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Vulnerabilidade, Identidade e Urbanização

1 VULNERABILIDADE, RISCO E IDENTIDADE SOCIOAMBIENTAL

2.2 A Construção da Identidade(s) Ambiental e Metropolitana

A questão ambiental e a problemática decorrente dela constitui um dos aspectos da modernidade reflexiva de Beck (1992, 2002 e 2010) e conforma-se em um fenômeno de

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mobilização social e construção de identidade característico da sociedade em rede de Castells (2010).

O movimento ambientalista que surgiu no final dos anos de 1960, nos Estados Unidos e Europa primeiramente, e depois espalhou-se para o resto do mundo, influenciou e redefiniu as formas de mobilização social e do pensamento em relação à natureza, à sociedade, ao desenvolvimento e à economia, proporcionando um surgimento de uma nova cultura que vem redefinindo as maneiras de pertencimentos dos indivíduos em relação ao ambiente e às formas de vida.

Entretanto, apesar de diversificado em termos de composição e formas como se manifesta e atua de país para país, de um modo geral, o movimento ambientalista vai construindo uma identidade própria que o distinguirá dos outros movimentos sociais que, nas últimas décadas, perderam as suas identidades de resistência e contestação. Trata-se, neste caso, especialmente, do movimento trabalhista com a crise de legitimação do trabalho e das formas de representação sindical decorrente da perda de centralidade do trabalho (ANTUNES, 2001).

Castells (2010) chama atenção para o fato de que o movimento ambiental não é homogêneo; as suas ações são coletivas, políticas e os seus discursos são extremamente diversificados, tanto em teoria como em prática, dado o caráter descentralizado, multiforme e orientado à formação de redes com alto grau de penetração nas sociedades que o caracteriza.

Todavia, ao tratar-se de ambientalismo, deve-se distingui-lo de Ecologia, uma vez que, apesar de interrelacionados, ambos diferenciam-se tanto do ponto de vista teórico como prático, mesmo que compartilhem alguns aspectos relativos à compreensão da questão ambiental.

Ambientalismo entende-se, desse modo, como uma forma de comportamento individual e coletiva que, tanto no seu discurso como na sua prática, visa a corrigir as formas destrutivas de relacionamentos entre o homem e o seu ambiente natural, contrariando a lógica racional, estrutural e institucionalista predominante atualmente.

Ecologia, assim compreendida, trata-se de um campo de conhecimento científico que teve seus primeiros trabalhos produzidos por Ernst Haeckel que também cunhou o

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termo que lhe dá nome em 1869. Porém, a ecologia só ganhou reconhecimento científico e acadêmico nos últimos 40 anos e, de certa forma, o seu reconhecimento está diretamente ligado à expansão da problemática ambiental, pois muitos dos seus pressupostos conceituais são utilizados pelo ambientalismo para fundamentar as suas ações. Conceitos como ecossistemas, hábitats, nichos, diversidade ecológica, biomas entre outros termos são amplamente utilizados na defesa e na preservação dos recursos naturais e, consequentemente, de mudança de comportamento no uso dos mesmos.

Apesar do caráter diversificado do ambientalismo, ele mostrou-se fundamental para que fosse construída uma identidade própria do movimento, a qual se caracteriza fundamentalmente pela preservação da natureza que se dá, porém, mediada por objetivos diferentes e adversários também distintos. Por isso, o ambientalismo insere-se entre os chamados “novos movimentos sociais”, pois a formação de sua identidade rompe com os modelos de identificação dos movimentos tradicionais5.

Sob esta perspectiva, os movimentos ambientais podem ser classificados a partir de quatro características principais, que são: tipo, identidade, adversário e objetivos (QUADRO 1). Essas características, na concepção de Castells (2010), servem para determinar a identidade que o movimento vai assumir. A classificação por ele proposta amparou-se nos movimentos ambientalistas dos Estados Unidos e da Alemanha, onde se encontram, em sua opinião, os movimentos ambientalistas mais desenvolvidos do mundo.

