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A cultura e as experiências em outros espaços das Américas

No documento DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA (páginas 154-157)

Capítulo 3 – As políticas públicas de cultura – experiências internacionais

3.2. As políticas públicas de cultura na América Latina

3.2.4. A cultura e as experiências em outros espaços das Américas

A cultura é entendida como um direito básico no contexto da política uruguaia a tal ponto que nem mesmo um cidadão que se encontre preso ou um doente mental recolhido em um hospital psiquiátrico perdem o direito à cultura. As políticas públicas de cultura são pensadas de forma a abarcar todos os cidadãos, mesmo aqueles que se encontram em situação de exclusão do convívio social.

A cultura é também pensada, em diálogo constante e essencial com a educação em países como Chile, Cuba e México. Aliás, é na região mexicana que faz divisa com os Estados Unidos que encontramos um importante trabalho de recuperação de identidade do povo mexicano, desenvolvido por meio das artes cênicas e, mais especificamente, das atividades do Teatro Campesino.

La cultura chicana ha ocupado en la producción intelectual contemporánea un espacio privilegiado. Sus aportes a esquemas teóricos sobre la relación cultura-identidad, han permitido repensar la visión iluminista del arte por el arte, tan promovida por centros de poder en el espacio geopolítico y cultural estadunidense. Elementos como la dualidad resistencia-asimilación, las raíces culturales, el sentido de compañerismo profundo horizontal, y la asunción de uma posición política militante han sido parte de lo que la cultura chicana ha proyectado desde el movimiento por los derechos civiles de los años 60 y 70 del siglo XX (VARGAS, 2014, p.12).45

45 A cultura chicana [cultura dos mexicanos e descendentes nos Estados Unidos] tem ocupado um espaço

privilegiado na produção intelectual contemporânea. Suas contribuições para esquemas teóricos sobre a relação cultura-identidade têm permitido repensar a visão iluminista da arte pela arte, tão fomentada por centros de poder no espaço geopolítico e cultural estadunidense. Elementos como a dualidade resistência- assimilação, as raízes culturais, o sentido de profundo companheirismo horizontal, e a aceitação de uma

Na região mexicana que faz fronteira com os Estados Unidos, a identidade nacional e cultural do mexicano era justamente motivo de discriminação. Mais importante do que a manutenção de suas raízes identitárias era a assimilação da cultura “do outro” (nesse caso, a cultura estadunidense) que fazia o mexicano de fronteira respeitado em um contexto explicito de exclusão social daqueles sujeitos de características latinas. Negar a si mesmo em nome da cultura dominante foi o processo repetido por gerações que vem sendo combatido pela experiência do teatro campesino. A proposta é recuperar o valor cultural e identitário do mexicano de fronteira por meio do teatro porque, como dito, “los elementos que les caracterizaban como sujetos de identidad eran los que justificaban la discriminación, exploración laboral y exclusión social que sufrian” (VARGAS, 2014, p.13).46

O chamado Teatro Campesino foi criado em 1965 por Luis Valdez, que compreendia quão importante era estabelecer, por meio da arte, uma alternativa identitária que ajudasse aquela população a compreender o que significava ser mexicano. É um teatro de criação coletiva, que visa reconstituir a história local e cultural do povo mexicano, promovendo a reflexão dos atores e da plateia para a relação cultura, política e sociedade.

Las obras creadas estaban muy vinculadas con el contexto histórico en que se representaban. Por su sencillez y por la necesidad de acercar el lenguaje del teatro a la comunidad, las obras se denominaron “actos”. En una pieza teatral, el acto és una de las partes que conforman un programa más complejo y extenso pero para El Teatro Campesino, el acto era una obra simple-compleja en si misma con carga política y simbólica (VARGAS, 2014, p.14).47

O Teatro Campesino não visa ao entretenimento, mas à formação política e social da

posição política militante tem feito parte do que a cultura chicana tem projetado desde o movimento pelos direitos civis dos anos 60 e 70 do século XX (VARGAS, 2014, p.12, tradução da autora).

46 Os elementos que os caracterizavam como sujeitos de identidade eram os que justificavam a discriminação,

exploração do trabalho e exclusão social que sofriam (VARGAS, 2014, p.13, tradução da autora).

