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A definição do problema e do objecto de estudo

2.2. O GATS e o ensino transnacional

3.1.1. A definição do problema e do objecto de estudo

A definição do problema 55 de partida significa precisar, tanto quanto possível,

com clareza e objectividade o assunto que se vai tratar no trabalho de pesquisa. É consensualmente aceite que uma colocação clara do problema pode facilitar a

construção da hipótese de trabalho.

O problema, ou problemas de partida, deve ser formulado preferencialmente sob a forma de interrogações, e delimitado a partir da indicação das variáveis que intervêm no estudo e possíveis relações entre si. Trata-se de um processo contínuo que exige um pensamento crítico e reflexivo, cuja formulação pressupõe conhecimentos prévios sobre o assunto; “a caracterização do problema define e identifica o assunto em estudo, ou seja, um problema muito abrangente torna a pesquisa mais complexa; quando bem delimitado, simplifica e facilita a maneira de conduzir a investigação” (Marinho in Marconi, 1990). O trabalho de pesquisa tem início com o levantamento de dados que podem ser recolhidos a partir de fontes variadas; esta é normalmente a primeira abordagem ao problema e é um procedimento que, para além de fornecer todo um manancial de informações ao investigador sobre o assunto em estudo, pode evitar a duplicação de esforços. Para além do mais, o trabalho de recolha de dados e a análise bibliográfica permite sugerir hipóteses, orientando desta forma o sentido da pesquisa.

Uma reflexão mais aprofundada sobre algumas das questões suscitadas pelo enquadramento teórico das problemáticas relacionadas com o ensino transnacional, bem como o resultado de alguma troca de ideias com os orientadores ao longo da construção do quadro teórico viriam a revelar-se instrumentos decisivos para a maturação da problemática de partida que conduziria posteriormente à definição do objecto de análise. O quadro teórico quando é exaustivo e bem fundamentado auxilia eficazmente na com- preensão do universo da pesquisa documental.

Da contextualização teórica realizada resultou uma série de interrogações e pressupostos sobre o ensino transnacional, nomeadamente a convicção de que é importante aferir rapidamente se está de alguma forma salvaguardada a existência de

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“Problema é uma dificuldade, teórica ou prática, no conhecimento de alguma coisa de real importância, para a qual se deve encontrar uma solução” (Marconi, 1990).

padrões mínimos de qualidade do ensino transnacional que se enquadram nos programas de cooperação nacional. Uma outra interrogação suscitada pelo quadro teórico é a necessidade de aferir se são, ou não, utilizados mecanismos de regulação e controlo que assegurem a qualidade do trabalho realizado ao nível das instituições de ensino superior; esta é uma interrogação que assumirá um papel dianteiro na lista de preocupações deste trabalho de investigação. Mas outros problemas, de igual relevância, foram identificados, nomeadamente a importância que representa para o país receptor de ensino transnacional o acesso a informações sobre as instituições que realizam as acções, nomeadamente o enquadramento legal destas no seu país de origem, o acesso aos seus estatutos, se se encontram, ou não, integradas nos sistemas formais de ensino, entre outras. Essa transparência e facilitação de acesso à informação imprime por si só um cunho de credibilidade e fiabilidade aos programas de ensino transnacional, valorizando-os. A juntar às questões já enunciadas identificaram-se outras relacionadas com a necessidade de salvaguardar, por parte do país emissor, o respeito pelas especificidades culturais do país receptor, sendo essencial assegurar neste processo que a língua oficial falada no país beneficiário seja também a língua utilizada pelo país promotor que ministra o ensino. Parte-se do princípio de que estes e outros princípios basilares do ensino transnacional deverão estar assegurados e um eventual processo de avaliação deverá imperativamente averiguar o cumprimento destas regras fundamentais para a operância de um ensino transnacional transparente e de qualidade.

Questões como a definição das áreas estratégicas de actuação, o reconhecimento dos diplomas ou a existência de sinais de resistência por parte das estruturas de ensino formais dos países receptores condicionam igualmente a definição do objecto de estudo, como se verá de seguida.

Como se disse, o objecto de estudo foi delimitado às políticas de cooperação portuguesa para o sector da educação, mais propriamente no domínio do ensino superior. Interessa fundamentalmente centrar a pesquisa realizada nas acções de ensino transnacional nos países de língua oficial portuguesa. Como anteriormente referido, o problema de partida condicionou a definição do objecto de estudo, uma vez que as questões inicialmente suscitadas são mais susceptíveis de ser observadas em países em vias de desenvolvimento, uma vez que o contexto sócio-económico e cultural destes os tornam mais vulneráveis à proliferação de práticas de ensino transnacional.

Uma vez definido o assunto, e devido à escassez de recursos e de tempo, o trabalho de pesquisa incidiu sobre uma amostra que se pretende representativa do universo. Delimitou-se a análise às instituições de ensino superior públicas, univer- sitárias e politécnicas, visto que tratando-se de políticas de cooperação governamentais e representando estas as políticas de cooperação bilateral assumidas oficialmente pelo governo português, interessaria essencialmente ter em linha de conta o trabalho desenvolvido pelas instituições de ensino de carácter público cujas actividades de ensino transnacional se integrem nas políticas externas do país. Foram, portanto, consi- deradas apenas instituições de carácter público, não fazendo parte da amostra as instituições de ensino superior privadas. Esta demarcação prende-se com várias ordens de factores que passam não só pelos motivos atrás invocados, mas também por condicionalismos de trabalho de campo, (na verdade e apesar de várias tentativas, não foi possível chegar à fala com os responsáveis pelos programas de cooperação das instituições privadas contactadas). Acresce a isto a escassez de informação, que além do mais é inconclusiva e pouco revela sobre a natureza, objectivos e resultados das actividades de cooperação no subsector do ensino superior privado; e uma vez que nos dois casos de estudo apenas se regista a presença de uma única instituição desta natureza, optou-se por deixar de fora da amostra os programas de ensino transnacional desenvolvidos por instituições de ensino superior privadas.