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A CONVENÇÃO CONTRA O GENOCÍDIO

No documento Intervenção humanitária (páginas 36-41)

3. A ONU E O COMBATE AO GENOCÍDIO

3.1 A CONVENÇÃO CONTRA O GENOCÍDIO

O termo genocídio sequer existia antes do século XX, até que o jurista polonês Raphael Lemkin, veio a combinar a palavra grega genos (raça, tribo), com a latina occidere (matar), a partir da necessidade de se criar uma nova palavra, pois o termo “assassinato em massa” não abrangia todas as diferentes atividades que se verificava em um Genocídio. (CANÊDO, 1999).

O crime de genocídio envolve uma grande variedade de ações, incluindo não apenas a extinção da vida, propriamente, mas ações que a tornem especialmente difícil. Todas essas ações estão subordinadas a uma intenção criminal de destruir ou permanentemente alijar um determinado grupo humano. Esses atos são direcionados a determinados grupos, e indivíduos são escolhidos à extinção única e exclusivamente por pertencerem a esse grupo.

O preâmbulo da Convenção declara o genocídio crime internacional, condenado pelo mundo civilizado, e que vem infligindo enormes perdas a humanidade, merecendo que a comunidade internacional se una no seu combate. O art. 1° reafirma ser o genocídio um crime internacional, não importando se em tempo de guerra ou de paz, já os artigos 2° e 3° da Convenção para prevenção e repressão ao genocídio são de capital importância, já que tratam, respectivamente, da definição de genocídio e das ações a serem punidas. (CANÊDO, 1999).

De acordo com o Artigo II da convenção de prevenção e punição ao crime de genocídio das Nações Unidas de 1948, define-se genocídio como:

Qualquer dos atos que se seguem, cometidos com a intenção de destruir, em parte ou totalmente, uma nação, etnia, raça, ou grupo religioso, da seguinte forma:

a) Assassinato de membros do grupo;

b) Dano grave à integridade física ou mental do grupo;

c) Submissão intencional do grupo a condições de existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial;

d) Medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) Transferência forçada de menores do grupo para outro grupo. (Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio de 1948, p. 1).

O artigo 3° descreve as ações a serem punidas:

Art. III – serão punidos os seguintes atos: O genocídio;

a) O conluio para cometer o genocídio;

b) A incitação direta e pública a cometer o genocídio; c) A tentativa de genocídio;

d) A cumplicidade no genocídio. (Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio de 1948, p. 2).

Na perspectiva sociológica, Fein (apud VEZNEYAN, 2009, f. 35) desenvolveu um modelo para a identificação de genocídios onde inclui os seguintes pontos:

a) Houve um ataque sustentável, ou um conjunto de ataques imputados pelos algozes com vistas a fisicamente destruir membros do grupo;

b) O algoz é um ator coletivo ou organizado, ou ainda, o lideres de atores organizados;

c) As vitimas foram selecionadas por serem membros de uma coletividade;

d) As vitimas estavam indefesas, e foram mortas independentemente de se terem rendido ou resistido;

e) A aniquilação de membros do grupo foi realizada sob a sanção dos algozes, exclusivamente.

Através desta identificação, se verifica que não existe genocídio não intencional ou acidental, existindo, portanto, a intenção (dolo). O genocídio poderá ser praticado de forma tentada, sendo cometido de forma fracionada. O objeto a ser atacado é a vida, onde não importa necessariamente a extinção de uma, mas podendo ser considerado genocídio impedir o nascimento de novas pessoas de um determinado grupo. Pode ser praticado por qualquer pessoa, podendo ser praticado até mesmo por uma única pessoa. Pode ainda ser instantâneo, se consumando no momento da ação ou omissão delituosa. Mesmo que uma única pessoa seja atingida, é necessário que a intenção seja de exterminar determinado grupo, portanto, mais de uma vida estará sendo visada. (JÚNIOR, 2012).

Existem algumas espécies de genocídio, espécies estas que são: física (compreende assassinatos e atos que possam causar a morte); biológica: (se caracteriza por se esterilizar pessoas, ou miscigenar membros do grupo, extinguindo-o);e cultural (o ato de destruir o patrimônio artístico, cultural, histórico ou pensamento religioso). A ordem jurídica moderna não reconhece o genocídio cultural e nem o político, pois a convenção, na época, considerou que a definição que constituiriam esses grupos era bastante vaga, porém o reconhecimento de tais ideias é ainda muito discutido. (JÚNIOR, 2012).

