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Capítulo 1 O Museu Nossa Senhora Aparecida Período de 1956 a 1996

1.1 A criação do Museu

O Museu Nossa Senhora Aparecida foi fundado pela professora e historiadora Conceição Borges Ribeiro Camargo5 em 08 de setembro de 1956. Na ocasião da

inauguração, o acervo inicial foi abrigado em duas salas nas Oficinas Gráficas de Arte Sacra (Figura 1), no Convento das Irmãs Canisianas, que vieram da Suíça em 1951 para criar o primeiro Convento da Congregação das Irmãs de São Pedro Canísio, em Aparecida (SP), e cooperar com o apostolado da Boa Imprensa, a pedido dos Missionários Redentoristas (ECOS MARIANOS, 1957).

5 Conceição Borges Ribeiro Camargo, professora e pesquisadora, filha do português Jaime Ribeiro e

da aparecidense Julieta Borges Ribeiro, nasceu em 05 de setembro de 1914, em Aparecida (SP). Casou-se com Vicente Camargo, após a fundação do Museu Nossa Senhora Aparecida. Fez parte de vários movimentos culturais e cívicos na região do Vale do Paraíba e foi uma personagem muito ativa no resgate e salvaguarda dos objetos arqueológicos encontrados durante escavações no município de Aparecida (SP).

Na inauguração do Museu Nossa Senhora Aparecida (Figura 2) esteve presente Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, Cardeal Arcebispo de São Paulo, que veio especialmente para a solenidade. Também estiveram presentes o Dr. Luís Silveira, representante da Fundação Casper Líbero, Sr. Manoel Alves Nunes, vice-prefeito de Aparecida, Dr. Manoel Eduardo Pereira, Juiz de Direito, o Padre José Ferreira da Rosa, Vigário da Basílica, o Prof. André Alckmin Filho, Prefeito de Guaratinguetá, o Sargento Aristeu de Oliveira, que dirigiu a fanfarra do Ginásio Municipal com vibrante marcha, acompanhados por diversos sacerdotes, Missionários Redentoristas do município de Aparecida (SP).

Ao descerrar a fita simbólica, o Cardeal Motta deu sua bênção ao salão da exposição e “percorreu com atenção e interesse as duas salas, ouvindo as explicações da organizadora, ressaltando o valor dos documentos históricos e das peças de cerâmica indígena local” (ECOS MARIANOS, 1957, p. 40).

Figura 1: Convento das Irmãs Canisianas, Aparecida (SP).

O Jornal A Gazeta, de 25 de setembro de 1956, também fez uma publicação referente à inauguração do Museu Nossa Senhora Aparecida.

Em duas salas gentilmente cedidas pelas Irmãs Canisianas foi inaugurado, em Aparecida, pelo Cardeal Motta, arcebispo de São Paulo, o Museu Nossa Senhora Aparecida.

Depois de longa preparação a fundadora do Museu, d. Conceição Borges Ribeiro viu realizado o seu sonho de muitos anos. Nas duas salas - habilmente montadas - estão reunidas peças de raro valor histórico-profano e religioso e que foram recolhidas em Aparecida e nos arredores. Ali está o primeiro oratório de Nossa Senhora Aparecida - talvez a peça mais preciosa. Vêm-se imagens de santos, moldadas pela arte popular do Vale do Paraíba do qual é representante o célebre "Chico Santeiro". Também estão expostos candelabros e objetos da antiga capela, quadros e fotocópias de documentos antiquíssimos etc.

A parte profana é representada por machadinhas, igaçabas e objetos de cerâmica indígena, encontrados no Vale do Paraíba. Utensílios diversos de uso doméstico tais como rocas, lampiões antigos, vasilhames, etc. e também uma pesada algema de atar o pulso dos escravos estão expostos no Museu. (A GAZETA, 1956)

Figura 2: Inauguração do Museu Nossa Senhora Aparecida nas Oficinas Gráficas de Arte Sacra - Convento das Irmãs Canisianas, 1956.

Fonte: MNSA/Santuário Nacional.

