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PARTE I – CRISE CAPITALISTA E MOVIMENTOS SOCIAIS

1 MOVIMENTOS SOCIAIS E MANIFESTAÇÕES MASSIVAS NO CONTEXTO

1.1 A CRISE CAPITALISTA E OS REFLEXOS SOBRE A CLASSE TRABALHADORA

A interpretação marxista analisa as crises cíclicas como processos inerentes ao próprio funcionamento do capitalismo, ou seja, fazem parte da lógica do processo de acumulação de capital, que de tempos em tempos apresenta momentos depressivos, de recessão e inicia a busca por novas bases de acumulação. Por isso, no curso da crise, as contradições econômicas, políticas, sociais e ideológicas deste sistema apresentam-se de forma mais acentuada (CARCANHOLO, 2017).

Na mesma linha argumentativa, Nakatani e Herrera afirmam:

as crises fazem parte integrante da dinâmica contraditória da reprodução ampliada do capital, concebido como uma relação social de produção. Durante os períodos de crise, os capitais mais frágeis ou tecnologicamente ultrapassados são desvalorizados, uma parte é desvalorizada e desaparece e outra parte é concentrada e centralizada nas frações mais poderosas e desenvolvidas do capital (NAKATANI; HERRERA, 2011).

Para Carcanholo (2017, p. 20, tradução nossa) “perceber que os pontos de ruptura (crises ou recuperação) são consequência necessária das características específicas produzidas pela inflexão anterior” é a chave analítica que permite demonstrar que as raízes da crise capitalista

estrutural atual, iniciada em 2007, estão nas saídas capitalistas para a última crise estrutural, cujos primeiros sinais apareceram em finais de 1960.22 Afirma o autor:

[...] a atual crise pela qual passa o capitalismo contemporâneo só pode ser um desdobramento dialético das contradições do capitalismo que foram desenvolvidas nesta fase histórica. São essas que promoveram a atual crise no processo de acumulação de capital. O capitalismo contemporâneo, a lógica de seu processo de acumulação é, por sua vez, consequência das formas pelas quais saiu da sua última – antes desta – crise estrutural (CARCANHOLO, 2017, p. 27, tradução nossa). Segundo o autor, entende-se por crise estrutural àquela que requer modificações radicais nas bases estruturais do processo de acumulação como meio para (re)construir novas bases. Nestes termos, a crise atual é resultado das respostas da crise anterior em busca de recompor as bases de acumulação de capital (CARCANHOLO, 2017).

Em outras palavras, a crise atual é estrutural desde o momento em que é expressão da exasperação do ciclo de inflexão capitalista (crise estrutural) que se desenrola desde finais dos anos de 1960.

Dierckxens et al consideram que a característica essencial de uma crise estrutural é conjugar múltiplas determinações que impactam as diversas faces da vida em sociedade de forma nunca vista na história, expressando-se como "uma grande crise mundial econômica, social, política, militar, energética, alimentar, ecológica e até mesmo ética" (DIERCKXENS et al, 2010, p. 10). Trata-se, portanto, de uma crise diferente de depressões conjunturais, apresentando-se como "uma crise mais extensa, profunda, multimensional e com alcance global" (DIERCKXENS et al, 2010, p. 10), o que leva estes autores a afirmarem que a mesma consiste em uma “crise civilizatória” (idem, p.11), ideia comum também a Löwy (2010, p. 36).

Na mesma linha de raciocínio, Mészáros (2011) indica que a natureza da crise estrutural difere do caráter cíclico e conjuntural das crises econômicas inerentes ao próprio funcionamento do sistema de produção capitalista. O autor afirma: “A crise estrutural se faz valer ativando os limites absolutos do capital como modo de reprodução social metabólica” (MÉSZÁROS, 2011, p. 136).

Já para Nakatani e Herrera,

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Carcanholo (2017) chama a atenção de que a maioria das análises que situam a crise nos anos de 1970 toma como referência o fim do sistema de Bretton Woods (conversão de dólar em ouro), em 1971, e as quedas nos preços de petróleo, em 1973, mas não atenta que “[...] na verdade, os primeiros sinais da crise vêm de 1968/69, com a redução dos indicadores de produção, a queda das taxas de lucro, a redução da inversão no capital fixo e a elevação das taxas de desemprego e inflação” (p. 28, nota de rodapé, tradução nossa).

