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Museu dos Ciclos Socioeconômicos do Vale do Paraíba

Capítulo 1 O Museu Nossa Senhora Aparecida Período de 1956 a 1996

1.3 Museu dos Ciclos Socioeconômicos do Vale do Paraíba

O Museu dos Ciclos Socioeconômicos do Vale do Paraíba, inaugurado no dia 20 de setembro de 1975, no 3º andar da Torre Brasília - Santuário Nacional de Aparecida, foi idealizado pela Profa. Conceição Borges Ribeiro Camargo e seu esposo Vicente Camargo, em parceria com o Prof. Paulo Camilher Florençano, do município de Taubaté (SP), com apoio do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, Arcebispo de Aparecida (SP), e autorização das autoridades eclesiásticas, para instalação do Museu na Torre do Santuário Nacional de Aparecida.

A Figura 52 retrata a inauguração do Museu dos Ciclos Socioeconômicos do Vale do Paraíba.

Figura 52: Inauguração do Museu dos Ciclos Socioeconômicos do Vale do Paraíba, 3º andar da Torre Brasília, 1975.

De acordo com o Convite de Inauguração (1975), o Museu foi inaugurado durante as comemorações do sesquicentenário do nascimento de Dom Pedro II, contando com a presença de Dom Pedro de Orleans e Bragança, conforme podemos observar no livro de assinaturas da inauguração (Figura 53).

Figura 53: Livro de assinaturas da inauguração do Museu.

Além de Dom Pedro de Orleans e Bragança, ao ato da inauguração diversas personalidades se fizeram presentes, como consta no jornal Santuário de Aparecida, de 05 de outubro de 1975:

[...] Se fizeram presentes: Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, Cardeal Arcebispo; Dom Antônio Ferreira de Macedo, Arcebispo Coadjutor; Sua Alteza o Príncipe Dom Pedro Gastão de Orleans e Bragança; Comendador Vicente de Paulo Penido, Prefeito Municipal e esposa; Professor Gentil Vian, vice-Prefeito; Professor Paulo Camilher Florençano, planejador do Museu e esposa; Doutor Ataliba Nogueira, ex-secretário da Educação; Comendador Elias Brisolla Ferreira, Presidente da Sociedade dos Amigos da Padroeira do Brasil; Comendador José Augusto César Salgado, da Academia Paulista de Letras; Doutor Francisco Assis Barbosa, da Academia Brasileira de Letras; Benevides Beraldo da Ordem dos Cavaleiros de São Paulo; Padre José Pereira Neto; Professor Agostinho Ramos, representando o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; Doutor Tácito R. de M. von Zangendonck; Prefeitos, autoridades e representantes de Fábricas do Vale do Paraíba e de entidades culturais de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. (SANTUÁRIO DE APARECIDA, 1975)

Segundo o manuscrito para divulgação do novo Museu, após as oratórias, ofertou-se uma imagem fac-símile de Nossa Senhora Aparecida a Dom Pedro de Orleans e Bragança, tendo sido entregue por aparecidenses descendentes dos componentes da Guarda de Honra de Dom Pedro I a caminho do Ipiranga, conforme relato a seguir, que foi manuscrito pela Profa. Conceição Borges Ribeiro Camargo.

Neste ano de 1975, em que se comemora o sesquicentenário do nascimento de Dom Pedro II, o Museu da “Basílica Nacional de Aparecida” assinalou o transcurso da efeméride inaugurando no dia 20 de setembro o Museu dos “Ciclos Sócio-Econômicos do Vale do Paraíba”.

Em frente à Nova Basílica, a Fanfarra do Ginásio La Salle saudou o Príncipe Dom Pedro Gastão de Orleans e Bragança, convidado de Honra e autoridades, com o Hino da Independência.

Tendo sido inaugurada uma placa comemorativa, os Diretores do Museu, Vicente Camargo e Professora Conceição Borges Ribeiro Camargo, receberam os convidados, tendo a Professora Conceição Borges saudado Sua Alteza Dom Pedro, lembrando as visitas da Princesa Isabel e do Conde d’Eu à antiga Capela de Aparecida.

Usou da palavra o Professor Paulo Florençano, planejador do Museu, apresentando-o.

Foram apresentados ao Príncipe Dom Pedro Gastão aparecidenses descendentes dos componentes da Guarda de Honra de Dom Pedro a caminho do Ypiranga e descendentes das jovens que no dia 6 de novembro de 1884 jogaram pétalas de rosas na Princesa Isabel, que em companhia de seu esposo o Conde d’Eu, visitaram Nossa Senhora Aparecida.

