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A criação do UFC, a principal liga de MMA do mundo

No documento DOUTORADO EM PSICOLOGIA SOCIAL (páginas 52-58)

Capítulo 2 – O Mixed Martial Arts (MMA) no Tempo Longo da História

2.5 A criação do UFC, a principal liga de MMA do mundo

Com o sonho de levar o Jiu-Jitsu para o mundo, em 1993, Rorion Gracie criou o UFC nos Estados Unidos: evento de vale-tudo onde oito lutadores de

diferentes artes marciais se enfrentavam numa mesma noite, em combates disputados dentro de uma jaula de formato octogonal, sem luvas, protetor bucal, estabelecimento de rounds ou limite de tempo. Cabeçadas, joelhadas, chutes no rosto do adversário deitado no chão, pisões na costela, dentes quebrados, supercílios abertos, cotovelos estalando em chaves de braço, estrangulamentos. Era o mais próximo que se conseguia chegar de uma briga de rua, um dos principais objetivos dos Gracie para mostrar a supremacia de sua arte. Entretanto, esse evento era realizado longe das ruas, em um ringue estilizado, com luzes e efeitos especiais, transmissão pela TV e replay dos lances mais dramáticos (TEIXEIRA, 2007).

Sendo professor de alunos importantes que trabalhavam em Hollywood, sobretudo John Milius (como citado anteriormente, diretor do filme Conan – o Bárbaro), cada detalhe do evento foi pensado para dar o toque de espetáculo, aproximando-se dos antigos gladiadores romanos e as antigas lutas épicas. Para o ambiente de combate surgiram ideias como: criar uma cópia do ambiente do combate do filme Mad Max; um tanque com jacarés e tubarões em volta do espaço de luta (caso o lutador quisesse fugir, cairia no tanque e seria devorado), ou ainda, deixar Octógono com choques elétricos nas grades (“Sensei Combate. Entrevista com Rorion Gracie”, 2012). O formato escolhido tem oito lados, grades ao redor, sem choques, animais no entorno e pouco mudou.

Figura 7. Octógono do UFC 1. Luta entre Royce Gracie e Ken Shamrock - 12 de

novembro de 1993

Fonte: Página MMA Micks23

23Disponível em: http://mmamicks.com/wp-content/uploads/2013/12/UFC-1-Ken-Shamrock-vs- Royce-Gracie-YouTube.png. Acesso em dez.2015.

Figura 8. Octógono do UFC 194: José Aldo e Conor McGregor em 12 de

dezembro de 2015.

Fonte: Página MMA Brasil24

Rorion Gracie também contou com a assessoria de Art Davie (executivo de marketing) para desenvolver o UFC. Davie fez o plano de negócios, e 28 investidores contribuíram com o capital inicial para começar a WOW Promotions, com a intenção de desenvolver o torneio em uma franquia de televisão (AWI, 2012).

A McNichols Arena, local do UFC 1, recebeu 3.500 pessoas: da classe trabalhadora branca, praticantes de artes marciais e curiosos em geral. O evento foi também vendido via pay-per-view (PPV), obtendo 86 mil assinantes com o faturamento de cerca de US$1,3 milhões, superando todas as expectativas e merecendo destaque na semana seguinte na revista americana de negócios Forbes (ALONSO; NAGAO, 2013).

A transmissão da TV começou com um alerta: “Todos os lutadores deste programa são atletas altamente treinados que sabem os limites de sua resistência. Embora não haja regras, existe uma supervisão médica severa. Nenhum lutador se machucará seriamente. Mas não tente fazer isso em casa” (AWI, 2012, p. 97).

O primeiro modelo de cartaz promocional do DVD, desenvolvido a partir do UFC 1, divulgou um evento sem regras, censura, edição ou controles.Apesar de o UFC ter usado o slogan "There are no rules!" ("Não há regras!"), algumas

24 Disponível em: http://www.mmabrasil.com.br/mma-brasil-matchmaker-lutas-a-casar-apos-o- ufc-194. Acesso em dez.2015.

existiam para minimamente regular os combates: não era permitido dedo nos olhos e puxar o cabelo, mas até os ataques na região genital estavam liberados.

Figura 9: O primeiro logotipo do UFC.

Fonte: Página do UFC25

No início, a maioria dos lutadores tinha habilidades em apenas um tipo de luta: Boxe, Sumô, Savate, Wrestling, Karatê ou Jiu-Jitsu. Assim, o UFC também surgiu com a proposta de colocar frente a frente diferentes técnicas de artes marciais para localizar qual seria a soberana entre elas.

Royce Gracie, o mais leve dentre todos os competidores, lutou três vezes no primeiro evento do UFC, sendo campeão sem um olho roxo (ALONSO; NAGAO, 2013)26. Royce foi escalado porque a família queria alguém que parecesse uma “pessoa normal”, com o biotipo magro, e não um atleta com um físico forte definido, como era o caso de seu irmão Rickson. O objetivo era exaltar a luta e não o lutador. Assim, Royce foi escolhido para lutar porque sua vitória representaria tudo aquilo que o Gracie Jiu-Jitsu sempre fez questão de divulgar: Davi poderia derrotar Golias (TEIXEIRA, 2007).