Após a leitura da ata, seguindo-se vários oradores, entre eles o Professor José Luiz Pasin, Presidente do Centro Cultural de Estudos e Debates “Eduardo Prado”, Doutor José Mauro da Silveira e o Padre Doutor José Vicente Cesar, Diretor da Anthropos do Brasil, o Cardeal Motta, acompanhado de seu secretário, padre

José Alves Motta Filho e do Prof. Luiz Silveira, diretor da escola de jornalismo Casper Líbero, proferiu um discurso exaltando o valor do Museu por sua finalidade cultural, ao dizer que:

Cultivar as tradições de um povo é como alimentar as raízes de uma árvore; quando queremos cuidar de uma planta, não são os galhos, as flores e as folhas que merecem a nossa atenção e sim as raízes; as tradições são como as raízes da árvore nacional, quer as religiosas quer as cívicas. (ECOS MARIANOS, 1957, p. 40)

Em relação ao acervo indígena, o Cardeal Motta fez referência à nossa formação étnica, relacionando as origens portuguesas e americana indígena, que contribuíram para a formação do sangue brasileiro. Em seu discurso, Cardeal Motta complementa que “os índios não têm tido quem lhes advogue as tradições e é uma gloriosa nota de brasilidade e de tradição indígena do Vale do Paraíba a que o Museu imprime em sua organização” (A GAZETA, 1956).

Ao concluir seu pronunciamento, o Cardeal Motta “pediu bênção a Nossa Senhora para que mais tarde o museu atinja plenamente o seu objetivo, alargando- se em todas as suas seções, para a glória do futuro desta pequena grande cidade de Aparecida do Norte” (ECOS MARIANOS, 1957, p. 40; PASIN, 2016. p. 2).

A partir desse discurso do Cardeal Motta, conforme reproduzido pela Profa. Tereza Pasin no evento em comemoração aos 60 anos do Museu Nossa Senhora Aparecida, podemos relacionar os conceitos de tradição, povo, enraizamento e civismo, que são evidentes no pronunciamento, reforçando a ideia de que o museu é um local para se estudar as tradições da sociedade por meio de seus artefatos.

Nesse contexto, de acordo com Rússio6 (s.d.apud BRUNO, 2010. p. 76),

Preservar o artefato das mãos do Homem é documentar a longa trajetória do seu evolver, estudando-lhe as raízes e o devir: documentação e estudo que se podem fazer, ora universalizando tal evolver, ora particularizando-lhe características nacionais ou regionais, ou fazendo-lhe cortes cronológicos, ou dando-lhe unidade sob tais ou quais aspectos. Isso equivale a manter a memória do processo evolutivo do Homem, uma dura e penosa conquista do ser racional e emotivo. Isso equivale, também, a possibilitar visões prospectivas, pontes para o futuro, a partir do estudo das raízes do passado.

Ainda segundo a autora, a principal tarefa do museu é registrar, portanto, os aspectos da trajetória do homem, podendo ser variáveis os recursos de comunicação adaptados à época. Desta forma, o museu irá variar de acordo com a sociedade, quanto à forma e aos seus meios.

6 RÚSSIO, Waldisa. Museu, para quê? (A necessidade da arte). s.d. Acervo: Instituto de Estudos

Para Hugues de Varine (2012, p. 40), “o patrimônio sempre foi um elemento essencial da identidade local, regional, nacional”. Já Mário de Andrade (1993, p. 7) argumenta que “a religião está na gênese de todas as civilizações e culturas, das mais antigas às mais recentes. Somos tão recentes, que sequer ultrapassamos a infância cultural; mesmo assim, agimos como se desfigurados pela herança das tradições, usos e costumes [...], a fim de encontrarmos a própria identidade”.

Outro fator importante para análise é a função social do museu, a qual Hugues de Varine (2008, p. 12) questiona a visão do museu sobre seu papel e se a sociedade os considera como meios de desenvolvimento ou apenas um local de consumo cultural.

Deste modo, para Gonçalves (2005, p. 271), “não basta dizer que os museus representam identidades nacionais, identidades étnicas, religiosas, etc. É preciso responder por que essas representações feitas por meio de objetos materiais continuam a exercer sua magia e a despertar fascínio nas pessoas”.

Em relação aos locais de funcionamento do Museu Nossa Senhora Aparecida, ao longo dos anos, as coleções foram abrigadas em diversos locais na cidade de Aparecida (SP). A primeira localização e local de inauguração, conforme mencionado anteriormente, foi no prédio das Oficinas Gráficas de Arte Sacra, na rua Dr. Oliveira Braga nº. 80, em Aparecida (SP).

O aspecto externo das Oficinas Gráficas de Arte Sacra (Figura 3), no Convento das Irmãs Canisianas, revela as fases de contrução realizadas em momentos diferentes: a parte central foi construída em 1920; o edifício à esquerda, em 1926, e o edifício à direita, em 1937.

Figura 3: Aspecto externo das Oficinas Gráficas de Arte Sacra, onde o Museu foi instalado.

Fonte: Ecos Marianos, 1938, p. 9. CDM/ Santuário Nacional.

