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A criação das primeiras equipas no âmbito da Educação Especial

3. As equipas interdisciplinares em contexto escolar

3.3. A criação das primeiras equipas no âmbito da Educação Especial

Em consonância com o abordado no ponto 1 deste trabalho, verificamos que nas décadas de 70 e 80 do século XX criaram-se em Portugal um conjunto de Equipas no âmbito do movimento de integração das crianças com limitações estruturais e/ou funcionais (então designadas por deficientes), cujo processo de criação, enquadramento legal e consequente intervenção trarão um importante contributo à reflexão ora efetuada sobre as equipas do DL nº3/2008. Neste contexto, basear-nos-emos essencialmente num estudo realizado sobre a criação e trabalho desenvolvido pelas Equipas Multiprofissionais (EM), que nos ajudará a concluir sobre a importância que tem sido dada no nosso país ao trabalho

desenvolvido pelas equipas responsáveis pela avaliação das crianças e jovens com NEE e, em última instância à forma como tem sido organizado superiormente esse trabalho.

No início da década de 80, Bénard da Costa escrevia

“Começa a ser conhecida no País a atuação exercida a partir do Centro da Bela Vista de Águeda e que consiste no rastreio precoce de crianças que apresentam qualquer deficiência, no apoio aos pais e na sua integração a partir do Jardim de Infância.

Outras experiências semelhantes a esta estão a surgir em vários outros pontos do país, revelando as imensas potencialidades das ações regionais que resultem de uma participação empenhada de todos os serviços que podem contribuir para a educação e integração dos deficientes” (Bénard da Costa, 1981, p. 324 citado por Pereira, 2010, p. 198).

A ação referida pela autora, de sentido comunitário, nasceu da necessidade de intervir junto das chamadas crianças de risco e constituiu a base de lançamento da criação das EM das quais a experiência de Águeda e Aljustrel foram pioneiras. De acordo com o estudo mencionado, foi a tomada de consciência da existência de crianças com deficiências e a necessidade de encontrar uma resposta interventiva que fosse ao encontro das suas necessidades que uniu os esforços dos serviços da saúde e da educação. Na realidade de Águeda foi criado o Grupo de Apoio ao Desenvolvimento da Criança (GADC) composto por diferentes profissionais e que tinha como principal objetivo ir às escolas para elaborar planos de desenvolvimento individuais, em conjunto com os pais e professores, para as crianças com dificuldades graves. Situação idêntica foi vivida em Aljustrel, com a criação da Comissão para a Integração dos Serviços de Saúde Locais (CISSL) que abrangia representantes da Autarquia, Educação e Saúde. Estas iniciativas foram alargadas a outras zonas do país, “o final da década de 70 e princípios da de 80, período de explosão das iniciativas em torno do cidadão com deficiência, ficaria, assim, marcado pelo esboçar e desenvolver, no seio das comunidades, de uma metodologia de trabalho centrada na criança com diferentes necessidades, resultante única e exclusivamente da tomada de consciência e da ação ou ações desenvolvidas por distintos profissionais, movidos pela própria vontade e iniciativa” (Pereira, 2010, p. 200).

Uma vez que as experiências informais davam cada vez mais frutos, foram regulamentadas as EM, a 24 de dezembro de 1982, através de um Despacho Conjunto dos Ministérios da Qualidade de Vida, da Educação e dos Assuntos Sociais, publicado no Diário da República, 2ª série, nº 296. Segundo este diploma legal, passaram a ser consideradas Experiências-Piloto as atividades relacionadas com o atendimento das crianças deficientes, acrescentando que as equipas integrariam um psicólogo, um educador de infância, um docente especializado ou com experiência em educação especial, um médico (especialmente pediatra), um enfermeiro, um assistente social e, na medida do possível, terapeutas. O referido despacho dotava as equipas de autonomia técnica e dos meios necessários ao seu funcionamento, localizava a sede no Centro de Saúde, organismo do qual dependiam administrativamente, sendo o seu diretor o respetivo coordenador.

Chegada a hora de avaliar a ação desenvolvida pelas Equipas-Piloto e de se ponderar sobre a sua implementação e difusão no território nacional, não foi publicado qualquer diploma legal que conferisse continuidade às equipas, apesar do grupo de trabalho responsável pela sua avaliação ter deixado expresso nos Relatórios de Avaliação Final,

“…as Equipas Multiprofissionais, como estruturas de sinalização, diagnóstico, avaliação e encaminhamento de crianças e jovens com perturbações de desenvolvimento e que necessitam de cuidados especiais de educação devem ser objeto de diploma legal. O Secretariado Nacional de reabilitação deverá elaborar, de acordo com o conteúdo deste documento, o necessário projeto de diploma legal (…) o SNR submeterá o projeto de diploma à aprovação do Governo” (1987 citado por Pereira 2010, p.204).

Decorrente do vazio legal instituído e dos grandes obstáculos sentidos ao longo do tempo, as EM acabariam por ser extintas, subsistindo apenas as de Águeda e Cantanhede, segundo Pereira, por mais de duas décadas (idem). Nas conclusões da avaliação das Experiências-Piloto apresentadas pela autora no estudo em que nos baseamos pode ler-se:

“ Assim, como razões explicativas da pertinência das EM o documento [Avaliação Final elaborado pelo Grupo de Trabalho responsável] fazia alusão à: necessidade das

diferentes problemáticas que envolvem as crianças serem analisadas e trabalhadas por profissionais do meio, provenientes das áreas da saúde, educação e segurança social, através de uma ação conjunta e coordenada; necessidade de prevenir a carência, sobreposição e descoordenação de intervenções; (…) A relevância da sinalização, diagnóstico e intervenção serem efetuadas a nível local, por instituições de primeira linha (salvo se manifestamente impossível); a importância das crianças serem percebidas como um todo, tendo em conta o contexto global em que se inseriam (ou seja, numa perspetiva ecológica do desenvolvimento); (…) a importância das Equipas serem reconhecidas oficialmente e formalizadas em diploma legal como condição necessária ao seu funcionamento; a indispensabilidade da elaboração de um Plano de Intervenção Individual alusivo a cada criança, onde constassem as decisões tomadas pelos serviços implicados.” (Pereira, 2010, p.216).

3.4. As equipas de avaliação das NEE da década de 90 à