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Os “novos movimentos sociais” surgiram a partir de 1970 e diferenciam-se dos movimentos sociais tradicionais por não estarem vinculados a uma identidade de classe social, o que caracteriza os movimentos operário-sindicais, organizados a partir do mundo do trabalho. Já, os novos movimentos sociais articulam-se através de redes - constituindo pautas reivindicatórias coletivas, convergindo interesses, organizando ações conjuntas e buscando visibilidade social, visam a difundir novos hábitos e valores à sociedade. Os movimentos feminista e ambientalista são exemplos dos novos movimentos sociais.

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Quadro 1: Tipologia dos Movimentos Ambientalistas

Tipo (exemplo) Identidade Adversário Objetivo

- Preservação da natureza (Grupo dos Dez, EUA)

- Amantes da natureza - Desenvolvimento não- controlado

- Vida selvagem

- Defesa do próprio espaço (Não no meu quintal)

- Comunidade local - Agentes poluidores - Qualidade de vida/saúde - Contracultura, ecologia

profunda (Earth first!, ecofeminismo)

- O ser “verde” - Industrialismo,tecnocracia e patriarcalismo

- “Ecotopia”

- Save the planet (Greenpeace)

- Internacionalistas na luta pela causa ecológica

- Desenvolvimento global desenfreado

- Sustentabilidade

- “Política verde” - Cidadãos

preocupados com a proteção do meio ambiente

- Estabelecimento político - Oposição ao poder

Fonte: Castells, 2010, p.143.

O quadro tipológico proposto por Castells (2010) para análise do movimento ambientalista permite evidenciar que a identidade ambiental apresenta-se a partir de cinco aspectos de identificação que diferenciam os distintos sujeitos do ambientalismo e os objetivos que visam a alcançar com as suas mobilizações. Desse modo, os movimentos ambientais selecionados por Castells (2010) têm objetivos diferentes sendo motivados pela defesa da vida selvagem; qualidade de vida e saúde; “ecotopia”; sustentabilidade; e oposição de poder.

A difusão do ambientalismo influenciou a formação de contraculturas, originárias dos movimentos sociais de contestação entre as décadas de 1960 e 1970, como os hippies, os naturalistas e outros. Influenciou também a formação de Organizações não Governamentais (ONGs), das quais se destacam o Greenpeace e a World Wide Fund for

Nature (WWF), respectivamente, fundadas em 1971, em Vancouver (Canadá), e 1961, na

Suíça, estando ambas, atualmente, globalizadas e presentes em todos os continentes e grande parte dos países. Essas e outras ONGs ambientais foram responsáveis pela popularização das questões ambientais globais, por meio da promoção de ações, em geral, sem uso da violência e orientadas à exploração da mídia.

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A construção da identidade ambiental resultou da difusão da problemática ambiental conforme já se ressaltou, a partir da década de 1960. Contudo, “a preservação da natureza, a busca de qualidade ambiental e uma perspectiva de vida ecológica são ideias do século XIX que, em termos de manifestação mantiveram-se por muito tempo restritas às elites ilustradas dos países dominantes” (CASTELLS, 2010, p.153).

Desse modo, desde as suas primeiras origens até os dias atuais, a identidade ambiental é fomentada por uma “elite aristocrata” (CASTELLS, 2010). Por causa disso, evoluiu de forma restrita compreendida como categoria de pertencimento por mais de um século através de grupos sociais restritos que defendiam o essencialmente viés preservacionista e conservacionista dos recursos naturais.

No entanto, somente no final dos anos de 1960 é que surgiria, nos Estados Unidos, na Alemanha e na Europa Ocidental, um movimento ambientalista de massas, entre as classes populares e com base na opinião pública, que se espalhou pelos quatros cantos do mundo. (CASTELLS, 2010, p.154). Já, que segundo o autor, existe uma conexão entre o movimento ambientalista e a sociedade em rede por ele pensada.

Existe uma relação direta entre os temas abordados pelo movimento ambientalista e as principais dimensões da nova estrutura social, a sociedade em rede, que passou a se formar dos anos de 1970 em diante: ciência e tecnologia como os principais meios e fins da economia e sociedade; a transformação do espaço; a transformação do tempo; e a dominação da identidade cultural por fluxos globais abstratos de riqueza; poder e informações construindo virtualidades reais pelas redes da mídia (CASTELLS, 2010, p.154).

