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A Educação Infantil em Itumbiara

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Conforme apontamos no primeiro capítulo historicamente, o atendimento às crianças no Brasil ocorreu de forma assistencialista. Em Itumbiara, município objeto de nossas investigações, isso também não se deu de maneira diferente. Entretanto, essa realidade foi desafiada a modificar-se a partir da Constituição de 1988, a qual passou a considerar a criança como sujeito de direitos, confrontando, veementemente, a prática acima apontada. Além disso, a última convenção Internacional acerca dos Direitos da Infância, em 1989, que “[...] reuniu 54 artigos nos quais são descritos os diferentes compromissos que a sociedade atual deveria assumir em relação à infância. Entre outras coisas, aparece ali o direito a ser educado em condições que permitam alcançar o pleno desenvolvimento pessoal” (ZABALZA, 1998, p. 19-20).

Essas medidas legais foram resultado de uma ação conjunta dos educadores em prol da Educação Infantil, hoje, no sentido de ampliar o funcionamento das instituições de Educação Infantil em todos os municípios da Federação, por meio das Secretarias de Educação Municipais, as quais procuraram atender as determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº. 9394/1996, que estabelecem a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica.

O Governo Federal, com base na Constituição Federal de 1988, estabeleceu o ano de 1999, ano base para que todas as creches e pré-escolas estivessem incluídas nos sistemas educacionais, prioritariamente os sistemas municipais de ensino. Conselhos e Secretarias de Educação de todo país solicitaram prorrogação do prazo para operacionalizar essa inclusão, alegando não terem estrutura física e profissionais qualificados em conformidade com as determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/96.

Atendendo as determinações legais do MEC, de adequação das estruturas físicas e de formação dos profissionais para atuarem na Educação Infantil, o Município de Itumbiara organizou seu Sistema Educacional. Os centros comunitários e creches, antes existentes em um número 05 (cinco), foram transformados em Centros Municipais de Educação Infantil - CMEIs. De acordo com as exigências da Legislação, esses CMEIs passaram por adequações de acessibilidade (construção de rampas, banheiros infantis, refeitórios infantis, mobiliário infantil), para atenderem as exigências relativas à inclusão previstas nos artigos 58 a 60 da LDB nº 9394/96 (BRASIL, 1996).

A modificação da terminologia de creches e/ou centros comunitários para centros municipais de educação infantil foi realizada por meio da Lei Municipal nº 2588/2001,

aprovada pela Câmara Municipal de Itumbiara. Posteriormente, por intermédio da Lei nº 2736/2002, foi incluído o termo Municipal após a palavra Centro, ficando estas instituições nomeadas - Centro Municipal de Educação Infantil - CMEI.

A transição da Educação Infantil da Assistência Social, empreendida pela Fundação de Promoção Social - FIPAS, para a Secretaria Municipal de Educação e Cultura - SEMEC deu- se por meio da ação da Prefeitura Municipal de Itumbiara, a qual promulgou e implementou a Lei n°. 2890/2003 em cumprimento Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/1996), que instituiu a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica e como atribuição dos sistemas municipais de ensino.

Entretanto, na realidade brasileira, essa passagem não foi tão tranquila. Uma das explicações para as dificuldades deste processo é o fato de que isto representava perdas de repasse de recursos para as FIPAS, em virtude da transferência das creches para os Sistemas Municipais de Educação. Em Itumbiara isso ocorreu de forma similar. Daí, a dificuldade de esta pesquisadora em encontrar registros quanto à assistência às crianças no município, lócus do nosso estudo. Ademais, os profissionais lotados na FIPAS não tinham a qualificação exigida pela LDB, o que consistia em outro empecilho para a transição.

Diante da dificuldade de obter informações escritas, conversas informais, realizadas no decorrer da pesquisa com gestores, professores das instituições de educação infantil foram importantes no sentido de compreender como funcionavam as creches sobre o domínio da Assistência Social. Começamos a questionar como acontecia o atendimento a crianças pequenas, a escolha de gestores, a formação de professores. Por meio das falas das pessoas que atuavam nas creches e centros comunitários, nesta época, conseguimos descobrir que os gestores eram escolhidos sem a preocupação com sua formação, os profissionais que atuavam com as crianças não eram professores, mas “cuidadores”. Estes profissionais, geralmente, possuíam apenas o Curso Normal de Nível Médio ou Técnico de Magistério ou mesmo o Ensino Médio regular. Dentre os profissionais envolvidos existiam, também, os recreadores, graduados (ou cursando) em Educação Física. Entre eles, também, existiam alguns que possuíam, apenas, o Curso Normal de nível Médio ou Técnico de Magistério ou mesmo o Ensino Médio regular. Destaca-se, ainda, a rotatividade dos profissionais, em decorrência dos contratos temporários.

Conseguimos constatar que a educação infantil tinha um caráter compensatório, pois a dimensão do cuidado assumia maior relevância. Desenvolvia-se um trabalho pouco planejado, que objetivava que as crianças estivessem protegidas e alimentadas, enquanto as mães trabalhavam.

Em Itumbiara, os educadores lotados nas creches foram remanejados para os CMEIs assumindo funções de Diretores, Professores e Auxiliares do CMEI. O critério adotado para escolha de diretores, coordenadores pedagógicos e secretário geral de CMEIs foi a indicação política, tanto do Poder Legislativo quanto do Poder Executivo. Quanto à qualificação dos profissionais, a adequação tem sido gradativa, como veremos a seguir.

O Conselho Municipal de Educação de Itumbiara, órgão normativo do Sistema Municipal de Educação, validou os Atos Pedagógicos regularmente praticados pelas Unidades Escolares jurisdicionadas ao referido sistema. Essa normatização se deu para o cumprimento das Leis Municipais: Lei N°. 2.588/2001 e Lei N°. 2.736/2002, com fundamento na LDB n°. 9394/96, consequentemente ao parágrafo 2º do art. 211 da vigente Constituição Federal. Posteriormente, o Conselho Municipal de Educação – CME – expediu as Resoluções CME Nº. 001/2005 e Nº. 002/2006 para assegurar a legalidade e funcionamento das Instituições e o direito à qualidade do ensino. Ambas validam os atos pedagógicos das Unidades Escolares jurisdicionadas ao Sistema Municipal de Educação de Itumbiara. Nesse sentido, todos os fatos ocorridos em relação à vida escolar do aluno regularizaram-se sem qualquer questionamento futuro.

Esse foi, em linhas gerais, o processo de transição legal da Educação Infantil no Município de Itumbiara pós Constituição Federal de 1988, e, a LDB nº 9394/96, que, como em todo o país, revestiu-se de grandiosos desafios e conflitos ideológicos, uma vez que impôs mudanças a uma prática consolidada, assistencialista e clientelista.

Figura 00 – CEMEI Orestes Borges Guimarães, Literatura Infantil

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