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Vila Nova de Gaia Freguesias

4. Para ver o mundo ao contrário basta virar a cabeça para baixo A Aventura

4.1. As portas, as questões, as soluções

4.2.2. A direção de Turma

No Decreto -Lei n.º 75/2008, de 22 de abril, Capítulo IV - Organização pedagógica, Secção III - Coordenação de escola ou de estabelecimento de educação pré –escolar, artigo 44.º - Organização das atividades de turma vem descrito da seguinte forma: “para coordenar o trabalho do conselho de turma, o diretor designa um diretor de turma de entre os professores da mesma, sempre que possível pertencente ao quadro do respetivo agrupamento de escolas ou escola não agrupada.”

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4.2.2.1. Acompanhar do Processo

Como uma das tarefas descritas nas Normas orientadoras do Estágio Profissional vem descrito o objetivo de “compreender o papel de diretor de turma na sua relação com os pares, sob o ponto de vista administrativo e de gestão de relações humanas e enquanto responsável pela área não disciplinar – F. Cívica; Identificar, apreciar criticamente e intervir nas atividades inerentes à direção de turma e ao conselho de turma.” (Matos, 2012a).

A diretora da minha turma era a professora de Biologia e Geologia, uma professora adorada pelos alunos, sensata, que se apresentava simpática e disponível.

Durante o acompanhar do processo tive tempo para refletir sobre as inúmeras tarefas, deveres e direitos que assistem a função de diretor de turma, e para constatar que o tempo designado para a resolução de problemas, uma hora semanal, não chega e que os professores se desdobram em soluções para resolver os problemas dos seus alunos. Com ela aprendi, que “ser professor não é apenas ser um educador, alguém dotado das ferramentas para formar, esculpir, educar, mas elevar os alunos a pessoas, cidadãos. Dentro das funções de professor, desta missão que nos impele a querer saber mais, ser melhor, ser diferente, estão as funções burocráticas. As papeladas, as faltas, as conversas com os pais, as reuniões com os professores, o papel de mediador, as chatices por resolver.

Existe um papel a ser desempenhado cuja importância não se encerra numa tarefa, numa obrigatoriedade, mas que por muito encanto que se lhe queira atribuir, acaba por ser sempre mais um trabalho a cumprir, mais uma missão, que muitas vezes não pedimos, não temos jeito, mas que a escola nos chama a desempenhar.” (Reflexão de Novembro de 2012).

A minha diretora de turma, que me pedia com gentileza para a chamar de Lúcia e não de professora, era sem dúvida dotada de todos os atributos de uma diretora de turma, porque “ser diretor de turma é ser mais que professor, é ser sensato e ser severo, é ser amigo e ser autoridade, é ter autoridade, é ter

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compreensão, é ser uma mão amiga e a mão que nos indica o caminho quando nos afastamos demasiado dele.” (Reflexão de Novembro de 2012)

Descobri que o papel de diretor de turma não se cinge a questões administrativas, não é só marcar e retirar, justificar faltas. Passa também por informar os pais das más notas, das más respostas, deste ou daquele incidente menos agradável. E dói saber que estas conversas, estas informações e alertas caem todas sobre a mesma pessoa, que são os diretores de turma os portadores das más notícias, que têm que vestir o papel e passar de adorados a odiados, que a sua capacidade enquanto professores rapidamente pode ser colocada em causa devido a outras funções de igual importância.

Acredito que seja esta a dificuldade de se ser diretor de turma, a dualidade de ser professor e ser responsável por outras tantas tarefas que podem ser de menos agrado.

Aprendi que a diretora de turma, pelo menos por esta experiência que pude partilhar, é como uma mãe, resolve os problemas da adolescência, da família, de dúvidas, de medos. Problemas que não considerava da competência de um professor, da responsabilidade da escola. Revê-se, nestas pequenas tarefas, o papel ingrato do professor/diretor de turma, a dualidade entre autoridade e educador, mas que afinal se insere e integra na perfeição, porque ser professor não se encerra em ser educador, é abrangente, ultrapassa fronteiras. Ser professor é ser formador, indicar o caminho e ajudar a percorrê-lo.

O décimo ano, como todos os inícios, os começos, as novidades, é um ano de transição, de afirmação, de inevitável mudança. Escolhe-se a área, muda-se ou não de escola, fazem-se novos amigos, perdem-se outros, paira um misto de deslumbramento e deceção nas vidas dos nossos alunos. Se há uns que crescem, acompanham, veem o fim desta missão e lutam por ele, temos outros que entristecem, confundem-se, perdem-se antes mesmo de começar. Neste acompanhar percebi que é missão do professor/diretor de turma dar a mão e indicar o caminho. Explicar que pé se põe à frente, tirar dúvidas, colocar o colete salva-vidas e esperar que vençam. Contudo, as energias para nos salvarmos e salvar os outros esgotam-se, a necessidade de

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dar um passo atrás e dizer que se fez tudo o que era possível, que agora têm que ser eles a caminhar sozinhos é maior do que imaginei.

À parte, de ter uma professora/diretora de turma, que não se desliga de quem é, que representa na perfeição o papel para que foi chamada a cumprir, com ela consegui aprender que o meu papel, seja enquanto professora ou diretora de turma, só termina quando esgotamos todas as hipóteses. Que esta função também tem regras, que temos que dar liberdade aos alunos para depois de tudo esgotado decidirem, depois de alertados os pais, depois de se mostrar o caminho, acender a luz, temos que os largar da mão e deixá-los crescer.

Descobri que ser diretor de turma é ser professor com um expoente elevado a mil.

4.2.2.2. As reuniões de Conselho de Turma

A primeira reunião foi o comprovar da minha passagem, a certeza de desempenhar aquele papel. Senti-me tão crescida no momento em que descobri a data da primeira reunião.

Um encontro de colegas, uma turma em comum, 24 alunos e estava ansiosa por saber a opinião que cada um dos professores tinha formado deles, queria comparar com a minha, saber se pensávamos de forma igual, se era professora.

As reuniões eram espaços que traziam muita curiosidade, desde os meus tempos de estudante que me questionava e imaginava o que se passaria por detrás daquela porta, de que falariam os professores, como se desenrolava a tão temida reunião de final do período/final de ano.

Talvez por já não ser estudante, por já não ter diretora de turma, por os meus professores já não se reunirem para discutir as notas, e por ter passado para esse lado do, até então, desconhecido, as tão temidas reuniões perderam a magia, o encanto, as dúvidas dissiparam-se, e encontrava-me entre colegas, a discutir assuntos perfeitamente conhecidos e importantes. São apenas

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reuniões, troca de opiniões, troca de ideias. O diretor de turma a assegurar que os professores estão seguros da nota que atribuíram, a retirar dúvidas, a comprovar certezas.

Em todas as reuniões celebrávamos, à nossa maneira. A reunião servia como a celebração do final do primeiro período e depois do outro, até se chegar à reunião de final do ano. Um balanço do que se tinha feito, do que nos propúnhamos a fazer, era um trocar de ideias sobre os alunos, sobre atitudes, eram olhos tristes de professores que queriam muito que os alunos aprendessem, e olhos felizes quando se comprovava que correspondiam às expetativas.

Era uma festa de trabalho cumprido, era o antecipar de objetivos por concretizar.

Era a minha hora do chá e afinal tinham-me reservado um lugar.