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Caminhos, Tempos e Espaços na Metrópole

6 REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL: NOVOS ESPAÇOS, MESMOS CENÁRIOS

6.1 Os Municípios Metropolitanos: Integração e Distanciamento

6.1.1 Os municípios de alta integração metropolitana

6.1.1.2.1 O Aeroporto de São Gonçalo do Amarante

O aeroporto de São Gonçalo do Amarante é um megaempreendimento presente no discurso político há quase duas décadas por diferentes níveis de governo seja federal, estadual ou municipal. Notadamente, nos últimos anos, assumiu papel de ação prioritária para o desenvolvimento econômico do país ao passar a integrar as obras do Programa de Aceleramento do Crescimento (PAC) do governo Luís Inácio Lula da Silva, entretanto, sequer teve as suas pistas de pouso concluídas ao término de seu governo, conforme observa-se em visita a obra em fevereiro 2010. No entanto, o então presidente assinou

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através de decreto de lei a concessão para exploração do aeroporto pela iniciativa privada, sendo o primeiro no país a operar sob este modelo.

Em 22 de agosto de 2011, foi realizado o leilão para concessão de exploração do mesmo na cidade de São Paulo, no qual o consórcio Inframérica venceu o leilão de concessão para construção parcial, manutenção e exploração do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante (ASGA). O Leilão nº 01/2011, realizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) na Bolsa de Mercados e Futuros de São Paulo (BM&FBOVESPA), concedeu o primeiro aeroporto federal à iniciativa privada pelo lance de R$ 170 milhões (INFRAERO, 2011). No nível estadual, também assume o aeroporto papel de obra essencial para o RN, mas, principalmente, para a RMN e, em especial, para o município de São Gonçalo do Amarante.

Entretanto, desde o primeiro mandato do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva como da ex-governadora Vilma Faria, muito pouco se avançou na concretização do aeroporto. Mas recentemente, desde que o Brasil foi escolhido como país sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e Natal selecionada como cidade-sede dos jogos, novamente passou a configurar como projeto essencial nacional e local, uma vez que o atual Aeroporto Internacional Augusto Severo em Parnamirim não teria capacidade para atender a demanda produzida pela realização da copa, no que diz respeito ao número de voos e consequente estrutura para recebê-los.

Contudo, no cenário político e de governo, toda a discussão transferiu-se da viabilidade do aeroporto para a construção da “Arena das Dunas” (Figura 11), estádio projetado a ser construído em Natal para sediar os jogos durante a Copa de 2014. Com isso, não só o foco foi deslocado, como também se passou a discutir que menos oneroso e no tempo estipulado pela FIFA seria mais prudente reformar o atual aeroporto de Natal, visto que, em mais de 13 anos do Projeto Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, a obra pouco se desenvolveu, estando ainda na construção das pistas de pouso e decolagem das aeronaves (Figura 12) que comporão um terminal de passageiros com capacidade superior ao fluxo de passageiros registrado no Aeroporto Augusto Severo (Figura 13).

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Figura 11 - Maquete do Projeto Estádio Arena das Dunas, Natal/RN

Fonte: Prefeitura do Natal, 2010.

Figura 12 - Aeroporto de São Gonçalo-pista de pouso e decolagem em construção - São Gonçalo do Amarante/RN

Fonte: Infraero, Jornal Novo Jornal, Ano 1, No. 161, Natal, 27 de Maio de 2010. Disponível em: http://www.infraero.gov.br/index.php/br/aeroportos/rio-grande-do-norte/aeroporto-sao-goncalo-do- amarante.html. Acesso em: 22 Nov. 2011.

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Figura 13 - Maquete do Projeto terminal de passageiros do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante/RN

Fonte: Prefeitura de São Gonçalo do Amarante, 2012.

O Aeroporto está orçado em R$ 650 milhões de reais necessários em investimentos para a sua execução. Porém, pouco se discute os impactos sociais, ambientais, espaciais e urbanos que provocará em toda RMN, mas, sobretudo, no município de São Gonçalo do Amarante. Município que, depois de Parnamirim, apresenta maior nível de integração metropolitana, através dos processos de conurbaçao e de alta mobilidade pendular com Natal.

