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2. DIREITOS HUMANOS E RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO

2.3. A PROCESSUALÍSTICA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS

2.3.3. A Corte interamericana de direitos humanos

A Corte Interamericana é o órgão jurisdicional do sistema regional de proteção dos direitos humanos, composta por sete juízes nacionais de Estados membros da OEA, eleitos a título pessoal pelos Estados-partes da Convenção.

Buergenthal (1984, p. 94) assevera que a Corte possui duas atribuições distintas:

Uma envolve o poder de adjudicar disputas relativas à denúncia de que um Estado-parte violou a Convenção. Ao realizar tal atribuição, a Corte exerce a chamada Jurisdição contenciosa. A outra atribuição da Corte é de interpretar a Convenção Americana e determinados tratados de direitos humanos, em procedimentos que não envolvem a adjudicação para fins específicos. Esta é a jurisdição consultiva da Corte Interamericana.

Ocorre que, no plano contencioso, a competência da Corte para o julgamento de casos é limitada aos Estados-partes da Convenção que reconheçam a jurisdição expressamente, nos termos do artigo 62 da Convenção Americana de Direitos Humanos.

Segundo Piovesan (2012, p. 341),

Até maio de 2011, dos vinte e cinco Estados-partes da Convenção Americana de Direitos Humanos, vinte e dois haviam reconhecido a competência contenciosa da Corte. O Estado brasileiro finalmente reconheceu a competência jurisdicional da Corte Interamericana em dezembro de 1998, por meio do Decreto Legislativo n. 89, de 3 de dezembro de 1998.

Reitere-se que apenas a Comissão Interamericana e os Estados-partes podem submeter um caso à Corte Interamericana, não estando prevista a legitimação do indivíduo, nos termos do artigo 61 da CADH. No entanto, ainda que os indivíduos e ONGs não possam submeter os casos diretamente à Corte, na hipótese de submissão pela Comissão Interamericana, as vítimas, parentes e

representantes podem de forma autônoma apresentar seus argumentos, arrazoados e provas perante a Corte, assegurando, dessa forma, o locus standi dos peticionários em todas as etapas do procedimento.

A Corte tem jurisdição para examinar casos de violação por um Estado-parte de direito protegido pela Convenção. Caso a Corte reconheça a ocorrência da violação de direitos humanos pelo Estado demandado, determinará à restauração do direito então violado, podendo ainda fixar uma justa compensação à vítima.

A decisão da Corte tem força jurídica vinculante e obrigatória, cabendo ao Estado o seu imediato cumprimento, sendo que a compensação fixada à vítima poderá ser executada contra o Estado, pois tal decisão valerá como título executivo.

Dessa forma, as reparações de caráter pecuniário, quando descumpridas pelo Estado condenado, autorizam a sua execução no âmbito do direito interno, por se tratar de um título executivo. No entanto, não há atualmente mecanismos de execução das reparações de caráter não pecuniário.

Acerca do tema, Trindade aduz que:

El fiel cumplimiento o ejecución de sus sentencia es uma preocupación legítima de todos los tribunales internacionales. (...) Al respecto, la Corte Interamerican tiene actualmente una especial preocupación em cuanto a um aspecto del cumplimiento de sus sentencias. Los Estados, por lo general, cumplen com las reparaciones que se refieren a indemnizaciones de carácter pecuniario, pero no sucede necesariamente lo mismo con las reparaciones de carácter no pecuniario, en especial las que se refieren a la investigación efectiva de los hechos que originaron las violaciones, y la identificación y sanción de los responsables, - imprescindibles para poner fin a la impunidad (...). (TRINDADE, 2011, p. 32).

Para que haja satisfação do direito de acesso à justiça, não é suficiente que seja prolatada uma sentença no curso de um processo, na qual se declare direitos e obrigações que se proponham a proteger as pessoas. É preciso que existam mecanismos eficazes para executar as sentenças, de maneira que se protejam efetivamente os direitos declarados.

Assim, a execução das sentenças deve ser considerada parte integrante do direito de acesso à justiça, entendido este em sentido amplo, que venha a abarcar também o cumprimento pleno da respectiva decisão. Ao contrário, ou seja, o não cumprimento da sentença, implica em negação desse direito de acesso à justiça.

interno las medidas de reparación dispuestas por la Corte, estaría negando el derecho de acceso a la justicia internacional”.

Logo, em que pese a crescente justicialização do sistema interamericano, o que já significou um considerável avanço, faz-se necessário seu aprimoramento.

Uma primeira proposta seria à exigibilidade de cumprimento das decisões da Comissão e da Corte, com a adoção pelos Estados de legislação interna relativa à implementação das decisões em matéria de direitos humanos.

Nesse sentido, Piovesan (2012, p. 355) sustenta que:

A justicialização do sistema interamericano requer, necessariamente, a observância e o cumprimento das decisões internacionais no âmbito interno. Os Estados devem garantir o cumprimento das decisões, sendo inadmissível sua indiferença, omissão e silêncio. As decisões internacionais em matéria de direitos humanos devem produzir efeitos jurídicos imediatos e obrigatórios no âmbito do ordenamento jurídico interno, cabendo aos Estados a sua fiel execução e cumprimento, em conformidade com o princípio da boa-fé, que orienta a ordem internacional. A efetividade da proteção internacional dos direitos humanos está absolutamente condicionada ao aperfeiçoamento das medidas nacionais de implementação.

Outra proposta que se faz necessária é a previsão de sanção ao Estado que, de forma reiterada e sistemática, descumprir as decisões internacionais. No Sistema Europeu de proteção aos Direitos Humanos, o descumprimento das decisões dos órgãos de direitos humanos acarreta sanções, podendo, inclusive, o Estado violador ser suspenso ou até mesmo expulso do sistema regional europeu.

Dessa forma, a solução que propomos para assegurar o cumprimento das decisões da Corte, caso haja descumprimento reiterado pelo Estado-parte, seria a possibilidade da Assembléia Geral da OEA suspender ou expulsar o Estado infrator da Organização dos Estados Americanos, o que acarretaria sérias conseqüências políticas e econômicas, fazendo com que os Estados condenados fossem compelidos a cumprir as recomendações fomentadas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, à guisa do Sistema Europeu.

Nogueira, a fim de compelir a efetivação pelos Estados das decisões da Corte Interamericana, afirma que:

(...) podem ser estabelecidos futuramente embargos econômicos, suspensão ou até mesmo a expulsão do Estado, no caso de

descumprimento reiterado e da indiferença para com os direitos humanos. (NOGUEIRA et al, 2010, p. 77).

Por fim, cabe realçar que o sistema interamericano tem assumido extraordinária relevância, como especial locus para a proteção de direitos humanos.

3. DOS TERMOS DE COMPROMISSO REALIZADOS PELA POLÍCIA