Após um ano da inauguração (Figuras 4 e 5), verificamos que o Museu já necessitava de um novo local para instalação, conforme publicação do Jornal Santuário de Aparecida de 08 de dezembro de 1957, ao referenciar:

Alguns dos muitos objetos e peças de museu que a professora Conceição Borges Ribeiro vem colecionando há muitos anos. [...] Seria ótimo se tais e tantos objetos fossem dispostos num museu definitivo. Seria mais um ponto de atração para nossos romeiros e visitantes. É uma sugestão que fazemos às nossas autoridades. (SANTUÁRIO DE APARECIDA, 1957, p. 8).

Figura 4: Aspectos internos da primeira Exposição do Museu Nossa Senhora Aparecida, em duas salas nas Oficinas Gráficas de Arte Sacra.

Fonte: MNSA/ Santuário Nacional.

Figura 5: Aspectos internos da primeira Exposição do Museu Nossa Senhora Aparecida, em duas salas nas Oficinas Gráficas de Arte Sacra.

Dois anos depois, em 1958, o Museu incorpora-se ao Centro Social Redentorista, pertencente à Congregação do Santíssimo Redentor, de acordo com a informação publicada no Jornal Santuário de Aparecida, de 09 de novembro de 1958, "o museu, incorporado ultimamente ao ‘Centro Social Redentorista’, contém peças de alto valor artístico: santos de madeira, pinturas, objetos antigos. Além de outras coisas dignas de nota, apresenta ao visitante uma reconstituição do milagre do encontro da virgem milagrosa" (SANTUÁRIO DE APARECIDA, 1958, p. 1).

Posteriormente, em 1961, por meio de uma parceria citando a doação do acervo, os organizadores do Museu, com apoio da Congregação do Santíssimo Redentor, constroem um salão na Galeria do Hotel Recreio, pertencente também à Congregação, para instalação do Museu.

O Hotel Recreio era localizado na Praça Nossa Senhora Aparecida, ao lado da Basílica Velha (Figura 6), sendo possível identificar a entrada do Museu à esquerda do prédio, assim como um grande letreiro na parte superior, indicando a Sala dos Milagres.

Figura 6: Museu Nossa Senhora Aparecida localizado na Galeria do Hotel Recreio.

Fonte: Leilão de Arte Brasileira. Disponível em:

<http://www.leilaodeartebrasileira.com.br/peca.asp?ID=110800&ctd=89&tot=&tipo=20&artista=>. Acesso em: 18 nov. 2018.

Nessa época, além de o Museu estar localizado na Galeria do Hotel Recreio, também havia outros agrupamentos de objetos materiais, entre eles um Museu de Cera, ao qual a Profa. Conceição Borges demonstra não ser muito favorável, de acordo com as correspondências entre ela e membros do clero7.

Guido Machado Braga8, acrescenta que na Galeria do Hotel Recreio havia

também na época um Museu de Egiptologia.

[...] era particular. As pessoas, os dois artistas eram irmãos, eles alugaram o espaço e montaram com réplicas perfeitíssimas de peças egípcias, inclusive sarcófagos, múmia, eles que fizeram, eram artistas, uma pena que foi embora, acabou. (BRAGA, 2017, informação verbal).

Próximo ao Museu havia também a Sala dos Milagres, que inicialmente surgiu no interior da Basílica Velha, depois foi instalada em prédio próprio ao lado esquerdo da Basílica (Figura 7), conforme podemos observar no texto a seguir, publicado em 1927, na primeira edição do Almanaque de Nossa Senhora Aparecida - Ecos Marianos:

Ao lado da Basilica, em predio proprio, acha-se uma vasta sala a que quasi todos os romeiros fazem demorada visita e que é chamada “Sala dos Milagres”.

As paredes desta sala estão, até o tecto, cobertas de photographias. São muitas centenas de photographias que ahi se vêm, de pessoas de todas as idades e condições e de familias inteiras. Entretanto, a sala não é uma exposição de retratos, é antes uma galeria de devotos de N. Senhora Apparecida.

Muitos devotos de N. Senhora que della alcançaram algum favor extraordinario, offerecem-lhe seo retrato com uma dedicatoria cheia de agradecimentos e muitas vezes realmente commovedora. Outras pessoas que desejariam permanecer sempre aos pés de tão boa Mãe, deixam-lhe seo retrato, para continuarem a estar ahi ao menos em effigie e para se mostrarem publicamente servos e devotos da Virgem Maria.

Porém, não são apenas photographias que se veem na Sala dos Milagres; Ha ahi um grande quadro que representa a solemne Coroação da Imagem milagrosa de N. Senhora, ha ex-votos de cera, ha a corrente que cahiu do pescoço do escravo, ha numerosas muletas offerecidas em acção de graças.

