• Nenhum resultado encontrado

situação actual e potencialidades

5. A Contribuição da economia solidária

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE, 2011), a economia solidária é caracterizada pelo conjunto de atividades econômicas de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito, organizado sob a forma de autogestão. O caráter de solidariedade nesses empreendimentos é expresso em diferentes dimensões:

i) na justa distribuição dos resultados alcançados; ii) nas oportunidades que levam

a ampliação de capacidades e da melhoria das condições de vida dos participantes;

iii) no compromisso com um meio ambiente saudável; iv) nas relações que se

estabelecem com a comunidade local; v) na participação ativa nos processos de desenvolvimento sustentável de base territorial, regional e nacional; vi) na preocupação com o bem estar dos trabalhadores e consumidores; e, não menos importante, vii) no respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.

Normalmente existem dúvidas sobre a economia solidária frente ao coope- rativismo como dois modos de organização da produção que o são. Realmente, nem todas as cooperativas atuam dentro dos princípios do solidarismo, porém para que o empreendimento seja solidário, ele deve ser organizado coletivamente funcionando no formato de uma associação ou de uma cooperativa. As relações estabelecidas entre os participantes transcendem ao econômico, ou seja, para ser integrante não basta ter uma quota parte ou participação dos membros na criação e controle do capital. Na economia solidária é necessário ser trabalhador dessa associação uma vez que os proprietários dos meios e bens de produção são exclusivamente aqueles que nela trabalham dividindo entre si, de forma fraternal, os resultados do que vier a ser gerado/produzido e da comercialização respectiva.

Desta maneira, os lucros não se concentram nas mãos de um único dono ou de um corpo de acionistas/cooperados.

Nos últimos anos, a economia solidária veio se apresentar como alternativa inovadora de geração de trabalho e renda e uma resposta a favor da inclusão social. Compreende uma diversidade de práticas econômicas e sociais organizadas, em grande parte, informalmente, consideradas pré-cooperativas e/ou associações com atividades distribuídas sob formas variadas predominando as que têm ligação com a pesca, pecuária, extrativismo, alimentos, bebidas, e diferentes produtos artesanais. É neste particular que se insere a contribuição que entidades de tal natureza podem representar no impulso à piscicultura e, por conseqüência, ao desenvolvimento local/regional seja no Brasil como nos territórios das demais nações da CPLP.

Conforme anteriormente mencionado, neste trabalho a atenção privilegiou a piscicultura com a criação e multiplicação de peixes em ambientes escavados (vi- veiros de barragem/água doce), processada dentro de padrões de sustentabilidade e apresentando resultados quando levada adiante em um universo equilibrado, possibilitando o aproveitamento de ambientes onde haja disponibilidade de água. Ideal como atividade econômica alternativa é plausível e factível para adoção no con- texto das pequenas propriedades rurais existentes nos diversos países. Entretanto, se nesses minifúndios a criação de outras espécies animais (bovinos, suínos, caprinos, além da avicultura) constituem algo cujo desenvolvimento/crescimento está visí- vel permitindo fácil acompanhamento, isto não acontece com o peixe que estará debaixo da água se alimentando, bebendo, respirando e fazendo as necessidades no mesmo ambiente. Configurando, como já mencionado e, em princípio, um sis- tema de produção superintensivo, tem vertentes que variam desde as providências relativas ao local de implantação dos viveiros, com seleção qualitativa dos insumos (ração, sementes, alevinos8) e com o manejo do cultivo (povoamento, alimentação, tratamento sanitário preventivo, dentre outros).

A piscicultura, marcando presença ou ocorrendo em micro e pequenas pro- priedades rurais (sítios, chácaras, quintas) vizinhas, próximas ou localizadas dentro de determinado raio de abrangência, propicia o ambiente ideal para que aconteça, solidária e cooperativamente, em regime de economia familiar. Com efeito, etapas quanto à aquisição de insumos, processamento da produção, meios de estocagem,

facilidades de transporte aos centros consumidores e a conseqüente comercialização com preços uniformes evitando a competição predatória, resultarão em economias de escala, geração de renda a ser compartilhada e, seguramente, em inclusão social para todos os que estejam nela envolvidos.

Neste contexto, não pode ser esquecido que políticas públicas devem ser co- locadas em prática. A capacitação é prioritária para disseminar conhecimentos indispensáveis que propiciem corretas técnicas de manejo direcionadas ao cres- cimento e reprodução do peixe, à engorda e à geração de carne de qualidade. Ade- mais, torna-se necessária a adoção de medidas profiláticas para evitar a incidência de enfermidades que eventualmente possam se manifestar em vista de haver dificuldade para tratar qualquer uma delas em peixes atacados por alguma doença. No Brasil isto já acontece graças às ações conduzidas por órgãos governamentais específicos, inclusive objetivando promover o desenvolvimento sustentável, in- cremento dos benefícios sociais/econômicos, estimulando a associação de pisci- cultores (envolvendo nestas reuniões periódicas), a sustentabilidade da atividade e respaldando, inclusive com a disponibilização de recursos financeiros, através de linhas específicas de crédito, a aquisição de insumos, o beneficiamento, as condições de armazenagem e a comercialização da produção.

Resumindo, a piscicultura se afigura como promissora, pois enquanto a de- manda mundial por pescado cresce em ritmo acelerado, as possibilidades de expansão da captura pesqueira estão praticamente esgotadas. A solução, portanto, está na criação de peixes em sistema de cativeiro. Em decorrência, o Brasil e os de- mais integrantes de CPLP, se beneficiam e devem incentivar o setor, em face a as- pectos climatológicos propícios de que, geograficamente, se revestem as respectivas extensões territoriais e dos recursos hídricos que estas apresentam. Acontecendo estes estímulos, eles ajudarão no desenvolvimento local/regional e comunitário, gerando renda, favorecendo a ampliação do mercado de trabalho e a inclusão social. A economia solidária, como modo sustentável de produção, ao conceder importância ao ser humano e, portanto, constituir alternativa ao status quo vigente que valoriza apenas o capital pode, e tem desempenhado importante papel na ati- vidade piscicultora e, particularmente, também em políticas desenvolvimentistas.