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2.2 As bibliotecas no âmbito multicampi dos Institutos Federais: abordagem sistêmica,

2.2.1 A abordagem sistêmica das bibliotecas

Segundo Cunha (1977), desde fins da década de 60 já se preconizava no contexto brasileiro a constituição de um sistema de informação para organização e administração de serviços públicos. Conforme o Decreto-Lei nº 200/67 em seu artigo 30:

Serão organizadas sob a forma de sistema as atividades de pessoal, orçamento, estatística, administração financeira, contabilidade e auditoria, e serviços gerais, além de outras atividades auxiliares comuns a todos os órgãos da Administração que, a critério do Poder Executivo, necessitem de coordenação central.

No contexto educacional, o sistema de bibliotecas começou a ser abordado à época da reforma universitária com a promulgação da Lei 5.540/686. Segundo Lima (1977), esta lei estabeleceu as finalidades do ensino superior no Brasil, onde as universidades deveriam realizar atividades de ensino, pesquisa, pós-graduação e extensão. No curso desse processo, a biblioteca também passou por transformações, a fim de acompanhar o desenvolvimento universitário. Seu papel foi o de oferecer fontes de informação para suporte ao ensino, pesquisa e extensão. Isso

implicou, também, em novos conceitos e serviços bibliotecários em acordo às finalidades do ensino superior.

A ideia de sistemas aplicáveis à Biblioteconomia e à Documentação se cristalizou como instrumento de trabalho de grande potencial porque mobiliza todos os recursos das bibliotecas e centros de informação. Conforme considerações de Cunha (1977, p. 36),

Assim, falar em sistema para racionalizar a indústria da informação, seria esquematizá-la como modelo de integração vertical e, portanto, de forma hierárquica dentro dos limites das organizações e dos serviços existentes ou planejados, de qualquer grandeza, e nos quais a ênfase recai mais nos recursos internos, de um extremo a outro, do que nas relações externas. Os contatos, recíprocos ou não, entre tais sistemas ou entre bibliotecas ou entre bibliotecas isoladas constituem as redes – integração horizontal – e, por conseguinte, a essência da cooperação ou interdependência.

Independentemente do nível de ensino, se escolar ou universitário, o objetivo do sistema de bibliotecas é coordenar tecnicamente suas unidades, com a finalidade de normalizar os processos técnicos de formação, organização e utilização do patrimônio bibliográfico. Tais objetivos devem ser planejados em consonância com as finalidades e objetivos da escola, considerando sua missão educativa.

Ainda de acordo com Cunha (1977), a composição vertical dos sistemas não tem um modelo formal aplicável a qualquer caso ou circunstância, isto do ponto de vista teórico. Assim, cada sistema exigiria uma ação legislativa/normativa e mecanismos de administração de maior ou menor complexidade, conforme as peculiaridades de cada unidade geográfica ou de acordo com o consenso dos setores interessados. Nesse sentido, a autora diz que há alguns requisitos básicos a cumprir: formulação de uma política da informação; fixação de normas diversas aplicáveis a setores diversificados do trabalho de organizar documentação; facilidades de telecomunicação como requisitos implícitos às redes e sistemas; recursos humanos adequados; redução de custos como requisito ao desenvolvimento de sistemas e redes.

Na visão de Camurça, Araújo e Morais (2013), a criação do sistema integrado de bibliotecas “objetiva o funcionamento sistêmico e padronizado dos serviços e procedimentos das bibliotecas, a fim de promover o acesso, a disseminação e o uso da informação dentro de uma gestão da informação focada na qualidade”. Assim, cabe aos gestores das bibliotecas pensar e organizar os serviços informacionais na perspectiva da integração com os elementos

organizativos do ensino presentes na instituição onde se inserem, de modo que o sistema de bibliotecas possa responder adequadamente à missão e aos objetivos para os quais fora criado.

No contexto educacional brasileiro existem inúmeros sistemas de bibliotecas, compreendendo as bibliotecas públicas, as bibliotecas escolares e universitárias. No âmbito das bibliotecas públicas, cita-se a criação em 1992 do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), órgão instituído pelo Decreto Presidencial n° 520/19927 em substituição ao antigo Instituto Nacional do Livro (INL). Coordenado pela Biblioteca Nacional, o SNBP trabalha de maneira integrada e articulada aos sistemas de bibliotecas estaduais e municipais, respeitando-se o princípio federativo que rege as relações dos entes federados. O objetivo do SNBP é fortalecer as ações e estimular o trabalho em rede e colaborativo das bibliotecas públicas, primando pelo diálogo, transparência, responsabilidade e estímulo ao controle social.

Já no contexto do ensino superior, os sistemas de bibliotecas funcionam como órgãos complementares das universidades. Entre suas finalidades e objetivos destacam-se: suporte às atividades de ensino, pesquisa e extensão; definição de políticas de desenvolvimento dos diferentes acervos que compõem as diferentes bibliotecas universitárias; controle, disseminação e acesso à informação e à produção técnico-científica; promoção do intercâmbio de experiências e acervos etc.

Quando se falou em abordagem sistêmica no âmbito das bibliotecas universitárias, a centralização e a descentralização eram temáticas recorrentes. Num primeiro momento a centralização foi a opção considerada, tendo como objetivo a criação de uma política global para nortear o planejamento das atividades bibliotecárias, bem como normalizar os processos técnicos de formação, organização e utilização do patrimônio bibliográfico universitário e a dotação orçamentária para aquisição de acervo. As variáveis acerca do grau de centralização dos sistemas de bibliotecas são referentes a: idade das bibliotecas do sistema, as distancias entre as unidades de ensino e as bibliotecas, o volume de recursos disponíveis etc., tudo de forma a impor uma certa racionalidade ao processo decisivo. (MIRANDA, 2004).

7 BRASIL. Decreto nº 520, de 13 de maio de 1992. Institui o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e dá

outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 13 maio 1992. Disponível em:

Em se tratando das escolas técnicas federais, os sistemas de bibliotecas, apesar de incipientes, não podem ser concebidos do mesmo modo que no contexto universitário, em virtude da autonomia das unidades escolares e das especificidades e demandas advindas da diversidade de sujeitos presente nas formações básica, profissional e superior. No entanto, as motivações para a criação desses sistemas incluem as mesmas finalidades apresentadas no contexto universitário, bem como visam os mesmos objetivos quanto à gestão e utilização dos recursos materiais e informacionais que formam o acervo das bibliotecas dessas instituições.

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