Desde o início, o UFC encantou e apavorou. O encantamento foi notório pelo destaque nas vendas de pay-per-view ou mesmo no público presente no primeiro evento. O horror se deu na mesma medida, quando autoridades tentaram banir os eventos do UFC em diversos estados americanos, em decorrência da “violência do combate”. Após duras críticas e intensos protestos liderados pelo

25 Disponível em: <http://www.ufc.com/news/UFC-I-A-Look-Back-at-Where-It-All-Began-2013>

Acesso em ago.14.

senador republicano do Arizona, John McCain, o UFC saiu dos principais pay-

per-views, ficando apenas com a exibição via PPV da DirecTV, com pouca

audiência, se comparada com a anterior (AWI, 2012).

Com intensas pressões políticas e dificuldades para que o evento pudesse ser realizado, o UFC entrou em declínio, sobretudo a partir de sua 4ª edição. Assim, o evento teve que ser reformulado: criaram-se regras, rounds, juízes foram profissionalizados e estabeleceram-se limites de tempo para que pudesse ser sancionado por comissões atléticas, visando ganhar o status de esporte e, assim, se manter ativo. Após a sua 5ª edição, o evento acabou sendo vendido pelos Gracie, já que havia sido descaracterizado do ideal de ser o “mais próximo possível de uma briga real”.

Com a saída dos Gracie do UFC, outro lutador brasileiro ganhou destaque: Marco Ruas. Rival da família Gracie nos confrontos de Vale-tudo na cidade do Rio de Janeiro nos anos de 1980, Ruas se negava a ser classificado como representante de uma arte marcial. Lutava tanto no chão como em pé e foi um importante disseminador da necessidade de o atleta conhecer todas as modalidades de luta que pudessem contribuir para a vitória. Marco Ruas foi campeão do UFC 7, em 1995, defendendo o estilo de luta “Ruas vale-tudo”. Ele teria sido o primeiro a entender que o futuro do atleta no esporte dependeria de suas habilidades em múltiplas artes marciais, ou seja, na mixagem de estilos de combate. A partir disso, passou a ser progressiva a autoclassificação dos lutadores em atletas de MMA e não apenas em uma determinada arte marcial.

Em 2001, os irmãos Frank e Lorenzo Fertitta, donos de uma rede de cassinos em Las Vegas, junto com o promotor de Boxe, Dana Write, compraram o UFC. Deram o nome de Zuffa para a empresa responsável por todo o evento. A partir daí, foram estipuladas 31 regras, os atletas foram divididos em cinco categorias, de acordo com o peso, e cada lutador poderia participar apenas de um combate por noite (CORREIA, 2010). Depois dessas mudanças, o UFC retornou ao PPV da TV a cabo americana e sua popularidade voltou a crescer, contando também com a ajuda de intensas propagandas e patrocínios. Além disso, outro alavancador para o aumento da popularidade do UFC foi a criação do reality show com o nome de The Ultimate Fighter (TUF).

Neste reality show, os lutadores de MMA profissionais ou amadores competem entre si para entrarem em uma casa fechada para treinamento. São subdivididos em duas equipes que contam com a liderança de treinadores profissionais do UFC (da mesma categoria de peso e com certa rivalidade). Após ser aprovado na seleção para entrada na casa, o lutador passa a representar o seu time, competindo em um formato de playoff para determinar quem será o The

Ultimate Fighter. O vencedor do programa ganha um contrato com o UFC para

lutas oficiais, além de outras premiações. Os dois treinadores também se enfrentam em um evento do UFC, que tende a ser hostil, por causa da rivalidade que é estimulada ao longo do programa, a fim de aumentar a audiência. No Brasil, o TUF é exibido pela TV Globo, aos domingos (normalmente após o Fantástico), e reexibido pelo Canal Combate (PPV).

A criação e o desenvolvimento do UFC auxiliaram o MMA mundial a se estabelecer como uma modalidade esportiva. No entanto, é importante dizer que, mesmo nos Estados Unidos, em 2014, ele ainda não era aceito em determinados estados como Connecticut, Vermont e Nova York (o único que interessaria à Zuffa).

A rigor, os nova-iorquinos podem ir com facilidade aos eventos realizados na vizinha Nova Jersey, portanto trata-se mais de uma conquista simbólica. Chegar à cidade mais cosmopolita dos Estados Unidos, e, para muitos, do mundo, é um sonho acalentado desde a criação do torneio (AWI, 2012, p. 297).

Ao que tudo indica, o maior entrave para que Nova York pudesse receber os eventos de MMA era a Câmara Legislativa do estado, do qual fazia parte o deputado democrata Bob Reilly que sustentava que o MMA contribuía para o aumento da violência e que era uma imagem negativa para os nova-iorquinos, sobretudo para as crianças. A Zuffa move um processo judicial contra o estado, justificando que a proibição é um atentado contra a liberdade constitucional americana.

No Brasil, não há proibição quanto à prática do MMA. No entanto, há um Projeto de Lei que tenta vetar a transmissão das “lutas marciais” na televisão (PL 5534/2009, de autoria do Deputado José Mentor, PT-SP). Esse PL, em janeiro de 2015, encontrava-se apensado no PL 5269/2001 e aguardava parecer da Comissão de Constituição e Justiça, Comissão de Esporte e Turismo, Comissão de Ciência e

Tecnologia, Comissão de Seguridade Social e Família para, se aprovado, seguir para votação no Congresso Nacional.

No documento DOUTORADO EM PSICOLOGIA SOCIAL (páginas 52-58)