O movimento ambientalista, sob tal perspectiva, pode ser caracterizado a partir de alguns aspectos, a destacar, primeiramente, o fato de manter uma relação estreita e ao mesmo tempo ambígua com a ciência e a tecnologia. Outro aspecto que o caracteriza é ser um movimento com base na ciência e que legitima a sua atuação. Os conflitos sobre a transformação estrutural são sinônimos da luta pela redefinição histórica das duas expressões fundamentais e materiais da sociedade: o tempo e o espaço; e, por fim, o controle sobre o tempo está em jogo na sociedade em rede, sendo o movimento ambientalista na concepção de Castells (2010), provavelmente, o protagonista do projeto de uma temporalidade nova e revolucionária.

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Enfim, por considerar esses aspectos, o ambientalismo defende a construção de uma nova identidade social, dado que é um movimento em rede e fortemente articulado às mídias virtuais, mas que mantém suas organizações de base física para o desenvolvimento de ações que ocorrem em razão de eventos que sejam apropriados para divulgação.

Desde a década de 1960, o ambientalismo não se preocupou exclusivamente à observação dos pássaros, proteção de florestas e despoluição do ar. Campanhas contra o despejo de lixo tóxico, em defesa de direitos dos consumidores, protestos antinucleares, pacifismo, feminismo e uma serie de outras causas foram incorporadas à proteção da natureza, situando o movimento em um cenário bastante amplo de direitos e reivindicações (CASTELLS, 2010, p.165).

Em meados dos anos de 1990, outras questões sociais foram incorporadas ao movimento ambientalista, entre elas, a perspectiva da (in)justiça ambiental, que defende a existência de uma desigualdade em termos de proteção ambiental do planeta, dado que os efeitos e as consequências dos problemas ambientais não seriam democráticos.

Os movimentos ambientais, com base nas discussões da (in)justiça ambiental, têm, como premissa crítica, o fato de ser amplamente aceito que todos somos vítimas em potencial dos efeitos da crise ambiental porque vive-se no mesmo macroecossistema global – o planeta Terra, isto não refletiria a real forma como os impactos estão distribuídos, tanto em termos de incidência, quanto de intensidade sobre quem, de fato, é mais vulnerável aos seus efeitos.

Para esse movimento, para as populações pobres e os grupos étnicos minoritários e/ou desprovidos de poder que, desproporcionalmente, a maior parte dos riscos ambientais socialmente induzidos recai, “seja no processo de extração dos recursos naturais, seja na disposição de resíduos no ambiente” (ACSELRAD, MELLO e BEZERRA, 2009, p. 12).

Sob tal ótica, o movimento de justiça ambiental inaugura uma nova perspectiva de identidade ambiental, contrapondo-se às ideologias ambientalistas dominantes que se atêm quase que exclusivamente à discussão acerca da escassez e do desperdício dos recursos naturais. Este movimento volta-se para a dimensão humana da questão ambiental e a consequência que pode trazer para os indivíduos, especialmente os mais vulneráveis, seja do ponto de vista da sua condição social e/ou por se constituírem em grupos excluídos por aspectos racistas, religiosos e/ou étnicos, entre outros.

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O Movimento de Justiça Ambiental (MJA) nasceu nos Estados Unidos (EUA) nos anos de 1980, promovendo a rearticulação e as reorientações dos movimentos sociais por direitos civis das décadas de 1960 e 1970, devido ao racismo, com a articulação das lutas de caráter social, territorial, ambiental e de direitos civis e que assumem a seguinte definição:

É a condição de existência social configurada através do tratamento justo e do envolvimento significativo de todas as pessoas, independemente de sua raça, cor ou renda no que diz respeito à elaboração, desenvolvimento, implementação e aplicação de políticas, leis e regulações ambientais. Por tratamento justo entenda- se que nenhum grupo de pessoas, incluindo-se aí grupos étnicos, raciais ou de classe, deva suportar uma parcela desproporcional das consequências ambientais negativas resultantes da operação de empreendimentos industriais, comerciais e municipais, da execução de políticas e programas federais, estaduais, ou municipais, bem como das consequências resultantes da ausência ou omissão destas políticas (BULLARD, 1994 apud ACSELRAD, MELLO e BEZERRA, 2009, p. 16).