Do ponto de vista territorial e espacial, espera-se, com a sua efetivação, a redefinição dos eixos de integração metropolitana, saindo do eixo litorâneo para interiorização dos níveis de integração. Além disso, o incremento populacional, a partir do deslocamento de fluxos migratórios oriundos do interior potiguar e de outros estados nordestinos, especialmente Paraíba e Pernambuco.

Outro fator de transformação espacial é a ampliação da especulação imobiliária na cidade, haja vista que o município tem ampla área rural e urbana pouco ocupada. Já, do ponto de vista social, dada às transformações territoriais e espaciais provocadas pela

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aceleração da sua urbanização e em face do baixo nível de renda e educação predominante no município, a vulnerabilidade da população ampliar-se-á significativamente. Os efeitos ambientais e ecológicos também deverão ser considerados, já que sérias alterações serão impostas aos sistemas naturais com a introdução de mudanças nas relações natureza e sociedade da região, com o aumento de sua dinâmica econômica e produtiva no entorno do aeroporto.

Durante a 4ª. Conferência da Cidade de São Gonçalo do Amarante realizada em 27 de Janeiro de 2010, foi surpreendente observar que o assunto aeroporto praticamente não fosse discutido, com exceção dos moradores da comunidade Padre João Maria, localizada no entorno e que trouxe a debate a questão da desapropriação que os seus moradores estão sujeitos dado que se encontra na área de segurança aeroportuária e que não pode ter construções residenciais. Esse foi único assunto relacionado ao aeroporto e nada mais foi discutido sobre o mesmo durante a conferência.

O projeto Aeroporto de São Gonçalo do Amarante deverá ocupar uma área total – 15 milhões de m² – 1.500 hectares – 6 km de comprimento por 2,5km de largura e 1 km na moldura do aeroporto para área de interesse industrial e comercial. Nasceu de uma demanda reprimida do Comando da Aeronáutica Brasileira em 1993 que precisava reunir, num mesmo lugar, um centro de treinamento e formação de piloto. Natal seria a melhor base, devido à posição estratégica que apresentava, contudo, havia um conflito entre a base militar e a área civil-comercial onde se encontra o atual Aeroporto Internacional Augusto Severo e o crescente fluxo de operações na última década com o incremento dado pelas atividades turísticas. Para isso, foram realizados vários estudos até escolher-se o município de São Gonçalo do Amarante.

Para Gomes (2010), engenheiro civil de formação, funcionário de carreira da Infraero há 23 anos e 12 anos como Diretor Superintendente de Obras do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante em palestra durante visita ao aeroporto, no auditório da Infraero, a construção nesta área é viável, segundo alguns aspectos técnicos e econômicos:

1) Para construir um aeroporto é necessário observar o fluxo de operações e de captação de passageiros. O RN tem potencial enorme de captar passageiros sem grandes esforços. Em 2001, o atual aeroporto do estado movimentava um fluxo anual médio de 800.000 mil passageiros ao ano, em 2009, passou para quase dois milhões.

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2) Definição de um parâmetro, ou seja, tipo de aeroporto a ser operacionalizado, neste caso, foi escolhido o de “Cidades Aeroportuárias” ou “Aerotrópolis”. Seria na América do Sul o primeiro a ser projetado nesse parâmetro. Aeroportos desse tipo que operam com sucesso são o Charles de Gaulle em Paris e o de Hong Kong.

3) Tipo de avião a serem operados é fundamental, pois define o tipo de pista a ser construída, no que diz respeito a sua capacidade de carga e impacto durante o fluxo de decolagem e pouso. A pista e o pátio estão sendo construídos com 6,0 Km de comprimento por 2,5 Km de largura no aeroporto para trabalhar com aeronaves de grande porte da aviação comercial de passageiro e cargas, como as aeronaves A380 e A340. 4) A projeção de operação é para 40 milhões de passageiros e 320 toneladas

de cargas, contudo, essa capacidade será atingida por fases (Figuras 14 e 15). A 1ª. fase está sendo projetada para operar com cinco milhões de passageiros anos, ou seja, com mais do dobro da capacidade atual do Augusto Severo (Figuras 16 e 17).

