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A coordenação política do sindicato – 2009/2015

No documento Paulo Jorge Lopes dos Santos (páginas 80-83)

PARTE 1 REFLEXÃO AUTOBIOGRÁFICA

1. DESCRIÇÃO REFLEXIVA DO PERCURSO PROFISSIONAL

1.11. A coordenação política do sindicato – 2009/2015

Os dez anos de leccionação na Madeira permitiram, obviamente, sucessos e insucessos, a sensação do dever cumprido e, pela primeira vez, o questionamento em relação ao desejo de ser professor, motivado pelas sucessivas transformações implementadas pelos dois últimos governos constitucionais.

Na Madeira, ganhámos cada vez mais a compreensão do papel relevante que a docência adquiriu de intervenção na sociedade. Os professores transformaram-se em administrativos, burocratas, psicólogos, médicos, e assistentes sociais, substituindo até, e muitas vezes, o núcleo familiar dos alunos. Formam, desde há muito, a primeira linha no combate à exclusão, à delinquência, entre outros.

Perante tantas e multifacetadas vertentes, é lógico perguntar que tempo sobrou para ensinar? A escola é primacial para partilhar, para preparar os alunos para a vida, permitindo-lhes competências várias que os ajudem a ser autónomos e capazes de reflectir no sentido de agirem e solucionarem os problemas com que se deparam. Não pode nem deve substituir a família, os centros de saúde, os centros de assistência social, os gabinetes de psicologia, entre outros. Tem, sim, a obrigação de ajudar e ser um elo de ligação a estes elementos.

11 Parece confirmar-se que um envolvimento lento, progressivo e consciente dos professores dentro do contexto escolar e com os seus pares é mais susceptível de conduzir à inovação e ao sucesso. Assim, o percurso de formação destes professores aponta para um caminho em que (…) a formação deve ser feita nos próprios contextos de aprendizagem e com os seus pares (tradução nossa).

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Todavia, os meios colocados ao dispor da classe docente para responder a estas situações foram sempre diminutos, sendo paradoxal, também, que estes professores multifunções tenham recebido como recompensa do próprio Estado uma imagem de laxismo, corporativismo e de beneficiários de regalias incomportáveis para o país. As mudanças são necessárias, mas fazem-se com todos e não contra todos.

Ser professor é instruir, educar, partilhar, fazer feliz, mostrar caminhos, é dar asas aos anseios e sonhos dos outros. O professor tem o privilégio exclusivo de instigar os seus discípulos, de levá-los à dúvida, ao questionamento, à sensação prazerosa de procurar construir conhecimento. O trabalho docente funda-se na noção que os alunos não são receptores robotizados de programas curriculares, são Homens e Mulheres dotados de competências várias, de sensibilidade e criatividade que necessitam de serem estimuladas e encorajadas.

Fruto deste descontentamento, aceitámos o convite para assumir, em simultâneo com a coordenação do centro de formação, a coordenação política do sindicato.

A coordenação política implicou, acima de tudo, uma análise detalhada das alterações legislativas preconizadas pela tutela e a elaboração de pareceres. Constituiu, acima de tudo, uma posição de defesa da classe docente, cujas mudanças jurídicas desde de 2008 retiraram direitos outrora adquiridos, burocratizando a profissão e impedindo os professores de se dedicaram a 100% àquilo que melhor sabem fazer, ou seja, ensinar.

Ao longo desta permanência na coordenação política, os concursos para a docência constituíram o item mais controverso. Assumimos que o regime de concursos para a selecção de docentes do ensino regular, desde o pré-escolar ao ensino secundário, e do ensino especial da Região Autónoma da Madeira devia ser o ponto de partida para o funcionamento harmonioso do sistema educativo, regulado por legislação com normas que consagrassem um concurso célere, justo e transparente que tivesse em conta as reais necessidades das escolas como promotoras de sucesso e de boas aprendizagens.

Evocámos a defesa das condições de trabalho dos professores que de maneira contínua foram objecto de contractos a termo resolutivo, defendendo para estes um regime de convergência, ou seja, de forma análoga ao que acontece no sector privado, todos os docentes com três ou mais anos de serviço prestado em escolas públicas deveriam ser vinculados, cumprindo-se, assim, o plasmado no Código do Trabalho e o estabelecido pela directiva comunitária - Directiva 1999/70/CE. Todavia, a legislação actual acentua a precariedade laboral, uma vez que a abertura de vaga no quadro de

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zona pedagógica onde se situa a escola em que o docente leccionou para quem completar cinco anos de serviço fica aquém do que a lei estabelece para o privado e contraria sobremaneira o disposto na norma europeia supramencionada.

Lutámos para que em todas as fases dos concursos (interno e externo) se adoptasse a graduação profissional como antelação para a seriação e colocação dos docentes. A graduação profissional consubstancia o critério mais aceite pelo corpo docente como justo e transparente, sendo composto pela nota de curso obtida pelos docentes quando adquiriram a sua habilitação profissional e pelo tempo de serviço prestado com a classificação mínima de Bom.

Defendemos uma maior valorização da formação a nível legislativo, quer contínua, através dos centros de formação acreditados pelo Conselho Científico e Pedagógico de Formação Contínua, quer através da obtenção de pós-graduações, mestrados e doutoramentos nas instituições de ensino superior, de modo a permitir o enriquecimento pessoal e profissional dos docentes e, em consequência disso, a melhoria do sistema educativo.

Pretendemos contribuir para a criação de uma identidade profissional própria e para a valorização da carreira, beliscada pela deterioração das condições de trabalho e pelos entraves colocados à progressão na carreira. Contribuímos para a consolidação da ideia de pertença a uma mesma comunidade. Contudo, não adoptámos uma postura de oposição gratuita, mas sim de parceria, nunca deixando de emitir a nossa opinião, ainda que, muitas vezes, fosse contrária à da administração. A educação exige, sempre que possível, consensos e muita reflexão, se forem possíveis de atingir, toda a comunidade educativa sai vencedora.

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No documento Paulo Jorge Lopes dos Santos (páginas 80-83)