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A difusão da base econômica

No documento Santa Cruz do Sul (RS), 03 de julho de 2009 (páginas 31-34)

2.1 A Teoria da Base Econômica

2.1.2 A difusão da base econômica

Difusão é a propagação da base de exportação para outros setores, para outros ramos de atividades e para outros lugares. Nessa difusão, o processo de acumulação de capital atinge áreas rurais, mas ocorre de modo “aglomerativo” nos centros urbanos, ou seja, intensamente em alguns pontos privilegiados da estrutura da economia regional e se propaga para o resto do sistema. Trata-se de um processo inerentemente desequilibrado e cumulativo.

Essa difusão, segundo North (1999), envolve mudanças econômicas, que é uma condição prévia para melhorar o desempenho econômico das atividades e, consequentemente, da própria economia regional. Por mudança econômica, North entende uma transformação que envolve o fator demográfico, ou seja, expande a população criando consumidores e postos de trabalho; que envolve a matriz institucional, que organiza e estrutura a sociedade; envolve o conhecimento humano, para inovar e aplicar novas técnicas, conseguir novos mercados e gerir o processo de desenvolvimento. Essas transformações se propagam no espaço e auxiliam na transmissão e na reorganização na matriz econômica regional.

Nas aplicações das formas concretas e pelas quais se dá a transmissão de impulsos de crescimento de um ponto para outro, North (1977) considerou o conjunto das inter-relações dos ramos de atividades do espaço regional com o espaço nacional, em especial, utilizando a variável “emprego” como alternativa mais eficiente para analisar as aglomerações das atividades regionais. Afinal, o objetivo de toda política pública de desenvolvimento regional é gerar emprego e renda.

Na Figura 2 é ilustrado esse processo de transmissão ou de difusão da base econômica para outros setores ou para outros ramos de atividades produtivas, consequentemente estimulando novas atividades econômicas, a formação de plataformas exportadoras e gerando emprego e riqueza.

Figura 2 - Difusão do Dinamismo da Base para Outros Setores da Economia Regional

Fonte: Adaptações do autor a partir de North (1955, 1961, 1961a, 1977a, 1977b).

Pelo esquema, tem-se que a atividade de base esteja crescendo de forma adequada e aos seus canais de comercialização e de distribuição têm conseguido expandir o mercado.

Esse crescimento leva cada vez mais a exportações inter-regionais. Para que, porém, ocorra o processo de desenvolvimento, a base de exportação tem que ser capaz de estimular outros setores; capaz de se diversificar o longo do tempo; e capaz de se difundir para outras atividades na região. Isso ocorre estimulado pela entrada de novos capitais, seja em função dos fluxos monetários comerciais quanto aqueles oriundos de novos investimentos no espaço regional. À medida que esses fluxos entram na região, os empresários expandem as suas atividades econômicas seja na ampliação das suas plantas ou na construção de novos projetos produtivos. O impacto primordial de tudo isso é na variável emprego. Maior o dinamismo, mais postos de trabalho são gerados ao longo do tempo. Isso significa que a massa monetária que entra na economia regional oriunda do comércio exterior fortalece a criação de emprego e

renda. A economia se dinamiza cada vez mais em função do efeito multiplicador do consumo e do investimento, na diversificação da base de exportação. Essa diversificação estimula o fim da dependência da estrutura agrária e faz a economia regional avançar para uma estrutura produtiva cada vez mais alicerçada nos setores secundário e terciário. Ou seja, os postulados do desenvolvimento regional, baseados na Teoria da Base Econômica, exigem a geração e diversificação de novas bases de exportação ao longo do tempo.

Resumindo, para North (1999), o processo de desenvolvimento regional estimulado pelas atividades de base, à medida que incorpora novas tecnologias, cria infraestruturas, gera novas demandas internas e fortalece o arranjo institucional, fomenta economias externas, tais como mercados de bens e de serviços, e possibilita a redução dos custos de transação.

Vale ressaltar que o mecanismo de transmissão inter e intrarregional foi explorado também pela análise teórica do desenvolvimento econômico de Albert Hirschman. Hirschman (1958, 1977, 1996) teoriza as ideias de mecanismo de transmissão indutor inter-regional de crescimento e do poder de encadeamento produtivo. Ele partiu do pressuposto de Perroux (1977), de que o progresso econômico não ocorre ao mesmo tempo em toda parte, porém, uma vez ocorrido o progresso, forças poderosas provocam uma concentração espacial do crescimento em torno dos pontos onde o processo se inicia. Com isso, Hirschman (1977, p.

39) quer dizer que “Os efeitos de fluência e de polarização sobre duas regiões (norte-sul), não importa quão forte e exagerada seja a preferência espacial dos agentes econômicos, uma vez que o crescimento se fortaleça em parte do território nacional, obviamente colocam em movimento certas forças que atuam nas partes restantes”.

Neste sentido, há formas de difundir os novos métodos e as novas formas de organização da produção para toda a economia, inclusive incorporando os setores atrasados ao processo de expansão. De acordo com Hirschmann (1958, p. 41) , o mecanismo indutor do crescimento, “[...] pode ser encontrado numa certa característica do investimento, a saber, sua capacidade de contágio na geração de mais investimento”.

Hirschman (1958, 1996) chamou isso de efeito complementar e pretendia, com essa expressão, enfatizar que os impulsos de crescimento em um setor transferem-se, em geral, para outros por meio da organização do meio econômico. Neste aspecto, Hirschman (1996), ao tratar do mecanismo indutor, argumenta que a sua essência consiste num melhor

aproveitamento possível dos efeitos intersetoriais e inter-regionais, em especial dos complementares, por meio do mercado e das instituições, progressivamente.

Através dos efeitos complementares, Hirschman (1958, 1977) chegou aos conceitos de “encadeamento para trás” e de “encadeamento para frente”. Por intermédio desses encadeamentos, o crescimento de uma unidade industrial provoca o crescimento, respectivamente, das indústrias que lhe fornecem matéria-prima e/ou insumos e das indústrias demandantes de seu produto e serviços. Esses efeitos complementares e/ou em cadeia, retomados por North (1961, 1961a, 1977b), reforçam a viabilidade deste estudo. Esses efeitos/cadeia são necessários para entender o efeito de encadeamento, bem como para entender a sua tendência para descobrir os setores ou ramos de atividades econômicas que formam a dinâmica da geografia econômica urbana, e, dentre os ramos, conhecer quais teriam mais especialidade de produzir economias urbanas.

Desta forma, as indústrias e/ou empresas exercem um papel de propulsoras, de indutoras e de transformações da estrutura regional e local, provocando o aparecimento de novas atividades dinamicamente complementares às próprias ou às outras atividades das regiões especificamente urbanas. O conjunto das atividades atua de forma articulada no sentido de causação circular cumulativa na transmissão dos impulsos de crescimento para toda estrutura da economia regional, especificamente para o centro urbano, o que se justifica na concepção de Hirschman (1958, 1977) e North (1961, 1961a, 1977b).

No documento Santa Cruz do Sul (RS), 03 de julho de 2009 (páginas 31-34)