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As iniciativas de cooperação entre Portugal e Cabo Verde

4.1. Cabo Verde e Timor Leste: dois estudos de caso

4.1.1. Estudo de caso n.º 1: Portugal e a Cooperação com Cabo Verde no domínio

4.1.1.2. As iniciativas de cooperação entre Portugal e Cabo Verde

Os fortes e ancestrais laços culturais e de amizade que unem Portugal e Cabo Verde foram criando condições que propiciaram às instituições de ensino superior portuguesas, ao longo dos anos, a manutenção de estreitas relações de cooperação com este país, cuja afinidade linguística se revelou uma mais valia acrescida e um elemento impulsionador ao fortalecimento das relações académicas. Cabo Verde soube gerir da melhor forma as oportunidades de apoio oferecidas por Portugal, particularmente para o

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Estudos Africanos, “A Educação na República de Cabo Verde – Análise Sectorial”, Fundação Calouste Gulbenkian, Volume I, Lisboa, 1987.

sector do ensino superior, de tal forma que actualmente a contribuição Portuguesa para o Orçamento de Estado para a Educação daquele país oscila entre os 20% e 30%. Para além das iniciativas individuais das instituições de ensino superior públicas portuguesas, universitárias e politécnicas, para a promoção de ensino transnacional em Cabo Verde, também o Estado Português desde sempre financiou iniciativas desta natureza, incluindo a atribuição de bolsas de estudo. No entanto, como referido anteriormente, para efeitos deste trabalho apenas interessará estudar as actividades de cooperação ao nível do ensino superior desenvolvidas no território cabo-verdiano e que respeitem apenas a instituições de ensino superior público.

Desde sempre têm existido tentativas de regular e coordenar as actividades de cooperação para o ensino superior. A descoordenação destas actividades, o desconhe- cimento entre instituições governamentais sobre os programas de cooperação em curso, nos vários domínios, é uma questão recorrente e um problema assumido presentemente pelo Estado Português como uma das maiores dificuldades para a qual é necessário envidar esforços no sentido de minorar a ineficácia das acções daí decorrente. Esta constatação é assumida e reconhecida pelo Estado Português, pela voz de um responsável pelas políticas de cooperação nacionais:

É preciso, primeiro, reforçar a cooperação portuguesa, dotá-la dos meios que lhe permitam ter capacidade de articulação e de cooperação, junto das outras instituições públicas e privadas, depois é fundamental perceber que a cooperação portuguesa só faz sentido no quadro de estratégias, de programas, não faz sentido a acções! (…) até agora, era muito difícil falarmos da possibilidade de regular, coordenar e de articular com as instituições privadas, pela simples razão de que dentro do próprio Estado não havia essa adequada coordenação e articulação, ou seja: como é que eu podia pretender estar aa… assumir funções de coordenação e de articulação com esse mundo todo que está aí fora se, dentro do Governo, os vários Ministérios cada um tinha a sua instituição que fazia cooperação e muitas vezes à revelia do organismo central da cooperação.

Portanto… o primeiro passo é dotar o mecanismo central da cooperação com essa capacidade de coordenação e de articulação (…)” (Entrevista n.º 1)

Efectivamente, a política de cooperação portuguesa é frontalmente acusada de ser incipiente e os seus programas de cooperação, incluindo aqueles ligados ao ensino superior transnacional, são realizados a partir de contactos privilegiados e relações pessoais.

“(…) dentro de um PIC, que é um documento político, é preciso encontrar: 1.º acções concretas dentro de cada eixo, e é preciso encontrar executores! Como é que se faz o recrutamento de executores? E eu julgo que a política portuguesa nesse aspecto é extremamente incipiente, faz-se por relações pessoais. (…) Essa gestão financeira não é feita dando à instituição o dinheiro para gerir, mas sim ir sucessivamente pedindo autorização de deslocação ao ICP e depois no final quando não há mais dinheiro o projecto acabou ali. Portanto, é um projecto, é um processo extremamente incipiente de cooperação e isso é uma questão da nossa política de cooperação comparativamente a outros países (…) (Entrevista n.º 6).

(…)

“Para lhe responder a isso era preciso que eu estivesse convencido que há alguma estratégia da Cooperação Portuguesa! Há, o que são, eu estou convencido, aliás é muito difícil responder- lhe à pergunta que começa… tendo em conta a estratégia da cooperação! Aa…estas coisas da cooperação, pode haver uma estratégia, que eu não conheço, mas do meu ponto de vista, para lhe ser o mais franco possível, dependem muito, muito, muito do conhecimento das realidades locais e de conhecimentos inter- pessoais (…) Logo, a estratégia de ensino da cooperação portugue- sa pode haver agora, porque não havia nenhuma!, não conheço nenhuma!, nunca conheci nenhuma!” (Entrevista n.º 2)

Não é claro que se trate de uma questão de “favorecimentos” pessoais, ou insti- tucionais, no sentido de beneficiar determinada instituição de ensino em detrimento de outra, mas antes de oportunidades políticas e institucionais fruto do acaso e do sentido de oportunidade, ao invés de resultarem, como seria desejável, de uma reflexão séria e conjunta que desse origem a um planeamento estratégico a implementar por Portugal.

No caso de Cabo Verde foi identificada, desde logo, a necessidade de coorde- nação das actividades de cooperação, necessidade que se tentou suprir através da

criação da Comissão Instaladora do Ensino Superior, criada em 1992, no âmbito do Plano de Reforma do Ensino. Este órgão tinha por objectivo fazer o enquadramento institucional das competências existentes e a coordenação dos projectos internacionais, através da assinatura de acordos sucessivos. No entanto e segundo o Relatório de Avaliação da Cooperação Portugal-Cabo Verde no domínio do Ensino Superior” 62 apesar destes esforços, continuaria a verificar-se uma relativa dispersão das iniciativas de cooperação.

Perante este facto foi aumentando cada vez mais a consciência da necessidade de uma maior coordenação das acções de cooperação, com vista à rentabilização dos recursos e a um planeamento mais rigoroso para o desenvolvimento sustentado do