As razões mais profundas que permitem explicar a crise que se desdobra por todo o planeta encontra-se na própria dinâmica da acumulação que produz periodicamente uma superprodução de capital, decorrente da anarquia da produção capitalista, que conduz a uma pressão para a queda na taxa de lucro quando se esgotam as contra- tendências à queda dessa taxa. A superprodução de capital pode se manifestar através do excesso de produção vendável, não porque não hajam pessoas necessitadas ou desejosas de consumirem, mas porque a concentração da riqueza vai excluindo uma parcela cada vez mais importante da população da possibilidade de comprar mercadorias (NAKATANI; HERRERA, 2011).

De toda forma, todos os autores tomados por referência estão de acordo quanto ao caráter estrutural da crise capitalista atual, que se tornou mais visível a partir do ano de 2008, quando desencadeou nos Estados Unidos, uma crise na esfera financeira que se espraiou por todo o globo. Conforme Nakatani e Herrera (2011) a crise financeira "é uma crise do capital cujo surgimento e manifestação ocorreu na esfera financeira, devido à gigantesca financeirização da sociedade capitalista nas últimas décadas". Enfatiza Mészáros (2011, p. 130), “não é acidente que a moeda tenha inundado de modo tão aventureiro o setor financeiro. A acumulação de capital não poderia funcionar adequadamente no âmbito da economia produtiva”.

Carcanholo (2017) esclarece: “O capitalismo contemporâneo foi historicamente construído precisamente em função da resposta que o modo de produção capitalista encontrou para sua crise estrutural dos anos 60/70 do século passado” (p. 29, tradução nossa), por isso as contradições que demarcam suas possibilidades e limites também se encontram nas respostas sistêmicas à crise passada, dentre as quais se destacam a restruturação produtiva, reformas trabalhistas no sentido de flexibilizar o mercado de trabalho em países centrais e periféricos, aumento da transferência de valor dos países dependentes para os centrais, intensificação da liberalização financeira. Respostas estas impulsionadas pela hegemonia do neoliberalismo, afirma o autor.

Vista deste ângulo, a crise atual manifesta no setor financeiro, enquanto resultante dos desdobramentos ou “saída capitalista” para sua última crise estrutural, tem raízes nos processos de reestruturação produtiva, revolução informacional, neoliberalismo e mundialização do capital, que somados contribuíram para a expansão e dominância do capital fictício na esfera financeira (NAKATANI; HERRERA, 2011).

Segundo os autores,

O conjunto de contradições que desencadeou a crise atual começou a se acumular a partir do esgotamento das forças que geraram o longo período de expansão, após a Segunda Guerra mundial, com o fim do acordo de Bretton Woods e o desenvolvimento dos novos mercados financeiros, em particular a formação e posterior desenvolvimento do mercado interbancário de Londres. Paralelamente, na esfera produtiva, a forma de organização da produção e de extração da mais-valia, baseada no fordismo e no taylorismo, também havia chegado aos seus limites e começaram a surgir novas formas de organização da produção e novos métodos como o toyotismo ou kanban (NAKATANI; HERRERA, 2011).

A análise de Nakatani e Herrera (2011) indica que a natureza profunda desta crise sistêmica conduz ao acirramento da contradição gerada pela relação capital-trabalho, uma vez que o contexto atual apresenta um número elevado de desempregados e do contingente de pessoas em situação de miséria em diferentes países, o que possibilita maior exploração da força de trabalho em nível global e expressa a generalização das condições precárias de trabalho e de seus efeitos.

Nos termos de Mészáros (2011), a crise atual conduz a uma crescente polarização entre capital-trabalho, dado que se trata de uma “[...] crise estrutural do sistema que se estende por toda parte e viola nossa relação com a natureza, minando as condições fundamentais da sobrevivência humana” (idem, p. 130).

As implicações da crise de 1960/70 para a classe trabalhadora têm sido avassaladoras e tomam proporções ainda mais preocupantes com a crise atual. A intensificação da imigração de trabalhadores dos países dependentes para os países centrais e a falta de postos de trabalho como faces do processo de desemprego estrutural é só uma amostra da perniciosidade do sistema, o cenário ainda reúne o rebaixamento dos salários, perda de direitos, extensão e intensificação da jornada de trabalho, que somado à redução dos custos estatais com as políticas sociais e às reformas trabalhistas e tributárias torna-se um quadro assolador (CARCANHOLO, 2017).