Da família aparecidense representada nesses descendentes, o Príncipe recebeu uma imagem fac-símile da verdadeira imagem de Nossa Senhora Aparecida, que no momento foi benzida por Sua Eminência o Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, bisneto do Visconde de Caeté, um estojo com placa de prata alusiva à inauguração, um ramalhete de rosas para a Princesa Dona Esperanza de Borbon de Orleans e Bragança.

Dom Antônio Ferreira de Macedo ofertou à Sua Alteza uma fotografia de seus pais, o Príncipe Dom Pedro de Alcântara Orleans e Bragança e Dona Maria Elisabeth que com sua filha Dona Francisca, vieram orar aos pés de

Nossa Senhora Aparecida. Ladeando os ilustres visitantes, o Vigário Padre Francisco Wand e o Padre Macedo hoje Arcebispo Coadjutor.

Dona Conceição Borges contou que a Nova Basílica está ao lado da Praça Princesa Isabel.

Em seu agradecimento o Príncipe fez alusão ao fato de a inauguração ter sido realizada no ano do sesquicentenário do nascimento de Dom Pedro II, evocando uma vinda em Aparecida com seus pais, sendo recebido no solar do Comendador Augusto Marcondes Salgado, após a Missa na Basílica. O Museu inaugurado no dia 20 de setembro está no 3º andar da Torre da Nova Basílica. (CAMARGO, s. d.).

Esse Museu foi classificado pelos seus organizadores como um Museu Histórico, Didático e Pedagógico, com o intuito de apresentar a história socioeconômica da região do Vale do Paraíba, numa sequência cronológica de ciclos, desde a chegada do colonizador até o desenvolvimento industrial.

Nesse contexto, o Prof. Paulo Camilher Florençano, que também atuou nos museus Casa do Bandeirante e Casa do Grito em São Paulo, realizou um trabalho inédito e pioneiro no Vale do Paraíba, ao aplicar técnicas de caráter didático e funcional para criação do Museu dos Ciclos Socioeconômicos do Vale do Paraíba.

De acordo com o jornal Santuário de Aparecida de 05 de outubro de 1975, a história era apresentada no Museu “através de painéis dispostos de modo a estabelecer “itinerário obrigatório” aos visitantes, sendo neles fixados textos suscintos, pinturas, mapas, roteiros, quadros (alguns absolutamente originais e criados especialmente para o museu), fotografias e reproduções de gravuras, objetos ligados à história”.

Além desses elementos visuais, havia objetos de grande porte contextualizando cada núcleo, bem como vitrines com acervos coletados, em sua maior parte, por Vicente Camargo, com o intuito de descrever a evolução do Vale do Paraíba.

Segundo a Profa. Conceição Borges, em manuscrito referente à História dos Ciclos Socioeconômicos, “o nosso tema é valorizar o Patrimônio Turístico das cidades valeparaibanas no circuito histórico social e econômico” (CAMARGO, 1992, p. 1).

Embora não seja possível fazer uma visita exploratória à exposição, conforme consta no Roteiro de observação para visitas a museus e exposições39, o acervo documental com parte do projeto expográfico, artigos de jornais e fotografias, são

referências para análise da exposição, que ficou aberta ao público entre os anos de 1975 a 1993.

De maneira geral, a exposição era organizada por núcleos que abordavam os seguintes temas e acervos: Ciclos da Subsistência, com trinta e oito peças; Ciclos do Bandeirismo, com trinta e cinco peças; Ciclos da Cana de Açúcar, com onze peças; Ciclos do Café, com sessenta e três peças; Ciclos da Economia Mista, com cinco peças, e o Ciclo Industrial, com duas peças. Totalizando cento e cinquenta e quatro peças em exposição no 3º andar da Torre Brasília.

A Figura 54 apresenta o texto de abertura da exposição, com características de uma ficha técnica, informando os nomes dos organizadores, o apoio oficial das autoridades eclesiásticas, assim como o planejamento e a elaboração dos textos, com sentido didático, desenvolvidos pelo Prof. Paulo Camilher Florençano, artista, historiador e museólogo.

Em relação à diagramação visual, foi realizada manualmente pelo pintor José Roberto dos Santos, sendo substituído posteriormente pelo pintor e professor Carlos Eduardo Murad, com auxílio do letrista Olavo Couto, responsável pela reprodução das etiquetas e textos produzidos pela Profa. Conceição Borges e o pelo Prof. Paulo Camilher Florençano.

Figura 54: Texto de abertura da exposição.

