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A construção das figuras no intra-texto e as noções de relevância e

Há tempos, as palavras são empregadas em sentido figurado e, um exemplo típico, é o caso da Bíblia. Na Retórica Antiga, já se discutia o “sentido próprio versus sentido figurado”, pois havia a crença no significado original e unitário das palavras. Ao longo do tempo, muitos estudos foram se desenvolvendo e continuam sendo desenvolvidos, atualmente, a respeito da questão.

A Retórica Clássica denominava as figuras de “tropos”, classificando-as em: figuras

de pensamento, aquelas relacionadas ao modo de pensar e figuras de palavra, as

relacionadas ao modo de se expressar. Assim, as figuras eram consideradas “desvios” da norma, uma vez que rompiam com a estrutura lógica.

Em Benveniste (1976), as figuras passam a ser descritas como mudanças nas coordenadas ou deslocamento no interior dos conjuntos, causados por operações

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de supressão, adjunção, supressão-adjunção e permutação. Essa é uma visão que define as figuras apenas como ornamento.

Propondo uma nova perspectiva, a autora Palma (1998) faz um estudo das figuras de oposição que se constróem por processos associativos, como: a antítese, o paradoxo, a litotes, a ironia e o eufemismo, postulando a inexistência do sentido literal, a priori, pois, são as especificidades contextuais que atualizam o real sentido da palavra, no texto.

Quando diferencia o sentido literal do figurado, Palma (p.102) postula que:

“O conteúdo das informações expressas no nível lingüístico, relacionados a um evento específico, será determinado por fatores culturais, por crenças e por valores daquele que recebe a mensagem, devendo estar adequado à situação. Quando isso não ocorre, ou seja, quando essas expectativas do usuário frustram-se, ele realiza um processo interpretativo mais acurado e complexo, apreendendo, então, o sentido figurado.”

Cavalcanti (1989) denomina, “itens contextualmente relevantes”, as palavras e expressões com as quais o leitor escolhe interagir em leitura e representam o seu ponto de vista na interação com o texto. Cada leitor escolhe esses itens, de acordo com suas motivações, seus conhecimentos, interesse imediato, enquanto realiza a leitura e essa escolha, que numa primeira instância pode ser considerada como periférico no texto, poderá ou não coincidir com os itens que foram sinalizados pelo autor, para serem tomados como relevantes.

Esses itens contextualmente relevantes são, potencialmente, ligados a problemas de interpretação pragmática em leitura, isto é, são elementos importantes para a atribuição de força ilocucionária e deram origem ao “Princípio de Relevância”, para o qual Cavalcanti reporta-se à proposta de Sperber & Wilson (1981), que o definem como princípio central na interpretação e tem, como determinantes, a comunicação produtiva e receptiva, o que significa dizer que, por um lado, o escritor apresenta o que considera relevante, através da saliência no texto e, por outro lado, o leitor procura e interage com esses aspectos salientes no texto.

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Entretanto, a autora ressalta que o conceito de relevância do leitor não é restrito ao domínio do texto – conceito divergente de Sperber & Wilson – pois o aspecto sócio- psicológico da interação ficaria fora do escopo da pragmática. Cavalcanti acredita que expectativas mais específicas, diferentes daquelas apresentadas pelo escritor, representam a contribuição idiossincrática – pistas contextualmente relevantes – do leitor para a interação, que é uma adição às expectativas sistemáticas na interpretação pragmática.

O Princípio de Relevância é a base da ideia da heurística da interpretação, segundo Cavalcanti, em que o papel do leitor é descobrir o melhor caminho para negociar significado, tendo em vista as expressões indexais e focalizando os aspectos salientes do texto, em busca de melhor compreensão das reais intenções do autor. E acrescenta uma definição de Sperber & Wilson (1981, p.18), do ponto de vista do ouvinte/leitor:

“... a relevância de um enunciado é estabelecida em relação a um conjunto de crenças e suposições, isto é, um conjunto de proposições; relevância é uma relação entre a proposição expressa por um enunciado de um lado, e o conjunto de proposições na memória acessível do ouvinte, de outro lado.”

Em síntese, pautada nessa definição, a autora considera que o Princípio de

Relevância norteia-se pela relação entre os aspectos salientes do texto e o

conhecimento prévio e acumulado do leitor, sendo a informação nova trabalhada com base no quadro de referência pessoal do leitor, incluindo seus sistemas de valores.

Decorrente do Princípio de Relevância, Cavalcanti, embasada em Leech (1983), apresenta, também, o Princípio de Economia , em que o escritor torna aspectos de seu enunciado redundantes, propositalmente, para que o ouvinte/leitor possa maximizá-lo, ou seja, a redundância pode representar, no texto, uma saliência intencional do autor.

Cavalcanti (1989) postula que a saliência no texto dá-se pelos itens lexicais

chave, enquanto a relevância dá-se por itens contextualmente relevantes. Os itens

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expressões que adquirem valor de adjetivo no enunciado e, portanto delimitam a interpretação semântica/pragmática; itens associativos – aqueles que dão a ideia de uma coesão lexical e aparecem em pares ou sequenciados, no contexto; e itens

iterativos – aqueles que se relacionam com o referente, sustentam os itens lexicais

chave.

Segundo a autora, Itens lexicais chave são expressões linguísticas existentes na superfície textual e, cognitivamente, produzem saliências, na medida em que levam às inferências ostensivas, de acordo com o princípio de relevância, com a finalidade de buscar uma solução para o problema encontrado durante o processamento das informações. São sinais chave representantes do elo subjacente entre leitor e texto, exercendo o papel de ativar molduras, esquemas e

sistemas de valores e, portanto, são considerados fonte de problemas potenciais de

interpretação pragmática, na interação leitor-texto.

Para a autora, o conceito de itens lexicais chave está atrelado a dois prismas:

semântico, porque se baseia na saliência assinalada pela coesão léxico-gramatical

e de estrutura de informação no texto; e pragmático, porque se refere às expressões indexais, cuja saliência é negociada em termos de relevância-leitor, em busca da criação da coerência.

A inter-relação entre diferentes itens lexicais chave, no texto, é que sustenta essa definição quanto ao aspecto semântico, pois a saliência de um item lexical chave só se justifica diante de outros itens lexicais, ou seja, não podem ser caracterizados como palavras isoladas. Quanto ao aspecto pragmático, a definição se sustenta, se considerada em relação a itens contextualmente relevantes, na interação leitor- texto.

Em suma, para Cavalcanti, itens lexicais chave centralizam informação, a qual, apresenta relações semânticas diretas no texto e relações pragmáticas indiretas, na interação leitor-texto. Servem de alicerce para o estabelecimento de conteúdo proposicional e força ilocucionária, ativando as estruturas de conhecimento e os sistemas de valores do leitor, além da função de instigadores à construção de pressupostos, em relação ao todo ou a parte do texto. São, portanto, expressões

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indexais salientes que ocorrem no texto, preservando sua unidade, através de coesão topical e servindo de base para a criação de coerência.

Este capítulo foi composto pelas questões teóricas pertinentes ao procedimento metodológico selecionado, o teórico-analítico e as análises realizadas, com essas bases teóricas apresentadas, compõem o próximo capítulo.

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CAPÍTULO III

ANÁLISES DO TEXTO-BASE “FAROESTE CABOCLO” E

RESULTADOS OBTIDOS

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CAPÍTULO III

ANÁLISES DO TEXTO-BASE “FAROESTE CABOCLO” E

RESULTADOS OBTIDOS

Este capítulo apresenta as análises realizadas e seus respectivos resultados, seguidos de discussão.

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