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I. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

6. A CONTEXTUALIZAÇÃO EM ESPANHA

Estando a par de outros países, sejam desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, em Espanha observa-se um processo de envelhecimento da população. Nos Censos de Población y Viviendas de 2011 verificou-se a existência de aproximadamente 8,1 milhões de cidadãos com idade superior a 65 anos, o que representa 17,3% da população total. Destes indivíduos, o sexo feminino é predominante havendo 34% mais mulheres do que homens. A esperança média de vida encontra-se nos 82,1 anos (85 anos para as mulheres e 79,2 anos para os homens), sendo uma das mais altas da União Europeia. Em 2051 espera-se que a população idosa deste país supere os 15 milhões de indivíduos (García & Rodriguez, 2013).

Segundo estes autores tem vindo a verificar-se um declive na mortalidade em idades muito avançadas, o que leva a uma maior sobrevivência e a um ainda maior envelhecimento dos indivíduos mais velhos. Dados recentes confirmam este aspeto ao referir que a população octogenária tem vindo a aumentar, representando 5,2% do total de pessoas mais velhas. Os números relacionados com a incapacidade e dependência também aumentam com a idade, sendo que aos 80 anos cerca de metade dos indivíduos mais velhos têm algum tipo necessidade nas AVD’s (García & Rodriguez, 2013).

Segundo dados do Eurostat, mais de 50% dos indivíduos com idade superior a 65 anos apresentam algum tipo de doença crónica, sendo que este número quase alcança os 70% na população octogenária (2012). Os últimos dados da população espanhola indicam que mais de metade dos internamentos hospitalares deve-se à população mais velha, sendo caraterizados por uma maior duração no tempo e complexidade em comparação com a restante população (García & Rodriguez, 2013).

O padrão de mortalidade em Espanha é determinado pelas causas de morte da população idosa. Nos últimos anos, as doenças degenerativas têm vindo a assumir um papel relevante nas causas de falecimento e destaca-se o aumento da mortalidade das doenças mentais e nervosas, principalmente da Demência (Froggatt & Reitinger, 2013). A Ilustração 4

representa a prevalência da Demência em Espanha e na Europa em pessoas mais velhas no ano de 2009.

Ilustração 5 – Prevalência da Demência em Espanha e na Europa (população com 60 ou mais anos, 2009) (OCDE, 2012, p.45)

“El número de personas de 85 y más años por cada 100 de 45 a 65 años (ratio de apoyo familiar) ha ido aumentando progresivamente en los últimos años y se estima que seguirá haciéndolo, de manera que cada vez serán menores los recursos familiares disponibles para apoyar a una cifra tan alta de mayores” (García & Rodríguez, 2013, p.3).

Quando se verifica uma situação de insuficiência familiar ou agravamento da situação de uma pessoa mais velha são disponibilizados meios de apoio e suporte por parte da segurança social com o objetivo de que esta permaneça no seu domicílio e ambiente familiar. É o caso dos centros de dia; do apoio domiciliário, dos serviços de manutenção e limpeza da habitação, realização de compras de bens básicos e o acompanhamento a consultas médicas; da linha de apoio telefónica e de programas de alívio de cargas para os cuidadores informais como a admissão temporal do idoso numa instituição para promover o descanso do cuidador e programas de férias. São também fornecidas ajudas ao nível da aquisição de auxiliares de marcha como andarilhos e cadeiras de rodas (manuais ou automáticas) e outros equipamentos adaptativos (Ley 39/2006 de 14 de Diciembre, Jefatura del Estado Español).

Se além deste apoio se verifica uma situação de prestação de cuidados inadequada, de má qualidade de vida, de risco para a pessoa mais velha, de isolamento ou claudicação familiar é recomendada a institucionalização numa unidade de cuidados de longa duração. “La

demencia es de especial relevancia en el ámbito institucional dado que la evolución de la enfermedad y los cambios sociales no favorecen la permanencia en el hogar de estos enfermos, porque afectan al comportamiento y derivan en una dependencia física, social y cognitiva” (Mongil et al, 2009, p.6).

