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5 IMPACTOS AMBIENTAIS, SOCIAIS E ECONÔMICOS: OS OLHARES DAS

5.1 OS OLHARES DAS TÉCNICAS

5.1.3 A Dimensão Econômica

As questões financeiras pessoal e da casa, também às ligadas ao consumo e autoconsumo, e economia da comunidade se entrelaçam nas falas das técnicas quando estas descrevem a realidade das agricultoras após o uso do Sistema Água Viva, de maneira que é difícil que apareça apenas uma dessas subcategorias quando estas mulheres estão abordando a dimensão econômica.

Especificamente sobre a renda pessoal e da casa, as técnicas avaliam que houve alteração para melhor destas por causa da influência da tecnologia social e ligam essa mudança ao fato da comercialização solidária realizada fora da comunidade e, também, ao que é circulado dentro da própria comunidade.

[...] E com relação à renda, à autonomia, essas coisas, elas falam que... Pelo menos Dona Margarida, em muitos depoimentos que elas dizem que eu concordo, tanto ela como Alexandra: pelo menos as coisas de casa elas não compram mais, e vendem muito, vendem bastante. [...] Com relação à hortaliça, o que ela diz é “o que eu produzo de hortaliça dá para suprir a necessidade de casa”, então isso aí ela ganhou nisso aí. Ela disse “eu nunca pensei que com a idade que eu tenho eu ia ter tanta coisa para trabalhar e ganhar dinheiro dentro de casa, plantando e sustentando o povo de casa”. Elas deixam de comprar, elas comem o que elas produzem e elas tem uma variedade muito grande dentro do quintal delas. Elas mandam pra Rede Xique Xique, né, e comercializam lá na comunidade (Técnica Clara).

[...] se você pensar que eu tenho aquele produto em casa e não vou precisar gastar dinheiro para comprar, é uma outra forma de renda, né: elas garantiam

em casa um alimento saudável. [...] No caso de Dona Margarida, ela também falava muito que “agora não me falta um dinheirinho no bolso”. A valorização do trabalho dela em casa também melhorou, passou a ser mais valorizado (Técnica Frida).

Olhe, eu acho que contribuiu com o incremento da renda delas. [...] Tanto porque elas passaram a contribuir mais pro autoconsumo, e autoconsumo é renda. Como também passaram a comercializar e ter também uma renda monetária (Técnica Nísia).

Da fala das técnicas, depreende-se que a questão da renda não é analisada por si só, referindo-se somente aos ganhos monetários que as agricultoras tiveram após a utilização da água do reuso em seus quintais. Verifica-se que ao falar sobre essa subcategoria, as técnicas relacionam-na ao autoconsumo da casa, indicando que estas veem um imbricamento entre essas duas subcategorias.

[...] elas têm uma renda, porque como essas plantações que elas não tinha antes, hoje elas já têm através desse projeto, porque é um projeto muito bom, porque não é só um projeto da tecnologia em si, mas além da tecnologia a gente olhando, assim percebe outros valores, como a venda dos seus produtos, porque antes elas não tinha esse produto. [...] quando você tem essa valorização dessa água, você tem o recurso, você tem hortaliça, você pode criar galinha… Você tem seu consumo, você não vê o dinheiro em si, mas você não tá gastando, alterou também o consumo delas (Técnica Anatália). Aqui nota-se que o item renda abrange uma capacidade dual da tecnologia social estudada, uma vez que além de gerar renda à usuária, minimiza os gastos envolvidos com a compra de alimentos que agora estas usuárias passaram a produzir.

Fica evidente que as técnicas veem que houve alteração da dinâmica da economia da comunidade após o início e/ou fortalecimento da produção dos quintais onde a tecnologia está instalada e isso, segundo as mesmas, se dá por várias razões.

[...] a comercialização teve dois momentos: No início, a gente ainda conseguiu organizar pelo desejo delas e pela quantidade do volume produzido, elas conseguiam mandar, além de consumo, de comercializar na comunidade, vinha pra Mossoró pra ser comercializado lá na Rede Xique Xique. [...] Então, elas mandaram por um bom tempo. E depois elas passaram a comercializar só lá na própria comunidade, porque também a demanda lá na comunidade foi aumentando. [...] contribuíram para as suas rendas e, consequentemente, melhora, contribui pra renda da comunidade, né. E uma circulação também, porque lá naquela comunidade, por exemplo, as compras das verduras, às vezes, acontecia lá na feira em Caraúbas, e pelo menos as hortaliças, alguma verdura, alguma coisa, passou a circular o dinheiro na própria comunidade, né. Um dia uma compra numa casa, outro dia, compra em outra (Técnica Nísia).

[...] eu não posso falar muito ainda sobre o segundo bloco de mulheres, mas pela experiência das três primeiras, Tereza menos, mas Alexandra e Margarida isso era muito claro. Tanto na quantidade produzida que era vendida e,

diminuindo o preconceito elas conseguiam vender toda a produção lá na comunidade... (Técnica Frida)

Um outro processo aqui relacionado com a economia da comunidade se refere as trocas que ocorrem entre as próprias agricultoras que têm o Sistema Água Viva instalado em suas casas. Esse processo, segundo uma das técnicas, ainda não é assimilado pelas mulheres como sendo uma troca que significa também renda, mas, apesar disso, essas trocas têm grande relevância para as agricultoras, refletindo-se também na variedade alimentar dos alimentos consumidos na comunidade.

[...] a gente pergunta “vocês trocam?”, mas elas não assimilam ainda a palavra troca, porque ela diz “ah, peguei uma bandeja de muda de alface com Alexandra e dei não sei quantos cocos a ela”. Elas não assimilam que isso é uma troca, é “ela me deu e eu dei a ela” [...] (Técnica Clara).

[...] Elas têm muita troca também. Uma das coisas que a gente observa é que é difícil falar de renda, porque as pessoas não registram o seu processo de geração de renda. Então, é difícil falar de renda, contabilizar: “aumentou tantos por cento”, porque eles também não gostam muito de dizer quanto ganham e tal. [...] Mas a gente tá participando de uma experiência que chama Caderneta Agroecológica e aí eu tava conversando com Arineide, que é a nossa técnica que hoje tá acompanhando lá e ela tava tabulando, né, as informações dos dois primeiros meses, e ela disse “Nísia, elas trocam muito. Eu fui pegar os dados da caderneta lá de Alexandra e tinha dizendo que ela trocou não me lembro exatamente qual era o produto. Aí eu não perguntei a ela com quem ela tinha trocado, mas era uma quantidade razoável. E os outros produtos que comeu e os outros produtos que vendeu e aqui na coluna da troca tinha também”. Aí ela disse “[...] fui pra casa de Fulaninha lá e ela tinha trocado batata, aí eu perguntei ‘você trocou essa batata com quem?’, aí ela disse ‘eu troquei com Alexandra’”. Então o processo da troca também é muito presente nesse processo de produção. Uma troca com quem tenha outro produto, né, e também mostra a diversificação dos alimentos que têm na comunidade (Técnica Nísia).

Não foi observado nas respostas das técnicas uma modificação que tenha existido no consumo, para além do autoconsumo aqui já mencionado, a partir dos recursos financeiros disponíveis após o uso da tecnologia nas casas.

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