Todavia, apesar dos efeitos devastadores, uma crise na economia capitalista, ainda que fundamental não é suficiente para mudar a correlação de forças entre as classes sociais em luta e muito menos para a decadência da hegemonia burguesa construída solidamente em cada um dos países, através de uma ampla sociedade civil, no sentido gramsciano (NAKATANI; HERRERA, 2011).

Se hoje o tom da política tradicional modifica-se, isso se deve ao fato de que as contradições objetivas da situação atual já não podem ser contidas, seja por meio do puro poder e da força bruta, seja pelo suave estrangulamento promovido pela política do consenso. Na verdade, estamos diante de uma crise sem precedentes do controle social em escala mundial e não diante de sua solução. Seria uma grande irresponsabilidade se nos tranquilizássemos numa espécie de estado de euforia, contemplando uma “revolução socialista mundial na virada da esquina” (MÉSZÁROS, 2011, p. 57).

Os aspectos econômicos, políticos e sociais da crise capitalista impactam as condições de vida dos trabalhadores e a capacidade organizativa dos mesmos, na medida em que as saídas encontradas pelo capital para tentar recuperar a taxa de mais-valia, a partir dos arranjos no mundo do trabalho introduzidos pela chamada reestruturação produtiva (Cf. ANTUNES, 2015) e das políticas neoliberais (Cf. HARVEY, 2013a), estão sendo ainda mais aprofundadas no contexto atual. Não é de se estranhar que esteja em curso um “novo padrão de desemprego” (MÉSZÁROS 2011, p. 67), caracterizado por atingir de forma maciça até mesmo os países centrais. Afirma o autor,

Como resultado desta tendência, o problema não mais se restringe à difícil situação dos trabalhadores não qualificados, mas atinge também um grande número de trabalhadores altamente qualificados, que agora disputam, somando-se ao estoque anterior de desempregados, os escassos – e cada vez mais raros – empregos disponíveis. Da mesma forma, a tendência da amputação “racionalizadora” não está mais limitada aos “ramos periféricos de uma indústria obsoleta”, mas abarca alguns dos mais desenvolvidos e modernizados setores de produção – da indústria naval e aeronáutica à eletrônica, e da indústria mecânica à tecnologia espacial (MÉSZÁROS, 2011, p. 69).

Castel (2009) indica a relação entre as mudanças no mundo do trabalho, visíveis a partir da desregulação das relações trabalhistas, e as transformações das políticas sociais a partir da década de 1970.

É neste contexto que os países da Europa Ocidental rompem o vínculo trabalho-proteção consolidado a partir do pacto entre capital-trabalho, no qual o primeiro tinha assegurada a sua rentabilidade, em contrapartida o segundo tinha certa segurança e proteção social, através de reformas conquistadas a partir das organizações dos trabalhadores, como sindicatos e convenções coletivas, cujas lutas visavam a regulação de direitos trabalhistas e de proteção social, ancoradas no papel do “Estado Social” para consolidar estas garantias na legislação e a execução das mesmas, conforme mostra o autor.

Segundo o autor, o período posterior "é caracterizado por uma dinâmica de descoletivação ou reindividualização imposta pela globalização" (CASTEL, 2009, p.87), decorrente do aumento da concorrência entre os trabalhadores, que se tornou ainda mais aguda pelo desemprego massivo e pela precarização das relações trabalhistas.

Num primeiro momento, passa a operar no campo das políticas sociais, o que Castel (2009, p. 89) chama de lógica dos mínimos sociais. Seguindo para um processo de "homogeneização das condições sociais em nível planetário" a partir da "lógica da mercantilização" (idem, p. 94).

Próxima a estes apontamos, a análise de Behring (2008) indica alterações regressivas para a classe trabalhadora brasileira, decorrentes deste contexto. Segundo a autora há mudanças significativas nas condições técnicas e políticas de exploração da força de trabalho, na composição acentuada do exército industrial de reserva, que contribui para pressionar os salários para baixo, na fragilização da organização dos trabalhadores, sobretudo, no âmbito sindical e partidário visíveis na passivização e burocratização destas organizações, bem como na queda da taxa de sindicalização. Soma-se a isso, transformações nos arranjos das políticas direcionadas à reprodução da força de trabalho, cujas principais características passam a ser a privatização e a focalização de políticas da área social.

