dos jornais, revistas e emissoras de TV (candidatos a cargos eletivos, anunciantes, artistas). Em suas incursões externas (coberturas de eventos, sessões de casas legislativas, atos governamentais e reportagens de rua em geral), os jornalistas conhecem e se aproximam de outros jornalistas, mas também de políticos, empresários, funcionários públicos, juristas, religiosos. Na verdade, as redes de relações são uma característica estrutural do jornalismo que age desde as concessões de emissão de sinal de TV e rádio, passa pela conquista dos anunciantes (que se estendem do mundo empresarial ao espaço político-governamental), pela necessidade da constituição de fontes de informação em diversos espaços ao mesmo tempo e, por fim, chega até ao recrutamento dos profissionais por parte dos veículos de comunicação.

Um dado indicador dessa importância das redes de relações para a atuação no jornalismo também pôde ser percebido pelo pesquisador ao longo da realização das entrevistas com os integrantes do grupo considerado. Boa parte dos jornalistas-dirigentes entrevistados possuíam contato direto (inclusive número de telefone pessoal) com outros jornalistas-dirigentes sergipanos, com políticos de destaque na esfera local (deputados federais, senadores, prefeito da capital, ex-governadores do estado), com grandes empresários

do ramo da construção civil, entre outros. Isso pôde ser percebido de diversas formas. Em primeiro lugar, alguns entrevistados não só comentaram conhecer outros jornalistas-dirigentes sergipanos como também repassaram o número de telefone pessoal (celular) de muitos deles ou ainda intermediaram pessoalmente entrevistas facilitando o caminho do pesquisador. Em segundo lugar, chamou a atenção o local escolhido por alguns entrevistados para a concessão da entrevista. A maioria escolheu a sede do veículo noticioso em que atuam para o encontro, no entanto, alguns entrevistados preferiram ser ouvidos em locais públicos como praças de alimentação de shoppings e uma delicatessen na região mais nobre da cidade (o bairro “13 de Julho”). O que chamou a atenção nessas entrevistas em locais públicos foi a quantidade de integrantes dos meios político, empresarial e jornalístico que também frequentava o espaço no