Considerando a letalidade do crime de genocídio, por atentar contra grupos geralmente minoritários ou excluídos de alguma forma das práticas políticas ou religiosas habituais, podemos enquadrar suas ações dentro do conceito de crime contra a humanidade, que é um termo do direito internacional que descreve atos de perseguição, agressão ou assassinato contra um grupo de indivíduos. (PEDROSO, 2008). Dautricourt, em exposição feita na conferência para a Unificação do Direito Penal, em Bruxelas, exterioriza posição emblemática no que diz respeito à definição dos crimes contra a humanidade:

do Estado por razões de nacionalidade, raça, religião ou opinião, priva a um individuo, grupo ou coletividade de um dos direitos elementares que correspondem a pessoa humana, a saber: direito a vida, a integridade individual, a constituir familia, a estabelecer livremente seu domicilio, ao trabalho livre e suficiente remunerado, educar-se e professar uma religião, uma opinião filosófica. (DAUTRICOURT apud CANÊDO, 1999, p. 160).

É neste sentido que o crime de genocídio é tipificado desde o dano com a intenção de cometer algum prejuízo ao grupo excluido até a tentativa de exterminio da comunidade perseguida. (PEDROSO, 2008).

A convenção contra o crime de genocídio de 1948, conta com o intuito de reprimir e prevenir este crime, o que implica na necessidade de encontrar soluções para que tais atos não voltem a acontecer, estando a comunidade internacional incumbida deste dever. O artigo I da referida convenção declara:

Artigo I - As partes - contratantes confirmam que o genocídio, quer cometido em tempo de paz, quer em tempo de guerra, é um crime contra o Direito Internacional, o qual elas se comprometem a prevenir e a punir. (Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio de 1948, p. 1).

O artigo I impõe aos Estados uma obrigação direta de prevenir o genocídio. A prevenção de um Estado para esta ocorrência em seu território é de maior responsabilidade do que os de Estados terceiros, pois como muito já aconteceu, os crimes de genocídio são perpetrados com ajuda do próprio estado. O supracitado artigo I, ao obrigar os Estados à prevenção e punição ao genocídio, proíbe-os de cometer este tipo de crime, obrigando-os. Já o artigo IX estabelece o seguinte:

Artigo IX - As controvérsias entre as Partes - contratantes relativas à interpretação, aplicação ou execução da presente Convenção, bem como as referentes à responsabilidade de um Estado em matéria de genocídio ou de qualquer do outros atos enumerados no artigo III, serão submetidos à Corte Internacional de Justiça, a pedido de uma das Partes na controvérsia. (Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio de 1948, p. 2).

Desta forma, nenhum órgão público ou pessoas pertencentes a um Estado devem cometer qualquer ato contido no artigo III, caso isso aconteça, constituirá o crime de genocídio violando graves normas imperativas do Direito Internacional, podendo estes autores, sofrerem as punições que obrigam a pôr fim ao ato dando garantias de não repetição e reparando os danos causados. (FIGUEIREDO BORGES, 2009).

Quanto aos Estados terceiros, o artigo I da Convenção declara que as partes contratantes não só se comprometam a prevenir o genocídio nos seus próprios territórios, mas também deixa entender que, se for necessário, impeçam que um genocídio seja perpetrado no território de outro Estado. (FIGUEIREDO BORGES, 2009). Para isso, o preâmbulo faz referência à cooperação entre os Estados:

Reconhecendo que em todos os períodos da história o genocídio causou grandes perdas à humanidade; Convencidas de que, para libertar a humanidade de flagelo tão odioso, a cooperação internacional é necessária; (Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio,1948, p. 1).

Deste modo, se algum estado estiver sendo confrontado com esta questão, é dever da comunidade internacional ajudar aquele a sana-lo. A Carta das Nações Unidas (p. 5) também traz esta referência a obrigação de cooperação dos Estados, como podemos observar em seu artigo I alinea 3:

Os propósitos das Nações unidas são:

3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

O dever de cooperação entre os Estados é claro nos dispositivos citados, tendo estes o compromisso de proteger os direitos Humanos, com a obrigação de prevenir e punir o crime de genocídio permanentemente com base na Convenção de 1948.

3.1.1 Medidas a serem as tomadas em caso de genocídio

O Estado, enquanto sujeito de Direito Internacional, desempenha papel fundamental na prevenção e punição do genocídio, podendo recorrer aos órgãos competentes da ONU para que tomem as medidas que julguem necessárias para a prevenção e a repressão dos atos de genocídio, nos termos do artigo VIII da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, que assim declara:

Artigo VIII - Qualquer Parte - contratante pode recorrer aos órgãos competentes das Nações Unidas, a fim de que estes tomem, de acordo com a Carta das Nações Unidas, as medidas que julguem necessárias para a prevenção e a repressão dos atos de genocídio ou de qualquer dos outros atos enumerados no artigo III. (Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio de 1948, p. 2).

Assim, se um Estado não pode, por si só, prevenir ou pôr fim a um genocídio, poderá agir por meio das Nações Unidas, mais especificamente por meio do Conselho de Segurança, órgão das Nações Unidas responsável pelo uso da força pela manutenção da paz e segurança internacionais, (FIGUEIREDO BORGES, 2009), como será visto na posteriormente.

No documento Intervenção humanitária (páginas 36-41)

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