Destacam-se entre os quadros as reproducções de factos extraordinarios em que claramente se viu a intervenção misericordiosa da Virgem Apparecida.

7 CAMARGO, C. B. R.; CAMARGO, V. [Carta] 16 set. 1967, Aparecida [para] ROSA, J. F., Aparecida.

1f. Apresentação de propostas para o problema de instalação de um Museu de Cera ao lado do Museu Nossa Senhora Aparecida.

8 BRAGA, Guido Machado. Entrevista concedida a Victor Hugo Barros e a Erica Andreza Coelho.

Alguns destes quadros são obra tosca de pintores improvisados que não se distinguem pela arte, mas simplesmente pelo desejo commovente de se mostrarem gratos e tornarem conhecida a bondade de N. Senhora. Embora o pincel não tenha sabido reproduzir os sentimentos da alma, estes adivinham-se e comprehendem-se.

Outros quadros são feitos por mão de mestre ou são photographias de uma reconstituição do facto no lugar e nas circumstancias em que se deu. (ECOS MARIANOS, 1927, p. 59-60).

Em 1958, a Sala dos Milagres foi transferida para a Galeria do Hotel Recreio, pois, com a criação da Arquidiocese de Aparecida, a sala ao lado da Basílica foi ocupada pela Cúria Metropolitana. Foi apenas em 1966 que a Sala dos Milagres se instalou no 1º andar da Torre da Basílica Nova de Nossa Senhora Aparecida, sendo transferida, definitivamente, ao subsolo da Basílica em 1974, conforme relato do padre Júlio Brustoloni sobre os percursos dos ex-votos, em seu livro História de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. A Imagem, o Santuário e as Romarias.

Como consta dos documentos, os ex-votos já eram depositados no altar da primitiva Capelinha do Itaguaçu. A maioria deles tinha relação com o milagre das velas e, por isso, se ofertavam velas e lâmpadas ou o óleo necessário para mantê-las acesas.

Poucos e bem simples eram os ex-votos de início, tornando-se mais numerosos com o crescer da devoção. Construída a primeira igreja em louvor de Nossa Senhora Aparecida, inaugurada pelo Pe. José Alves Vilella, em 1745, a Sala dos Milagres, Quarto dos Milagres no dizer dos documentos, e seu conteúdo foram transferidos para uma sala contígua do lado direito do presbitério. O número dos ex-votos cresceu tanto que, em 1810, eles se estendiam até nos cubículos das naves laterais da igreja. Em 1860, por testemunho do jornalista Augusto Emílio Zaluar, sabendo que os ex-votos invadiam a nave central e o coro da igreja. O mesmo afirmava mais tarde o Cel. Rodrigo Pires do Rio.

Em 1884, um repórter do jornal paulista ‘Correio Paulistano’ refere-se aos ex-votos que estavam pendurados nas paredes de toda a igreja em desordenada desordem. Na época, da antiga igreja só restava a nave central sobre a qual Monte Carmelo estava construindo a nova igreja, a atual Basílica Velha. Ao demoli-la, em 1886, os ex-votos foram transferidos para as tribunas esquerdas do presbitério da igreja em construção. Ali ficou a Sala dos Milagres até 1904.

Em 1904, quando os novos capelães, por motivo da festa da Coroação, fizeram nova pintura da igreja, transferiram-na para a tribuna da nave lateral esquerda, da qual possuímos foto. O acesso era pela porta da torre direita. No período entre 1886 a 1888, quando a Imagem Milagrosa ficou exposta na tribuna do presbitério, enquanto se concluía o corpo da igreja, os ex- votos ficavam quase que no mesmo recinto. Assim quem ia visitar a Imagem passava necessariamente pelas paredes cobertas de ‘milagres’.

Em 1913, houve nova transferência: a Sala passou para o grande salão, ao lado da sacristia da Basílica Velha, num antigo prédio que se situava onde está hoje a Sala de Reuniões, ao lado da atual Livraria Santuário.

Com as diversas mudanças, muitos ex-votos sugestivos e valiosos se perderam, mas era imensamente grande, ainda em 1925, quando o acima citado jornal ‘Correio Paulistano’ publicou uma página inteira sobre a Sala

dos Milagres. “A Sala está, diz o jornal, de alguns anos para cá, funcionando numa casa muito antiga, localizada ao lado da Basílica”. Após a instalação da Arquidiocese de Aparecida, em 1958, o local foi ocupado pela Cúria Metropolitana, e a Sala começou novamente sua peregrinação, agora já a caminho da Basílica Nova. Naquele ano, foi instalada, provisoriamente, num dos salões da Galeria do Hotel Recreio. Em 1966, parte dos ex-votos foi instalada no primeiro andar da Torre, permanecendo a outra na Galeria. Somente em 1974 é que toda a Sala dos Milagres desceu para o subsolo da Basílica Nova, onde, embora bem instalada, aguarda um lugar definitivo. (BRUSTOLONI, 1998, p. 131-133).