As Figuras 55, 56 e 57 são referentes ao Ciclo da Subsistência. De acordo com a Profa. Conceição Borges R. Camargo (1992), o Ciclo da Subsistência abrange o período de 1639 a 1680, compreendendo a lavoura de subsistência, caça, pesca e criação de gado e de suínos em pequena escala.

Conforme Devide (2013), as colônias agrícolas foram implantadas com o intuito de incentivar a produção de cereais e legumes. Nesse contexto, "a vocação agropecuária inicialmente foi baseada em culturas de subsistência localizadas nas rotas do ciclo do ouro" (DEVIDE, 2013, p. 11).

De acordo com Marcondes (1998), os bens de subsistência representaram parcela significativa da produção na região do Vale do Paraíba, porém grande parte dos bens era consumida na fazenda produtora, não chegando a ser comercializada.

A Profa. Conceição Borges R. Camargo (1992) acrescenta que, nessa época, no Vale do Paraíba havia moradores vindos de São Paulo, Mogi das Cruzes, Angra dos Reis, São Vicente e, principalmente, portugueses.

De acordo com a autora, nas primitivas fazendas utilizaram-se força braçal dos índios e, mais raramente, de escravos africanos. Com o passar do tempo, no século XVIII já havia três vilas na região do Vale do Paraíba, sendo elas: Taubaté, Jacareí e Guaratinguetá, assim como dois povoados ligados ao patrimônio religioso, Pindamonhangaba e Tremembé, além de dois aldeamentos indígenas, Nossa Senhora da Escada e São José.

Nesse contexto, de acordo com Marcondes (1998), este crescimento abriu oportunidades de acumulação de riqueza para uma parcela da população, considerando que os comerciantes e produtores rurais beneficiaram-se das transformações econômicas na região.

Para o autor, “as estradas e o crescimento agrícola também favoreceram a expansão do comércio e de uma rede de suporte para as tropas de passagem pela região” (MARCONDES, 1998, p. 26).

Ainda segundo o autor, "os bens de subsistência eram cultivados não apenas para o consumo próprio da família do agricultor e seus escravos e agregados, mas se comercializava o excedente na região” (MARCONDES, 1998, p. 47).

De maneira geral, a encruzilhada de caminhos contribuiu com o desenvolvimento da agricultura regional, considerando que o cultivo dos bens de subsistência também estava aliado à produção de exportação.

Nesse contexto, conforme Marcondes (1998), alguns cultivos permaneceram ao longo do período, sendo identificados como tradicionais produtos de subsistência, entre eles o milho, arroz, feijão e a farinha de mandioca, além do algodão e dos produtos exportáveis, como o fumo e aguardente.

Figura 55: Aspecto interno da exposição - Ciclo da Subsistência.

Fonte: MNSA/Santuário Nacional.

Figura 56: Aspecto interno da exposição - Ciclo da Subsistência.

Figura 57: Aspecto interno da exposição - Ciclo da Subsistência.

Fonte: MNSA/Santuário Nacional.

As Figuras 58, 59 e 60 são referentes ao Ciclo Bandeirista, dando início ao surgimento dos primeiros caminhos e povoamentos na região do Vale do Paraíba. Nesse sentido, os bandeirantes foram os precursores na configuração do espaço paulista.

De acordo com a Profa. Conceição Borges R. Camargo (1992), o mais expressivo roteiro bandeirista do século XVIII é o celebre Roteiro de Antonil - André João Antonil, que indica a trilha para a mineração. As vilas e povoados no Vale do Paraíba enviaram os bandeirantes em destino a Minas Gerais, tornando-os fundadores de futuras cidades para abastecimento dos núcleos, em virtude dos achados auríferos.

De acordo com Lima (2011), a "bandeira" pode-se relacionar a um costume tupiniquim, referido por Anchieta, ao levantar-se uma bandeira em sentido de guerra, mas também pode estar relacionada à partida de homens para aprisionamento e

escravização indígena ou, até mesmo, à maneira em que foram organizadas as incursões ao interior.

Segundo o autor, “seja para fins de reconhecimento, seja para combater e escravizar indígenas, seja para efetuar buscas a pedras e metais preciosos, interessa verificar o seu revestimento oficial ou não” (LIMA, 2011, p. 16). Pois, de acordo com o autor, houve o ciclo das entradas sertanistas e o ciclo das bandeiras, sendo o primeiro comandado oficialmente pela Coroa; já o segundo ocorreu espontaneamente por particulares, excepcionalmente paulistas.

