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2.1 As transformações das escolas técnicas federais

2.1.3 A criação dos Institutos Federais: de 2008 à atualidade

Na configuração da educação técnica e profissional na atualidade, resultado do processo de transformação, expansão e desenvolvimento desta modalidade educacional, mediante a edição da Lei nº 11.892/2008 que reorganizou todo o sistema de educação profissional, a RFEPCT passou a contar com os 38 IF, dois CEFET, com a UTFPR, com o Colégio Pedro II e com as escolas técnicas remanescentes vinculadas às universidades.

Considerando-se esse contexto, Gouveia (2016) pondera que a RFEPCT “apesar das contradições contidas em seu resultado, sua natureza é modernizante conservadora. Seu compromisso se vincula aos interesses mais imediatos do capital, apesar de ampliar o acesso ao ensino profissional mesmo que de forma dual [...]”. No entanto, apesar das controvérsias presentes em sua história, é notório que esta recente fase de expansão da educação técnica e profissional - construção de mais de 500 novas unidades entre 2003 e 2016 - possibilitou a ampliação da oferta de cursos de qualificação, de ensino médio e técnico integrados, de cursos superiores de tecnologia, graduação e licenciaturas, bem como de pós-graduação, possibilitando também a ampliação do número de vagas e de acesso.

Segundo Pacheco (2010), a criação dos IF ressalta a valorização da educação e das instituições públicas, bem como dá visibilidade à atual política educacional para a RFEPCT. A educação profissional e tecnológica passou a ser fundamental para a construção de uma nação soberana e democrática, considerada estratégica para o desenvolvimento econômico e tecnológico nacional, bem como fator para fortalecimento do processo de inserção cidadã de milhões de brasileiros. Trata-se, portanto, de um projeto progressista que concebe à educação o papel de criadora, transformadora e enriquecedora de conhecimentos capazes de modificar a vida social e contexto local/regional.

2.1.3.1 O modelo multicampi dos Institutos Federais

A adoção do modelo multicampi por instituições educacionais tornou-se uma tendência na atualidade. Este modelo de estruturação institucional possibilita a universalização das

oportunidades de educação e de formação às microrregiões, contribuindo significativamente para reduzir disparidades regionais, principalmente, a respeito da concentração da oferta de educação nos grandes centros urbanos, o que deixava as regiões interioranas do país por vezes descobertas quanto da oferta de cursos e programas de formação nas diversas áreas.

O conceito de instituição multicampi é, basicamente, o de uma instituição que, sendo uma única pessoa jurídica, mantém mais de dois campi separados. Esse conceito é aplicável a instituições como hospitais, clínicas, institutos de ensino entre outras. O modelo multicampi tem como característica a equidade, desempenhando um importante papel no desenvolvimento regional. (BAMPI; DIEL, 2013, p. 2). Destaca-se que o modelo multicampi é uma modalidade que não se prende a um único espaço geográfico, bem como supõe algo além do número de campus ou sua localização territorial. “Isso quer dizer que as instituições multicampi não podem ser definidas apenas por seu modelo organizacional, mas concomitantemente pela sua inserção geográfica regional”. (NEZ, 2015, p. 1145).

O modelo multicampi implica ter, além de certo quantitativo numérico de unidades, uma diversidade de cursos - presenciais e em EaD -, certo grau de integração, administração descentralizada, uma práxis característica, uma identidade do projeto pedagógico dos cursos, uma organização orientada para maximizar os resultados e certa distância entre os campi. (BAMPI; DIEL 2013, p. 2). Quando essa estrutura é pensada e planejada numa perspectiva sistêmica, privilegiando a correlação dos seus elementos e centrada nas diretrizes, objetivos e finalidades da política de expansão da educação básica e superior aos locais de demandas, contribui com o desenvolvimento local e regional em termos sociais, culturais, educacionais, econômicos, políticos etc.

Apesar desse modelo ainda se apresentar em fase embrionária no contexto das universidades federais brasileiras, algumas propostas vêm sendo adotadas mais fortemente desde longa data em universidades públicas estaduais e em algumas instituições privadas. Nesse sentido, como favorecem a interiorização da educação, as instituições dessa tipologia devem integrar as características administrativas próprias, autonomia de recursos e particularidades acadêmico- científicas entre suas unidades, relacionando-as intensamente com o contexto regional onde se encontram inseridas. (NEZ, 2015).

No âmbito das universidades estaduais, ao contrário das universidades federais, por estarem presentes em diversas regiões dos estados brasileiros, exemplificam melhor esse modelo de arranjo institucional. De acordo com Fialho (20055 apud NEZ, 2015, p. 1142), quando da implantação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) a partir de 2008, “[...] cerca de 80% das universidades estaduais do País tinha esse modelo no período citado, o que correspondia a trinta e uma instituições”.

No âmbito do ensino técnico e profissional, um expoente de peso na perspectiva do modelo multicampi foi a criação dos IF. Conforme descrito no Art. 2º da Lei nº 11.892/2008, os IF são instituições de educação multicampi que possuem natureza jurídica de autarquia, bem como são dotadas de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar. Com a concretização pelo MEC da construção de mais de 500 novas unidades referentes ao plano de expansão da educação profissional, a RFEPCT vivenciou sua maior expansão entre os anos 2003 e 2016. Hoje são 38 IF presentes em todos estados do Brasil, oferecendo cursos de qualificação, ensino médio e técnico, cursos superiores de tecnologia, graduação e licenciaturas.

Conforme pondera Pacheco (2010), a atual RFEPCT, por seu vínculo com a sociedade produtiva, representa a protagonização de um projeto político-pedagógico inovador, progressista e capaz de construir novos sujeitos históricos aptos à inserção no mundo do trabalho, bem como capazes de compreensão e transformação do seu meio, no sentido da construção de um novo mundo.

Na busca de sintonia com as potencialidades de desenvolvimento regional, os cursos dos IF devem alinhar-se às demandas regionais e locais, mediante audiências públicas e processos de escuta às representações sociais. Considerando-se esse aspecto, o modelo de estruturação multicampi dos IF possibilitou o comprometimento e a efetivação da intervenção nas respectivas regiões onde atuam, identificando problemas e criando soluções para o desenvolvimento sustentável e com inclusão social.

Considerando-se o contexto multicampi, o que está posto para os IF é o desafio da formação de cidadãos como agentes políticos capazes de ultrapassar obstáculos, pensar e agir em favor

de transformações sociais desejáveis para a construção de outro mundo. Assim, na concepção dos IF vislumbrou-se articular num todo homogêneo trabalho-ciência-tecnologia-cultura na busca de soluções para os problemas de seu tempo, aspectos estes que devem estar em movimento e articulados ao dinamismo histórico das sociedades. Nessa perspectiva, conforme análise de Pacheco (2010), objetiva-se que os IF sejam um marco nas políticas educacionais brasileiras, bem como a representação do desafio a um novo caminhar na produção e democratização do conhecimento.

A biblioteca como espaço de aprendizagem, na concepção desse e de outros objetivos, tem um importante papel a cumprir, principalmente, no que se refere à construção do conhecimento. Portanto, na consecução dos objetivos escolares é importante que haja uma interlocução entre a biblioteca e as forças escolares, de forma que a formação plena dos sujeitos seja o foco principal de todo o processo de aprendizagem no ensino técnico e profissional, portanto, também compromisso a ser assumido pela biblioteca.

2.2 As bibliotecas no âmbito multicampi dos Institutos Federais: abordagem sistêmica,

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