47 As obras criadas estavam muito vinculadas ao contexto histórico em que se representavam. Por sua

simplicidade e pela necessidade de aproximar a linguagem do teatro à comunidade, as obras se denominaram “atos”. Em uma peça teatral, o ato é uma das partes que compõem um programa mais complexo e extenso porém para El Teatro Campesino, o ato era uma obra simples-complexa em si mesma, com carga política e simbólica (VARGAS, 2014, p.14, tradução da autora).

comunidade em que se desenvolve, apresentando-se como um processo de reconstituição constante de esquemas e símbolos identitários (VARGAS, 2014, p.15). A presença desse tipo de teatro em regiões fronteiriças é fundamental, visto que nessas regiões encontramos muitas vezes populações em situação vulnerável, dada a proximidade com a fronteira e a grande pobreza econômica, que gera pouca oportunidade de trabalho e formação deficiente no lado politicamente mais fraco da fronteira. Fronteiras passam a representar espaços de tensão e dominação cultural.

Outra experiência em espaço geográfico distinto, mas que também vive sob pressão fronteiriça, mesmo sendo geograficamente protegido por ser uma ilha, é o caso de Cuba, país que vive historicamente sob tensão e pressões políticas por ser um dos últimos espaços em que sobrevive o sistema socialista. É possível perceber ali um olhar diferenciado para a cultura e a educação. Em 2014, o Banco Mundial declarou que Cuba possui o melhor sistema de ensino da América Latina e Caribe.

Há em Cuba uma revista de nome “Conjunto”, especializada em teatro latino-americano e que é publicada há 50 anos pela Casa de las Américas. Os artigos, em formato de artigo acadêmico, trazem diversas reflexões, discussões e estudos sobre o teatro na América Latina. Cuba também garante o acesso ao Seguro Social para artistas. Possui 260 museus espalhados pela ilha, 123 galerias de arte e 307 casas de cultura.

A partir de 1959 se amplió esta labor relacionada con la educación y la cultura. Más tarde, con la ley de creación de museos municipales, se acercaron a las comunidades, y promovieron no solo la recuperación de valiosas coleciones y elementos museables, sino la comunicación con el pueblo en las esferas del arte y la cultura. La red de museos que funcionan en Cuba compreende los dedicados al arte, la historia, etnografía y antropología, se consideran centros especializados y más de un centenar de caráter general. Es significativa la relación museo-escuela, que vinculan los programas escolares de cuarto, quinto y sexto grados con la historia local (HERNÁNDEZ, 2012, p.163).48

48 A partir de 1959 se ampliou este trabalho relacionado com a educação e a cultura. Mais tarde, com a lei de

criação de museus municipais, se aproximaram das comunidades, e promoveram não só a recuperação de coleções valiosas e elementos museológicos, mas também a comunicação com o povo nas esferas da arte e a cultura. A rede de museus que funcionam em Cuba compreende os dedicados à arte, à história, etnografia e antropologia, se consideram centros especializados e mais de uma centena de caráter geral. É significativa a

Há ainda em Cuba o Instituto Superior de Arte e um movimento intitulado “Instrutores de Arte” que, desde 2001, visa sensibilizar, por meio de ações educativas, a geração mais jovem com o objetivo de desenvolver o interesse pela apreciação das artes. É conhecida internacionalmente a Escola Cubana de Ballet e a Companhia de Ballet Cubano, além das atividades voltadas ao desenvolvimento de Festivais Internacionais de Cinema, Ballet e Teatro. A Casa de las Américas, editora da revista “Conjunto” de teatro latino-americano, é um espaço destinado a encontros e diálogos sobre o campo das artes e da cultura, fomentando prêmios e intercâmbios internacionais.

Vale mais uma vez destacar que, em parte significativa dos países latino-americanos, a cultura é pensada de forma não dissociada da educação, o que faz com que a educação promovida não tenha única e exclusivamente um fim tecnicista e sim seja, por si mesma, de formação social e sensibilizadora. A proposta é uma educação de raiz humanística.

No documento DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA (páginas 154-157)