Figura 14 - Implantação final do aeroporto de São Gonçalo do Amarante

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Figura 15- Implantação final do aeroporto de São Gonçalo do Amarante - em detalhes

Fonte: Infraero,2010.

Figura 16- 1ª Fase de Implantação final do aeroporto de São Gonçalo do Amarante - em detalhes

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Figura 17 - 1ª Fase de Implantação final do aeroporto de São G. do Amarante - em detalhes

Fonte: Infraero, 2010.

5) Proximidade com os continentes africano e europeu, possibilidade de voos diretos sem necessidade de abastecimento, como Natal-Frankfurt, representando uma economia de 30% no combustível e 40% nos gastos com manutenção de aeronaves.

6) Custo de reabastecimento de aeronaves mais baixo e vantagem competitiva em relação aos outros estados, pois o RN é o único produtor no Brasil de combustível aeronáutico no município de Guamaré, no Alto Oeste potiguar.

7) 30 km de distância do porto de Natal, facilitando o escoamento de cargas. 8) Acesso a sistemas energéticos com base no gás natural e eólico, sistema de

distribuição de gás natural a três quilômetros do aeroporto. Estudos realizados pela UFPE sobre a distribuição de ventos no aeroporto indicaram potencial de produção eólica em todos os meses do ano.

9) Zona de Processamento de Exportação (ZPE) implantada no município de Macaíba, vizinho ao aeroporto.

10) Estimativa de geração de 10.000 empregos diretos e indiretos

11) Extensão de 400 Km de litoral de praias com temperatura excelente durante todo ano e com estrutura de turismo montada na RMN.

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A Infraero tinha, até dezembro de 2010, para entregar a pista e o pátio que estão sob sua responsabilidade. Entretanto, não foi concluído e as demais obras de construção, como o terminal dentre outras, foi objeto de concessão privada decretada pelo governo federal, cuja forma de atuação e os resultados que se obterá encontram-se em aberto às especulações. Contudo, quase um ano após o leilão de concessão, as obras continuam no estado em que se encontravam quando da sua visita em maio de 2010, conforme se vê na Figura 12 já destacada.

6.1.1.3

Macaíba

Macaíba integra a RMN desde a sua composição inicial em 1997, sendo o segundo município em extensão territorial e o maior em população rural entre os dez municípios metropolitanos.

A história de Macaíba está intimamente ligada a de São Gonçalo do Amarante que, por muito tempo, formaram um único território. Entretanto, a sua consolidação como cidade está atrelada à história do povoamento que se formou às margens do rio Jundiaí no fim do século XVIII, principal rio que atravessa a cidade e que, hoje, se encontra em acentuado processo de poluição.

Neste período, o município chamava-se Coité em alusão à árvore que tinha abundância na região naquele tempo, e destacou-se por ser um entreposto comercial, pois possibilitava escoar a produção do açúcar produzido no interior do estado. Todavia, com a expansão das linhas ferroviárias no RN, a partir da segunda metade do século XIX, Macaíba perdeu o seu poder comercial e entrou em declínio econômico.

Oficialmente, o município foi criado em 27 de outubro de 1877 através da Lei n° 807, se desmembrando de São Gonçalo do Amarante. Sua área atual é 510,75 km² que corresponde a 1,40% da superfície estadual, estando localizado no litoral oriental a 14 km da capital potiguar (IDEMA, 2008).

Macaíba sempre se destacou pelos fortes traços rurais que ainda se mantêm, além da produção de atividades agropecuárias, em especial a pecuária. Apesar disso, nos últimos

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anos, vem se sobressaindo como o polo de ciência e conhecimento na RMN, onde já existia a Escola Agrícola de Jundiaí vinculada a UFRN, está sendo instalado um novo campus que abrigará cursos tecnológicos, em particular, das engenharias. Além disso, foi instalado, em 2005, o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), coordenado pelos cientistas Miguel Nicolelis e Sidarta Ribeiro.