O MJA expandiu-se e foi além dos debates sobre racismo e problemas ambientais nos EUA e no mundo (MARTÍNEZ ALIER, 2009), possibilitando redefinir a discussão ambientalista tradicional, trazendo, para a sua agenda, a temática da desigualdade ambiental que, até então, era desconsiderada. Reconfigurou-se, pois, a identidade predominante do movimento ambientalista e consolidou-se a sua atuação em rede, com a articulação de diversas entidades que atuavam em separado, como as organizações de trabalhadores, comunitárias, religiosas e intelectuais.

Mais do que a rearticulação do movimento ambientalista, o MJA procurou enfatizar que não há questão ambiental a ser resolvida anteriormente à questão social, pois elas são intrínseca uma a outra. Porém, o movimento é fortemente criticado por enfatizar a defesa das minorias, dado na escala mundial não ser eficaz, posto conter um forte aspecto localista.

No Brasil, o MJA vem se articulando desde o final dos anos de 1980 e início da década seguinte, associando-se com os movimentos sindicalistas, urbanos, rurais e com o ativismo ecológico e com as condições de vulnerabilidade e risco que os indivíduos estão sujeitos.

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3 URBANIZAÇÃO, AMBIENTE E METROPOLIZAÇÃO

As cidades expandiram-se em forma e densidade nos últimos anos, como decorrência da crescente urbanização do mundo e da concentração populacional provocada por um rápido e contínuo crescimento. Atualmente, a população mundial é estimada em sete bilhões de habitantes (ONU, 2011), dos quais mais da metade vive em áreas urbanas cujas condições de vida, ao redor do mundo, são heterogêneas, desiguais e mais e mais vulneráveis. Apesar disso, alguns fatores vêm contribuindo para esse rápido crescimento populacional, e, entre eles, destacam-se o aumento na expectativa de vida, o declínio nas taxas de natalidade e fecundidade, mesmo em países onde estas taxas ainda são altas, especialmente nos países africanos e asiáticos.

Além disso, também observam-se mudanças no padrão de qualidade de vida, tantos nos aspectos objetivos como subjetivos, com a diminuição da distância entre as necessidades e as possibilidades de sua satisfação, com o acesso tanto a bens básicos (educação, transporte, emprego, alimentação, saneamento, serviço de saúde, etc.) como a bens fundamentais (lazer, trabalho, relações afetivas, sexuais e familiares plenas) e bens ético-políticos (liberdade, participação política e cidadã) (BARBOSA, 1998).

Na América Latina, já se observam mudanças nos padrões demográficos e melhorias na qualidade de vida. Particularmente, tem-se o caso brasileiro que, em pouco mais de quatro décadas, mudou o seu perfil demográfico, de país eminentemente jovem para um país em processo de envelhecimento. E os aspectos que contribuíram para essa mudança estão atrelados à acelerada urbanização do país, intensificada no pós Segunda Guerra Mundial e que, hoje, se exprime em todas as suas grandes regiões. Porém, com níveis de complexidades distintas, não se configurando como um processo homogêneo a urbanização no Brasil, mas que compõe uma diversidade de formas urbanas (COSTA e MONTE-MÓR, 2002).

No tocante à questão ambiental, essa foi absorvida de forma lenta pelos governos durante o processo de urbanização brasileiro, resultando numa fraca inserção orientadora de

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políticas públicas mesmo que, no âmbito mundial, tenha havido uma crescente conscientização, tanto em nível institucional quanto organizativo da sociedade.

Essa lentidão de incorporação da problemática ambiental torna as consequências do processo de urbanização concentrada e acelerada mais dramáticas no Brasil, como se tem visto nas recentes tragédias nacionais dos últimos anos6 provocadas pela ocupação de áreas de risco, pela ampliação dos assentamentos subnormais (favelas e outros), pela falta de drenagem e saneamento básico, representando alguns dos aspectos não solvidos pela urbanização crescente e que tornam vulneráveis as populações, sobretudo, as pobres e desprovidas de acesso a um sistema de bem estar social, em virtude da sua não inserção na lógica de reprodução das sociedades atuais. Assim sendo, estas populações sentem mais intensamente os efeitos da injustiça ambiental (ACSELRAD, MELLO e BEZERRA 2009).

