• Nenhum resultado encontrado

Na iminente necessidade de representar e organizar a informação registrada surgem as Linguagens Documentárias que, desde a sua concepção, têm trazido

inúmeras contribuições, seja de caráter teórico ou metodológico. Assim, Kobashi (2007)12 mostra que:

A perspectiva histórica, com especial destaque para as reflexões filosóficas e lingüísticas, é importante para compreender como ela se constituiu. A história do campo mostra que aqueles que se dedicaram às ações de informação, no afã de produzir instrumentos funcionais, procuraram na Filosofia, na Filosofia da ciência, na Filosofia da linguagem, na Lógica e na Linguística, os fundamentos necessários para enfrentar esse desafio. Nossos antecessores – Dewey, Otlet, Bliss, Ranganathan, Gardin, Austin, Dahlberg, Hutchins demonstram com clareza os movimentos feitos para elaborar teorias sobre as linguagens documentárias e, principalmente, construí-las. Ao iniciar uma reflexão sobre as Linguagens Documentárias, vale a pena informar que estas Linguagens Documentárias têm como foco primeiro, analisar e construir soluções de padronização às áreas de especialidade. Ou seja, as Linguagens Documentárias atuam diretamente em uma área de domínio atentando para que seja viabilizada uma eficaz representação informacional e, consequentemente, sua recuperação. Dessa maneira, define-se que as Linguagens Documentárias são

sistemas de signos que visam à uniformização do uso da linguagem de especialidade, proporcionando uma representação padronizada do conteúdo informacional, bem como uma recuperação da informação mais pertinente (SALES, 2007, p. 96).

Boccato (2009, p. 119) define a sua proposta pontuado que as

linguagens documentárias são linguagens estruturadas e controladas, construídas a partir de princípios e de significados advindos de termos constituintes da linguagem de especialidade e da linguagem natural (linguagem do discurso comum), com a proposta de representar para recuperar a informação documentária.

Nesta mesma linha de pensamento, para Campos (2001, p. 126) as teorias que fundamentam as Linguagens Documentárias são essenciais “para se realizar um trabalho mais eficaz no âmbito da representação da informação com vistas à recuperação”.

Desta maneira, as Linguagens Documentárias surgem com o intuito de “[...] propor códigos para o tratamento e a recuperação da informação, recorre à terminologia, visando a garantir referenciais para a organização de campos temático-funcionais” (LARA, 2004, p. 91). Nesta mesma vertente, Kobashi (2007)13

considera que

No caso da linguagem documentária, sua função é informativa: tratar e recuperar informação para estabelecer intercomunicação entre usuário e sistema. [...] a Linguagem documentária procura incorporar, por meio de diversos tipos de operadores semânticos, os contextos para interpretar os termos de forma precisa. [...] toda linguagem documentária é constituída por um conjunto de termos (o léxico), por relações entre as unidades lexicais, determinadas a priori (o eixo paradigmático) e por uma sintaxe que articula os encadeamentos entre os termos da linguagem, em face de um documento específico (o eixo sintagmático).

Ao observar as afirmações levantadas e somadas às considerações da última autora, torna-se evidente a contribuição das Linguagens Documentárias à representação da informação, especialmente porque representar significa fazer uso de um grande aporte de abordagens teóricas e metodológicas oriundas da Documentação, Semântica, Sintaxe, Lexicografia e da Terminologia.

O signo, o termo, bem como os significados e definições originários deles, tornam-se elementos centrais para que seja permitido o processo de entendimento e tradução da Linguagem Natural para Linguagem Artificial.

Na Tabela 1, percebe-se como se dá a relação e a prática da tradução e transposição da Linguagem Natural para Linguagem Artificial.

Tabela 1 – Comparativo das características estruturais e funcionais entre língua natural e linguagem artificial

LÍNGUA NATURAL LINGUAGEM ARTIFICIAL

Gramática modelável no tempo e no espaço. Gramática rigorosamente definida, inalterável no tempo.

Palavras são polissêmicas (podem

comportar vários sentidos). Termos são monossêmicos (univocidade). Irregularidade e variação. Regularidade e constância

Função básica: expressão e comunicação. Função básica: representação. Fonte: Melo e Bräscher (2011, p. 42, grifo nosso).

