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CAPÍTULO 3 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DA SOCIEDADE

3.3 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A PROTEÇÃO DO MEIO

O meio ambiente e sua proteção são considerados como uma extensão do direito à vida, se assim se considerar como tal o simples direito de viver valendo-se de todos os direitos fundamentais. 116

Com o passar dos anos e a evolução do tratamento legal dispensado ao meio ambiente, ou seja, a incorporação da preservação aos textos fundamentais de diversos países, o meio ambiente ecologicamente equilibrado tornou-se um imperativo fundamental de sobrevivência e de solidariedade.

Trata-se, o meio ambiente, de um direito humano fundamental, assim como o direito à vida, interessado em proteger os valores fundamentais da pessoa humana e necessário à toda população. 117

116

KLOEPFER, Michael. Vida e dignidade da pessoa humana. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.).

Dimensões da Dignidade. Ensaios de Filosofia do Direito e Direito Constitucional. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, 2005, p. 158. Michael Kloepfer entende que nele (no direito a vida) está abrangida a existência corporal, biológica e física, pressupostos vitais para a utilização de todos os direitos fundamentais.

117

FIORILLO. Celso Antônio Pacheco. Princípios do Processo Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 33.

A preocupação com o meio ambiente, entendido como bem de uso comum do povo, representando um direito subjetivo e vinculado, essencialmente, ao direito à vida, encontra guarida na Constituição Federal de 1988.

Não resta dúvida de que seja um direito fundamental, apesar de não estar contido no art. 5.º da Constituição Federal. 118

Inclusive, comungando com o posicionamento de Ingo Wolfgang Sarlet, é de se entender que a proteção do meio ambiente está inserida na proteção do princípio da dignidade da pessoa humana, entendida como a qualidade reconhecida em cada ser humano de respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, asseguradas condições existenciais mínimas para uma vida saudável. 119

Entende o autor, mais adiante em sua análise, que a ofensa a qualquer direito fundamental será uma ofensa que terá relação direta com a dignidade da pessoa humana e seus pressupostos 120, construídos ao longo de décadas, quiçá séculos, e já devidamente previstos nas modernas Constituições, a exemplo dos países da União Européia e do Mercosul. 121

118

HÄBERLE, Peter. A dignidade humana como fundamento da comunidade estatal. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). Dimensões da Dignidade. Ensaios de Filosofia do Direito e Direito

Constitucional. Porto Alegre; Livraria do Advogado, 2005, p. 102. O autor menciona a necessidade

de se dar interpretação extensiva ao conceito, uma dimensão comunitária da dignidade, assim como o Estado Social de direito o fez com a proteção do meio ambiente.

119

SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direito Fundamentais na

Constituição Federal de 1988. 5.ª edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 62. A obra

menciona, ao seu largo, uma análise da dignidade da pessoa humana e dos direitos fundamentais, dando conta de sua importância e a condição de fundamento do Estado Democrático de Direito. No rol de direitos mencionados pelo autor, é de se associar a proteção do meio ambiente.

120

SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direito Fundamentais na

Constituição Federal de 1988. 5.ª edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 106.

121

SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direito Fundamentais na

Constituição Federal de 1988. 5.ª edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 64. É de se

destacar a previsão nas Constituições de países como Alemanha, Espanha, Grécia, Irlanda, Portugal, Itália, Bélgica, Brasil e Paraguai.

Em outra obra, Ingo Sarlet salienta que é impossível desconsiderar a necessária dimensão comunitária, social da dignidade da pessoa humana, com base no preceito da Declaração Universal de Direitos de 1948. 122

Assim, também não se há negar a participação da proteção ambiental, de eminente cunho social, nesse rol de proteção.

A dignidade da pessoa humana, com as amplíssimas implicações jurídico- axiológicas que lhe dizem respeito, significa justiça, segurança, direito á habitação, à sadia qualidade de vida e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 123

Recentemente, o Tribunal Constitucional Federal Alemão atualizou a dimensão da dignidade da pessoa humana em sua jurisprudência, ampliando seu significado para diversas decisões. 124

Essa interpretação extensiva permitiu que o direito de ser ouvido em juízo, o direito a garantia de proteção jurídica, a liberdade de crença e de consciência, a liberdade de informação, a liberdade artística, bem como uma série de outros direitos e garantias fossem considerados. 125

Com toda essa amplitude, é chegado o momento de mudança nas relações de classes, com o incremento da educação, da ciência e da tecnologia, levando a uma

122

SARLET, Ingo Wolfgang. As dimensões da dignidade da pessoa humana: construindo uma compreensão jurídico-constitucional necessária e possível. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.).

Dimensões da Dignidade. Ensaios de Filosofia do Direito e Direito Constitucional. Porto Alegre;

Livraria do Advogado, 2005, p. 23. 123

BORGES, José Souto Maior. Curso de Direito Comunitário. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 276. 124

HÄBERLE, Peter. A dignidade humana como fundamento da comunidade estatal. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). Dimensões da Dignidade. Ensaios de Filosofia do Direito e Direito

Constitucional. Porto Alegre; Livraria do Advogado, 2005, p. 97.

125

HÄBERLE, Peter. A dignidade humana como fundamento da comunidade estatal. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). Dimensões da Dignidade. Ensaios de Filosofia do Direito e Direito

melhoria da qualidade de vida, apesar das desigualdades presentes entre os diversos elementos sociais. 126

E essa transformação passa, necessariamente, por uma nova forma de participação do Estado, regulando as questões da produção e do emprego (produtos e serviços) na sociedade industrial.

126

BECK, Ulrich. La Sociedad del Riesgo: Hacia una nueva modernidad. Barcelona: Paidós, 1998, p. 102.

PARTE II

REGULAÇÃO ECONÔMICA,

CAPÍTULO 4 - O ESTADO NEOLIBERAL E SUA CRISE