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3 Capítulo III – ONGs educacionais em São Luís: três estudos de caso

3.2 Esboços comparativos sobre as ONGs analisadas

3.2.3 A CUFA e o vanguardismo do movimento hip-hop

No que é relativo à ultima ONG – e com menor tempo de atuação na cidade de São Luís – a qual seja a Central Única das Favelas, igualmente se faz relevante à apresentação, principalmente, de um quadro de informações sobre ela. Vejamos, assim, o quadro 12.

Quadro 12 – Informações Gerais sobre a Central Única das Favelas/CUFA.

Nome da Instituição Central Única das Favelas/CUFA

Tempo da Entidade em São Luís 04 anos

Número de Projetos em Voga 06

Número de Parcerias com Empresas Privadas 02

Número de Parcerias com o Poder Público 01

Número de Voluntários 13

Número de Funcionários 05

Participa de Redes de Instituições? Não

Participa de Fóruns de Políticas Públicas? Não

A Central Única das Favelas em São Luís tem uma proposta de se manter inovadora no que tange aos seus modos de atuação na sociedade. Fazemos esta afirmação com base nos fatores que são escolhidos por esta ONG como objetivos a serem perseguidos através de suas ações.

Desta forma, há um grande destaque para a chamada “potencialização do jovem”, o qual é percebido pela instituição como protagonista em processos de mudanças maiores na sociedade. Mas vale à pena ressaltarmos que o público-alvo da CUFA é voltado para a juventude, só que o olhar da instituição é voltado para um segmento particular de jovens os

quais sejam negros e residentes em comunidades consideradas à margem da sociedade ou, simplesmente, periferias.

Muito embora a referida entidade também se valha de repertórios compartilhados pela maioria das ONGs, tais como “inclusão social” e “cidadania”, nos chamou a atenção que tanto nas entrevistas como nas publicações da CUFA há uma enorme utilização de dois elementos para que a referida cidadania se efetivasse: o denominado reconhecimento de direitos e a chamada distribuição de oportunidades.

Para a ONG CUFA, a referida cidadania somente pode ser conquistada quando do reconhecimento da igualdade de direitos civis entre todos os indivíduos – e da efetivação dessas leis e do alcance delas para todos os agentes sociais – para que, então, se possa garantir o acesso aos direitos políticos e sociais vistos, pela instituição, como exercidos plenamente apenas pelos setores mais favorecidos da população.

Os fatores os quais são mais levados em conta para a entrada no quadro profissional da CUFA são a participação de um indivíduo como contemplado por projetos sociais da entidade; o fato do agente estar imerso na realidade das chamadas periferias; e, de preferência, que esse agente saiba discorrer sobre a importância do chamado protagonismo juvenil.

Inserimos a instituição citada no perfil “vanguardista”, pois a mesma, dentre as três entidades pesquisadas, é a que mais se vale das ferramentas das redes sociais para disseminar seus projetos e ações, assim como leva em conta a expressividade de seus agentes formadores através do uso de blogs com posts sobre as indignações em relação à desigualdade de oportunidades pelas quais os jovens das comunidades passam.

A instituição é, igualmente, a mais próxima de novos movimentos sociais como, por exemplo, o chamado movimento hip-hop, da mesma maneira que a mesma se vale de novas formas, segundo eles, de se adquirir educação, como a expressão da conscientização da criança e do jovem através de movimentos artísticos como o graffitti ou a dança de rua.

Por mais que a CUFA aborde demasiadamente que seus beneficiados têm o poder de transformação social em suas mãos depois de serem por ela assistidos, ainda assim não conferimos o atributo primordialmente militante a esta instituição. Ela se assemelha muito mais ao componente vanguardista por assim se enxergar: como uma entidade capaz de ser inovadora em suas iniciativas e de não precisar do apoio do Poder Público nem dos fóruns de políticas públicas.

Ironicamente, das três instituições aqui abordadas é a única que divide espaço com uma sede de um setor da administração municipal (o CRAS) a qual fornece materiais de apoio para a formação de seus públicos-alvo. Isto não chega a ser uma crítica, porém, se faz

relevante toda a reflexão sobre a relação de ambivalência entre Estado e ONGs que, exaustivamente, abordamos neste estudo. Ora contestações; ora, aproximações.

No que se refere às comparações às quais podemos tecer sobre as três ONGs pesquisadas, alguns elementos de semelhanças entre elas foram encontrados. O primeiro ponto em comum diz respeito ao fato das três instituições citarem (e reafirmarem) a situação de “vulnerabilidade” das condições educacionais em São Luís (e no estado como um todo).

Acerca disto, a LBV sublinha a carência, a pobreza em vários setores no Maranhão e a falta de ensino de qualidade; já para a Formação o chamado sucateamento da escola pública no Estado seria alarmante; e, finalmente, para a CUFA a vulnerabilidade do jovem da periferia o qual seria deixado de lado pelo Estado seria o principal entrave para o acesso da juventude à educação.

Essa dita vulnerabilidade é posta como justificativa plausível, por parte das três instituições, para que as mesmas pudessem ser antes de qualquer coisa, criadas na presente cidade para, assim, marcarem suas inserções no espaço social das ONGs brasileiras. Dados sobre a configuração socioeconômica do Maranhão talvez entrem em jogo no momento de se elencar o fator “vulnerabilidade” para uma possível intervenção. Isto pode ser verificado no quadro 13, acerca da questão da renda no Maranhão.

Quadro 13 – Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, por classes de rendimento mensal de todos os trabalhos no Maranhão.

Total 2.361.389

Pessoas com rendimento de até um salário mínimo 1.177.266 Pessoas com rendimento de mais de 1 a 2 salários mínimos 437.779 Pessoas com rendimento de mais de 2 a 3 salários mínimos 111.032 Pessoas com rendimento de mais de 3 a 5 salários mínimos 90.936 Pessoas com rendimento de mais de 5 a 10 salários mínimos 67.920 Pessoas com rendimento de mais de 10 a 20 salários mínimos 21.136

Pessoas com mais de 20 salários mínimos 9.036

Pessoas sem rendimento 446.283

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010: Resultados Gerais da Amostra.

Os dados educacionais do Maranhão oriundos da pesquisa do IBGE (2010), deficitários na comparação com outras unidades da federação, foram levados em conta nas entrevistas com os representantes das três ONGs e elencados como respaldo para as intervenções das mesmas no campo educacional. Muitas vezes, as entidades utilizam o termo “dependente” para definirem as relações da população local acerca dos projetos destas ONGs

trazendo, assim, a marca do “imprescindível” para estes últimos. Sobre os dados citados, talvez seja válido para a verificação dessa possível correlação abordada pelas instituições atentarmos – e refletirmos – sobre o quadro 14.

Quadro 14 – Pessoas de 10 anos ou mais de idade por nível de instrução.

Total 5.264.736

Pessoas sem instrução e com ensino fundamental incompleto 3.213.208 Pessoas com ensino fundamental completo e ensino médio incompleto 842.384 Pessoas com ensino médio completo e ensino superior incompleto 994.385

Pessoas com superior completo 189.918

Não determinado 24.842

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010: Resultados Gerais da Amostra.

3.3. Uma análise do perfil de cada representante das ONGs elencadas nesta pesquisa.

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