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CAPÍTULO 2 – A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

2.1 A educação ambiental

Notamos, atualmente, grande preocupação com a questão ambiental, o que faz com que o meio ambiente e suas inter-relações se tornem foco de muitas pesquisas. Nesse sentido, esperamos encontrar na educação uma importante aliada na formação de pessoas atentas e preocupadas com as relações que os seres humanos estabelecem com o ambiente e que podem ser compreendidas a partir das concepções que eles atribuem a si, à sociedade e à natureza no decorrer de sua trajetória. Devemos, no entanto, reconhecer os limites e possibilidades da educação, sem atribuir-lhe poderes mágicos, evitando sua mitificação. De acordo com Loureiro(2004, p. 16):

(...) a educação não é o único, mas certamente é um dos meios de atuação pelos quais nos realizamos como seres em sociedade – ao propiciarmos vivências de percepção sensível e tomarmos ciência das condições materiais de existência; ao exercitarmos nossa capacidade de definirmos conjuntamente os melhores caminhos para a sustentabilidade da vida; e ao favorecermos a produção de novos conhecimentos que nos permitam refletir criticamente sobre o que fazemos no cotidiano.

Embora não deva ser tomada como a salvação dos problemas ambientais, reconhecemos a importância da educação na “superação da dicotomia entre natureza e sociedade” (CARVALHO, I. 2008, p. 37). Pensando na contribuição do processo educativo para a construção de um mundo social e ambientalmente mais justo, ampliaram-se os objetivos da relação entre a educação e as questões ambientais e, a partir da década de 1960, em acompanhamento a um ainda incipiente movimento mundial acerca da temática ambiental, os laços começaram a se fortalecer. O termo educação ambiental passou a ser utilizado ainda nessa década, em substituição aos chamados “estudos naturais”, “trabalho de campo”, “educação para a conservação” e “trabalhos fora da sala de aula” (CARVALHO, L.; CAVALARI; CAMPOS, 2003). Carvalho, I. (2008, p. 154) nos lembra que a educação ambiental nasceu em um momento histórico altamente complexo e fez parte de “uma

tentativa de responder aos sinais de falência de todo um modo de vida, o qual já não sustenta as promessas de felicidade, afluência, progresso e desenvolvimento”.

Todas essas preocupações a respeito dos processos de degradação ambiental foram construindo-se socialmente no Brasil a partir da década de 60. Iniciava-se também no país um forte regime de ditadura militar, trazendo consigo a censura a todos os tipos de manifestação política e ideológica que fossem contrários ao modelo de busca pelo desenvolvimento a qualquer custo, adotado naquela época. Nesse modelo estavam incluídas posturas predatórias e de degradação ambiental, pautadas na justificativa de que o progresso do país era o que mais importava mais do que tudo, sendo considerada a pobreza como a pior poluição no país pelos nossos representantes, que não se importariam em pagar o preço que fosse para o crescimento da economia (DIAS, 2003).

Paralelamente a este fato, e a exemplo do que já acontecia mundialmente, ocorriam no país movimentos que defendiam a preservação da natureza e chamavam a atenção para a necessidade do uso consciente dos recursos naturais, criando-se, assim, formas cada vez mais sustentáveis de interação entre o ser humano e seu meio. Uma parcela da sociedade civil se organizava para tentar combater a ditadura e a questão ambiental era uma das pautas da luta. Grupos e organizações não governamentais (ONGs) surgiam e um de seus objetivos era discutir com a população a questão da preservação e conservação da natureza.

Desde então, a questão ambiental vem ganhando cada vez mais relevância em todo o mundo. De acordo com Sato (2002, p. 24) “a qualidade de vida em nosso planeta tem sido rapidamente deteriorada, com o comprometimento não somente dos aspectos físicos ou biológicos, mas principalmente dos fatores sociais, econômicos e políticos”. Com o propósito de repensar um novo modelo de sociedade e dentro desse contexto de relevância nacional e internacional, ocorreram as grandes reuniões mundiais sobre o tema, como a Conferência de Estocolmo, que foi a primeira conferência internacional promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1972. A segunda aconteceu no Rio de Janeiro em 1992, e ficou conhecida como a Rio-92. Nessas reuniões é que se formaliza“a dimensão internacional das questões relacionadas ao meio ambiente, o que leva os países a se posicionarem quanto a decisões ambientais de alcance mundial” (BRASIL, 2001, p. 24).

Com a Rio-92 fortaleceu-se a ideia de que não havia mais lugar para um modelo de desenvolvimento predatório, pois, segundo Junqueira e Neiman (2007, p. XIII) “a

constatação de que políticas que estimulam a depredação ambiental são instrumentos de desenvolvimento inadequados ajudou o reconhecimento das oportunidades promissoras de um novo modelo de uso dos recursos naturais”. Os autores ainda salientam que, “além dos ambientalistas e do governo, vários setores da sociedade começaram a debater a questão ambiental” (p. XII), entre eles, representantes de movimentos sociais, empresários/as, pesquisadores/as e professores/as.

Nessa conferência, foi elaborado um documento intitulado Agenda 21 sendo que governantes de mais de 170 países participaram da sua construção. Além dos debates oficiais, duas dentre as diversas atividades paralelas na Rio-92 foram marcantes: a Jornada

Internacional de Educação Ambiental, na qual uma Carta de Educação Ambiental vinha

sendo discutida há mais de um ano em um processo que acontecia em várias partes do mundo por meio de seminários, cursos, mesas redondas; e o Fórum Global de ONGs, em que foi aprovado um documento intitulado Tratado de Educação Ambiental para Sociedades

Sustentáveis e Responsabilidade Global, resultante da Carta após muitas discussões,

reflexões, consensos. Porém, segundo Viezzer (1994, p. 26), chegar a esses documentos não foi nada fácil, “mas um eixo comum – a utopia da educação ambiental – tornou possível tecer esta rede de relações durante aquele momento histórico da cúpula da Terra”.

O tratado é um documento dinâmico que pode ser constantemente revisto e “cuja importância foi definir o marco político para o projeto pedagógico da educação ambiental” (CARVALHO, I., 2008, p. 53). Esse documento se tornou referência para a educação ambiental de diversos países e deixa bem claras suas proposições e intenções. Nele estão os pressupostos de uma educação ambiental que se pretende crítica e transformadora, socialmente orientada e pautada na participação ativa dos sujeitos, visando à transformação social. Um ponto que consideramos bastante importante no tratado é quando assume que a educação ambiental não é neutra, ou seja, ela é um ato político que deve se basear em valores para a transformação da sociedade. E para chegarmos a uma sociedade sustentável, necessitamos de profundas mudanças políticas, sociais e econômicas (SAUVÉ, 1999).

Gostaríamos de destacar a presença do educador Paulo Freire nas discussões que resultaram na redação do tratado, pois assume a educação como ato político e frisa a importância dos/as educadores/as se posicionarem frente às suas escolhas e opções ideológicas, sempre buscando coerência entre reflexão e ação.