No caso brasileiro, estas metamorfoses no cenário mundial se impuseram limites para o processo de acúmulo de forças da classe trabalhadora brasileira, que se expressou na Constituição de 1988, mas que, logo, encontrou esgotamento para a sua efetivação na realidade brasileira. De forma que a partir dos anos de 1990 em vez de consolidação dos princípios sociais constitucionais, abre-se a um período de contra-reforma23 (BEHRING, 2008).

Este cenário é piorado no contexto mais atual, quando problemas comuns aos países periféricos como desemprego, precarização do trabalho, perdas de direitos sociais e trabalhistas, generalizados a partir das políticas neoliberais para as economias avançadas são aprofundados em âmbito global em prol da dominância financeira (HARVEY, 2013; CASTEL, 2009).

Segundo a chave explicativa de Mészáros,

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O uso do termo contra-reforma fundamenta-se na compreensão da autora de que a ampliação de direitos sociais é produto da luta de classe, neste sentido as reformas apresentam um ganho para a classe trabalhadora, expressando meios para implementação de políticas sociais importantes para a reprodução desta classe. O termo é usado pela autora para demonstrar que no Brasil, o imperativo neoliberal não apenas barrou a construção do Estado Social e a implementação das reformas na área social que contribuiriam para diminuir o histórico processo de desigualdade social brasileira, como ainda, tem servido de base para efetivar políticas focalizadas na área social, bem como, políticas de ajuste fiscal na área econômica. Neste sentido, o termo contra-reforma expressa o caráter nefasto das medidas políticas, sociais e econômicas aplicadas no neoliberalismo, ou seja, para autora, o que geralmente é denominado na literatura como sendo "reforma" do Estado brasileiro configura-se na verdade como "contra-reforma", na medida em que este passa a apresentar um caráter regressivo em relação aos direitos conquistados na Constituição de 1988.

O capital quando alcança um ponto de saturação em seu próprio espaço e não consegue simultameamente encontrar canais para uma nova expansão, na forma de imperialismo e neocolonialismo, não tem alternativa a não ser deixar que sua própria força de trabalho local sofra as graves consequências da deteriorização da taxa de lucro. De fato, as classes trabalhadoras de algumas das mais desenvolvidas sociedades “pós-industriais” estão experimentando uma amostra da real perniciosidade do capital “liberal” (MÉSZÁROS, 2011, p. 70).

Este contexto, cujas marcas históricas dos países periféricos avançam para os países centrais (SADER, 2012), sinalizando uma tendência de generalização destas características, reflete o caráter global da crise atual, afetando a economia real de todos os países (DIERKXENS et al, 2010). Quando se afirma esta tendência é primordial deixar claro que o objetivo não é minimizar a situação dos países dependentes, periféricos, mas de expor as contradições capitalistas que se apresentam nitidamente mesmo nas economias mais avançadas. Por isso, é importante destacar que “o efeito da crise sobre as economias dependentes agravou o quadro conjuntural de uma inserção na economia mundial que já é, por razões estruturais, dependente e subordinada ao comportamento do centro da acumulação mundial capitalista” (CARCANHOLO, 2017, p. 49, tradução nossa).

Ao mesmo tempo, a particularidade desta crise expressou-se justamente no aumento desenfreado do endividamento privado e público e na volatidade das moedas não apenas nos países periféricos, mas também no próprio centro do capitalismo (DIERKXENS et al, 2010). As ações dos estados nacionais orientadas para salvamento dos bancos não só não conseguiram solucionar a crise, como estimularam ainda mais a lógica da financeirização, agravando a instabilidade econômica, política e social do sistema, conforme afirmam os autores.

A análise é ratificada por Mészáros, que indica:

A grave crise em curso de nossa época histórica é estrutural no sentido preciso de não poder ser superada nem mesmo com os muitos trilhões das operações de resgate dos Estados capitalistas. Assim, a cada vez mais profunda crise estrutural do sistema combinada ao fracasso comprovado de medidas paliativas sob a forma de aventureirismo militar em escala inimaginável torna o perigo de autodestruição da humanidade ainda maior do que antes. E ele só se multiplica quando as formas e os instrumentos tradicionais de controle, à disposição do status quo, fracassam em sua missão (MÉSZÁROS, 2011, p. 137).