Em relação à metropolização é um dos municípios que mantém um nível médio de integração com o polo metropolitano, Natal. Clementino et al. (2009) apontam que nível de integração também estão os municípios de Ceará-Mirim, Extremoz, Nísia Floresta e São José de Mipibu. Apresenta-se uma população em Macaíba de 69.467 habitantes, a qual cresceu a uma taxa de crescimento de 2,38% no período entre 2000-2010 (IBGE, 2010). Todavia, vê-se que a taxa crescimento populacional foi inferior a verificada no decênio 1991-2000, em que cresceu a 2,63 (CLEMENTINO et al.., 2009).

A população urbana é de 42.631 habitantes e a rural é de 26.836 habitantes, que corresponde respectivamente a 61,4% e a 38,6%. Sua densidade demográfica é 136,01 hab/km². Já, a população feminina é 35.033 e a masculina, 34.434, sendo 98,3% a razão de sexo. Por sua vez, a população economicamente ativa (PEA), na qual são consideradas todas as pessoas de 10 anos ou mais de idade do município é de 57.769 habitantes, o que corresponde a 83,2% da sua população total. Porém, a população em idade ativa (PIA) de Macaíba, ou seja, os indivíduos de 15 a 64 anos são 46.045 habitantes, dos quais 49,6% são do sexo masculino e 50,4%, do feminino (IBGE, 2010).

Economicamente, é um município com forte predomínio da atividade agropecuária, que, historicamente, sempre se destacou pela produção de pecuária e cuja atividade, ainda hoje, ocupa condição de relevo na criação de bovinos. Quanto à agricultura, o principal produto agrícola produzido é a mandioca, sendo colhida anualmente cerca de 3.400ha e produzido cerca de 40.800 toneladas (IDEMA, 2008).

A indústria ocupa um papel importante na dinâmica econômica local em decorrência do Parque Industrial de Macaíba que agrega, sobretudo, indústria de alimentos e têxteis. Por isso, atualmente, é a segunda atividade econômica mais importante, perdendo apenas para as atividades comerciais e de serviços, a principal base econômica do município. Tais dinâmicas econômicas repercutem diretamente no seu Produto Interno

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Bruto (PIB) que, em 2009, foi de R$ 708.534,00 mil reais, sendo praticamente mais que o dobro do registrado em 2002. Em termos de valor agregado, a principal atividade agregadora de valor do PIB é os serviços em todos os períodos. Contudo, o PIB entre 2002 e 2009 cresceu em todos os segmentos (Tabela 12).

Tabela 12 - Produto Interno Bruto, PIB Per Capita e Valor Agregado, Macaíba – 2002, 2006 e 2009 Ano PIB total

(R$ 1.000,00) PIB Per Capita (R$ 1,00) Valor Agregado Agropecuária (R$ 1.000,00) Valor Agregado Indústria (R$ 1.000,00) Valor Agregado Serviços (R$ 1.000,00) 2009 708.534,00 10.763,91 24.175,00 251.815,00 324.806,00 2006 527.652,00 8.331,00 18.732,00 184.900,00 216.821,00 2002 275.775,00 4.741,00 11.399,00 97.623,00 124.234,00 Fonte: IBGE- Cidade@, 2011; IDEMA, 2008.

Espera-se que, com a efetivação da ZPE38, a dinâmica econômica de Macaíba modernize-se, amplie-se e incida diretamente sobre a distribuição dos rendimentos e sobre as condições sociais que o mesmo apresenta, tendo em vista que, entre 2002 e 2009, o PIB per capita aumentou, passando de R$ 4.741,00, em 2002, para R$ 10.763,91 em 2009 (Tabela 12). Contudo, mesmo com o crescimento econômico no período destacado, 43,75% da população são consideradas indigentes e 48,36% tidas como pobres (PNUD, 2005).