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3 CONSELHOS DE EDUCAÇÃO INSTITUÍDOS NO BRASIL REPUBLICANO

5 CONSELHOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO SITUADOS EM MUNICÍPIOS DA RMBH

5.1 A definição dos municípios da RMBH abordados na pesquisa

Esclarecemos que projetou-se, inicialmente, realizar a pesquisa em todos os municípios da RMBH41 que possuem CME, mas, diante das dificuldades em estabelecer contato com a maioria deles, foi preciso empreendê-la nos municípios que se dispuseram a contribuir.

A RMBH é, atualmente, composta por 34 municípios42, sendo que 28 destes têm CME, segundo dados do IBGE (2012). Para lograr uma forma de contato – endereço, telefone, e-mail – com estes 28 CME buscou-se, inicialmente, os dados daqueles cadastrados na União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME)43. Vinte e três estão lá cadastrados. Tais informações ajudaram sobremaneira, mas é importante esclarecer que, além de algumas estarem desatualizadas, muitas estão incompletas (ver anexo A). Para conseguir meios de contato com os outros cinco Conselhos e com aqueles que não registraram telefone e/ou e-mail em seu cadastro junto à UNCME, foram contatadas as suas respectivas SME. Contudo, mesmo de posse de telefones e/ou e-mails dos CME e/ou das SME, houve dificuldades para acessar a maioria dos Conselhos e obter autorização para a realização da coleta de dados (ver quadro 12).

Certamente que pessoas/grupos/instituições têm o direito de concordar ou não em participar de pesquisas. Afinal, na perspectiva de uma “sociologia do sujeito” (COULOM, 1995), os sujeitos, em seus contextos, têm o poder de decisão sobre colaborar ou não e em que termos com a investigação. Nesses termos, o indivíduo passa de objeto da pesquisa para o seu sujeito.

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A Lei Complementar Federal nº 14, de 08/06/1973 (BRASIL, 1973) criou as primeiras regiões metropolitanas brasileiras, dentre elas a de BH, para a qual foram definidos 14 municípios – Belo Horizonte, Betim, Caeté, Contagem, Ibirité, Lagoa Santa, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano – componentes localizados no entorno da capital. Com a Constituição do Estado de Minas Gerais, de 21/09/1989 (MINAS GERAIS, 2012) foram incorporados, respectivamente, à Região os municípios de Brumadinho, Esmeraldas, Igarapé e Mateus Leme. Na década de 90, foram incorporados à RMBH os municípios de São José da Lapa. Juatuba, Sarzedo, Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Confins, Florestal, Rio Manso, Baldim, Capim Branco, Itaguara, Matozinhos e Nova União. Em 2000, mais dois municípios foram integrados a Região: Jaboticatubas e Taquaraçu de Minas. E, em 2002, foi incorporada a cidade de Itatiaiuçu. (ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE, 2013). Atualmente a RMBH é composta por 34 municípios.

42 Recorte territorial considerado pelo IBGE (2010).

43 A partir da iniciativa e movimento dos presidentes dos CME de João Pessoa, Recife, Florianópolis, Vitória da

Conquista e Aracaju, a UNCME foi criada em 1992, com os seguintes objetivos: “buscar soluções para os problemas educacionais comuns e diferenciados dos municípios brasileiros; estimular a cooperação entre os Conselhos; articular-se com o Ministério da Educação e outros órgãos governamentais e não governamentais públicos e privados; constituir-se em fórum de discussão e defesa da educação; contribuir para a ampliação e melhoria da educação básica nacional; e incentivar e orientar a criação e organização de CME”. Dos 4.401 CME no Brasil 2.951 (67%) são filiados junto a esta União. (UNIÃO NACIONAL DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO, 2013).

Contudo, considerando-se que os conselhos são órgãos de natureza pública, entende-se que deveriam estar acessíveis, em alguma medida, à sociedade. Tomando como premissa a transparência como um princípio da gestão pública, a sociedade também tem o direito de conhecer e compreender as ações empreendidas em tal espaço. Entende-se que a dificuldade de acesso, ou até mesmo a sua impossibilidade, reflete na representatividade social desses Conselhos. Em que medida o indivíduo é representado nesse espaço se não pode acessá-lo? E ainda, se os seus conselheiros desenvolvem funções de natureza pública não deveriam prestar contas à sociedade?

O Estado Democrático de Direito ostenta, como primado, a cidadania, consubstanciada no poder que os cidadãos têm de influenciar na formação da vontade do Estado. Para tanto, a transparência e a publicidade administrativa, as quais demandam a garantia de acesso à informação, são os seus alicerces. Se o indivíduo não tem acesso à informação considerada pública, como poderá ter participação na gestão da coisa pública? A dificuldade de acesso, ou até mesmo a sua impossibilidade, pode se configurar em um indicador da tensão entre representação e participação nesses CME.

