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A priori, a distribuição das áreas públicas pela malha urbana reflete os diversos momentos históricos de Dourados, como relatados no capítulo II e início deste. Nesse sentido, ao analisar a espacialização atual das praças e dos parques urbanos, pode-se observar a vigência de determinados processos e seus desdobramentos, como também problemáticas existentes de décadas atrás que se agravaram ao passar dos anos.

Este debate terá como foco três questões observadas através da distribuição das áreas públicas: 1. Os novos rumos da expansão urbana e sua relação com a criação de praças e parques urbanos; 2. O processo de descentralização das áreas públicas; 3. O aparecimento de um novo agente fomentador de praças.

A partir da espacialização das áreas públicas pela malha urbana foi possível observar uma distribuição espacial desigual das mesmas, em que há uma concentração na porção oeste da cidade. Diante deste cenário, Azevedo alerta que “ao centralizar as atividades de lazer em um único local da cidade a sociabilidade é comprometida, tendo em vista que as pessoas que não possuem um contato mais próximo, dificilmente permitirão essa aproximação com alguém que nunca viram” (2013, p.163).

A concentração de áreas públicas na porção oeste da cidade se deu a partir de dois processos correlacionados, a expansão territorial de Dourados para tal porção a partir do aumento do perímetro urbano e a descentralização das praças e parques urbanos do eixo central para bairros residenciais seguindo a lógica do capital privado e do mercado imobiliário.

Este fato corroborou para o desprovimento de áreas públicas na porções leste da cidade, bairros já consolidados como Parque das Nações II e Jardim Ouro Verde são exemplos desta problemática, como também os recentes conjuntos habitacionais no extremo sudoeste, Hárrison de Figueiredo e Residencial Dioclécio Artuzi.

O segundo ponto a ser levantado será o processo de descentralização das áreas públicas iniciado de forma modesta nos meados dos anos 1970 com os CEPER, mas teve seu ápice, somente nos primeiros anos da década de 2010. A distribuição atual evidencia a implantação de praças e parques urbanos em bairros não centrais, contudo, este fenômeno está pautado nos interesses políticos e econômicos. Para uma melhor explicação, será exposto três casos empíricos: a Praça Feliciano Vieira Benedetti, a Praça José Guerreiro e a Praça do Parque Alvorada.

A construção das praças Feliciano V. Benedetti e José Guerreiro permeia uma reestruturação espacial que ocorreu na porção sudeste da cidade. Vale ressaltar que ambas as praças foram inauguradas no ano de 2013 e os bairros são datados de 1970 e 1990, respectivamente, ou seja, transcorreu no mínimo 23 anos para o poder público prover um local de encontro e convívio para os moradores.

O processo de reestruturação se iniciou a partir da especulação de novos empreendimentos comerciais e habitacionais. O primeiro sinal foi a implantação das praças, logo após as vias de principal acesso para estas áreas públicas foram modificadas, a rua Mozart Calheiros no Izidro Pedroso foi reformada, se tornando uma das principais vias de ligação entre a Rua Hayel Bon Faker e a Rua Cel. Ponciano. Já a rua Wilson Gabiatti, no Canaã III passou a ser uma avenida pavimentada com canteiros, a mesma foi inaugurada em 2014.

No mesmo período e local foi inaugurada a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e entregue as casas do Conjunto Habitacional Harrison de Figueiredo I do PMCMV, tendo a previsão de serem implantados mais 05 conjuntos habitacionais, os quais tem como acesso principal a rua Coronel Ponciano. O ponto máximo da transformação espacial foi a inserção do mercado atacadista de nível nacional Assaí na mesma via e sua lateral circundada pela Avenida Wilson Gabiatti.

Desta forma, fica evidente que a implantação destas duas praças ocorreu como elemento da reestruturação espacial da região sudeste a partir de interesses políticos e econômicos dos gestores municipais. Um outro exemplo desta descentralização foi a Praça do Parque Alvorada, sendo a mesma resultado da consolidação e “valorização” do bairro atrelado a expansão urbana para a porção noroeste da cidade, visto que o bairro iniciou sua formação na década de 1970 e “ganhou” uma área pública apenas no ano de 2011.

A Praça do Parque Alvorada constitui também de um marco territorial para o próprio bairro, visto que ao sul desta o “valor” do metro quadrado do lote varia entre 100 à 200 reais, e ao norte entre 2 à 100 reais, segundo a Secretaria da Fazenda de Dourados (2019) e possível de observação pelo Mapa 12.

Mapa 12: “Valor” venal dos lotes urbanos na cidade de Dourados/MS, 2019

Outro fator constatado pela espacialização é o aparecimento do novo agente fomentador das áreas públicas, os promotores imobiliários. Este fato fica evidenciado através praças Alto do Boa Vista e Cristhais, ambas criadas e implantadas com recurso privado, investimento do próprio loteador com o objetivo de promover uma maior “valorização” dos lotes urbanos, por meio da implantação da praça como elemento enaltecer dos bairros em questão.

Observa-se que esta característica em loteamentos abertos de renda média é importada do modelo de loteamentos fechados, os quais se caracterizam pela presença obrigatória de praças no interior dos empreendimentos. Figueiredo (2016) em sua pesquisa traz a relação do marketing dos loteamentos fechados de alta renda em torno da segurança, como também do lazer e da proximidade com o “verde” na cidade. Além disso, seu trabalho demonstra que residenciais fechados populares também se apropriaram desta ideia.

Nesse sentido, constatamos mais um desdobramento desse marketing ligado aos equipamentos de lazer: a existência de áreas públicas em loteamentos residenciais “abertos” de renda média por meio da ação do mercado imobiliário.

4 – CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO QUALITATIVA DAS PRAÇAS DE DOURADOS

Neste capítulo as praças de Dourados serão apresentadas e caracterizadas, com o intuito de qualificar as praças através da avaliação qualitativa da infraestrutura nas mesmas, conforme detalhado nos procedimentos metodológicos apresentados na introdução.