Figura 58: Aspecto interno da exposição - Ciclo Bandeirista.

Figura 59: Aspecto interno da exposição - Ciclo Bandeirista.

Fonte: MNSA/Santuário Nacional.

De maneira geral, o Ciclo Bandeirista representa as expansões territoriais, em especial no interior paulista, em virtude dos escassos recursos naturais, com a necessidade de buscar alternativas econômicas além da agricultura para exportação, associada ao aprisionamento de índios, no sentido de avançar nas buscas por metais e pedras preciosas. Nesse sentido, o bandeirismo foi um fenômeno que buscou sustentar a crescente economia de São Paulo, oferecendo mão-de-obra para produção agrária e pecuária.

De acordo com Lima (2011), as bandeiras se configuravam como a nova dinâmica econômica e sociocultural, estando atrelada ao apresamento indígena. E mais, “o esforço dos colonos em manter o funcionamento da escravidão indígena, peça fundamental para a evolução produtiva da região, mostra o quanto se dependia desta instituição que, de fato, era o elemento de ligação com o sistema colonial de exploração" (LIMA, 2011, p. 30).

Figura 60: Aspecto interno da exposição - Ciclo Bandeirista.

Fonte: MNSA/Santuário Nacional.

As Figuras 61, 62 e 63 são referentes ao Ciclo da Cana-de-Açúcar. De acordo com a Profa. Conceição Borges R. Camargo (1992), aproximadamente entre os anos de 1780 a 1830, as fazendas situadas no Vale do Paraíba, que se destacam no roteiro histórico, passaram a se formar como unidade de importância econômica, cultivando a cana para produção de aguardente, açúcar, e este, deste modo geral, sob forma de rapadura. De acordo com a autora, considera-se que a vinda de escravos africanos tenha sido um dos mais importantes fatores de desenvolvimento econômico da região. Com isso, inicia-se a fase de expressão econômica do Vale do Paraíba, que pode ser observada por meio das obras de Debret e do pintor austríaco Thomas Ender.

De maneira geral, os fazendeiros que eram proprietários de engenho tornam- se personagens importantes para a política e administração do país. E, aos poucos, os aspectos urbanos vão se modificando, ampliando-se as residências com mais conforto e qualidade arquitetônica, assim como com a construção de igrejas. A autora também argumenta que, nesse período, o fator histórico e econômico era determinado pelo poder aquisitivo e teor cultural das famílias.

Figura 61: Aspecto interno da exposição - Ciclo da Cana-de-Açúcar.

Fonte: MNSA/Santuário Nacional.

Segundo Marcondes (1998), com a decadência da mineração, o desenvolvimento do cultivo da cana-de-açúcar apontava para uma situação distinta em São Paulo, considerando a expansão da produção de derivados da cana que se destinavam na maioria das vezes ao mercado interno brasileiro, especialmente para as Minas. De acordo com o autor, “os senhores de engenho possuíam recursos mais elevados do que os produtores de subsistência” (MARCONDES, 1998, p. 53). Entretanto, com o passar do tempo e início do cultivo do café, o autor acrescenta que,

Os produtores de derivados de cana-de-açúcar perderam a preponderância da exportação para os cafeicultores a partir da terceira década do século XIX. Contudo, verificamos uma certa permanência da importância da produção de derivados de cana-de-açúcar, não sendo abandonados em favor da rubiácea. [...] De fato, em 1829, a grande maioria dos produtores da cana-de-açúcar, que continuaram no seu cultivo, realizaram sua produção aliada à do café. (MARCONDES, 1998, p. 49).

Figura 62: Aspecto interno da exposição - Ciclo da Cana-de-Açúcar.

Fonte: MNSA/Santuário Nacional.

Figura 63: Aspecto interno da exposição - Ciclo da Cana-de-Açúcar.

Para Marcondes, a inauguração do Engenho Central, em 1884, foi o marco principal neste novo dinamismo da cana-de-açúcar. Todavia, "os montantes passíveis de inversão no cultivo do cafeeiro variavam de acordo com o porte do agricultor” (MARCONDES, 1998, p. 53).

As Figuras 64, 65 e 66 são referentes ao Ciclo do Café. De acordo com a Profa. Conceição Borges R. Camargo (1992), o Ciclo do Café trouxe ao Vale do Paraíba o seu esplendor econômico, formando uma aristocracia rural, composta também por Titulares do Império com diversos graus, tais como: Comendadores, Cavaleiros, Barões, Condes, Viscondes, que constituíram a base da sociedade do Vale do Paraíba.

