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A dimensão político-econômica: problemas e estratégias

4.1 CARACTERÍSTICAS DA POLÍTICA DE SEGURANÇA ESTADUNIDENSE:

4.1.1 A política de segurança dos Estados Unidos para a América do Sul e as três

4.1.1.1 A dimensão político-econômica: problemas e estratégias

Como abordou Fernandes (2002), a segurança econômica representa o maior desafio na composição das estratégias da política de um país. O fato é que se os programas de desenvolvimento econômico falham, trazem consigo mudanças sociais revolucionárias, uma

vez que os pobres tendem a arriscar suas vidas em atividades criminais, ou contra a ordem social em vigência, criando um dilema de segurança para o Estado.

Desta maneira, Manwaring (2004) retrata que a falta de segurança econômica na América do Sul pode resultar no: enfraquecimento militar dos países e, portanto, aumento de corrupção dos setores militares; migração em massa para os países vizinhos, trazendo sérios problemas sociais para a região; além de que governos com economia débil, facilmente ignorariam o processo de integração hemisférica e, ao mesmo tempo, este isolacionismo poderia provocar tensão entre países da região.

Essa preocupação em incluir problemas econômicos na agenda de segurança dos EUA é recente. O governo Clinton elaborou esta fusão da política econômica para com a politica de segurança, porém não houve uma preocupação em estabelecer, de fato, o desenvolvimento econômico nos países da América do Sul, o que pode ser observado, segundo Bandeira (2007), são políticas econômicas de caráter exploratório. Nos países em que a interferência do governo norte-americano foi mais profunda, através dos planos econômicos “Made in Washington”, é notável o impacto negativo, são os casos de Argentina e Bolívia, este último país chegou a ter sua taxa de pobreza em torno de 80% em 2000. (NUÑEZ, 2002)

Para Nuñez (2002) é no governo de George W. Bush que há uma declaração de reconhecimento da variável econômica como fundamental à política de segurança. O que se considera em seu discurso é que a segurança dos EUA passa pelo desenvolvimento econômico dos países do continente Americano.

Essa preocupação se concretizou com a assinatura da Declaração de Quito em 2004, a qual afirma que segurança é indispensável na criação de desenvolvimento econômico e social, sendo que a pobreza e a exclusão social de grande parte da população também afetam a estabilidade das instituições democráticas. (MARCELLA, 2007)

Para Bojikian (2010), é possível identificar três pilares na elaboração da política de segurança econômica dos EUA e que são aplicados na América do Sul: livre comércio; segurança energética; e regimes financeiros.

Livre comércio para os EUA é um termo resumido. Na verdade seus interesses vão muito além do comércio. Inclui: acesso a mercados para bens como matéria prima; serviços em geral, setor de saúde, educação e financeiro; regras sobre investimentos; licenças tecnológicas, como patentes; e compras governamentais. O que dá garantia à atuação do corpo

executivo americano é o Bipartisan Trade Promotion Authority Act of 2001, mandato negociador concedido pelo Congresso dos EUA e estabelecido no Governo Bush (filho). Desta maneira o Poder Executivo deve buscar nos acordos comerciais mais do que a eliminação ou redução de barreiras às exportações norte-americanas de bens e serviços. (BOJIKIAN, 2010)

Dentre essas políticas, Bandeira (2010) relata que os Acordos de Livre Comércio (ALCs) são para os EUA um meio de consolidar a abertura econômica, harmonizar as regras e padrões sobre operações financeiras, investimentos, e comprometer os países de fato a protegerem a propriedade intelectual e as medidas de caráter prudencial sobre o sistema financeiro. A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) também proporcionou uma tentativa falhada dos EUA em implantar uma política de livre comércio continental em 2005, neste episódio o Brasil, com apoio da Argentina, obstruiu a implantação desta organização. O resultado foi uma corrida norte-americana em fechar ALCs com alguns países do Cone Sul, como Bolívia, Peru, Equador e Colômbia.

No que tange à segurança energética, os EUA encontram-se em uma posição nada confortável. Enfrentam a aproximação da Índia e da China como concorrentes pelos países fornecedores de petróleo e gás, além das mudanças legislativas ocorridas recentemente nestes países fornecedores. Os EUA defendem a desregulamentação e a liberalização do setor energético nos países da América do Sul, porém, o que se observa é justamente o contrário. É o caso da Lei dos Hidrocarbonetos na Venezuela e Bolívia, que visam aumentar consideravelmente os royalties sobre o petróleo e gás natural. (BOJIKIAN, 2010)

Já os regimes financeiros tratam da regularização da circulação do dinheiro e suas origens. Estão ligados diretamente com a preocupação do financiamento das principais organizações terroristas que ameaçam a segurança dos norte-americanos. Acredita-se que na tríplice fronteira possam existir potenciais financiadores destas organizações, devido à alta circulação monetária e a baixa fiscalização elaborada por Brasil, Argentina e Paraguai. Neste caso os estadunidenses elaboram muitas críticas ao MERCOSUL, relatando a alta circulação de bens, serviços e pessoas com baixa averiguação dos órgãos fiscais. Os EUA veem estes países mais preocupados com condições sociais e de pobreza, do que focados na “guerra ao terror”. (BOJIKIAN, 2010).

Neste caso observa-se a pouca preocupação que o governo norte-americano possui em relação ao desenvolvimento econômico e social da região, mesmo que em seu discurso note-se esta preocupação, na realidade muito pouco se faz para colaborar com o

desenvolvimento dos países sul-americanos. Nas palavras de Manwaring (2004), se os EUA continuarem a ignorar o que está acontecendo com o desenvolvimento comercial, expansão do terrorismo, expansão das “áreas sem leis”, e a expansão da instabilidade geral, a América do Sul poderia facilmente comprometer suas instituições democráticas, economia de livre comércio e a limitada prosperidade alcançada nos últimos anos. Como punição, os EUA ganhariam uma ameaça à segurança nacional e à posição do país na ordem mundial.

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