Quadro 12 - Municípios da RMBH por presença/ausência de CME e contatos realizados, em 2012

Municípios da RMBH Presença/ausência de CME segundo o IBGE

CME em funcionamento segundo a SME Frequência dos contatos por telefone e/ou e- mail (nº)

Baldim Sim Sim 5

Belo Horizonte Sim Sim 7

Betim Sim Sim 5

Brumadinho Sim Sim 10

Caeté Sim Sim 9

Capim Branco Sim Sim 8

Confins Sim Não 7

Contagem Sim Sim 7

Esmeraldas Sim Sim 9

Florestal Sim Não 1

Ibirité Sim Sim 7

Igarapé Sim Sim 9

Municípios da RMBH

Presença/ausência de CME segundo o IBGE

CME em funcionamento segundo a SME Frequência dos contatos por telefone e/ou e- mail (nº)

Itatiauçu Não Não 1

Jaboticatubas Sim Sim 6

Juatuba Sim Sim 9

Lagoa Santa Sim Sim 7

Mário Campos Sim Não 1

Mateus Leme Sim Sim 5

Matozinhos Sim Sim 4

Nova Lima Não Não 1

Nova União Não Não 1

Pedro Leopoldo Sim Sim 7

Raposos Sim Sim 5

Ribeirão das Neves Sim Sim 14

Rio Acima Não Não 1

Rio Manso Não Não 1

Sabará Sim Sim 4

Santa Luzia Sim Sim 6

São Joaquim de Bicas Não Sem informação 4

São José da Lapa Sim Não 1

Sarzedo Sim Sim 7

Taquaraçu de Minas Sim Sim 11

Vespasiano Sim Sim 8

Fonte: Elaboração da autora, com base em IBGE (2012), CME e SME dos municípios da RMBH.

Através dos contatos com os CME e/ou com as SME, verificou-se que, dos 28 Conselhos existentes, segundo os dados do IBGE (2012), 23 estão em funcionamento (ver quadro 12).

Dentre os retornos obtidos, destaca-se que, segundo informações da SME de Baldim, apesar de o CME existir e funcionar na Casa dos Conselhos do município, a prefeitura irá desativá-lo devido ao pouco uso do local. Em Brumadinho, Jaboticatubas, Santa Luzia e Vespasiano, apesar de, inicialmente, existir a autorização para a realização da coleta de dados em seus CME, não foi lograda a autorização final, pois não houve, da parte deles, nenhum retorno. Em relação a Capim Branco e Igarapé, as suas SME informaram que, pelo fato de os seus CME não terem sede e as reuniões ocorrerem esporadicamente e sem local definido, seria difícil realizar quaisquer coletas de dados em seu âmbito. Os municípios de Confins,

Florestal, Itaguara, Mário Campos e São José da Lapa informaram ao IBGE que tinham CME, mas, segundo a respectiva SME, não há CME nestes municípios. Quanto a Ibirité, inicialmente a SME não soube informar se há CME naquele município, em seguida informou que há Conselho, mas não sabia precisar quem respondia por ele e, por fim, não houve mais contato da parte deles. O CME de Lagoa Santa informou que devido às alterações de pessoal no Conselho, por conta de dispensas na SME em função de novo mandato na prefeitura da cidade, não seria possível, naquele momento, autorizar a pesquisa. O CME de Mateus Leme funciona na Casa dos Conselhos da cidade, que sedia todos os conselhos daquele município, mas não autorizou a pesquisa com a justificativa de que as suas reuniões não têm quórum. A SME de Pedro Leopoldo informou que o seu CME, além de não ter sede, somente se reúne uma vez por ano, quando necessário. A SME de São Joaquim de Bicas não soube informar sobre a presença/ausência de CME naquele município. Em Sarzedo e Taquaraçu de Minas não foi possível contatar o CME do município, apenas a informação da SME de que ele está em funcionamento. Por fim, cabe ressaltar que, inicialmente, as SME de Brumadinho, Mário Campos e Matozinhos confundiram o CME com o Conselho do FUNDEB; e a de Confins, com o Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente.

Os dados acima destacados refletem, em alguma medida, o lugar do CME no seu respectivo município. Se as próprias SME têm dificuldades de informar sobre a presença/ausência do Conselho, dentre outras informações, é possível que o CME não seja considerado como um órgão relevante em sua estrutura. Ao lado disso, a imprecisão de informações sobre os CME implicam, também, a sua representatividade nas políticas oficiais de educação nestes municípios.

Após as diversas tentativas para acessar os CME da RMBH, conforme demonstra o item “Frequência dos contatos por telefone e/ou e-mail”, registrado no quadro 12, a pesquisa foi empreendida com apenas os 8 municípios que se dispuseram a contribuir, que são: Belo Horizonte, Betim, Caeté, Contagem, Esmeraldas, Juatuba, Ribeirão das Neves e Sabará. Considerando-se que existem 23 CME em funcionamento na RMBH, segundo as informações das SME, a pesquisa abarcou 43% do universo dos Conselhos na Região.

A perspectiva de RM não foi, então, contemplada nesta pesquisa, e não foram produzidas quaisquer probabilísticas, apenas tendências, pois trabalhou-se com uma amostra acidental, ou seja, composta por acaso. Contudo, os seus resultados podem contribuir com estudos e pesquisas acerca de CME, especialmente cujo objeto seja a relação representação- participação, que privilegiem a RMBH. Apesar de as RMs emergirem como objeto relevante em abordagens científicas e políticas, especialmente no campo das políticas públicas, desde o final do século XX (OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES, 2013), não há estudos e

pesquisas sobre CME nesta Região e, conforme a revisão da literatura empreendida no capítulo 4, somente os CME de Belo Horizonte (TELES, 2003; TEIXEIRA, 2004), Juatuba e Ribeirão das Neves (TEIXEIRA, 2004) foram alvo de pesquisas na área.