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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

2.3 A criação do modelo em São Paulo

Os conceitos da reforma se irradiaram pelos estados e municípios possibilitando um modelo de gestão mais apropriado para a tarefa de superar os desafios de uma administração pública burocratizada e permeada por entraves administrativos, o que veio ao encontro de uma demanda mais participativa por parte da sociedade.

Há uma adesão generalizada à onda de modernização que vem implantando em alguns setores da administração pública partes da reforma proposta no Governo Federal do presidente Fernando Henrique Cardoso, e que, contudo, não parece fazer parte de um projeto mais amplo de reforma do Estado, mas sim uma alternativa de gestão (SANO, 2003). Apesar de a maioria das experiências dos governos subnacionais não estar focada na reforma de Estado como um todo (INSTITUTO PUBLIX, 2009), as parcerias firmadas bem como os resultados alcançados parecem ser maiores do que o ocorrido no próprio Governo Federal. A cidade de Curitiba foi pioneira em aprovar, ainda em 1997, a lei sobre as

Organizações Sociais, destinada a entidades que atuam na área social (SANO, 2003), sendo o estado do Ceará o primeiro a implantar um equipamento cultural nos moldes do modelo de OS – Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, datado de 1999. Outro desses casos corresponde ao Governo do Estado de São Paulo: “novos modelos de gestão” era uma constante no discurso governamental já há algum tempo buscando alternativas para atender devidamente não só a área cultural vinculada à administração direta, mas, principalmente, a área da saúde.

A Secretaria de Estado da Saúde (SES) vinha testando, com algum sucesso, modelos alternativos de gestão em sua rede de hospitais desde as décadas de 1970 e 1980, “mas os resultados alcançados não foram tão promissores” (GOMES, 2005 p.167). Ainda segundo Gomes (2005), com as mudanças legais no início dos anos 1990, os mecanismos utilizados até então começaram a ser questionados por não possuírem o grau de eficiência necessário para suprir as demandas. Tão logo a construção de um novo conjunto de hospitais se concluía, sobrevinha a necessidade, ainda mais premente, de torná-lo operacional, com equipamento e equipe, evidenciando então uma incapacidade praticamente instituída para suprir carência tão básica, o que suscitou críticas contra a morosidade da administração direta e sua falta de recursos, e acabou orientando a busca por modelos alternativos “mais promissores” (SANO, 2003). Assim, surgiu o modelo de Organização Social na saúde em São Paulo, no final da década de 1990, logo após a aprovação da legislação federal.

Na área cultural também se buscava novos caminhos para minimizar os efeitos da rigidez da administração pública, do engessamento burocrático, da escassez de pessoal qualificado, da dificuldade em planejar e mensurar os resultados de políticas públicas traduzidas em aparelhos e projetos. E também no final da década de 1990 iniciou-se um processo visando a melhoria da área da cultura, a começar pelo aumento do orçamento destinado à pasta, tendo em vista inclusive a existência de projetos mais ousados e modernos já sendo implantados, precisando portanto de novos e melhores mecanismos de gestão.

Segundo a então Secretária da Cultura, Cláudia Costin (2001), não seria adequado tratar da mesma maneira a Receita Federal e a cultura; os procedimentos burocráticos e as ações dos tecnocratas do tesouro transferidos para a área cultural, ainda que não fossem desastrosos, dificilmente culminariam em bons resultados. Mas apesar da pertinência do argumento, o cerne dessa firmação se referia de fato à questão da própria constituição da equipe da Secretaria de Estado da Cultura (SEC), com mais funcionários contratados em regime temporário – os “credenciados” – sem vínculo empregatício, do que funcionários

públicos de carreira. O governo, tendo lançado mão de tal prerrogativa para suprir a força de trabalho deficitária em diversos setores, dentre os quais a cultura, foi posteriormente questionado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) que, ante a visibilidade e a complexidade do assunto, optou afinal por firmar um Termo de Ajuste de Conduta (TAC)45 com a secretaria, em dezembro de 2002.

Contudo, à despeito da situação, o Projeto de Lei (PL) para a criação das Organizações Sociais foi encaminhado à assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) referindo- se somente à área da saúde – “a inclusão da área da cultura foi, [...] de acordo com o deputado46, uma concessão que o governo fez durante a tramitação do Projeto” (SANO, 2003 p.97).

Isso não significa que a Secretaria de Estado da Cultura não estava discutindo o assunto; ao contrário, a pasta também buscava alternativas para a gestão cultural – em especial no caso da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), com turnês nacionais e internacionais – quando, de fato, nesse momento as principais discussões e alterações no Projeto já haviam ocorrido.

Este é um dos motivos pelos quais a lei é mais consistente e específica para a área da saúde do que para a da cultura. Como exemplo de emendas e modificações introduzidas no debate que levaram ao aperfeiçoamento do modelo na área da saúde, há a exigência legal de entidades com experiência prévia comprovada de cinco anos para assumir uma Organização Social (OS) da saúde, ou ainda a exigência de os hospitais somente atenderem ao Sistema Único de Saúde (SUS) e não mais a convênios particulares, conforme a proposta inicial.

Há pouca informação na literatura e na mídia sobre a inclusão da cultura no Projeto de Lei das Organizações Sociais, o que dá a entender que se tratou de um processo muito rápido.

Em 1998 foi sancionada a lei47 que autoriza a qualificação de entidades como Organização Social na área da saúde e da cultura, que, posteriormente, contou com mais três

45

Termo este com prazo de um ano, posteriormente prorrogado na gestão de Batista; segundo o TCE [...] ti ha o o objetivo fixar obrigações de fazer e não fazer visando adequar o provimento de cargos e e p egos … .

46

Milton Flávio, Deputado Estadual pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), responsável pela condução do projeto das Organizações Sociais dentro da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

47

decretos48 específicos.

Os mecanismos de controle para as Organizações Sociais no Estado de São Paulo estão previstos na Lei Complementar a qual inclui órgãos de fiscalização do próprio governo – “todos os órgãos que controlam a AD olham as OS, não tem diferença nenhuma” (Secretário Adjunto). A Secretaria da Cultura fiscaliza a execução do contrato de gestão por meio da área correspondente e os resultados atingidos são analisados periodicamente por uma Comissão de Avaliação da Execução dos Contratos de Gestão das Organizações Sociais da Área da Cultura49 indicada pelo próprio Secretário da pasta. Essa Comissão encaminha relatório conclusivo ao Secretário e à Assembleia Legislativa do Estado; o balanço e demais prestações de contas da Organização Social devem ser publicados no Diário Oficial do Estado (DOE), analisados pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo anualmente e auditados pela Secretaria da Fazenda, estando ainda previsto no contrato de gestão uma auditoria anual com empresa de auditoria externa.