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A necessidade de mudança nas práticas lectivas

No documento Paulo Jorge Lopes dos Santos (páginas 77-80)

PARTE 1 REFLEXÃO AUTOBIOGRÁFICA

1. DESCRIÇÃO REFLEXIVA DO PERCURSO PROFISSIONAL

1.10. A necessidade de mudança nas práticas lectivas

Ser professor na Madeira fez com que, talvez fruto da segurança laboral adquirida, tivéssemos direccionado energias para uma enorme reflexão sobre a prática pedagógica, o que nos levou a um claro investimento na vontade de diversificação dos recursos materiais, das estratégias de ensino e a um autoquestionamento em relação ao papel do professor e do aluno na sala de aula.

Ganhámos uma consciência progressiva da necessidade de proceder a alterações na forma de estar perante os discentes, o que nos conduziu a uma leitura profunda das

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metodologias de ensino e teorias de aprendizagem com recurso à tecnologia, uma vez que estávamos certos da aptidão que os alunos revelavam pelas TIC. Como refere Guilhermina Miranda, estas “só se transformam em meios de desenvolver o pensamento crítico e criativo nos estudantes, se os professores utilizarem determinadas metodologias de ensino” (Miranda, 2007: 26).

Assim, tentámos tornar as aulas menos expositivas, dando lugar a uma coexistência dos modelos aprendidos anteriormente, mais instrucionistas, com formas diferentes de encarar o processo de ensino-aprendizagem, como o construtivismo de Vygotsky, e o construtivismo social e comunal de Holmes, Pountney, Meehan, entre outros. As transformações operadas pela sociedade da informação e do conhecimento comprometem a enfatização de formas díspares de interacção e de promoção do conhecimento, com a criação de ambientes de aprendizagem interactivos, cooperativos e colaborativos que levam à mudança dos papéis dos professores e dos alunos e à reorganização do próprio conhecimento, muito assentes nas teorias do construtivismo social e comunal.

As novas formas de construtivismo baseiam-se no postulado que o conhecimento constrói-se, não se transmite; que aprender e ensinar implica construir novo conhecimento, descobrir novas vias para expressar algo, baseado em experiências e conhecimentos existentes, cujos significados devem ser partilhados, sendo necessário que o aluno seja exposto a situações de aprendizagem colaborativa para que este se possa envolver de forma activa na construção do seu próprio conhecimento para consumo próprio e para os outros.

Assim, as tecnologias de informação exigem mudanças na forma da escola encarar os papéis dos actores educativos, novos métodos e dinâmicas, atribuindo-se ao docente a capacidade de gerir o currículo de forma a criar situações de aprendizagem que envolvam os alunos na construção activa da sua aprendizagem. Esta ideia aproxima-nos da noção de currículo de Roldão quando aduz que este deve ser “o conjunto de aprendizagens que, por se considerarem socialmente necessárias num dado tempo e contexto, cabe à escola garantir e organizar” (Roldão, 1999: 24).

Esta tomada de consciência de incrementar momentos de aprendizagem significativos para os discentes fez com que apostássemos, sobretudo a partir de 2007, como forma de valorização pessoal e profissional, na frequência de formação contínua

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voltada para a integração curricular das TIC (Ferramentas da Web 2.0 10 no Ensino,

Quadros Interactivos Multimédia na Sala de Aula, Recursos Multimédia de Língua Portuguesa e História e Geografia de Portugal, Corel Draw e Corel Photopaint, entre outros), não descurando, contudo, uma actualização constante de conhecimentos na área científica do Português, língua, cultura e literatura.

Porém, chegámos à conclusão que estes cursos, regra geral, apenas se cingiam à transmissão de técnicas de domínio de software, sem grandes preocupações com a utilização pedagógica e didáctica dos programas e ferramentas informáticas utilizadas. Faltava o necessário suporte teórico promotor de debate e de reflexão sobre as práticas lectivas e o processo de ensino – aprendizagem.

Este exercício de metacognição fez com que adquiríssemos, com o objectivo de partilhar os conhecimentos alcançados, o certificado de creditação de formador em Tecnologias Educativas e passássemos a ministrar, através do Centro de Formação do SIPE – Sindicato Independente de Professores e Educadores, cursos com base em teorias e modelos de aprendizagem potenciadoras de experiências que facilitem o trabalho colaborativo e as aprendizagens significativas, nomeadamente o construtivismo comunal e social, o conectivismo, a teoria do envolvimento e o modelo ARCS (Atenção, Relevância, Confiança e Satisfação). Desenvolvemos cursos acreditados pelo CCPFC - Conselho Científico e Pedagógico de Formação Contínua, com a finalidade de contribuir para a integração curricular das TIC: “Materiais da Web no Ensino de Outras Disciplinas” (25 horas), “Blogues Educativos nas Aulas de Português e de Línguas Estrangeiras” (50 horas), “Criação de Testes e Fichas lúdicas e didácticas online no ensino das línguas” (25 horas), “As TIC no Ensino do Português” (30 horas), “Materiais da Web no Ensino de Outras Disciplinas” (25 horas), “Ferramentas da Web no Ensino da Língua Portuguesa” (25 horas) e “A integração Curricular das TIC no 1º ciclo” (30 horas).

Porém, e fruto desta aprendizagem como formador, sentimos que a maior parte dos formandos não aplicavam os conteúdos em sala de aula, por diversos motivos. Com base na literatura científica e da experiência empírica como formador, enfatizamos aqui um desses factores, isto é, a necessidade de implementação de formação em contexto de trabalho, com forte pendor supervisivo, em ambiente colaborativo, de forma a que a

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integração das TIC seja inequivocamente uma realidade. Rosa Tripa e Isabel Chagas referem que

a slow, progressive and meaningful involvement of teachers in the school context with their partners is more likely to lead to innovation and change in which concerns the educational use of ICT. Therefore, the way participants progressed in this program centred on ICT, project work and collaborative work suggests that in- service teacher education programs should (…) occur in the learning context, among partner11 (Tripa e Chagas, 2000: 302)

Estas experiências, quer como formando, quer como formador, transformaram a sala de aula num laboratório, fazendo com que os conteúdos programáticos fossem ensinados, sempre que possível, com recurso às tecnologias.

No documento Paulo Jorge Lopes dos Santos (páginas 77-80)