Esses agrupamentos de objetos materiais podem ser entendidos como museus ou embriões de museus e podem ter influenciado de certa maneira a própria formação de acervos e coleções do Museu Nossa Senhora Aparecida, pois alguns objetos encontrados em antigas fotografias da Sala dos Milagres atualmente estão incorporados ao acervo do Museu, como é o caso de uma grande pintura de Rosalbino Santoro, um pintor italiano, que reproduziu a cena da Coroação da Imagem de Nossa Senhora Aparecida ocorrida em 1904, a partir de uma fotografia da época, (observada na Figura 8).

Figura 7: Aspecto externo da Sala dos Milagres, à esquerda da Basílica Velha.

Figura 8: Aspecto interno da Sala dos Milagres.

Fonte: Ecos Marianos, 1927. CDM/ Santuário Nacional.

Segundo o artigo de Vittorio Cappelli (2014a, p. 13),

Mais tarde, em 1907, ele realizou uma pintura de grande formato, que representa a manifestação religiosa popular da Coroação de Nossa Senhora Aparecida, a coroação da Virgem, patrona do Brasil, ocorreu perto de Taubaté. Ainda hoje, a nova Basílica de Nossa Senhora Aparecida e o anexo Museu, dentro do qual é preservada a grande tela de Santoro, são um destino para uma incessante peregrinação de todo o Brasil (tradução nossa).

Ainda segundo o autor, em outro artigo para a revista Calabrese di Storia del ‘900, “na cerimônia de entrega da rica coroa, doada pela Princesa Isabel, o núncio apostólico participou com toda a igreja brasileira e o presidente da república Rodrigues Alves. Dois anos após a execução, em 1909, a grande pintura é colocada no Santuário” (CAPPELLI, 2014b, p. 47. Tradução nossa).

A obra de Rosalbino Santoro é datada de 1907, período em que o pintor vivia no município de Taubaté (SP). Atualmente, a pintura encontra-se em exposição no 1º andar da Torre Brasília e foi restaurada por Renato Rinaldi em 2004.

De acordo com Rússio9 (1981 apud BRUNO, 2010. p. 125),

A musealização não acarreta apenas a comunicação museológica. Ela acarreta uma valorização, uma ênfase sobre certos objetos. A musealização

9 RÚSSIO, Waldisa. A interdisciplinaridade em Museologia. Texto publicado em MuWoP

repousa em pesquisas prévias, na seleção dos objetos, na documentação, na direção, na administração, conservação e, eventualmente, na restauração. Essa musealização recobre, portanto, ações muito diferentes que dependem de domínios científicos muito diversos.

A partir desse argumento de Waldisa Rússio e do exemplo apresentado acima, é possível refletir sobre o processo de musealização ao se fazer uma análise sobre o modo como um objeto material - a Imagem de Nossa Senhora Aparecida -, acrescido de outro objeto, neste caso a coroa ofertada pela Princesa Isabel10,

passou de um ex-voto a acervo, considerando que a coroa foi ofertada como pagamento de uma promessa devido a uma graça alcançada.

É interessante notar que esse acervo se tornou uma iconografia, numa operação que incluiu um registro fotográfico do momento da Coroação da Imagem de Nossa Senhora Aparecida e, posteriormente, a criação de uma cena em pintura reproduzindo a fotografia, com conotações imateriais, que passou por um processo de musealização.

Posteriormente, em 1967, considerando o bom relacionamento entre os organizadores do Museu com a Arquidiocese de Aparecida, e mediante um convênio com o Santuário Nacional de Aparecida, o Museu Nossa Senhora Aparecida é transferido para o 2º andar da Torre Brasília, localizada no Santuário Nacional de Aparecida, Av. Dr. Júlio Prestes, s/nº, Ponte Alta, Aparecida (SP).

Conceição Borges Ribeiro Camargo e seu esposo Vicente Camargo assinam, portanto, em 30 de janeiro de 1967, um “Contrato de Doação”11 de todo o conjunto

que compõe o Museu, tendo como outorgada donatária a Sociedade Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida.

10 De acordo com o artigo de Conceição Borges Ribeiro Camargo, que relata a visita da Princesa

Isabel à Capela de Nossa Senhora Aparecida, em 6 de novembro de 1884, consta que "a Princesa

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