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O enfoque institucional de Douglass North

No documento Santa Cruz do Sul (RS), 03 de julho de 2009 (páginas 34-37)

2.1 A Teoria da Base Econômica

2.1.3 O enfoque institucional de Douglass North

O enfoque institucional de Douglass North compreende a segunda fase do seu pensamento. Tanto que as ideias de Douglass North sobre a base de exportação e do papel das instituições na dinâmica das economias regionais se complementam. Apesar de a base de exportação “alavancar” o crescimento econômico regional, inserir as economias regionais na economia nacional e ampliar o leque de transformação econômica intrarregional, North (2006, p. 9) afirma que “[...] o desempenho econômico é função das instituições e de sua evolução”.

As instituições dão o suporte legal, inovador, estrutural para que a base de exportação renove o seu dinamismo ao longo do tempo. North (1990, 2006) procura explicar a natureza das instituições e os processos que as levam a se transformar. Com isso, o autor formula aportes

teóricos que expliquem o desempenho diferenciado das economias. De certa forma, ele fornece mecanismos que auxiliam na explicação da polarização, pois economias com a mesma base de exportação têm dinâmicas diferenciadas de crescimento econômico. Nesse caso, como as instituições atuam na coordenação dos agentes econômicos e na operação eficiente do mercado, então boa parte das dificuldades de desenvolvimento das economias regionais está ligada à eficiência do aparato institucional.

Cruz (2003) afirma que o aporte teórico de North sobre as instituições afasta o pensador da escola neoclássica do pensamento econômico. Inclusive North identifica as dificuldades do pensamento neoclássico no trato das questões ligadas aos desequilíbrios regionais, da regulação dos mercados, da incerteza, da definição das “regras do jogo”. No caso das “regras do jogo”, essa por si só já é uma definição de instituições. Para North (2006, p. 13), as instituições são as convenções, os códigos de conduta, as normas de comportamento e as regras formais que conduzem a sociedade. Enquanto as instituições são as “regras do jogo”, as organizações são os jogadores.

Frente a essa definição, resta a questão: – Como as instituições influenciam o desempenho das regiões? Para North (1990, 2006), isso ocorre através da redução dos custos de transação e de transformação. Os custos de transformação estão ligados aos custos de produção. Já os custos de transação são aqueles que incidem sobre as operações do sistema econômico. Apesar de parte da estrutura econômica de uma região não estar diretamente ligada à produção propriamente dita, ela dá suporte a essa produção. Assim, o setor terciário tem um papel fundamental em garantir não só o consumo dos excedentes gerados nos setores primário e secundário, mas garantir os encadeamentos da matriz produtiva com as “regras do jogo”. O setor terciário dá apoio às atividades produtivas, tanto na forma distributiva como na regulação.

A base econômica ganha importância na segunda variável do processo de intercâmbio, que é o tamanho do mercado. Mais amplo o mercado, maiores são as possibilidades, mas também as incertezas. North (1990, 2006) afirma que as instituições reduzem as incertezas por meio da estruturação da interação entre os diversos agentes econômicos. Com isso, os agentes são capazes de avaliar as suas escolhas e alternativas que os levem aos objetivos desejados, que, em geral, é o lucro e o crescimento dos negócios. Para North (1990, p. 89), da mesma forma que a base de exportação se altera com o passar do

tempo, com as instituições ocorre o mesmo processo. As mudanças na base são tanto de diversificação quanto de difusão da mesma base. Já as instituições evoluem no sentido de atualizar o seu suporte e criar subsídios ao funcionamento adequando do ambiente econômico, em que estão inseridas as pessoas como as atividades econômicas, tanto básicas quanto não-básicas. Nesse caso, as regras não são estáticas, mas acompanham o dinamismo das atividades produtivas.

Apesar de a fase institucional de Douglass North ser mais recente, esta pesquisa utilizou o suporte teórico da primeira fase. Supõe-se, no caso desta pesquisa, que as regras do jogo já são definidas a priori e a mudança institucional é incremental. Como afirma Cruz (2003, p. 117), a mudança institucional “[...] se verifica à margem, como resultado agregado da decisão descentralizadora dos agentes”. Além disso, a economia capitalista surgiu a partir das trocas inter-regionais, com a ampliação do comércio, com a distribuição ao longo dos territórios das atividades produtivas e a mobilização dos recursos ao longo das fronteiras produtivas. A segunda fase do pensamento de North ignora esses movimentos e não fornece subsídios para quantificar ou medir o conjunto das transações, das “regras do jogo”, ou seja, da matriz institucional.

Diferente de Douglass North, Krugman, Venables e Fujita (2002), ao revisar os postualados da Teoria da Base Econômica, a consideraram insatisfatória para explicar a dinâmica de algumas economias. Segundo os autores, ela desconsidera a ação da concorrência, a influência do tamanho do mercado, a base de exportação como fator exógeno e quando sua aplicação se faz em economias ou regiões muito amplas e altamente complexas.

Assim, ela só seria satisfatória em regiões que oferecessem conexões entre os ramos industriais e as atividades primárias a partir do fornecimento de insumos. Por isso, esse estudo enfoca o Estado do Paraná, cuja economia ampliou sua diversificação produtiva e sua complexidade a partir de 1998, com a instalação do pólo automotivo da Região Metropolitana de Curitiba e se entorno. Além disso, a base produtiva paranaense, instalada até metade da década de 1990 utilizava insumos intermediários que em grande parte eram produzidos no dentro do espaço paranaense2.

2 Os textos de Padis (1981), Rolim (1995), Macedo et alii (2002) e Rodrigues et alii (2006) apontam esse aspecto da economia paranaense.

Em vista do exposto, a teoria da base econômica apresentada por North (1955, 1961, 1961a, 1977a, 1977b) sustenta os encaminhamentos de análise desse estudo no período analisado. O autor, para validar empiricamente as suas concepções teóricas, explorou as características de regiões canadenses e americanas, que cresceram, diversificaram e difundiram a sua estrutura produtiva. No caso, o espaço paranaense é uma “região nova”, que apresenta características de colonização que se assemelham às “regiões novas” e de estrutura exportadora estudadas por North. Por isso, torna-se um objeto de pesquisa apto a testar a concepção northiana da base econômica no desenvolvimento regional paranaense no final do século XX.

Diferente do aporte institucional, o modelo de base econômica é, portanto, operacional à medida que se pode quantificá-lo, mensurá-lo, fornecendo um conjunto de indicadores de análise regional capazes de apontar as suas mudanças ao longo do tempo. Para que o modelo de base econômica seja operacional, faz-se necessário empregar uma “medida”

das atividades básicas e não-básicas que permitam uma determinação quantitativa de cada atividade básica e que possa a separar os ramos de atividades da economia em básico e em não-básico. Esse aspecto operacional está mais bem detalhado na metodologia da pesquisa no próximo capítulo.

2.2 Do Espaço Brasileiro ao Espaço Paranaense: a formação da base econômica no

No documento Santa Cruz do Sul (RS), 03 de julho de 2009 (páginas 34-37)