Por isso, Mészáros (2011), assim como Carcanholo (2017) são enfáticos em afirmar que as saídas para a crise atual só podem ser a partir de uma transformação estrutural das relações capitalistas, no sentido de afirmação do projeto socialista, do contrário, os contornos da barbárie ficarão cada vez mais espessos. Se as respostas massivas que ocorrem na cena

política mundial serão catalisadas para a alternativa socialista somente a história poderá mostrar.

Estamos convencidas, que as possibilidades de surgirem novos conflitos decorrentes da relação contraditória entre capital-trabalho (que podem se expressar em todos os campos da vida: político, social, econômico, cultural, etc.), se ampliam no contexto atual, pois, a crise sistêmica do capital escancarou a incompatibilidade entre a acumulação capitalista e o desenvolvimento de bem-estar coletivo generalizado para todas as regiões do globo, colocando limites cada vez mais estreitos para este inclusive em países que o tinham alcançado com alguma satisfação. Vejamos alguns exemplos dos efeitos perniciosos da crise atual sobre a classe trabalhadora.

1.1.1 Impactos da crise sobre a classe trabalhadora

Já no Relatório mundial sobre salários 2008/2009, a OIT previa a redução dos salários para mais de 1,5 bilhão de trabalhadores assalariados, de famílias de baixa renda e também de classes médias. Isso já era naquela época um dado preocupante, sobretudo, se considerado que já no período de crescimento da economia mundial, entre 2001 e 2007, o crescimento dos salários ficou defasado. E, principalmente, porque a desigualdade entre os salários mais altos e os mais baixos se manteve em crescimento desde 1995, em dois terços dos países analisados. Mesmo em países como o Brasil que registrou redução da desigualdade, a mesma ainda atingia níveis alarmantes (OIT, 2008/2009).24

No que se refere à questão de sexo, desde o relatório geral apresentado na 96ª Conferência Internacional do Trabalho realizada em Genebra em 2007, os dados mostravam que apesar do aumento da participação da mulher na força de trabalho e no emprego, as diferenças salariais relacionadas ao sexo ainda persistiam. Os dados também demonstram que mesmo com o crescimento da participação feminina nos empregos, as taxas de desemprego entre as mulheres são maiores que entre homens. Além disso, apesar das mulheres apresentarem maiores taxas de escolarização e terem alcançado diminuição das diferenças salariais em

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Disponível em:

<http://www.oit.org.br/sites/default/files/topic/employment/doc/resumo_espanhol_57.pdf>. Acesso em: 06 abril 2018.

relação aos homens, em se tratando de postos de trabalhos de alto nível, mesmo com aumento da inserção feminina, as diferenças salariais persistiam em níveis assustadores.25

O relatório de 2010/2011 mostra que no auge da crise, o desemprego apresentou a maior taxa já registrada, alcançando 206,7 milhões de trabalhadores em 2009. Os salários foram igualmente afetados, o crescimento global dos salários médios reais foi reduzido para metade entre 2008 e 2009 e apresentou uma desigualdade salarial generalizada e crescente, em comparação com anos anteriores.26

O relatório também indica que se por um lado os países avançados apresentaram maior aumento do desemprego, nos países periféricos, justamente aqueles que possuem sistemas de proteção mais frágeis e rendimentos salariais baixos e médios, os efeitos da crise expressaram-se na degradação da qualidade do emprego, que passaram a formas mais precarizadas. Os dados computados referem-se apenas ao trabalho assalariado, ou seja, remunerado por outrem, deixando de fora os trabalhadores por conta própria. Se estes fossem incluídos na análise e levando em consideração que estas formas de ocupação em geral são ainda mais vulneráveis às vicissitudes do mercado de trabalho, o quadro de precarização seria ainda mais preocupante, sobretudo, para os países periféricos, uma vez que estes trabalhadores representam uma faixa de 30,5% em locais da Ásia e África, quase o dobro ao percentual apresentado pelas economias avançadas, 15,5%, segundo o relatório.

Tanto nos países avançados quanto nas economias dependentes ditas “em desenvolvimento”, os dados apontam para o maior risco de baixos salários para mulheres, de raça/etnia não-

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