Complementares, mas com funções diferenciadas, tanto a Linguagem Natural como a Linguagem Artificial propõem particularidades de composição e objetivos. Contudo, ao analisar esta tabela, é importante fazer uma ressalva em relação à “Gramática rigorosamente definida, inalterável no tempo”. A Linguagem Artificial é “rigorosamente definida”, mas não é necessariamente “inalterável no tempo”. Havendo necessidade, ela pode ser alterada. Para que isso ocorra, basta que haja demanda comprovada por parte dos usuários no processo de recuperação da informação e entendimento e aceitação formalizada das instituições e pesquisadores envolvidos. Obviamente que, dependendo do tipo de documento, possíveis alterações podem ser mais ou menos longas. Com clareza, estas situações são plenamente manifestadas nas Linguagens pré-coordenadas e Linguagem pós- coordenadas.

Ao tratar destes últimos elementos, é importante compreender que seus pontos de encontro e de dispersão, podem ser mais bem observados através das suas Características, Vantagens e Desvantagens.

Tabela 2 – Comparação das características, vantagens e desvantagens das Linguagens pré-coordenadas e Linguagem pós-coordenadas

LINGUAGENS PRÉ-

COORDENADAS LINGUAGEM PÓS-COORDENADAS

Características 1) Subjetividade (conceitos compostos);

2) Autonomia do indexador; 3) Fáceis de serem utilizadas.

1) Conceitos únicos: são indexados os conceitos simples;

2) Objetividade: dá-se entrada de todos os termos relevantes, sem a necessidade de decisões sobre a ordem; 3) Flexibilidade na pesquisa: no momento da pesquisa, os termos podem ser

combinados entre si de qualquer forma;

4) Pesos iguais para os termos: todo o termo atribuído a um documento tem um peso igual, não sendo nenhum mais importante que o outro. Vantagens 1) Definir apenas um lugar

inequívoco para qualquer assunto composto;

2) Flexibilidade na estratégia

1) Independência da ordem de citação;

2) Permissão de uma maior revocação.

de pesquisa: podem ocorrer mudanças na estratégia da pesquisa, podendo seguir um assunto mais restrito, mais genérico ou

correspondente, sem se ter que começar do início; 3) Evitar falsas associações e

relações incorretas; 4) Ser mais exata. Desvantagens 1) Dificuldade na

representação dos diferentes sentidos do termo;

1) Oferece uma baixa precisão

Fonte: Costa (2009, p. 24-26)14.

Percebe-se que, enquanto as Linguagens pré-coordenadas têm por características um caráter mais fechado, as Linguagens pós-coordenadas são mais abertas, passíveis de alterações mais rápidas, tornando o trabalho mais ágil além de reduzir o nível de insatisfação do usuário frente ao processo de busca.

Para melhor compreender estas questões, são citados alguns exemplos de Linguagens pré-coordenadas e Linguagem pós-coordenadas. Vê-se então que:

Tabela 3 – Exemplo comparativo entre Linguagens pré-coordenadas e Linguagem pós-coordenadas

LINGUAGENS PRÉ-COORDENADAS LINGUAGEM PÓS-COORDENADAS

Sistemas de classificação (Ex. CDD e CDU) Vocabulários controlados Listas de cabeçalhos de assuntos Tesauro

Dicionários Taxonomias

Glossários Ontologias

Fonte: Alvares (2000?)15.

Neste sentido, para Kobashi (2007), “As Linguagens Documentárias são, nesses dispositivos, instrumentos privilegiados de mediação que apresentam dupla função: a) representar o conhecimento inscrito e b) promover interação entre usuário e dispositivo”.

Os diversos produtos, técnicas ou ferramentas, lançados, construídos e frutos geradores das Linguagens Artificiais (pré-coordenadas e pós-coordenadas), tornam

14

Disponível em: <http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/395/1/21138_ulfl070660_tm.pdf>. Acesso em: 01 fev. 2013.

15 Disponível em: <http://www.alvarestech.com/lillian/Analise/Modulo4/Aula41LD.pdf>. Acesso em: 03

evidentes a importância de se valorizar a utilização das Linguagens Documentárias nos Centros e Unidades de Informação (através da Representação da Informação e Tratamento Documental), além de Pesquisas Científicas que aprofundem o debate.

Quanto mais se entende o valor das Linguagens Documentárias, dos seus termos ou signos, mais haverá a oportunidade de conhecer com profundidade uma determinada área de domínio ou especialidade.

Portanto, as Linguagens Documentárias, a partir da valorização dos aspectos sintáticos, semânticos e lexicais e em função de suas especialidades ou características básicas, podem contribuir significativamente para o processo de Representação da Informação Documental.

4 CIBERCORDEL

Documentos relacionados