As enchentes e as secas que vêm ocorrendo nos últimos anos no Brasil são a expressão dos desastres naturais que estão relacionados às mudanças climáticas em curso que estariam alterando a temperatura no planeta terra, tornando mais intensos os efeitos dessas tragédias. O último relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC)

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, divulgado em 2007, aponta que as consequências de um contínuo processo de uso dos recursos naturais, ao longo dos séculos, intensificaram-se a partir da revolução industrial no século XVIII aliado à crescente expansão urbana e populacional, evidenciando, dessa

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Deslizamento do Morro do Bumba, Niterói/RN em sete de abril de 2010; Enchente do Rio Mundaú, União dos Palmares/Alagoas, em 20 de junho de 2010; Deslizamento em Teresópolis/ RJ em 12 de janeiro de 2011; e o Deslizamento de barranco em Belo Horizonte/ MG em 10 de janeiro de 2012.

7 O IPCC foi criado, em 1988, pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) visando a fornecer informações científicas, técnicas e socioeconômicas relevantes para o entendimento das mudanças climáticas, seus impactos potenciais e opções de adaptação e mitigação. É um órgão intergovernamental aberto para os países signatários destas entidades internacionais. Segundo O IPCC, a mudança climática deve ser entendida como uma variação estatisticamente significante em um parâmetro climático médio ou sua variabilidade, persistindo um período extenso (tipicamente por décadas ou por mais tempo). A mudança climática pode ser devido a processos naturais ou forças externas ou como decorrência de mudanças persistentes causadas pela ação do homem na composição da atmosfera ou do uso da terra. As atividades do IPCC são desenvolvidas com base nas ações de três grupos de trabalhos: 1) Informação científica a respeito de mudança climática, 2) Impactos ambientais e socioeconômicos da mudança climática e 3) Formulação de estratégias de resposta, mitigação e adaptação, os quais sao divulgados através de relatório. Mais informação disponível em: <http://www.ipcc.ch/>>. Acesso em: 21 out. 2010.

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maneira, a necessidade de buscar formas de mitigação e adaptação a curto, médio e longo prazos que se achem voltadas para abrandar os efeitos das mudanças climáticas já em curso.

As perspectivas que norteiam as orientações apresentadas pelo IPCC, no quarto relatório, em relação às mudanças climáticas estão relacionadas com a capacidade de adaptação, ou seja, resiliência, que os sistemas naturais apresentam frente aos efeitos provocados por essas alterações. Por isso, o grupo de trabalho III, do referido relatório, salienta a necessidade das sociedades promoverem um processo de transição para uma economia de baixo carbono, o que significa mudar as matrizes energéticas, baseadas no uso de combustíveis fósseis, o mais rápido possível. Para isso, tornam-se necessárias mudanças nos padrões de comportamento e estilo de vida, voltados para um consumo que exprima um desenvolvimento econômico de baixo uso de carbono, que seja ao mesmo tempo justo e sustentável.

No contexto urbano, a capacidade de adaptação deveria estar atrelada à instauração do planejamento como ferramenta de orientação do crescimento urbano, conforme prevê o Estatuto da Cidade, através da Lei n° 10.257 de 10 de julho de 2001 (SANTOS JUNIOR e MONTANDON, 2011), especialmente nas cidades e áreas metropolitanas, pois, somente assim, em certa medida, poder-se-ia tornar as populações menos vulneráveis às situações decorrentes de desastres naturais.

Entretanto, os efeitos dos desastres naturais serão menos danosos caso os riscos estejam ligados a eles mesmos e não intensificados em virtude da falta de ação pública, conforme se evidencia nas recentes tragédias no Brasil, muitas das quais anunciadas e que se repetem anualmente por todo o país.

Assim sendo, o presente capítulo é composto por três subcapítulos, os quais visam a discutir a expansão da urbanização e de sua interrelação com a problemática ambiental nas cidades, particularmente no contexto das áreas metropolitanas e, em particular, no caso da Região Metropolitana de Natal (RMN).

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