De maneira geral, conforme Marcondes (1998), o cultivo do café assumiu papel fundamental no desenvolvimento econômico e demográfico na região do Vale do Paraíba durante o século XIX. De acordo com o autor, a introdução do cultivo do café condicionou-se pela existência prévia da atividade agrícola na região, seja de subsistência ou de exportação, baseando na cana-de-açúcar e no fumo (MARCONDES, 1998, p. 26).

Segundo Carrilho (2006, p. 60), “uma das áreas pioneiras de desenvolvimento da cultura do café teve origem no chamado Caminho Novo da Piedade”, ou seja, uma ligação terrestre entre as províncias de São Paulo e do Rio de Janeiro que foi aberta no século XVIII.

De acordo com o autor, o caminho iniciado a partir do município de Lorena (SP) dava sequência pelos municípios de Silveiras, Areias, São José do Barreiro e Bananal, prosseguindo na direção do Rio de Janeiro, passando por Rio Claro, São João Marcos e Itaguaí. O autor acrescenta que “esta região, conhecida como o “fundo do vale”, assistiu, durante o século XIX, a um vertiginoso processo de desenvolvimento, dando origem à formação de alguns dos mais ricos estabelecimentos de café daquele período” (CARRILHO, 2006, p. 60).

É preciso levar em consideração que a região, geograficamente falando, era favorável ao escoamento do café, por meio do município de Cunha (SP) com acesso aos portos em Paraty (RJ). Posteriormente, obtiveram-se maiores oportunidades de transporte do café, com a instalação de Estradas de Ferro.

Nesse contexto, conforme Marcondes (1998, p. 14), “embora grande número de povoações participasse desta atividade, a intensidade do cultivo do café

apresentou distinções significativas no espaço, tanto no seu volume de produção quanto na estrutura produtiva (porte dos cafeicultores)”.

Diante dessa perspectiva, segundo Marquese (2008), em 1822 a cafeicultura brasileira iniciou um arranque de produção, tornando o Brasil o maior produtor de café no mercado mundial.

O autor argumenta que houve uma grande transformação no Vale do Paraíba, que estava relativamente desocupado em 1800, passando a ser uma região escravista, ao mobilizar trabalhadores para o processo de ocupação e força de trabalho inicial nas fazendas de café do Vale do Paraíba. Ainda segundo o autor,

À medida que, na década de 1820, eram montadas as grandes unidades escravistas no Vale do Paraíba, somou-se, à progressiva aprendizagem das técnicas agrícolas, a construção de um saber local. O movimento pode ser acompanhado por meio dos impressos agronômicos. Até 1835, os escritos sobre a cafeicultura editados no Brasil cuidaram apenas de propagar as técnicas produtivas antilhanas, no mais das vezes retiradas d’O Fazendeiro

do Brazil, sem se referirem concretamente à produção que estava em

franco processo de crescimento no médio Vale do Paraíba. Os únicos que escreveram diretamente sobre a produção brasileira entre as décadas de 1820 e 1830 foram alguns viajantes estrangeiros, que estiveram nas províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. (MARQUESE, 2008, p. 142).

Segundo Marquese (2008), entre as décadas de 1830 e 1840 aumentou substancialmente a quantidade de trabalhadores escravizados, considerando a progressiva especialização das fazendas de café do Vale do Paraíba.

Figura 64: Aspecto interno da exposição - Ciclo do Café.

Fonte: MNSA/Santuário Nacional.

É preciso levar em consideração que, com o fim da escravidão, os proprietários de fazendas no Vale do Paraíba encontraram grande dificuldade em atrair imigrantes, ocasionando a queda de produtividade dos cafezais, assim como a devastação ambiental, em virtude do desmatamento.

Segundo Marquese (2008), o fim da escravidão trouxe a reconfiguração das relações de trabalho, além de uma profunda alteração na paisagem agrícola. Considerando que, “na última década do século XIX, à medida que fazendeiros e ex- escravos estabeleciam novos acordos nos sistemas de colonato e parceria, ganhava ímpeto um terceiro vetor de africanização da paisagem do Vale, presente desde que os primeiros cafezais foram abandonados ainda na primeira metade do século” (MARQUESE, 2008, p. 152).

De maneira geral, de acordo com Devide (2013, p. 5) “o ciclo cafeeiro diversificou a economia agrária, que passou a urbanoindustrial, porém, revelou disparidades dentro e fora do Vale do Paraíba, do século XIX aos anos 30 do século

XX”. Nesse contexto, o autor destaca que a crise escravista foi resolvida com o

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