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A DEGOLA

No documento PR GERSON PIETTA (páginas 84-87)

2.3 O CUMPADRE CANDINHO NA POLÍTICA

2.3.1 A DEGOLA

Desde a Revolução Federalista de 1893, o poder esteve nas mãos do Partido Republicano Paranaense, formado em sua maioria por ex-picapaus, o lado legalista, que lutou ao lado dos governistas. Porém, nos idos de 1907, houve um revés inesperado na política paranaense. Bahls (2007) infere que a proposta de impugnação da candidatura de João Candido e Maciel partiu de Caio Machado, filho de Vicente Machado, e a partir disso organizou-se uma “coligação com membros influentes da política local, como Manuel Alencar Guimarães, Presidente da Assembleia Legislativa do Estado, e o senador Francisco Xavier da Silva.” (BAHLS, 2007, p. 130). Essa movimentação intitulou-se Coligação Republicana do Paraná.

Nicolau Sevcenko (1983) em seu capítulo A Inserção Compulsória do Brasil na

Belle Époque, mais especificamente em seu subtítulo Rio de Janeiro, Capital do Arrivismo afirmava que o advento da ordem republicana, além de assinalar de forma

nítida “um amplo processo de desestabilização e reajustamento social” (...), “foi marcado também por uma série contínua de crises políticas – 1889, 1891, 1893, 1897,

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Segundo Dagostim (2011) a prática popularmente conhecida como degola “era um mecanismo de não reconhecimento de diplomas pelo Congresso Legislativo, somada a outras práticas de manobras fraudatórias que estão na base do processo eleitoral da Primeira República, que as oligarquias estaduais disputavam o espaço do poder político.” (DAGOSTIM, 2011, p. 43).

1904.” (SEVCENKO, 1983, p. 25). O autor relata que grandes ondas de “deposições”, “degolas”, “exílios”, “deportações” “atingiram principalmente e em primeiro lugar as elites tradicionais do Império e o seu vasto círculo de clientes” (SEVCENKO, 1983, p. 25). De certa forma, não foi somente o Rio de Janeiro o afetado por essas ondas de desestabilizações. No Paraná, o panoramo não diferiu completamente, e o caso específico da “degola” política João Candido Ferreira demonstra que a organização da oligarquia agrária tradicional paranaense também passava por tensões. Ambos, na verdade renunciaram quando viram decretada a degola.

Figura 4: “O nosso S. João, porem, não dorme e é, acima de tudo, candido.” Fonte: O Olho da Rua,

A revista O Olho da Rua entrou em circulação em 13 de abril de 1907. Impressa na capital paranaense, tinha como objetivo analisar a política e a sociedade, e pregava em seu programa o distanciamento de nomes políticos, e o ideal era a liberdade e a crítica. Em seu primeiro número já manifesta seu caráter de inteligência e sátira para com os acontecimentos, em que com o título Politicagem, assinado por Job, revelam que não são frequentadores do Palácio, aquele “augusto recinto”, desconhecendo o mecanismo que o move, mas que pretendiam “penetrar no machiavelico labyrinto da politica apenas guiados pela besbilhotice”. E assim o fizeram! Candido por estar inundado na politica passou a ser constantemente citado, o que revela um emaranhado de conflitos políticos.

Em 07 de setembro de 1907, a revista O Olho da Rua utilizava do viés de sátira na charge para denunciar o acontecimento na política estadual. Durante toda a eleição, os grupos interessados, tanto pica-paus quanto maragatos, foram abordados nessa revista, por meio das charges. A afamada Coligação não ficou de fora, e o título ainda mais satírico era “Descansar carregando pedras...”.

O fim da década de 1920 evidenciava um processo de desvinculação dos correligionários do Partido Republicano do Paraná para a Aliança Liberal. Dagostim (2011, p. 67-68) afirma que nomes como “Roberto Glasser, João Cândido Ferreira e Ottoni Maciel além de veteranos da política paranaense, eram também figuras centrais da Aliança Liberal no Paraná, e faziam parte da comissão executiva.” Porém, quais foram as motivações dessa desvinculação? Certamente João Candido tinha muitas motivações, a começar pelo golpe sofrido nas eleições vitoriosas em urna, de 1908, quando da improvável “Coligação” entre maragatos e pica-paus, velhos inimigos da Revolução Federalista de 1894. Tanto que, durante um grande período, Candido se desvincula da política, e passa a figurar entre cientistas sociais, preocupados com a sociedade. Esse momento será evidenciado no capítulo 3 de forma mais ampla.

No ano de 1934, houve uma última mudança de partido. O jornal Correio do

Paraná evidenciou a guinada dos membros do Partido Liberal do Paraná para o recém-

formado Partido Social Nacionalista. Em 12 de julho de 1934 o jornal trouxe uma cópia da ata de fundação, documento que afirmava que:

(...) os nomes que fazem parte da direção central garantias efetivas e valiosas do apoio que merece o Partido Social Nacionalista da grande maioria do Paraná, culminando esse apoio com o ingresso dos doutores Marcelino Nogueira Junior, João Candido Ferreira,

Jeronymo Cabral e outros vultos nas fileiras nacionalistas. (Jornal

Correio do Paraná, 12/06/1934, p. 05-06).

A ata de fundação é intitulada pelo jornal Pulando de Galho! Um documento que

define um homem. Joao Candido deixava o Partido Republicano Paranaense, do qual foi

o maior representante na primeira década, para fazer parte do PSN. Houve uma tentativa de retorno de Candido à política no ano de 1934, lançando sua candidatura ao governo do estado pelo novo partido. Enfrentou nessa eleição Manuel Ribas, pelo PSD, partido criado por ele mesmo. Dagostim (2011, p. 176) e Marquette (2013, p. 300) relatam que “A candidatura de Manoel Ribas venceu a de João Candido Ferreira, do PSN, que obteve 05 votos contra os 20 do ex-interventor.” A derrota não foi com um número absurdo, pois a porcentagem de ¼ dos votos ainda é significativa. Houve na pesquisa grande dificuldade de encontrar fontes a respeito desse momento político em que João Candido disputava a Presidência do Estado com Manuel Ribas – que passou a ser o Interventor de Vargas no Paraná. Até mesmo os periódicos que discutiam muito as questões políticas deixaram essa questão de lado. As informações aqui estão dispostas para o leitor inteirar-se que Candido retornara ao meio político por vias partidárias, no entanto, o campo político já não estava propício para sua aceitação, diferentemente do que acontecia no campo médico dos princípios dos anos 1930. 101

No documento PR GERSON PIETTA (páginas 84-87)