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A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente: prenúncio

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Constituição Federal de 1988 traz inovações para a educação infantil brasileira. No seu capítulo III - Da Educação, da Cultura e do Desporto, o inciso IV do Artigo 208 da Lei Magna determina: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...] atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade”.

Este é o grande diferencial e o aspecto mais relevante para a educação infantil, pois a Constituição Federal de 1988 instaura um novo direito e impõe ao Estado um novo dever (CURY, 2002). Nesse sentido, o artigo 205, da Constituição Federal determina o seguinte:

Art. 205 – A educação, direito de todos e dever do Estado e da família será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 2010, p. 56).

A Carta Magna, nos oito incisos do artigo 206, traz os princípios sob os quais, o ensino deve ser ministrado. Dentre esses princípios destacamos os que dizem respeito à “[...] igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” e o que se refere à “[...] garantia de padrão de qualidade”, pois entendemos que estes têm sido os maiores desafios

para essa fase inicial da Educação Básica e defendemos que as políticas públicas devem implantar mecanismos para assegurá-los.

O artigo 209 da CF/1988 estabelece que o “[...] ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I – cumprimento das normas gerais da educação nacional; II – autorização e avaliação de qualidade pelo poder público” (BRASIL, 2010, p. 57).

Isso significa um importante avanço para fiscalizar e inibir a existência de instituições privadas que atendam à criança de 0 a 6 anos de idade sem nenhuma preocupação com a qualidade do serviço. Exemplo disto são as conhecidas “escolinhas de fundo de quintal”, onde, muitas vezes, os problemas vão desde o espaço inadequado à falta de qualificação ou formação mínima dos que respondem pela educação das crianças.

Além das mudanças trazidas pela Constituição Federal de 1988, que contribuíram para alterar a realidade da educação infantil, no Brasil, outro marco relevante foi a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, que caracterizou as conquistas dos direitos das crianças promulgados pela nova Constituição. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº. 8.069, de 1990 – ECA) foi elaborado e sancionado na forma de Lei imediatamente após a Constituição Federal. Logo no início em seus Artigos 3º e 4º, já nos deparamos com uma modificação radical no que se refere a esses dois grupos etários:

Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 3º - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais

inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata a Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por quaisquer outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade,

Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder

público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao laser, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único – A garantia de prioridade compreende:

a) Primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) Precedência no atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) Preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) Destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. (BRASIL, 1990)

No que diz respeito à educação infantil, registramos a ênfase e a amplitude dos direitos conferidos nos referidos artigos e a ideia de ‘garantia de prioridade’ no atendimento a esses direitos. Já no Artigo 5º há a seguinte afirmação “[...] nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da Lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (BRASIL, 1990).

Como podemos observar, a partir da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, os direitos desses sujeitos foram não apenas ampliados, mas sobretudo garantidos, consequentemente, passando-se a exigir tanto da escola como da família, e da sociedade em geral o respeito aos seus direitos fundamentais como cidadãos, determinados pelos Artigos 5º e 6º da Constituição Federal de 1988. No que diz respeito à Educação, o Art. 53 do ECA estabelece:

Estatuto da Criança e do Adolescente

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno

desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores;

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais (BRASIL, 1990).

Corrêa (2007) enfatiza que essas garantias contidas no referido Artigo 53 estendem-se, também, à Educação Infantil. Registrar que, além dele, há o artigo 54, que reafirma o dever do Estado - sem especificar uma ou outra esfera administrativa - em assegurar, entre outras coisas, o atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos de idade. Para a autora, trata-se de mais uma conquista em relação aos direitos da criança que precisa ser conhecida por todos: não é só o município o responsável pela a educação da criança pequena. Ela dever ser garantida pelos entes federados (União, estados e municípios), em regime de colaboração.

O Artigo 58 do Estatuto da Criança e do Adolescente exige que devem ser respeitados os valores culturais, artísticos e históricos relativos ao contexto social da criança e do adolescente. Nesse sentido, ECA afirma em seu Art. 58: “No processo educacional respeitar- se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura” (BRASIL, 1990).

Os movimentos sociais identitários brasileiros reivindicaram um modelo de educação que valorizasse as questões relativas à diversidade cultural do povo brasileiro, em função da possibilidade de a cultura sofrer influências multiculturalistas. Por isso, eles afirmam que as políticas educacionais e as instituições de educação infantil devem constituir-se em espaços de “[...] sociabilidade para onde convergem diferentes experiências socioculturais, as quais

refletem diversas e divergentes formas de inserção grupal na história do país” (ABRAMOWICZ; BARBOSA; SILVÉRIO, 2006, p. 9).

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