Segundo os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) de 2011, em Espanha verifica-se a existência de 21,3 camas relativas aos cuidados de longa duração por 1000 habitantes idosos. É conveniente referir que as caraterísticas relacionadas com estes cuidados são muito díspares entre as diferentes províncias; tal dificulta um processo de análise a nível nacional e os dados disponíveis podem não traduzir a realidade e condição de vida de um número considerável de pessoas (Riedel & Kraus, 2011).

Segundo a Lei 39/2006 de 14 de Dezembro para a promoção da autonomia e cuidado da pessoa dependente (“Ley de Promoción de la Autonomía Personal y Atención a las Personas en Situación de Dependencia”), conhecida como a Lei da Dependência foram definidas duas tipologias de cuidados de longa duração neste país: as “nursing homes” ou “Centros Residenciales para Personas Mayores en situación de Dependencia” que providenciam cuidados pessoais, de Enfermagem e médicos contínuos, assim como apoio social e atividades de lazer, fisioterapia, terapia ocupacional e atendimento psicológico; e as “residential homes” ou “Residencias para Personas Mayores” que providenciam cuidados pessoais contínuos, apoio social e atividades de lazer; podem oferecer fisioterapia, terapia ocupacional e atendimento psicológico, dependendo da Comunidade Autónoma (Froggatt & Reitinger, 2013).

As Unidades de Cuidados de Longa Duração em Espanha podem pertencer ao setor público (24%) ou privado (76%), podendo este último ser de caráter lucrativo (53%) ou não (24%) (Allen et al, 2011). A pessoa mais velha que usufrui deste tipo de cuidados deve contribuir financeiramente para costear os serviços que lhe são prestados através de um sistema de co-pago que depende do seu nível de dependência e da sua situação financeira. A prestação de cuidados de saúde é gratuita para todos os indivíduos mais velhos, podendo uma “residência” ter a sua própria equipa de saúde (Froggatt & Reitinger, 2013).

No estudo desenvolvido por Mongil et al em 2009, que tinha como objetivo determinar a prevalência da Demência em centros residenciais em Espanha, concluiu-se que a prevalência desta doença na população mais velha institucionalizada era superior a 60%. Dos indivíduos afetados 74,1% eram mulheres e 25,9% homens, tendo o sexo feminino um risco

65% superior de apresentar uma Demência. O subtipo mais frequente encontrado foi a Doença de Alzheimer seguido da Demência Vascular.

Ainda neste estudo verificou-se que a institucionalização de pessoas mais velhas aumenta com a progressão e evolução da Demência. Os indivíduos que apresentam um CDR 1 constituem 14,2% dos indivíduos institucionalizados, um estadio CDR 2 verifica-se em 30,2% e 54,2% da população em estudo apresenta uma Demência Avançada com um CDR em estadio 3 (Mongil et al, 2009).

Abordando a prestação de Cuidados Paliativos, em 2001 foram desenvolvidas as bases do “Plan Nacional de Cuidados Paliativos” pelo Ministerio de Sanidad y Consumo, que defende que estes cuidados devem ser gratuitos e acessíveis a toda a população (Ministerio de Sanidad y Consumo, 2001). Em 2007 foi desenvolvida a “Estrategia Nacional de Cuidados Paliativos” com o objetivo de estabelecer compromissos em todas as comunidades autónomas para promover a homogeneidade e melhora dos Cuidados Paliativos no Sistema Nacional de Saúde espanhol (Ministerio de Sanidad y Consumo, 2007). Já em 2010 verifica-se a criação da Estrategia Nacional de Cuidados Paliativos. Actualización 2010-2014 (Ministerio de Sanidad, Política Social e Igualdad, 2011) em que um dos objetivos específicos envolve a organização e coordenação da prestação de cuidados paliativos no âmbito das unidades de longa duração, sendo clara a necessidade de formação e treino de profissionais de saúde nesta área.

