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2 A ANÁLISE DE RESULTADOS E A RELAÇÃO COM AS VARIÁVEIS QUE

3.1 A descontinuidade do planejamento estratégico

O governo do Estado do Rio de Janeiro atravessa uma grave crise financeira e na área educacional, no período de 02 de março a 26 de julho de 2016, aconteceu uma greve dos professores com a ocupação das escolas pelos alunos.

A pauta de reivindicações do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (SEPE) publicada inclui questões salariais e fim do planejamento estratégico adotado pela SEEDUC-RJ em 2011. No site do SEPE23 foi publicado o resultado das negociações entre o SEPE e o governo do estado do Rio de Janeiro, com destaque para os acordos conquistados que impactam diretamente na política educacional adotada:

1) Escolha do diretor de escola pelo voto: CONQUISTADO e publicado no Diário Oficial de 06/06/2016; (...)

11) Fim do pagamento de bônus por metas pré-estabelecidas: CONQUISTADO; (...)

19) Fim do SAERJ: CONQUISTADO. Não será mais meritocrático e sim relacionado ao ENEM; (...)

21) Fim da GIDE: em negociação. (SEPE, 2016).

O SEPE, por meio das negociações, conquistou o fim da politica de meritocracia, com a extinção do Processo Seletivo Interno (PSI) para cargos comissionados de diretor escolar e extinção das metas, as quais bonificavam as escolas e os servidores.

De acordo com a NOTA disponibilizada no site da SEEDUC-RJ “haverá o último SAERJ no fim deste ano. Em 2017, haverá reformulação da avaliação, para que seja feita em parceria com professores da rede e sirva como um simulado para os alunos” (RIO DE JANEIRO, 2016).

A SEEDUC-RJ nesta mesma NOTA divulga o fim do pagamento de bônus por atingimento de metas pré-estabelecidas e afirma em relação à escolha do diretor escolar

Escolha do diretor de escola pelo voto: já está na Alerj e em votação um projeto de lei que permitirá que a escolha do diretor de unidade escolar seja pelo voto da comunidade (professores, pais e alunos). O candidato deverá ter plano de gestão a ser apresentado à comunidade escolar e passar, antes de assumir a vaga, por curso de gestão da Seeduc. Os dois casos, no entanto, não serão eliminatórios. Este ano, haverá a escolha pelo onde

23 Disponível em: < http://www.seperj.org.br/ver_noticia.php?cod_noticia=7288>. Acesso em: 28 jul. 2016.

houver vacância e no ano que vem em todas as unidades. Nas 69 escolas ocupadas até a data de 10 de maio de 2016, 40 dias após o fim das ocupações, haverá a eleição. (RIO DE JANEIRO, 2016).

Estes pontos acordados atingem diretamente o planejamento estratégico elaborado em 2011 pela SEEDUC-RJ e demonstram a resistência dos professores em relação às avaliações externas, quando atribuem a ela o papel de instrumento burocrático do sistema para controle do professor na sua autonomia em ensinar, como ensinar e como avaliar. Este fato é corroborado por grande parte da categoria e identificado no discurso publicado durante a greve pelo sindicato dos profissionais da educação

Desde a implementação dos sistemas meritocráticos de avaliação frutos de uma política neoliberal que tem por objetivo transformar a educação em “mercadoria” e os profissionais e alunos em máquinas voltadas para a produção de índices para a distribuição das parcas verbas para o setor, o Sepe e os profissionais de educação das redes públicas em nosso Estado têm lutado para a revogação de tais artimanhas. Ao longo dos últimos anos denunciamos e fomos testemunhas das distorções provocadas pelas avaliações como o SAERJ (RIO DE JANEIRO, 2016).

Estes pontos acordados atingem diretamente o planejamento estratégico elaborado em 2011 e observado no discurso dos professores do CSP, mas tal fato possibilita a reflexão acerca da implementação e concepção da política educacional desenhada e aplicada nas escolas da rede estadual de educação do Rio de Janeiro.

O desafio da implantação de uma política, conforme afirma Condé (2011, p. 15) é a “distância ou o fato de, muitas vezes, a política ser elaborada “fora”, onde quem está na ponta do sistema precisa ser induzido a implantar algo que não foi por ele formulado. Por isso, é importante considerar estruturas de incentivos para quem atua implementando”.

Muitos fatores interferem na efetivação de uma política, contudo a participação dos envolvidos na proposição, no acompanhamento, no planejamento e na avaliação pode definir e consolidar a concretização ou não da implementação da política. Condé (2011) ressalta

Eventualmente, diretrizes originais não chegam ao alvo, ou seja, a política é apresentada como pronta e as pessoas envolvidas não sabem exatamente porque estão fazendo aquilo. Essa falha pode ser por excesso tecnocrático e/ou por falhas na comunicação. Quem implanta precisa conhecer porque faz determinadas coisas e não outras; a relação deficiente com o público alvo, tratando-o como depositário da política e não como sujeito ativo para

seu sucesso. Regra geral acredita-se que as pessoas não precisam saber como é ou como funciona o programa (CONDÉ, 2011, p.17).

Seguindo essas indicações, é notória a necessidade de se formular um novo desenho de avaliação apoiado na comunicação entre o sindicato, representante dos profissionais de educação, e a SEEDUC-RJ, a fim de promover avanços para a educação fluminense.

A negociação aponta para a permanência da avaliação externa, mas com novo desenho, visto não ser possível ignorar a repercussão política. A questão da qualidade educacional e a melhoria dos processos constituem um problema público, os quais segundo Condé (2011, p. 09) “trata-se de considerar as alternativas e formular soluções”.

Nesta perspectiva, a influência externa pode ser relevante e Condé (2011, p.10) pondera sobre a consulta aos atores ou até mesmo a alteração de uma formulação original e conclui “é difícil impor um modelo, particularmente em se tratando de um regime democrático onde conflitos são canalizados para as instituições e vão sendo resolvidos por debate, acordos e coalizões, expressos no processo decisório”.

As decisões, tomadas por quem está na ponta do processo, indicam uma conexão entre a formulação e a implementação da política, possibilitando a interação entre quem a formula e quem por ela é afetado.

A implementação desse novo desenho da avaliação externa encontrará sugestões no Plano de Ação Educacional (PAE), visto que fragilidades foram apontadas e identificadas no CSP através da resistência dos professores, da vulnerabilidade das ações de apropriação e uso dos resultados, e da formação da gestão para resultados.

Será proposto um espaço para reflexão que possibilite que a SEEDUC-RJ repense o formato das avaliações externas e fomente políticas de melhoria do desempenho dos alunos da sua rede de ensino, tomando como eixo norteador as práticas desenvolvidas e observadas na escola pesquisada.

3.2 Levantamento de proposições acerca da avaliação externa no ambiente