Em 2011 foi desenvolvido um Anteproyecto de Ley de Cuidados Paliativos y Muerte Digna que visa regular o cuidado em fim de vida (Froggatt & Reitinger, 2013) mas devido a várias problemáticas e divergências sociopolíticas não existe ainda uma lei nacional; embora se verifique que haja legislação sobre este assunto em algumas províncias como é o caso de Navarra no País Basco onde existe desde 2011 a Ley Foral 8/2011, de 24 de marzo, de derechos y garantías de la dignidad de la persona en el proceso de final de vida.

Com o objetivo de incentivar a prestação de Cuidados Paliativos na população mais velha e o desenvolvimento e integração desta tipologia de cuidados no sistema de saúde, a World Health Organization desenvolveu o “Catalonia World Health Organization Palliative Care Demonstration Project” na Catalunha (Espanha). Este programa que teve início em 1989 visa a implementação de serviços especializados em Cuidados Paliativos na região e constituir um modelo de aplicação para outros países. O programa tem como princípio que o cuidado paliativo é um direito de todos os indivíduos como parte da prestação de cuidados de saúde e teve por base a revisão da legislação existente, o ensino e treino dos profissionais de saúde e a

integração dos cuidados paliativos nos serviços se saúde existentes, etc. (Hall, Petkova, Tsouros, Costantini & Higginson, 2011; Gómez-Batiste et al, 2007).

Como resultado deste projeto foram desenvolvidas novas estruturas de prestação de Cuidados Paliativos e equipas interdisciplinares de suporte ou unidades de intervenção nesta área, sendo constituídas por médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, que intervêm a nível hospitalar, unidades de cuidados de longa duração e na comunidade. Após 15 anos da implementação do projeto, mais de 95% do território catalão dispunha de serviços relacionados com Cuidados Paliativos e já em 2005 79% dos doentes com cancro e 35-57% dos indivíduos com doenças crónicas e avançadas receberam estes cuidados. Outros resultados demonstram a existência de menos internamentos hospitalares e, também, menos derivações ao serviço de urgências. São ainda reportados benefícios económicos consideráveis para o estado (Hall, Petkova, Tsouros, Costantini & Higginson, 2011; Gómez-Batiste et al, 2007).

O Território Histórico de Gipuzkoa (local onde será realizada a presente investigação científica) possui em Março de 2015 uma oferta de 7044 vagas em unidades de Cuidados Continuados e centros de dia dedicados às pessoas mais velhas. Destas, 5932 constituem a rede pública destes cuidados sendo geridas por instituições com ou sem ânimo de lucro e financiadas pela Diputación Foral de Gipuzkoa (Gipuzkoako Foru Aldundia, 2015).

Segundo dados do Informes Envejecimiento en Red, em Guipúzcoa existem 76 centros residenciais para pessoas mais velhas. Estes têm caraterísticas estruturais e organizacionais diferentes, sendo que 52,5% das vagas disponíveis encontram-se em unidades com uma capacidade superior a 100 pessoas (García, 2014).

A nível do País Basco têm sido desenvolvidos esforços no âmbito da implementação dos Cuidados Paliativos no sistema de saúde basco principalmente nas últimas duas décadas, visando o “Plan de atención a pacientes en la fase final de la vida o Cuidados Paliativos de la Comunidad Autónoma Vasca” de 2006 melhorar o cuidado nesta área da saúde através da organização de recursos e identificação dos aspetos mais relevantes de melhora. No âmbito dos cuidados de longa duração foram desenvolvidas unidades “socio-sanitárias” que poderiam dar resposta a situações de fim de vida em conjunto com as equipas de suporte em Cuidados Paliativos (Arrieta, Hernández & Meléndez, 2012; Gobierno Vasco, 2006). No entanto, verifica- se ainda um conhecimento e prática limitados dos profissionais de saúde e uma baixa coordenação entre equipas e serviços para garantir a continuidade dos cuidados paliativos na população mais velha com Demência Avançada.